Saturday, March 07, 2009

Quadro: E o contribuinte é quem paga

Quadro: A devastação que vem do céu

Fotos NASA, Bettmann/Corbis/Latinstock

...e outro procurado por crime de guerra


O Tribunal Internacional pede a prisão
de mentor do genocídio em Darfur

AFP

CULPADO
Al-Bashir: ordem para iniciar a limpeza étnica

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Slideshow: O dia-a-dia dos campos em Darfur
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Darfur, à espera de um salvador (24/12/2008)


O sudanês Omar al-Bashir tornou-se, na quarta-feira da semana passada, o único nome de uma nova categoria de facínoras: a dos governantes com mandado de prisão decretado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). É a primeira ação desse tipo contra um presidente em exercício, e ninguém, de boa-fé, duvida que Bashir seja culpado. O general-presidente, que já deu guarida a Osama bin Laden, é o mentor do genocídio em Darfur, no Sudão Ocidental. Naquele planalto árido, o Exército e milícias árabes conduzem uma operação de limpeza étnica contra as tribos de etnia africana. Estima-se que 300 000 pessoas tenham sido mortas e 2,8 milhões vivam agora em campos de refugiados. As probabilidades de Bashir ser preso são nulas. Com sede em Haia, na Holanda, o TPI é a primeira corte internacional permanente de crimes de guerra. É um corpo independente, não um órgão da ONU, e sua força depende dos países-membros, entre os quais não está o Sudão. Para não ser detido, tudo o que Bashir precisa fazer é permanecer em Cartum. Ou nem isso. O general tem o apoio de muitos mandatários africanos e árabes. Em parte, porque eles temem que possam ser os próximos processados. Mas também por medo de que, se o presidente for preso, o Sudão mergulhe de vez no caos.

África: um presidente trucidado...


Nino Vieira, da Guiné-Bissau, foi baleado e retalhado a facão

Manuel de Almeida/EPA/Corbis/Latin Stock

COMANDANTE NINO
Morto por soldados enfurecidos


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O século XXI caminha para sua segunda década e aquilo que na África passa por atividade política ainda permanece imerso na selvageria. Os eventos da semana passada na Guiné-Bissau e no Sudão mostram o tamanho do desafio de integrar o continente à civilização moderna. Na Guiné-Bissau, antiga colônia portuguesa na costa ocidental africana, um grupo de militares entrou na casa do presidente João Bernardo "Nino" Vieira atirando bombas e varrendo o local com balas. Ferido, Vieira foi arrastado até a casa da sogra, onde os soldados o retalharam a facão. Ainda que golpes de estado sejam frequentes na África Ocidental, o assassinato do presidente não foi um golpe no sentido convencional. Para melhor entendimento do que ocorreu, deve-se falar em rixa de quadrilhas. Os soldados queriam vingar a morte do chefe das Forças Armadas, Tagme Na Waie. O militar fora morto um dia antes em um ataque com lança-granadas ao quartel-general do Exército. O principal suspeito pelo crime era seu arqui-inimigo, o presidente.

Nino Vieira era um típico "pai da pátria" africano, cujo mandonismo se confunde com a história do país. Comandante militar da guerrilha contra Portugal antes da independência, em 1974, ele entrava e saía do governo – via eleição, guerras civis e golpes de estado – desde os anos 80. A Guiné-Bissau é o quinto na lista dos países mais pobres do planeta. Seu principal produto oficial é a castanha-de-caju, mas a verdadeira riqueza está na utilização do país como entreposto para a cocaína que flui da América do Sul para a Europa e também para a heroína que a Ásia exporta para os Estados Unidos. Facilitado pelo caos político e social e pela boa localização geográfica, o tráfico de drogas deu à Guiné-Bissau um título inédito, revelado em relatório do Departamento de Estado americano no mês passado: o de primeiro narcoestado do planeta.

O Brasil dá considerável atenção às relações com a Guiné-Bissau e tem esperança de exercer por lá grande influência. A preferência diplomática se dá basicamente pela singela razão de o português ser a língua oficial no país africano, ainda que a maioria do 1,5 milhão de habitantes fale um dialeto crioulo incompreensível aos brasileiros. De qualquer forma, o esforço di-plo-mático do Itamaraty já rendeu uma vitória concreta: a Guiné-Bissau foi convencida a adotar a reforma ortográfica da língua portuguesa.

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