Wednesday, October 17, 2012

Começou um grande cinquentenário - ELIO GASPARI


O GLOBO - 17/10


Aquele ano glorioso para os Estados Unidos durou 401 dias e se acabou às 12h30 de 22 de novembro de 1963



COMEÇOU ONTEM o cinquentenário de um grande ano de 401 dias. Ele durou da manhã de 16 de outubro de 1962, quando o presidente John Kennedy foi informado de que havia mísseis soviéticos em Cuba, até as 12h30 de 22 de novembro de 1963, quando Lee Oswald apertou o gatilho em Dallas. Período igual a esse só se repetirá em 2039, nos cinquent"anos dos levantes do Leste Europeu.

Na encrenca dos mísseis, produziu-se a crise internacional mais bem documentada da história. Em Dallas, o assassinato mais estudado de todos os tempos. No meio, o mundo esteve a um passo da Terceira Guerra e Martin Luther King contou a uma multidão que tivera um sonho.

Kennedy gravou reuniões e telefonemas na Casa Branca e, com o tempo, recolheram-se preciosos depoimentos de soviéticos. (Os colaboradores do presidente foram instruídos a tirar suas famílias de Washington. Os russos também.)

Nesses 13 dias, Kennedy fechou o momento estelar de sua Presidência. Ele chegou a brincar com Bob: "Agora posso ir ao teatro". (Era uma agourenta referência a Abraham Lincoln, que tomou um tiro na cabeça enquanto assistia a uma comédia.)

Há poucos dias, Leslie Gelb, ex-presidente do Council of Foreign Relations, sustentou que, se Washington tivesse contado ao mundo que, secretamente, aceitara tirar os foguetes americanos da Turquia, os Estados Unidos sairiam da crise sem a auréola que estimularia o estilo Rambo de política externa.

(Em setembro de 1963, o Departamento de Estado produziu uma diretriz para o Brasil, recomendando que, se houvesse um movimento para depor o presidente João Goulart, o novo regime deveria ser reconhecido rapidamente. Dito e feito.)

Kennedy tinha alguma simpatia por Martin Luther King, mas não fez muita fé quando ele lhe disse que planejava uma manifestação aos pés do memorial de Lincoln. Temia que a choldra urinasse no obelisco de Washington. Usou o encontro com King para ameaçá-lo, insinuando que a vida sexual do reverendo estava vigiada. O reverendo fez que não ouviu, e Bob Kennedy acautelou-se, mandando instalar sanitários móveis na Esplanada da capital.

Nessa altura, Lee Harvey Oswald, um ex-fuzileiro naval de 23 anos, já comprara um rifle de mira telescópica. Tudo na sua vida dera errado. Decidira matar alguém, tentara assassinar um general direitista e errou o tiro. Às 12h30 de 22 de novembro, pela primeira vez, acertou.


Serviço:

Quem quiser saber tudo e mais alguma coisa sobre o discurso de agosto, está na rede "King"s Dream" (O Sonho de King). Custa US$ 9,99 e conta que ele tinha um texto escrito, mas achou que não animara a plateia. O fecho foi um improviso da alma.

Acaba de sair nos Estados Unidos "The Fourteenth Day" ("O 14º Dia: Kennedy e o Desfecho da Crise dos Mísseis em Cuba"), do historiador David Coleman. Está na rede por US$ 12,99. É médio.

Saiu também "Killing Kennedy" ("Matando Kennedy - O Fim de Camelot"), dos jornalistas Bill O"Reilly e Martin Dugard. É uma boa narrativa dos passos do presidente e de Oswald. Tem a virtude de tangenciar as teorias da conspiração.

Stephen King publicou "11/22/63" ("22 de Novembro de 1963"), um romance com a história de um sujeito que viaja ao passado e chega ao depósito de livros de Dallas às 12h26. Sua conclusão é fascinante. Sai por US$ 9,99.

A nova aposentadoria do funcionalismo - CRISTIANO ROMERO



VALOR ECONÔMICO - 17/10

Com a criação da Fundação de Previdência dos Servidores Públicos (Funpresp), para receber benefício equivalente ao do regime anterior, o funcionário público terá que trabalhar por mais tempo e contribuir com alíquota maior que a prevista no sistema de paridade. Por esse sistema, a União contribuirá para a Funpresp, até o limite de 8,5% do vencimento do servidor, com valor idêntico ao da contribuição dos segurados.

Esta é uma das conclusões de um minucioso e inédito estudo feito pelos economistas Marcelo Abi-Ramia Caetano, Felipe Amaral e Fábio Giambiagi, três especialistas em assuntos previdenciários. O trabalho é um subsídio para a definição das normas que vão regular a Funpresp, bem como para orientação dos futuros participantes do fundo.

A criação do fundo é, sem dúvida, a maior contribuição institucional que o governo Dilma Rousseff deu ao país até agora. A partir dela, a aposentadoria integral deixou de existir no Brasil, embora permaneça em vigor para os funcionários contratados antes da instituição da Funpresp. O fundo regulamenta a reforma previdenciária aprovada em 2003 pelo Congresso.

Se contribuição não superar paridade, benefício será menor

Infelizmente, o estatuto e o regulamento do fundo ainda não foram definidos - a lei que cria a Funpresp foi aprovada em abril e o decreto (7.808) da presidente Dilma que o instituiu é de setembro. Para que o fundo comece a funcionar, é necessário ainda fixar algumas regras.

Pelas normas que passaram a vigora a partir de 2003, o funcionário se aposentava com direito a um benefício definido, equivalente à média dos 80% maiores salários de sua carreira, limitado ao último vencimento. Para ter direito ao benefício, o servidor era obrigado a contribuir com 11% do salário bruto. Nesse sistema, a União era obrigada a recolher o dobro da contribuição do funcionário - 22% - e, na hipótese de haver insuficiência de caixa para pagar o benefício prometido, cobri-lo com recursos do Tesouro.

No novo regime, o funcionário terá direito, como o trabalhador do setor privado, à aposentadoria do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), limitada ao teto, que hoje está em R$ 3.916,20. Com a Funpresp, o governo complementará a aposentadoria dos servidores por meio de um sistema de contribuição definida. Isto significa que, em tese, assegurado o pagamento até o teto do INSS, o risco referente ao valor complementar recairá inteiramente sobre o servidor.

É por essa razão que as decisões futuras sobre participação na Funpresp serão cruciais. No regime de contribuição definida, o valor do benefício previdenciário reflete uma série de variáveis. Algumas delas, como o tempo de contribuição, a alíquota incidente sobre a renda e a composição da carteira dos ativos, são discricionárias, portanto, dependem do participante. Outras, como a taxa de retorno do patrimônio, estão fora do seu poder de decisão. Dependerão de como se comportará a economia brasileira nas próximas décadas.

Utilizando modelo econométrico, Caetano, Amaral e Giambiagi traçaram cenários para estimar o benefício futuro de participantes da Funpresp. No cenário básico, o funcionário ingressa no serviço público aos 25 anos, com vencimento inicial de R$ 8 mil, crescimento salarial de 2% ao ano, contribuição de 8,5% para a Funpresp e aposentadoria aos 60 anos. As premissas são de que a taxa real anual de remuneração dos ativos será de 5% ao ano, equivalente a uma carteira composta de 70% de ativos livres de risco, com rentabilidade de 4% ao ano, e 30% de ativos de renda variável, com retorno médio de 7,3% ao ano e desvio-padrão de 25% ao ano.

As premissas não foram tiradas do vácuo. Elas refletem o desempenho da economia brasileira nas últimas décadas, já levando em conta a queda recente da taxa de juros (Selic).

Os números mostram que, nesse cenário, o funcionário receberia aposentadoria líquida mensal (descontado o Imposto de Renda) de R$ 8.233,75. O valor é 11% inferior ao que ele perceberia se estivesse em vigor o regime anterior (R$ 9.254,38). Os autores do estudo advertem que esse resultado deve ser olhado com precaução. A principal razão é que a manutenção da regra anterior, que praticamente assegurava a aposentadoria integral, seria pouco provável nos próximos anos, dado o impacto negativo que ela provoca nas contas públicas.

Caetano, Amaral e Giambiagi traçaram cenários alternativos. Num deles, o salário inicial do participante é R$ 13 mil. Noutro, o servidor decide pagar alíquota de 11%, em vez de 8,5%, sobre a parcela do salário que exceder o teto do INSS. Outra premissa alternativa é o servidor se aposentar aos 65 anos. Numa última alternativa, aplicar-se-iam 50% dos recursos, e não 30%, em ativos de risco (ações).

Considerando essas premissas, o valor da aposentaria pela Funpresp melhora substancialmente, praticamente igualando-se em alguns casos e superando em outros, sempre quando comparado à regra anterior. Para quem entra no regime com salário de R$ 13 mil, o benefício ficaria um pouco abaixo - R$ 13.792,93, face a R$ 14.214,10. Para quem aumentasse a contribuição para 11%, a aposentadoria seria equivalente: de R$ 9.083,25, diante de R$ 9.254,38. Os que se aposentassem mais tarde receberiam benefício mais alto: R$ 10.611,36, face a R$ 9.882,41. O mesmo ocorreria para os que decidissem adotar um portfólio de investimento mais arriscado - R$ 9.515,45, versus R$ 9.254,38.

O estudo chama a atenção para o caso das mulheres, que mesmo na Funpresp terão direito a condições especiais de aposentadoria, uma falha da lei que criou o fundo. Na simulação feita pelos estudiosos, uma funcionária que se aposentar aos 55 anos terá perda de 21% no valor do benefício, se comparado ao que teria direito na regra antiga (R$ 8.737,63).

Na Funpresp, a conta dos casos especiais será paga por todos os participantes. "Pode-se argumentar que a nova previdência é pior para as mulheres comparativamente à situação pretérita. De modo alternativo, mostra que também é verdadeira a constatação da insuficiência da contribuição feminina no regime anterior para fazer jus ao seu benefício. A conta da baixa idade de aposentadoria - antes paga pelos homens, pelas mulheres das gerações futuras ou pelos que não faziam parte do regime próprio da União - recai agora sobre o próprio participante", diz o estudo.

Os inimigos da mídia - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 17/10


Naquelas partes do mundo com as quais a América Latina aspira a se equiparar, a imprensa e os meios de comunicação em geral vivem tempos atribulados. Os modos convencionais de produzir e difundir informações enfrentam, com diferentes resultados, o desafio sem precedentes da revolução tecnológica que criou a internet. A partir daí, como é impossível ignorar, surgiu o fenômeno mundial da blogosfera e das redes sociais, onde o incessante fluxo de notícias - ou o que passa por sê-lo - transformou drasticamente as relações entre a mídia (que, na forma clássica, coleta, organiza, expõe e discute os fatos presumivelmente relevantes para a maioria) e o público (que os consumia com escassa ou nenhuma intervenção no processo). Posto em xeque esse padrão, também o modelo tradicional de negócios do setor busca atalhos para se adaptar à mudança, sob os efeitos agravantes da crise das economias desenvolvidas.

Essa espinhosa realidade já contém problemas suficientes para determinar a agenda de qualquer evento que reúna executivos de empresas de comunicação, jornalistas em postos de comando nas redações, analistas e pesquisadores. Mas nesta parte do mundo, a pauta da imprensa inclui forçosamente a questão política das ameaças à sua liberdade. Eis por que, além dos debates sobre o futuro do jornalismo, como os que se travam em toda parte, a 68.ª Assembleia-Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), encerrada ontem em São Paulo depois de cinco dias de atividades, concentrou-se em boa medida no que o ex-presidente Fernando Henrique, falando na segunda-feira, chamou "um ressurgimento do pensamento contrário à democracia", que se traduz em crescentes pressões contra a imprensa na região. "Governos democraticamente eleitos", apontou por sua vez o presidente da entidade, Milton Coleman, do Washington Post, "estão tratando de promulgar leis que solapam a liberdade de expressão."

O quadro latino-americano se tornou mais sombrio, portanto. Extintas as ditaduras nascidas de golpes militares - e com a evidente exceção da tirania castrista em Cuba -, líderes que chegaram ao poder pelas urnas adotam políticas deliberadas de cercear o jornalismo independente, enquanto cumulam de benefícios a mídia chapa-branca ou pura e simplesmente estatal. Na Argentina, Bolívia, Equador, Nicarágua e Venezuela, a pretexto de democratizar o acesso à informação, busca-se institucionalizar o garrote ao redor das organizações noticiosas, a par de outras formas de intimidação, como é o caso da verdadeira guerra de extermínio que a presidente Cristina Kirchner move ao grupo empresarial que edita o Clarín, desde que o mais importante diário argentino cometeu o pecado mortal de opor-se à Casa Rosada no seu confronto com os ruralistas em 2008. É a aplicação do princípio chavista segundo o qual ou o órgão de comunicação se alinha automaticamente com o governo ou é inimigo a ser tratado como tal.

No Brasil, no que dependesse do PT, esse tratamento já estaria em curso, sob o assim chamado "controle social da mídia", a ser exercido por grupos sociais controlados pelo partido. O mais recente rosnado nessa direção, como se sabe, se seguiu à condenação dos grão-mensaleiros por um imaginário conluio entre o Supremo Tribunal Federal e a imprensa conservadora (ou golpista). A mídia não pode ser um partido político, esbravejam os petistas. Se não opera em regime de concessão, pode ser o que queira - e se entenda com o seu público. O Estado, como lembrou o governador Geraldo Alckmin no encontro da SIP, é que não pode ser juiz da imprensa. É o que também parece pensar a presidente Dilma Rousseff, para quem o melhor controle da mídia é o controle remoto em poder das pessoas.

De todo modo, 72% dos diretores de veículos de comunicação no País - ante 67% na média da região, numa pesquisa patrocinada pela SIP - entendem que a liberdade de imprensa "é esporadicamente ameaçada ou coagida"; pelos governos em primeiro lugar, mas também por medidas judiciais (como a que há mais de dois anos impede este jornal de noticiar a investigação da Polícia Federal sobre os negócios da família Sarney) e ainda pelo crime organizado.

Sem contraindicação - ZUENIR VENTURA



O GLOBO - 17/10

Um dos ensinamentos do "Guia para uma vida saudável" que o dr. Cláudio Domênico está lançando esta semana é que em matéria de cuidados com a saúde o ser humano é muito pouco racional: sabe o que lhe faz mal, mas nem sempre sabe como evitar. Há exemplos inclusive entre os médicos: "Pneumologistas que fumam, cardiologistas sedentários ou endocrinologistas obesos." Daí a importância da medicina comportamental, que se interessa pelas motivações, ou seja, pelo que leva uma pessoa a agir dessa ou de outra maneira. O autor conta que nas consultas - "A parte mais nobre de meu trabalho" - ele pergunta até sobre o que parece não ter nada a ver com as queixas do paciente: se gosta de ler, se tem saído com os amigos, qual o seu hobby, como usa o lazer, como gasta o tempo. A alguém que precisa se exercitar, o seu conselho é escolher o exercício que lhe dá mais prazer. "Não importa se andar de bicicleta, jogar tênis, vôlei, dançar ou remar; o fundamental é que a atividade lhe faça feliz." De outro que chega desmotivado, Domênico se informa para ver se há algum indício de depressão. "Na verdade, quero entender mais sobre o seu tesão pela vida." Segundo ele, o caminho para melhorar a qualidade de vida é a mudança de hábitos e de comportamento.

O Guia é o resultado de 30 anos de clínica transmitido como se o leitor fosse um paciente. Tudo em linguagem palatável de quem está mais preocupado com o doente do que com a doença, que aposta no organismo mais do que nos remédios, enfim, quem prefere prevenir do que remediar. O livro mostra como levar uma vida saudável sem morrer de tédio; como perder peso sem perder a alegria; como estabelecer o equilíbrio entre corpo e mente. "Tento transmitir que o grande aprendizado é a busca do equilíbrio", explica Domenico. Excesso faz mal à saúde. Em demasia, até o bem pode fazer mal, como o vinho.
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Os tintos - de uva tannat, merlot e cabernet sauvignon - elevam o colesterol bom, rejuvenescem as artérias, protegem o coração, desde que ingeridos em baixas doses: 150ml para mulheres e 225ml para homens por dia. O perigo é achar que, se uma taça faz bem, uma garrafa fará muito mais. "Moderação é a palavra de ordem." Em resumo: "Te cuida" é uma leitura saudável que não tem contraindicação.

A última de Alice, a rebelde, que ontem fez três anos. O pai lhe diz: "Não adianta, você tem duas opções: 1ª, você veste o uniforme do colégio; 2ª, você veste o uniforme do colégio. Qual das duas você prefere?"

Resposta: "A terceira."

Leite condensado e formicida? - ROBERTO DaMATTA


O Estado de S.Paulo - 17/10


Alguns leitores generosos responderam ao meu apelo e escreveram soluções para o dilema do meu personagem que, na semana passada, livra-se de um câncer no pulmão direito e esquerdo, somente para enfrentar os elos sinistros entre o formicida (o veneno que extermina) e o leite condensado (remédio que mata se ingerido em grandes doses).

Começo com o Luiz Pinto de Carvalho, cujo otimismo imagina que eu tenha recebido "dezenas, talvez centenas de mensagens". Ele começa esperando que o meu personagem não cometa suicídio mas, vivendo, pague a dívida contraída de má-fé. A "moral" de sua primeira versão é simples: "foi desonesto, paga sofrendo". Mas a par dessa sentença mensalônica, essa novidade no cenário social brasileiro: a condenação pelo Supremo dos mentores de um esquema de permanência no poder, mesmo quando tramado por altos figurantes intimamente ligados ao partido que nos governa, ele inventa outras soluções. Excluindo a fuga e a esquizofrenia da clandestinidade, Luiz muda o tempo da narrativa e faz o herói virar um pirata. Levado à época das caravelas, ele vive várias aventuras e morre numa batalha sangrenta. Isso para fazer o personagem reviver para contar suas aventuras aos netos "que surgiram não sei bem como". Depois de todos esses finais, segue uma variante final. Com os credores à porta, o herói amplia sua vingança. Processado, ri da Justiça e morre num acesso de tosse.

Madalena Diégues Moreira Alves, minha estimada amiga, revela igualmente uma intensa vocação criativa naquilo que ela chama de uma "versão Pollyana" para o personagem. Entre a vida e a morte, vem-lhe a lembrança de uma caixinha de chocolate em pó que sua mãe guardava ao lado do leite condensado. Resolve misturar leite condensado e chocolate e faz um brigadeiro seguindo a receita que sua mãe lhe passara antes de morrer de um câncer. Em seguida, toma um avião e revisita o médico para, paradoxalmente, lhe oferecer o doce. Lá, ele faz uma dupla descoberta: seu exame fora trocado - ele jamais teve câncer; e a enfermeira, especialista em brigadeiro, percebeu como a receita da mãe do nosso herói era especial. Associam-se nos negócios e na vida e abrem uma loja de chocolates com total sucesso. Com os extraordinários lucros, pagam as dívidas, compram uma fazenda e o formicida é usado para matar, como manda o figurino, "as formigas que cercavam a linda casa da fazenda".

Outro leitor, o Paulo Henrique Nonato escreve a amigos e distingue o cronista incluindo-o na lista. Diz de modo comovente: "Desejei muito que o Lulu ainda estivesse aqui (...) e tivesse aproveitado, da mesma forma (que o personagem), o produto da venda do apartamento assim que recebeu a notícia. Afinal" - termina o Paulo Henrique - "é claro que ele escolheria o doce".

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Essas reações levam a pensar no "quem conta um conto inventa um ponto". E na história de Machado de Assis Quem Conta Um Conto..." (publicado no Jornal das Famílias, em 1873), cujo título e enredo falam diretamente dessa atividade que nos torna humanos: "o gosto de dar notícias".

Há necessidade de criar pontos de vista, pois as narrativas só viram histórias porque não dizem tudo. Todas são sempre reativadas por receptores que estão em outros lugares e nelas podem enxergar alternativas.

Outro pensamento que me ocorreu foi verificar como os meus leitores abandonaram a realidade da história original. Nela, o personagem vive no presente; ele é um professor universitário e jamais pensaria em fazer um brigadeiro; seu câncer foi real, bem como sua dívida. Eu pedi socorro para o dilema, não para o conto porque, como disse João Guimarães Rosa, a minha história, sendo minha, era verdadeira. A mentira vem da generosidade dos leitores que a modificam a seu gosto. Uma equação matemática não pode ser modificada para ser resolvida. Romancear é fazer equações humanas.

* * * *

Finalmente, vale acrescentar que estamos vivendo num Brasil que faz a virada do acerto dos contos. Tribunais existem precisamente porque vivemos em busca do "direito". Do mais correto, do mais justo, do mais verdadeiro; numa palavra: do melhor enredo ou história. Mas quem define o verdadeiro ou o "real", cuja existência os seus inventores - os filósofos - discordam? Serão as doutrinas religiosas e políticas? Será uma palavra de ordem ou a polícia política? Serão os que estão no poder?

Se o arbitrário é o dilema e se o dilema de estar sempre entre formicida (veneno) e leite condensado (remédio) é parte da nossa condição, então não há como fugir de que o melhor é a versão que leva à liberdade, ao direito de defesa e, a partir dela, à inocência ou à condenação. Como num jogo, estabelecemos regras somente para descobrir como elas fabricam incertezas e novas versões.

O fascismo formicida diz que só há uma voz e uma resposta. O leite condensado liberal assenta-se na presença de muitas vozes e respostas. Uma democracia repousa num contínuo refazer-se. Ninguém pode se arvorar a ser dono da democracia ou do sistema político brasileiro. O passado não isenta o presente e nenhum dos dois garante um futuro.

O que, então, resta ao personagem? Sobra acatar aquilo que a coletividade considera como razoável em termos dos seus valores. O que não é fácil, neste mundo magicamente ilimitado, no qual até mesmo uma crônica corriqueira - para muitos um bom exemplo da minha subliteratura - acende várias soluções...

Fiasco em Viracopos - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 17/10


Um avião cargueiro de 130 toneladas derrapou ao pousar, teve o pneu estourado e tombou na única pista do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP).

Até ser retirada, a aeronave provocou o fechamento do aeroporto, que permaneceu interditado durante quase 46 horas, de sábado a segunda-feira. Nesse período, cerca de 500 voos foram cancelados e pelo menos 25 mil passageiros ficaram prejudicados.

Ocorrências dessa natureza são comuns no mundo inteiro -até aí, pouco há de realmente excepcional. Por esse motivo, a Organização Internacional da Aviação Civil recomenda que os aeroportos tenham um plano de remoção rápida para desobstruir a pista e minimizar os transtornos a passageiros.

O que chamou a atenção em Viracopos não foi, portanto, o bloqueio da pista, mas a demora para remover o cargueiro e reabrir o local para pousos e decolagens. Estima-se que a falta de experiência possa ter atrasado a operação em pelo menos 15 horas.

Sem dúvida não ajudou o fato de não haver em Viracopos um "recovery kit" -conjunto de equipamentos capaz de remover aeronaves-, mas as empresas aéreas não são obrigadas a possuir tais itens. Isso não as isenta, entretanto, de providenciar o maquinário.

Foi o que fez a Centurion Cargo, operadora do avião. O kit foi alugado da TAM e precisou ser deslocado de uma distância de 140 km até Campinas. Após uma primeira tentativa fracassada no domingo, a empresa conseguiu retirar a aeronave só na segunda-feira.

Que a demora tenha ocorrido em um dos dez aeroportos mais importantes do Brasil é motivo de preocupação. Em 2011, 7,5 milhões de passageiros utilizaram Viracopos, cujo movimento tem crescido de forma acelerada nos últimos anos.

Assim como outros aeroportos brasileiros, Viracopos tem apenas uma pista (a segunda estava prevista há quase uma década, mas só deverá sair em 2017). Isso torna ainda mais essencial ter agilidade para executar o plano de remoção.

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) abriu um procedimento administrativo para investigar a atuação da empresa aérea e do aeroporto nesse acidente. É imprescindível descobrir os motivos da demora e apontar providências para evitar sua repetição.

Um país que vai sediar dois dos maiores eventos esportivos do mundo não pode tolerar fiascos como esse na área de infraestrutura. Acidentes acontecem, mas é preciso estar preparado para eles.

Sem começo ou meio - RUY CASTRO



FOLHA DE SP - 17/10



FOLHA DE SP - 17/10



RIO DE JANEIRO - Há décadas tenho privado com alcoólatras em vários estágios de dependência. Todos resistentes a tratamento. Um deles nem admitia o assunto, mesmo quando os vômitos matinais de sangue já tornavam sua situação desesperadora. A eventualidade de uma internação, com a interrupção do fornecimento de bebida, lhe era intolerável. A alternativa podia ser a morte, mas ele não parecia com medo. A dependência é mais forte do que o medo da morte.
Quando se trata de álcool, a dependência leva anos para se instalar, durante os quais o bebedor tem tempo para constituir família, aprender um ofício e afirmar-se profissionalmente -até que a progressão da doença acabe com tudo. Às vezes, uma última centelha de consciência o faz procurar ajuda. Se esta vier a tempo, e o processo destrutivo for interrompido e controlado, a pessoa, com esforço e sorte, pode retomar sua vida e tentar devolvê-la ao que era antes de a dependência ter se instalado.
Anteontem, vi pela TV os dependentes de crack da favela do Jacarezinho, no Rio, ocupada pelos militares, sendo levados pelos assistentes sociais. A maioria, inconformada, pedalava o ar com as poucas forças que lhe restavam -ninguém queria sair do lixão onde morava.
No fim do dia, todos (exceto, por algum tempo, os menores) estavam de volta à cracolândia.
A ideia da internação compulsória para os dependentes de crack não deveria se confundir com as normas de internação para outros tipos de dependência. Ao fim e ao cabo, todas as dependências são iguais, mas a do crack não tem começo ou meio. Já começa pelo fim.
Não pode haver internação "consentida" de um dependente de crack, pelo simples fato de que esse dependente não tem mais o que consentir ou negar. Para ele, a morte não é nada diante da ideia de ficar sem o produto.

Um lustro de baixo crescimento - PAULO R. HADDAD


O ESTADÃO - 17/10



Geralmente, no último trimestre de cada ano, a opinião pública fica atenta ao que os diferentes meios de comunicação destacam como as perspectivas econômicas mais prováveis para o ano seguinte. Instituições e agentes econômicos apresentam os seus prognósticos sobre as principais variáveis macroeconômicas: a taxa de crescimento, a taxa de inflação, o nível de desemprego, o balanço de pagamentos, etc. No atual contexto da economia brasileira, trata-se de antecipar o futuro da crise que está nos envolvendo de maneira inequívoca e inexorável.

Dispõe-se, atualmente, de um amplo conjunto de roteiros metodológicos alternativos para a análise dos estados futuros de uma economia. Esses roteiros vão desde o tratamento do futuro como extrapolação do comportamento recente das variáveis econômicas até o tratamento do futuro como algo desconhecido ("cisnes negros") que estaria além dos atuais níveis de conhecimento e da experiência de analistas. Contudo, muito se aprendeu com as inúmeras crises econômicas que se seguiram no pós-2.ª Guerra Mundial, desde a depressão econômica de 1929.

Os roteiros metodológicos mais confiáveis apresentam os futuros a partir de cenários. Cenários não são projeções, mas mapas de possibilidades e opções particularmente úteis para contextos de rápidas mudanças e inflexões. Mal elaborados, podem levar a sérios erros de planejamento e a graves consequências sociais.

Muitas vezes, ao construir o cenário futuro de uma economia, as restrições e condicionalidades, internas e externas, que a ela se impõem acabam por se constituir num imperativo determinante de suas perspectivas imediatas e mediatas. Os graus de liberdade para formular e implementar políticas públicas se reduzem e "o que fazer" fica limitado apenas pelo "como fazer".

Esta parece ser a situação atual dos ventos dominantes sobre a economia brasileira: os limites do possível se encolheram. O governo federal dispõe de limitado nível de controle sobre uma política fiscal anticíclica de defesa dos níveis de emprego e de renda, por diversos motivos.

O seu nível de endividamento bruto cresceu muito, quando nele se incorpora o endividamento público indireto por meio dos repasses do Tesouro ao BNDES e às outras instituições financeiras federais. O grau de comprometimento e de vinculação das receitas do governo federal é muito acentuado com as despesas de pessoal e de custeio, com as políticas sociais compensatórias, com os serviços da dívida, etc. Daí os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estarem quase todos empacados em seus cronogramas físicos e financeiros.

Finalmente, a capacidade de gestão e de implementação da máquina administrativa do governo federal é precária, sitiada por processos de corrupção administrativa e por interesses velados. Mesmo quando a queda na taxa de juros dá um alívio nas despesas com os serviços da dívida, a avalanche das despesas correntes ocupa de prontidão os espaços de novos investimentos em infraestrutura econômica indiretamente produtivos.

Por outro lado, as restrições e condicionalidades do setor externo de nossa economia têm assumido um caráter dramático nos últimos meses. A crise internacional deixou de ser espacialmente localizada, para se tornar interdependente e consanguínea, levando ao desalento a maioria das economias nacionais, sem respeitar o seu padrão de estabilidade ou suas potencialidades de crescimento. Crises globais são mais dramáticas em termos de duração, amplitude e volatilidade do que os ciclos de negócios típicos do período pós-2.ª Guerra Mundial, tanto nas economias avançadas quanto nas economias emergentes. E crises bancárias internacionais muitas vezes resultam em ondas de moratórias nacionais poucos anos mais tarde.

Neste contexto, não seria exagero sugerir que o lustro que se estende até 2015 poderá ser de traumático baixo crescimento para a economia brasileira, contendo espasmos ocasionais de expansão de curta duração seguidos de instabilidades regressivas.

Emergente, mas muito caro - EDITORIAL O ESTADÃO



O Estado de S.Paulo - 17/10


A economia é grande, o país é emergente, mas os custos são de país desenvolvido, parecidos com os europeus e muito próximos dos americanos. Essa combinação, desastrosa quando é preciso enfrentar exportadores dinâmicos em mercados cada vez mais disputados, caracteriza o Brasil e é hoje reconhecida até pelo governo. Ainda assim, há novidades importantes num relatório recém-publicado pela empresa de consultoria KPMG e destinado a orientar decisões de investimento internacional. O estudo apresenta comparações de custos de 14 países, confrontando as condições de produção de 12 indústrias e 7 tipos de operações (como pesquisa, desenho de software e serviços de apoio). A análise chega até o nível de cidades, porque os custos podem variar de forma relevante dentro de um mesmo país.

Os EUA são o ponto de referência de todas as comparações. No resultado geral, os custos brasileiros são 7% menores que os americanos. A posição é pouco mais vantajosa que as de outros países desenvolvidos e muito menos favorável que as dos outros emergentes incluídos na mostra. Na Rússia, o conjunto dos custos é 19,7% menor que nos EUA; no México, 21%; na Índia, 25,3%; e na China, 25,8%.

O câmbio pode ter alguma influência, mas os principais fatores são outros. O texto destaca, de início, o peso dos salários e dos tributos diretos e indiretos. A desvantagem brasileira é especialmente notável no caso da tributação, 42,6% mais pesada que a dos EUA.

Três países desenvolvidos têm uma carga inferior à americana, com vantagem de 22,8% para a Holanda, 26,7% para o Reino Unido e 40,9% para o Canadá. Os demais emergentes estão bem nesse quesito. A Rússia aparece com impostos 28,3% mais leves que os dos EUA. A tributação é 36,4% menor no México, 40,3% na China e 50,3% na Índia.

A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda já admitem a importância de redução da carga, mas ainda rejeitam a ideia de uma reforma ampla. Preferem concessões setoriais, em alguns casos transitórias, insuficientes, em todo caso, para tornar mais racional o sistema.

Há, no entanto, um avanço. O presidente Lula mandou ao Congresso um projeto de reforma, no começo do primeiro mandato. A proposta nunca foi integralmente aprovada e, além disso, o presidente nunca se esforçou de fato para aliviar a tributação. Foi quase sempre um defensor aberto da carga de impostos, complemento de sua concepção de Estado. Esse Estado, por ele descrito como forte, é na realidade apenas balofo e ineficiente, mas como sustentar o empreguismo e o populismo sem escorchar a parte produtiva da sociedade?

Para o conjunto das manufaturas, os custos brasileiros são em média 6,6% menores que os americanos. Austrália e Japão têm custos maiores, 3,2% e 6,7%, respectivamente. Os da Alemanha empatam com os dos EUA. Itália, Canadá, França, Holanda e Reino Unido têm produção mais barata, com vantagens na faixa de 2,8% a 5,1%. A posição brasileira, portanto, é pouco melhor que as desses países. Os custos do Brasil são muito próximos, na indústria manufatureira, dos de países desenvolvidos. Mas são muito mais altos que os dos emergentes. Na comparação com o padrão americano, a vantagem é de 15,4% para a Rússia, 15,6% para o México, 18,7% para a Índia e 21,1% para a China.

Os números variam em torno dessas médias, quando se examinam separadamente os vários setores (automobilístico, aeroespacial, agroalimentar, eletrônico, metalúrgico e químico, entre outros), mas, de modo geral, a posição brasileira é muito menos favorável que as dos demais emergentes. Mesmo no caso da indústria agroalimentar, a posição do Brasil só é melhor que as dos desenvolvidos da amostra.

Esforço adicional - DORA KRAMER



O Estado de S.Paulo - 17/10


Advogados criminalistas de um modo geral têm demonstrado grande contrariedade com a linha adotada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão.

Ouve-se a reclamação em toda parte, sejam os advogados defensores ou não dos acusados na ação penal 470. A despeito de toda a consistência de argumentação transmitida ao vivo pela televisão, alegam desrespeito ao "devido processo legal".

Falam em "absurdos" sem apontar precisa e incontestavelmente quais desatinos estariam sendo cometidos. Tampouco conseguem explicar o que esperavam que o STF fizesse diante de todos os atos e fatos presentes nos autos, e pelo relator perfeitamente concatenados.

Subjacente às inflamadas alusões à agressão ao Estado de direito, parece mesmo haver o temor de que o rigor na aplicação da lei torne daqui em diante mais difícil o trabalho das defesas tão acostumadas à supervalorização de formalidades quando o figurino dos réus é o do colarinho branco.

Prova de que esperavam atuar em zona de conforto foi a fragilidade da argumentação apresentada no início do julgamento. Confiantes, os advogados não entraram no jogo à altura do enfrentamento que os esperava.

Para conferir, basta revisar as sustentações orais feitas antes do início da manifestação dos ministros: pífias, notadamente se cotejadas com a substância dos votos que viriam depois.

Nenhum deles exibiu visão do conjunto. Nada que pudesse nem de leve abalar a descrição da montagem do esquema de arrecadação fraudulenta de recursos e da distribuição delituosa entre partidos e políticos com a finalidade de comprar apoio ao governo no Congresso.

Os advogados pecaram por excesso de confiança - seria ofensivo falar em preguiça - e agora reclamam porque o Supremo não caiu na conversa fiada nem se deixou impressionar pela ofensiva mistificadora da dicotomia entre julgamento "técnico" e "político".

Menosprezaram a contundência dos termos com que o tribunal recebeu a denúncia em 2007, perderam tempo em desqualificar o trabalho do Ministério Público e se escoraram na tese do crime eleitoral.

Venderam um peixe deteriorado aos clientes que, se alertados a tempo, provavelmente não teriam ficado tão calados.

Mesmo peso. O Supremo absolveu Duda Mendonça das acusações de lavagem de dinheiro e evasão de divisas basicamente pelo mesmo motivo que inocentou Fernando Collor em 1994: falhas formais na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral.

Nada a ver com tolerância ao uso do caixa 2.

Joga a chave. O PT tergiversa, fala em lançar um manifesto logo após a eleição, mas está matutando como fazer algo mais para marcar posição contra as condenações.

O que se diz nas "internas" é que o partido não pode assistir calado às prisões de José Dirceu e José Genoino.

Há quem defenda "botar fogo", sem dizer exatamente o que significaria isso.

E há quem nutra a esperança de que a presidente Dilma Rousseff assine o indulto dos prisioneiros, desconsiderando o potencial deflagrador de crise entre Poderes desse gesto.

Zumbi. A CPI do Cachoeira virou um cadáver insepulto sem ter alcançado nenhum de seus objetivos: não foi eficaz como instrumento de vingança contra "os autores da farsa do mensalão" nem revelou os laços do crime organizado com políticos e empresários envolvidos em negócios governamentais ilícitos.

Complicou a vida do governador Marconi Perillo? Sim, e daí?

Daí que só serviu para explicitar o quanto o Congresso, no contraste com o Judiciário, é um vexame completo.

Os vários tons - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 17/10


O julgamento do mensalão caminha para seu término sem que existam itens ainda por julgar que possam interferir no resultado final, que já foi dado com a definição pela maioria do STF de que houve desvio de dinheiro público para a compra de apoio político no Congresso e a identificação e condenação dos atores dos crimes, tanto ativos quanto passivos.

A acusação de formação de quadrilha, da qual o ex-ministro José Dirceu seria "o chefe", que parecia ser a base para a acusação, acabou sendo relegada a plano secundário. Ainda é mais provável que o núcleo político do PT - Dirceu, Genoino e Delúbio, mais Silvinho Pereira, que está fora do julgamento por ter feito acordo - seja condenado por quadrilha também, mas, mesmo que tal não venha a ocorrer, por desentendimento entre os ministros sobre a definição do crime, nada mudará a essência do esquema criminoso, cuja acusação passará a ser de coautoria criminosa.

A definição de "formação de quadrilha" está sendo debatida no plenário do Supremo em vários outros itens, e há divergências de conceituação. Elas foram suficientes, até agora, para absolver uns poucos da acusação, mas a condenação de alguns chegou a ter quatro votos pela absolvição. Mesmo que não veja confirmada no STF sua condição de chefe de quadrilha, Dirceu já foi identificado como aquele que detinha "o domínio do fato", isto é, quem comandava a ação considerada criminosa pelo Supremo. Também a absolvição do marqueteiro Duda Mendonça das acusações de evasão de divisas e lavagem de dinheiro não muda a essência da denúncia, embora afaste da campanha presidencial de 2002, na qual Duda Mendonça ajudou a eleger Lula pela primeira vez, a pecha de ter sido financiada com dinheiro do mensalão.

Mas a parte importante do julgamento vem depois de seu término, na definição da dosimetria das penas. Essas questões, que incluem agravantes e atenuantes e até mesmo a definição legal dos crimes, já estão sendo negociadas nos bastidores, através da ação dos advogados que buscam razões para convencer os juízes de que os réus não merecem penas muito graves. O caso politicamente mais delicado é o de Dirceu, condenado por enquanto por corrupção ativa nove vezes: na página 103, (item a) da denúncia está dito que "José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino, Silvio Pereira, Marcos Valério etc, em concurso material, estão incursos 3 vezes nas penas do artigo 333 do Código Penal; Na página 112, (item a), a denúncia diz que o crime foi praticado 2 vezes em concurso material; na página 117, (item a), diz que o crime foi praticado três vezes em concurso material; e na página 120, (item a) imputa o crime mais uma vez, sempre em concurso material.

O que isso quer dizer? O "concurso material" definido no artigo 69 do Código Penal é quando "o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não". Nesse caso, diz o CP, "aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido". Pela denúncia, portanto, o ex-chefe da Casa Civil poderá responder a um mínimo de 18 anos e a um máximo de 108 anos de cadeia. Se pegar a pena mínima de dois anos (a máxima é de 12), terá que cumprir três anos em regime fechado (1/6 da pena) para ter direito à progressão da pena.

Mas o STF não precisa concordar com a denúncia. Na hora da aplicação da pena, a tal da dosimetria, os ministros terão de decidir se entendem que os crimes foram praticados em concurso material, formal ou se é caso de crime continuado.

O Código Penal define, em seu artigo 71, o crime continuado como aquele em que "o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplicasse-lhe a pena de um só crime, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços". Se incluído nessa categoria, Dirceu poderá pegar condenação de menos de 8 anos, em regime semiaberto, só dormindo na cadeia. Talvez mais por isso do que pela eleição paulistana, Dirceu decidiu desistir, pelo menos por enquanto, de convocar as massas em sua defesa contra o STF.

Um debate sem sentido - MIRIAM LEITÃO



O GLOBO - 17/10


Discussão sem sentido é a que mobilizou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de um lado, e o presidente do Fed, Ben Bernanke, do outro. É evidente que todos têm razão. Tanto as políticas monetárias expansionistas dos EUA têm impacto no mercado de moedas quanto a recuperação norte-americana será melhor para mundo.

Se o Fed nada fizesse para resolver a crise de crédito americana é que o mundo estaria realmente encrencado. Os Estados Unidos ainda são a maior economia do planeta e a que tem o maior déficit comercial, encomenda bens e serviços de países do mundo inteiro. A dosagem das emissões monetárias do banco central americano parece às vezes exagerada, sem dúvida, mas imagine se nada tivesse sido feito pelo Fed desde o começo desta crise?

O que preocupa Ben Bernanke sempre foi o fantasma da depressão, e ele assumiu disposto a entrar para a história como o presidente do Fed que evitou a repetição do evento econômico que assombrou os EUA nos anos 30. Acabou desatento aos riscos de outros desequilíbrios que cobrarão a conta mais tarde.

O ministro Mantega criticou no FMI a política monetária norte-americana. Recentemente, como se sabe, o Fed decidiu pela terceira injeção de recursos na economia através da compra de títulos lastreados em hipotecas, em US$ 40 bilhões por mês. Nas hipotecas está o caroço inicial da crise que desde 2008 tem produzido a desordem que o mundo tem enfrentado.

Bernanke reagiu, dizendo que tudo tem sido feito para elevar o ritmo da economia americana, o que tem reflexo positivo na economia mundial. Para ele não é claro que a política monetária de estímulo da instituição prejudique os países emergentes. Mas a desvalorização do dólar, de fato, aumentou a competitividade dos produtos americanos prejudicando o comércio com outros países.

O Brasil sentiu mais o impacto. O que era superávit virou déficit com os Estados Unidos. No ano passado, chegou a US$ 8 bilhões, e neste ano está em US$ 3 bilhões até setembro. Mas o comércio bilateral sofreu também pela falta de iniciativa brasileira para buscar o mercado americano. A proporção das exportações brasileiras que vão para os Estados Unidos despencou. Nem tudo é câmbio. Empresários ouvidos pelo Valor dizem que é preciso ter uma política de mais facilidade de negócios e mais acordos entre os dois países. E são presidentes de empresas grandes, como a Embraer e Coteminas.

Tombini rebateu Bernanke dizendo que a política monetária prejudica, sim, as políticas macroeconômicas brasileiras. Segundo ele, a entrada excessiva de capital “dificulta o controle da inflação”. Bom, aí fica difícil concordar. Se há um efeito positivo da valorização da moeda local é tornar mais fácil controlar a inflação. Desequilibra o comércio, mas derruba preços de produtos afetados pela cotação do dólar. Ele poderia dizer que essa não é a melhor forma de combater a inflação já que desorganiza a produção, mas o país só não estourou a meta em 2011 porque houve a “ajuda” do dólar baixo. Em alguns setores, chegou a haver deflação, atenuando o impacto da elevação de outros preços.

Segundo Tombini, o impacto inflacionário do fluxo de capitais ocorre porque ele produz “crescimento do crédito”. Ora, quem tem feito um enorme esforço para manter alta a oferta de crédito é o próprio governo brasileiro. O BC chegou a liberar compulsório para se criar crédito para compra de automóveis. O Banco Central deveria ver onde tem errado, já que do Ministério da Fazenda não se tem muita esperança de uma autocrítica.

Apagão logístico - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 17/10


Uma velha história conta qual foi o resultado de uma sindicância instaurada em algum ponto da França no início do século 19.

Ao passar por uma aldeia, Napoleão Bonaparte ficara indignado porque os sinos da igreja local não repicaram em sua homenagem, como era de praxe. Imediatamente, mandou instaurar um inquérito para apurar responsabilidades. Os mais velhos do lugar se reuniram e apresentaram uma longa exposição de motivos para tentar explicar por que não acontecera o que deveria ter ocorrido.

A lista começava com a informação de que o sacristão estava doente e, sendo assim, se encontrava impedido de cumprir suas funções. E prosseguia: a escada de madeira que dava acesso ao campanário estava deteriorada e nela faltavam alguns degraus; havia cinco anos, a cordinha do sino tinha sido danificada e, dois anos depois, o sino perdera o badalo... A relação se estendia por mais e mais explicações. A última delas era de que não existia mais sino, por impossibilidade de uso, tinha sido removido.

Será mais ou menos o que a Agência Nacional de Aviação Civil vai encontrar no relatório que, dentro de alguns meses, lhe será encaminhado com as razões pelas quais um estouro de um pneu de avião cargueiro na pista de Viracopos paralisou o aeroporto por 46 horas, causou o cancelamento de nada menos que 495 voos, bagunçou a vida pessoal e profissional de cerca de 40 mil passageiros e impôs prejuízos milionários às companhias de aviação.

Se for até às suas últimas consequências, a sindicância acabará concluindo que a administração deste país não se comove com os problemas de infraestrutura pelos quais passa a economia, mesmo tendo de entregar serviços de Primeiro Mundo durante a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.

A administração atual do Brasil entende que concessões e parcerias com o setor privado não passam de privataria e que tudo o que não é estatal ou não serve ou não presta. É a mesma que segue imaginando que estimular o consumo seja o suficiente para assegurar automaticamente os investimentos do setor privado e o aumento da produção nacional.

O apagão dos aeroportos é somente um dentro de uma lista enorme de apagões de logística que emperrem o avanço da economia. Há os apagões elétricos, das ferrovias, dos metrôs, das rodovias, dos portos e das comunicações (em especial da telefonia). Há o apagão do trânsito das grandes cidades, o da segurança pública, o dos sistemas de saúde e o da educação e do ensino. E há, ainda, o apagão da produção de petróleo e derivados, da Previdência Social, do sistema tributário, os provocados pela poluição do ar e da água, o dos licenciamentos ambientais, o dos marcos regulatórios, o das agências de regulação, o do Judiciário, o apagão da governança pública, o do sistema político - e ninguém deixe de incluir nesta lista o apagão moral.

Eis por que um simples estouro de pneu no aeroporto de melhores condições meteorológicas do País pode provocar um pandemônio. O Brasil vive uma situação em que os serviços públicos operam no limite. Qualquer imprevisto ou qualquer imponderável pode ser suficiente para provocar o colapso de tudo... e a falta de badaladas.

CLAUDIO HUMBERTO


“PMDB de Ulysses costurou a anistia e o fim do bipartidarismo”

Senador Renan Calheiros (AL), sobre Ulysses Guimarães, o “Senhor Diretas”


‘BALÃO DE ENSAIO’ DE PAES AFASTA CABRAL DE DILMA
A presidente Dilma desautorizou o “balão de ensaio” do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que sugeriu Sérgio Cabral em lugar de Michel Temer para vice-presidente, em 2014. Siameses na política, Paes e Cabral combinaram a jogada após o sucesso da ocupação das forças de segurança em áreas controladas por traficantes. Paes sabe que Dilma preferiria até ele a Cabral, que saiu “queimado” do episódio.

PACIFICADOR
Eduardo Paes testemunhou uma bronca de Dilma em Sérgio Cabral a bordo do teleférico do Alemão, há meses, a agora tenta reaproximá-los.

DEVASTADOR
A iniciativa do prefeito do Rio queimou Cabral com tal eficácia que os profissionais da intriga já suspeitam que Paes o fez de caso pensado.

MESMO VICE
O vice-presidente Michel Temer revelou ontem que Dilma, em conversa com ele, descartou a troca de vice, em sua reeleição.

BEM NA FOTO
Tão elegante quanto eficiente no estilo e nas tratativas, último “lorde” da política, Michel Temer conquistou de vez o respeito da presidente. 

MINISTRO PROMETE ‘APERTAR’ A TIM POR MELHORIAS
O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) disse ontem a esta coluna que vai mesmo “apertar” a TIM para a efetiva melhoria dos seus serviços ou essa empresa de telefonia celular ficará sujeita a sério corretivo. Paulo Bernardo já havia atuado na suspensão das vendas de novos chips da TIM, mas interrompeu a medida após a empresa assumir compromissos de investimentos, que ainda não surtiram efeito. 

MAIS DO MESMO
Clientes do plano Infinity, da TIM, que pagam pelo número de ligações, não pela duração, ainda se queixam de telefonemas “derrubados”. 

TUFÃO
Dilma, que adiou o comício para Haddad temendo o último capítulo da novela Avenida Brasil, terá que adiar de novo: sábado tem reprise. 

SONÍFERA ILHA
Bem pensado ontem, no Twitter: Cuba será o único país do mundo que não pede visto de entrada, mas de saída. 

JUÍZA DO BRASIL
Vítima de ataques injustos, covardes, pelos seus votos corajosos e independentes no Supremo, a ministra Cármen Lúcia tem dito a pessoas próximas que isso não a abala: “Ou eu julgo de acordo com os autos do processo ou rasgo a toga e vou embora”.

GRAVE DESRESPEITO
Sem ter quem os defenda, estudantes estrangeiros no Brasil sofrem para circular com situação regularizada. O Ministério da Justiça leva 120 dias para expedir a identidade que é válida... por um ano.

DIFERENÇA INJUSTA
Policiais federais retornaram ao trabalho, mas continuam as queixas. Enquanto agentes, escrivães e papiloscopistas ganham salário inicial de R$ 7,5 mil, analistas de seguros privados ou da Ancine e técnicos do Ipea, de nível idêntico, ganham R$ 12,9 mil em início de carreira. 

VOCÊ JÁ SABIA
O jornal argentino Clarín confirmou notícia desta coluna, de que Dilma admite discutir a reincorporação do Paraguai ao Mercosul. Afinal, o objetivo da violência foi alcançado: enfiar a Venezuela no bloco. 

PRIMO RICO
O Brasil vai dar US$ 1 milhão para a organização das eleições locais no Haiti. Mas, segundo o site Haiti News, precisa combinar primeiro com a oposição, cada vez mais insatisfeita com a “ingerência externa”. 

O PASSADO CONDENA
Lula está numa sinuca de bico: o governador Tarso Genro (PT) quer que ele vá a Pelotas ajudar o candidato petista no 2º turno. Num vídeo, há anos, ele foi, digamos, politicamente incorreto com homossexuais. 

ASSÉDIO CURITIBANO
O senador Sérgio Souza (PMDB-PR), suplente de Gleisi Hoffmann (Casa Civil), tem sido assediado para apoiar Gustavo Fruet à Prefeitura de Curitiba. O PMDB apoia Ratinho Jr. (PSC) e Gleisi está com Fruet.

CAOS SULAMÉRICA
Após a morte da avó que pagava seu seguro de saúde Sulamérica, uma cliente de Brasília tenta sem sucesso, há quatro meses, transferir o débito automático para sua própria conta corrente. E não consegue. 

VIRA, VIROU
Três dias fechado para remover avião avariado, Viracopos tem um novo apelido: sai aeroporto “Luiz Inácio”, entra “Viracaos”. 


PODER SEM PUDOR
BRONCA MAL COMPREENDIDA

Locutor da rádio Tabajara, do governo da Paraíba, Pascoal Carrilho transmitia a chegada do presidente Ernesto Geisel a João Pessoa. Ao anunciar o desembarque do general com sua voz engraçada, ouviu-se uma sonora vaia. Enquanto a comitiva descia do avião, ele atacou:

- Acaba de desembarcar o presidente... e esses moleques...

O ênfase em "moleques" soou como um xingamento aos ministros e assessores. Pascoal não pôde concluir a frase: a transmissão foi interrompida. E ele passou boa parte dos anos seguintes tentando explicar que sua bronca era contra a multidão, e não contra o ditador.

Bons médicos e o exame do Cremesp - RENATO AZEVEDO JÚNIOR e BRAULIO LUNA FILHO


 FOLHA DE S. PAULO - 17/10



Muitos formandos cometem erros básicos. Todo dia, são dez denúncias contra médicos, a maioria jovens que saíram das escolas com as piores avaliações



No dia 11 de novembro, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) promove exame obrigatório para egressos de escolas médicas.

Até o momento, cerca de 2.500 formandos se inscreveram na prova, que tem amplo apoio de dirigentes de cursos, professores e alunos. Além de não ser punitivo, o exame preservará a confidencialidade dos resultados individuais.

Em sete anos de exame voluntário, empregando as melhores tecnologias disponíveis e seguindo modelos validados internacionalmente, o Cremesp avaliou 4.821 alunos de sexto ano de medicina.

O resultado é alarmante: a metade foi reprovada devido a erros em condutas elementares de diagnóstico e tratamento.

Por força de lei, o Cremesp não pode negar o registro profissional ao aluno reprovado, porém agora exigirá a participação no exame para a inscrição no CRM.

A legislação permite ao médico recém-graduado exercer a profissão em qualquer campo da medicina. Praticamente não há reprovação durante o curso e, como agravante, metade dos concluintes não encontra vagas na residência médica, considerada o melhor modelo de especialização.

São insuficientes as avaliações das próprias escolas ao longo da graduação e o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) do MEC só fez reduzir temporariamente vagas em alguns poucos cursos de medicina, que logo voltaram à sua carga total nos vestibulares.

O momento é de discutir a qualidade e não só a quantidade de médicos. O número de cursos de medicina no Brasil não para de crescer -já são 198 em 2012, sendo 116 privados, com mensalidades acima de R$ 4.000. As atuais escolas formarão mais de 18 mil novos médicos por ano, sem contar as mais de 2.400 novas vagas anunciadas pelo governo federal. Muitos cursos funcionam sem corpo docente qualificado e sem hospitais-escola para estágio prático dos estudantes.

É preciso frear a deterioração do ensino da medicina. Cada vez mais jovens médicos saem das escolas sem formação, competências e habilidades imprescindíveis. Ao iniciar a vida profissional em prontos-socorros e em unidades públicas, médicos mal formados colocam em risco a saúde daqueles que mais precisam de assistência.

Todos os dias o Cremesp recebe, em média, dez denúncias contra médicos. Um médico é cassado em São Paulo todo mês. São mais de 3.000 processos éticos em andamento, boa parte por erro médico, consequência, entre outros fatores, da má formação. Infelizmente, nos julgamentos, temos assistido a condenação de muitos médicos jovens formados em escolas que obtiveram as piores avaliações.

Antes opcional, o exame sofria boicote de algumas escolas paulistas e de estudantes que temiam pelo resultado negativo. Em visita recente às faculdades, para debater o exame, o Cremesp ressaltou que todos sairão ganhando com a ampliação da avaliação externa e isenta do ensino médico.

O resultado poderá nortear o aprimoramento dos participantes. Governo e dirigentes de escolas conhecerão as deficiências do ensino médico. Conselhos de Medicina e parlamentares terão argumentos para debater a instituição de um exame nacional obrigatório a egressos de cursos de medicina. Por fim, ganha a sociedade, que estará mais segura nas mãos de bons médicos.

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