Saturday, February 20, 2010

Dá para reduzir o gasto


O ar-condicionado do carro acarreta um aumento médio
de 10% no consumo de combustível. Mas existem formas
de usá-lo sem gastar mais do que o necessário

Fernando Cavalcanti
Até no frio
O analista de sistemas Leandro Freitas só anda com o ar-condicionado ligado. "Gasto mais combustível, mas garanto a minha segurança em São Paulo", diz


Ligar o ar-condicionado na estrada é mais econômico do que circular com as janelas abertas. "Em velocidades superiores a 80 quilômetros por hora, a resistência do ar proporcionada pelos vidros abertos exige mais potência do motor, ocasionando um gasto extra 50% maior do que aquele resultante do uso do ar-condicionado", diz o engenheiro mecânico Carlos Henrique Ferreira

Manter o equipamento ligado na potência máxima gasta, em média, 20% mais do que deixá-lo ligado na capacidade intermediária

O liga-desliga do ar-condicionado manual não garante economia de combustível. Pelo contrário: uma vez que o ar interno esquenta, o aparelho tem de trabalhar mais para resfriá-lo novamente

A troca anual do filtro não só evita odores ruins e melhora a qualidade do ar como pode reduzir o consumo de combustível. É preciso também ficar atento a vazamentos na mangueira de gás. Nesse caso, o sistema não funciona com 100% de sua capacidade, o que exige mais tempo para resfriar o ambiente

Hábitos dispendiosos

Como a maneira de dirigir o carro pode aumentar o consumo de gasolina e álcool

"Esticar" a marcha antes da troca
Por que aumenta o consumo: promove um aumento do número de rotações por minuto no motor. Quanto mais rotações, maior o gasto de combustível

Acelerar bruscamente
Por que aumenta o consumo: em vias de tráfego intenso ou repletas de semáforos, o motorista apressado acelera bruscamente para tentar ganhar tempo. Cada pisada no acelerador acarreta injeção de combustível no motor e maior gasto

Variar a velocidade
Por que aumenta o consumo: toda aceleração emprega mais combustível. Quando o trânsito flui bem, o ideal é manter distância do veículo à frente para permanecer numa velocidade estável

Jordan/Corbis/Latinstock


Carregar peso desnecessário

Por que aumenta o consumo: "Qualquer carga extra no interior do veículo eleva o consumo de combustível pela maior potência requerida do motor", diz Antônio Alexandre Correia, engenheiro da Petrobras Distribuidora

Com reportagem de Marcos Rozen e Daniela Macedo

Aditivos para carros

O que pode e o que não pode

O motorista chega ao posto para abastecer o carro e lá está um
frentista sempre pronto a oferecer um aditivo - seja para o óleo
do motor, para o combustível ou para a água do radiador.


Anna Paula Buchalla
abuchalla@abril.com.br

Os aditivos cumprem funções importantes. No óleo e no combustível, fazem com que as peças do motor estejam sempre limpas. Na água do radiador, evitam que ela ferva ou congele. Mas isso não significa que se devam usá-los livremente. Para tirar a dúvida, o primeiro passo é consultar o manual do proprietário. Alguns fabricantes desaconselham explicitamente o uso de aditivos - e o desrespeito a essa regra pode acarretar a perda da garantia. O motivo: quando um carro já sai de fábrica com componentes aditivados e as revisões regulares cuidam de manter essas substâncias no nível correto, qualquer uso extra pode, em vez de proteger, danificar o veículo. Há três situações em que vale recorrer aos aditivos: se o manual não os proíbe, se você é o tipo de proprietário que perde todos os prazos de revisão ou se o seu carro é usado e você não faz a menor ideia do comportamento do proprietário anterior. Especialistas consultados por VEJA dizem quando e como empregá-los.


Aditivo para combustível (gasolina, álcool, flex ou diesel)
Para que serve: evita que depósitos de sujeira resultantes do uso do combustível se acumulem no motor, o que causa perda de potência, falhas e, em casos extremos, o seu entupimento. Além disso, um motor que funciona bem polui menos

Quando deve ser usado:
1. Se você tem um carro novinho - é desnecessário. O motor dos carros nacionais e importados já vem preparado para o uso da gasolina comum e do álcool
2. Se você não fez as revisões - Deve usar os aditivos de limpeza profunda, destinados, justamente, a carros que não passam por manutenção periódica. O uso é recomendado a cada 5 000 quilômetros (mas a quilometragem pode variar conforme o fabricante do produto)
3. Se seu carro é usado e os hábitos do proprietário anterior são desconhecidos - Devem-se usar os aditivos destinados à limpeza profunda a cada 5 000 quilômetros

Comentário dos especialistas: o aditivo sempre é uma boa forma de evitar problemas, mas não os soluciona. Um carro que já possui muitos depósitos de sujeira no motor, com fraco desempenho, alto consumo e falhas, deve ir para o mecânico: o aditivo, sozinho, não corrige essas falhas. E também não promove nenhuma economia de combustível nem melhoria de desempenho: quem oferece aditivo prometendo que o carro ficará mais econômico ou terá mais aceleração age de má-fé
Preço médio: 16 reais

Eduardo Martino/Documentography
Carro aditivado
O professor universitário carioca Ricardo Vigna usa aditivos para óleo, combustível e radiador. "Meu carro tem dez anos de uso. A opção por esses produtos é para evitar o acúmulo de sujeira no motor e melhorar o rendimento", diz ele


Aditivo para óleo lubrificante
Para que serve: combate o acúmulo de sujeira de óleo (popularmente conhecido como borra) nas partes internas do motor. Também auxilia a lubrificação, reduzindo o atrito e aumentando a vida útil do motor
Quando deve ser usado:
1. Se você tem um carro novinho - é desnecessário
2. Se você não fez as revisões - a cada troca de óleo, respeitando-se sempre o intervalo estabelecido pelo fabricante do veículo e do óleo, que normalmente varia entre 5 000 e 10 000 quilômetros rodados
3. Se seu carro é usado e os hábitos do proprietário anterior são desconhecidos - a cada troca de óleo, respeitando-se sempre o intervalo estabelecido pelo fabricante do veículo e do óleo, que normalmente varia entre 5 000 e 10 000 quilômetros rodados
Comentário dos especialistas: uma overdose de aditivos no óleo do motor é prejudicial, pois altera as especificações do fabricante. Fuja de ofertas de frentistas para completar o nível do óleo apenas com aditivo: o principal lubrificante do motor é o óleo, e não o aditivo. Também não serve para motores nos quais a borra já tenha se acumulado em demasia. Para esses casos a saída é mesmo a oficina
Preço médio: 25 reais


Aditivo para radiadores
Para que serve: para evitar que a água do radiador, que é responsável por retirar o calor do motor, congele em temperaturas muito baixas ou ferva nas altas. Esse tipo de aditivo tem ainda propriedades anticorrosivas - impede que a água enferruje as partes de metal do radiador

Quando deve ser usado:
1. Se você tem um carro novinho - no caso de aditivos mais caros e modernos, que hoje equipam praticamente todos os veículos zero-quilômetro do mercado, a troca pode ser realizada a cada dois anos
2. Se você não fez as revisões - normalmente, uma vez por ano (mas é preciso estar atento às indicações dos fabricantes do aditivo e do veículo)
3. Se seu carro é usado e os hábitos do proprietário anterior são desconhecidos - para evitar dor de cabeça, convém usar o aditivo logo após a compra. Depois disso, recomenda-se usá-lo uma vez por ano ou a cada 10 000 quilômetros

Comentário dos especialistas: no caso de veículos mais rodados ou antigos, convém substituir todo o líquido de refrigeração a cada ano. Isso só deve ser feito por um mecânico profissional. É necessário esvaziar todo o sistema para depois enchê-lo novamente. Quando é preciso apenas completar o líquido do radiador, deve-se fazê-lo com aditivo, respeitando a proporção de mistura com água indicada na embalagem. Se for necessário completar o nível do radiador constantemente, deve-se procurar um mecânico. É indício de vazamento ou de mau funcionamento do sistema
Preço médio: 20 reais

Especialistas consultados: Aline Amadi, engenheira da Promax Bardahl; Denis Marum, diretor da Oficina Chevy Auto Center; Sergio Hiroshi Kina, gerente técnico do Instituto da Qualidade Automotiva (IQA); e Waldemar Christofoletti, membro do comitê de veículos de passeio da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE-Brasil)

Vítima da malária e do incesto


Novas análises das múmias de Tutancâmon e de outros membros
da 18ª dinastia egípcia mostram que os pais do faraó-menino eram
irmãos e que ele morreu devido a uma conjunção de enfermidades


Alexandre Salvador

VEJA TAMBÉM

Tutancâmon, o faraó-menino, subiu ao trono com apenas 10 anos e morreu aos 19. Seu curto reinado, entre 1333 a.C. e 1324 a.C., não se conta entre os mais importantes do antigo Egito, mas nenhum outro faraó exerce tanto fascínio na imaginação moderna. O mundo ficou deslumbrado quando, em 1922, arqueólogos ingleses encontraram sua câmara mortuária intacta – e não saqueada através dos séculos, como ocorrera com as tumbas de outros figurões do império egípcio. Lá estavam a múmia de Tutancâmon e todos os objetos depositados junto a ela para ajudar o faraó a atravessar a eternidade: joias, mobiliário, armas, textos religiosos e outros itens de valor inestimável para entender melhor o Egito de 3 300 anos atrás. Agora, um estudo conduzido por pesquisadores do Egito, Itália e Alemanha, divulgado na semana passada pelo Journal of the American Medical Association, esclarece vários mistérios relacionados à vida do próprio Tutancâmon. A pesquisa traz uma série de surpresas.

A equipe analisou a múmia de Tutancâmon e as de outros dez membros da família real encontradas no Vale dos Reis, a 500 quilômetros do Cairo. Foram colhidas amostras de DNA e realizados exames de tomografia dos corpos mumificados. Devido a uma perfuração que a múmia de Tutancâmon apresenta no crânio, tinha-se como hipótese que ele fora assassinado. Nada disso. Os exames de DNA revelaram que o faraó foi vítima do parasita Plasmodium falciparum, agente responsável pela malária tropical, a forma mais letal e virulenta da doença. As tomografias confirmaram que Tutancâmon sofreu uma fratura no fêmur direito, próxima ao joelho, dias antes de sua morte. A conclusão dos cientistas é que uma infecção causada pela fratura colaborou para que o estado de saúde do faraó piorasse e ele não resistisse à malária.

O novo estudo também explica por que Tutancâmon tinha uma série de más-formações, como fenda palatina e doença de Köhler-Freiberg (veja o quadro). Na análise do grupo de onze múmias reais, descobriu-se que os pais do faraó-menino eram irmãos e que provavelmente o próprio Tutancâmon tenha se casado com uma irmã ou meia-irmã. A fragilidade do faraó talvez tenha sido uma consequência da união consanguínea de seus pais e de outros antepassados. No túmulo, junto ao corpo do faraó, foram encontrados dois fetos mumificados – é possível que sejam seus filhos, também vítimas de uma união consanguínea.

Não se sabia ao certo quem foi o pai de Tutancâmon. A análise do DNA das onze múmias permitiu aos pesquisadores traçar a genealogia de cinco gerações da 18ª dinastia do antigo Egito. Descobriu-se que o pai de Tutancâmon foi o faraó Akhenaton, que reinou de 1351 a.C. a 1334 a.C. Akhenaton foi um governante revolucionário, que abandonou a religião oficial e impôs a adoração exclusiva de um único deus, Aton. Ele também construiu uma cidade no deserto, chamada Amarna, para ser o centro do culto a Aton. Quando Tutancâmon subiu ao trono, o clero palaciano tratou de restaurar a religião tradicional. A famosa rainha Nefertiti era a esposa principal de Akhenaton. Entretanto, os pesquisadores rechaçam a ideia de que ela seria mãe de Tutancâmon. A identidade da mãe do faraó-menino, irmã de Akhenaton, ainda é um mistério.

Na tentativa de explicar a morte precoce de Tutancâmon, criaram-se vários mitos relacionados. Em muitas imagens, o faraó é retratado com traços afeminados: seios proeminentes, quadris largos e feições delicadas. Desde que a múmia foi descoberta, pesquisadores aventaram a possibilidade de que anomalias genéticas – entre elas, síndrome de Marfan, ginecomastia e síndrome de Klinefelter – explicassem tanto as formas andróginas de Tutancâmon quanto sua morte prematura. Todas elas foram descartadas pelo estudo. "Muitas das hipóteses anteriores foram levantadas por pessoas que nunca viram uma múmia de perto. Essa investigação teve acesso irrestrito às múmias, o que assegura um diagnóstico muito mais exato sobre a morte de Tutancâmon", disse a VEJA o médico e historiador americano Howard Mar-kel, da Universidade de Michigan, que assina o prefácio do estudo no Journal of the American Medical Association. Os próprios autores da pesquisa admitem que o diagnóstico para a morte de Tutancâmon não é definitivo, mas é o mais preciso que a ciência até hoje pôde cravar.


Quadro: Um corpo maltratado


Guarda-roupa de gente grande


Difícil resistir: toda mamãe que tem queda por
roupas e recursos para bancar caprichos, próprios
ou filiais, cultiva em sua filhinha um estilo Suri de ser


Cristiane Sinatura

Lailson Santos
ARMÁRIO COMPLETO
Maria Eduarda, 6 anos: bolsinhas de grife e cinco pares de óculos para combinar com as roupinhas nunca repetidas de cada dia

The Grosby Group
COPIADINHA
Suri Cruise, 3 anos: saltinho, batom e estilo da menina mais imitada do mundo


Mãe que é mãe dificilmente resiste a comentar as roupinhas cheias de estilo, as bolsas graciosas e os sapatinhos de salto do guarda-roupa de, calcula-se por alto, 3 milhões de dólares de Suri Cruise, 3 anos, a encantadora filha de Tom Cruise e Katie Holmes. Pode ser para falar mal - onde já se viu botar salto em criança? -, mas geralmente é para se derreter de vontade de encontrar alguma coisa igualzinha para as próprias filhas. Guardadas as proporções entre gente normal e um poderoso casal hollywoodiano, toda mulher que tem pendor para comprar roupas para si mesma simplesmente adora entupir de coisas lindas o armário das filhas desde o momento em que vêm ao mundo, e até antes. Quando a menininha começa a andar e a apreciar os modelos tão lindos que parecem tecidos de imagens arquetípicas da graciosidade infantil, mamãe se descontrola de vez. "Falta ocasião para a Luna usar o tanto de roupa que tem", confessa a paulistana Juliana Gheler, 34 anos, sobre o armário recheado da filha de 1 ano e 8 meses, que tem metade da idade mas o dobro de trajes do irmão Ariel, de 4. Juliana segue uma espécie de sistema de compensação filial: equilibra com brinquedos novos para Ariel as quantias gastas nas pilhas de vestidinhos para Luna. Os quais não se limitam à faixa etária da filha. "Ela tem roupinhas para crianças de 4 anos. Quando dá, ajusto. Se não, guardo e espero o dia em que sirva", diz Juliana, que acaba de voltar de uma viagem aos Estados Unidos com a mala cheia de tesouros da linha infantil da inglesa Stella McCartney. Seguindo a mesma vertente, estilistas como Marc Jacobs e Giorgio Armani também passaram a criar peças para os filhos que sejam irresistíveis para os pais. Grifes nacionais de gente grande, e abonada, como Isabela Capeto, Mixed, Farm, Fit e Le Lis Blanc, abriram seções para crianças. A ideia é manter o espírito da marca, e não simplesmente miniaturizar a linha adulta. "Se uma roupa para a mulher adulta tem uma estampa que pode cair bem nas menininhas, desenvolvemos uma peça parecida, mas sem perder a cara de roupa de criança", explica Traudi Guida, sócia da Le Lis, que começou a atender o público infantil em agosto e, entre outubro e dezembro, contabilizou 16 000 roupinhas vendidas, ao preço médio de 100 reais. "Esta temporada serviu de teste. A aceitação foi maior do que se esperava, e agora vamos expandir", planeja.

Há cinco anos organizando desfiles infantis, a consultora de imagem Ana Cury constata o mais do que evidente: o capricho no visual das pequenas Suris está diretamente ligado ao perfil das mães. "São mulheres que têm uma carreira, sabem da importância da imagem e deixaram para ter filhos mais tarde. Quando engravidam, querem que sua posição social se transmita para toda a família", analisa. A empresária Ana Cristina Bonfim, 33 anos, mãe de Sofia, 2, se encaixa perfeitamente no perfil. Sempre atenta às novidades, não passa semana sem comprar alguma roupinha para a filha. O entusiasmo supera amplamente as necessidades. Sofia tem dez novos pares de sapatos para o inverno que ainda nem começou. "Eu sempre quis ter uma menina justamente para enfeitá-la toda", explica Ana Cristina, explicitando um desejo universal. As duas muitas vezes saem combinando a estampa de vestidos comprados na mesma loja. Mãe de Gabriela, 6 anos, e Julia, 3, a dona de casa Denise Lintz, 36, é outra que se orgulha de compor o visual das filhas com minúcias de stylist - o assessor de guarda-roupa que veste as famosas. Denise gasta cerca de 1 500 reais por mês com mimos variados, inclusive sapatos de salto alto à moda de Suri. "Na verdade, um saltinho", releva. Seguindo pelo mesmo rumo do alto de seus 3 aninhos, Luana, filha única da secretária carioca Márcia Otero, 40, faz coleção: de seus 28 pares de sapatos, sete são de saltinho. "Nós fizemos um acordo: se ela largasse a chupeta, ganhava um sapato de saltinho. Agora, ela não quer saber de outro tipo", diz Márcia, que gasta cerca de 3 000 reais por mês com roupas e acessórios infantis, com pleno apoio do marido, Edgard Moraes, 55 - "Ele é até pior que eu." Do tipo que não sai de casa sem abrir seu kit de maquiagem infantil e passar batom (no momento, favorece o vermelho), Luana fez a mãe ir de loja em loja atrás de um vestidinho preto para seu aniversário. Para dormir, usa camisola de seda. "Não medimos esforços porque achamos que vaidade tem de vir desde pequena", afirma Márcia.

Fotos Lailson Santos e Ernani D'Almeida
VAIDADE QUE VEM DO BERÇO
Sofia, 2 anos, combina vestido e sapato com a mãe, Ana Cristina, que sempre quis ter menina "para enfeitá-la toda"; Luana, 3, tem 28 pares de sapatos, sendo sete de saltinho, que ganhou em troca de largar a chupeta


Vaidade muitíssimo bem informada. "Com 6 anos, minha filha sabe melhor que eu o nome dos estilistas que usa", diz a farmacêutica Renata Berardocco, 39, sobre Vittoria, dona de um armário repleto de roupinhas Ronaldo Fraga e Isabela Capeto, que custam em média 300 reais. Dona de uma grife infantil, a estilista carioca Neusa Farina, 38, faz da caçula Maria Eduarda, 6, modelo de prova das roupas que desenha. "Ela adora sapato de salto, sai desfilando com os meus pela casa", conta Neusa. Também tem bolsinhas de marcas que mulheres adultas às vezes passam a vida para conseguir, como Prada e Louis Vuitton. Óculos de grau, por enquanto, são cinco pares em cores diferentes, para combinar com o resto do visual. Segundo a psicopedagoga Ana Cássia Maturano, a vontade de parecer gente grande faz parte da psique infantil desde que o mundo é mundo, e cabe aos pais dosar os excessos, de acordo com os próprios valores morais - sem falar nos materiais mesmo. "Toda menina quer pegar a roupa da mãe para brincar. Isso é saudável, mas os pais têm de tomar o cuidado de não reduzir o filho a um boneco nem transformá-lo em um pequeno adulto", explica. Tomado esse cuidado, convenhamos: tem coisa mais fofa do que uma pequena Suri?

O dogma derrete antes das geleiras


Quem duvida do aquecimento global é tratado como inimigo da
humanidade. Agora, revelações sobre manipulações e fraudes nos
relatórios climáticos mostram que os céticos devem ser levados a sério


Okky de Souza

Bill Stevenson/Corbis/Latinstock
O FRIO CONTINUA
Geleiras do Himalaia: as previsões de que derreteriam até 2035 não tinham base científica


Nos últimos anos, a discussão sobre o aquecimento global e suas consequências se tornou onipresente entre governos, empresas e cidadãos. É louvável que todos queiram salvar o planeta, mas o debate sobre como fazê-lo chegou ao patamar da irracionalidade. Entre cientistas e ambientalistas, estabeleceu-se uma espécie de fervor fanático e doutrinário pelas conclusões pessimistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU. Segundo elas, ou se tomam providências radicais para cortar as emissões de gases do efeito estufa decorrentes da atividade humana, ou o mundo chegará ao fim do século XXI à beira de uma catástrofe. Nos últimos três meses, numa reviravolta espetacular, a doutrina do aquecimento global vem se desmanchando na esteira de uma série de escândalos. Descobriu-se que muitas das pesquisas que dão sustentação aos relatórios emi-tidos pelo IPCC não passam de especulação sem base científica. Pior que isso: os cientistas que conduzem esses estudos manipularam dados para amparar suas conclusões.

O primeiro abalo na doutrina do aquecimento global se deu no fim do ano passado, quando um grupo de hackers capturou e divulgou mais de 1 000 e-mails trocados entre cientistas ligados à Universidade de East Anglia, na Inglaterra, o principal centro mundial de climatologia. As mensagens revelam que cientistas distorceram gráficos para provar que o planeta nunca esteve tão quente nos últimos 1 000 anos. As trocas de e-mails também mostraram que os climatologistas defensores da tese do aquecimento global boicotam os colegas que divergem de suas opiniões, recusando-se a repassar dados das pesquisas que realizam. Os e-mails deixam claro, ainda, que o grupo dos catastrofistas age para tentar impedir que os céticos (como são chamados os cientistas que divergem das teses do IPCC) publiquem seus trabalhos nas revistas científicas mais prestigiadas.

O climatologista in-glês Phil Jones, diretor do Centro de Pesquisas Climáticas da Universidade de East Anglia, sumo sacerdote do dogma da mudança climática e responsável pelos e-mails mais comprometedores, protagonizou o episódio mais dramático de reconhecimento de que muito do que divulga o IPCC não passa de má ciência. Em entrevista concedida depois de se tornar público que ele próprio tinha manipulado dados, Jones admitiu que, em dois períodos (1860-1880 e 1910-1940), o mundo viveu um aquecimento global semelhante ao que ocorre agora, sem que se possa culpar a atividade humana por isso. O climatologista reconheceu também que desde 1995 o mundo não experimenta aquecimento algum.

Universidade East Anglia/divulgação
UM TOM ACIMA
O climatologista Phil Jones: admissão pública de manipulação nos relatórios do IPCC


A reputação do IPCC sofreu um abalo tectônico no início do ano, quando se descobriu um erro grosseiro numa das pesquisas que compõem seu último relatório, divulgado em 2007. O texto afirma que as geleiras do Himalaia podem desaparecer até 2035, por causa do aquecimento global. O derretimento teria consequências devastadoras para bilhões de pessoas na Ásia que dependem da água produzida pelo degelo nas montanhas. Os próprios cientistas que compõem o IPCC reconheceram que a previsão não tem o menor fundamento científico e foi elaborada com base em uma especulação. O mais espantoso é que essa bobagem foi tratada como verdade incontestável por três anos, desde a publicação do documento.

Não demorou para que a fraude fosse creditada a interesses pessoais do presidente do IPCC, o climatologista indiano Rajendra Pachauri, cuja renúncia vem sendo pedida com veemência por muitos cientistas. Pachauri é diretor do instituto de pesquisas Teri, de Nova Délhi, agraciado pela Fundação Carnegie, dos Estados Unidos, com um fundo de meio milhão de dólares destinado a realizar pesquisas... nas geleiras do Himalaia. A mentira sobre o Himalaia já havia sido denunciada por um estudo encomendado pelo Ministério do Ambiente da Índia, mas o documento foi desqualificado por Pachauri como sendo "ciência de vodu". Os relatórios do IPCC são elaborados por 3 000 cientistas de todo o mundo e, por enquanto, formam o melhor conjunto de informações disponível para estudar os fenômenos climáticos. O erro está em considerá-lo infalível e, o que é pior, transformar suas conclusões em dogmas.


As outras chagas de Chagas

As outras chagas de Chagas

Em abril, será lançada a primeira cartilha médica sobre a infecção
causada pelo barbeiro. A doença agora ameaça moradores
de grandes cidades e pode ser transmitida por via oral


Adriana Dias Lopes

Tarcisio Mattos/Tempo Editorial
SEM REFRESCO
Em 2005, o vereador Claudir Maciel contraiu a doença de Chagas ao tomar caldo de cana contaminado no litoral de Santa Catarina


A doença de Chagas sempre esteve associada à zona rural, em especial às populações mais carentes, sem acesso a condições sanitárias adequadas. Sua forma clássica de contaminação ocorre pela picada do barbeiro, um inseto que abriga em seu intestino o parasita Tripanosoma cruzi, causador da infecção. Nos casos mais graves, ela pode levar à insuficiência cardíaca, obrigando o paciente a um transplante de coração. Graças a um intenso programa de erradicação do barbeiro na zona rural de todo o Brasil, a Organização Pan-Americana da Saúde decretou, em 2006, o fim no país da infecção pelo contato direto com o inseto. A doença de Chagas parecia, assim, um problema superado. Em abril, porém, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) pretende lançar a primeira cartilha para prevenção, diagnóstico e tratamento da doença. Isso porque, nos últimos cinco anos, as contaminações ressurgiram. Agora, elas ocorrem por via oral e estão disseminadas também nas áreas urbanas. Os casos mais recentes da doença de Chagas aconteceram pelo consumo de restos do barbeiro misturados a alimentos como o açaí e o caldo de cana. Os novos doentes já somam 600. O número de casos registrados cresce, em média, 20% ao ano.

Fotos Pedro Rubens, Marcelo Soares e SPL/Latinstock
BARBEIRO
Em seu intestino habita o parasita Tripanosoma cruzi, causador da doença de Chagas


"A transmissão pelo alimento é extremamente difícil de ser controlada", diz o infectologista João Carlos Dias, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e um dos responsáveis pelo Comitê de Doenças Parasitárias da Organização Mundial de Saúde (OMS). "Ao contrário da contaminação pela picada, ela não está limitada a uma população específica." O sinal de alerta para os riscos da infecção por via oral ganhou força em fevereiro de 2005, em Santa Catarina. De um único ponto de venda de caldo de cana, próximo à cidade de Navegantes, no litoral catarinense, 28 pessoas (entre as quais um turista italiano) foram contaminadas. O vereador Claudir Maciel, de Balneário de Camboriú, então com 33 anos, estava entre elas. Dez dias depois, num sábado à tarde, Maciel foi acometido por uma febre súbita de 40 graus, forte dor de cabeça e inchaço nos gânglios. No domingo, como os sintomas não cediam a antitérmicos, ele procurou um hospital. O diagnóstico veio por meio de um exame de sangue. "Fiquei surpreso", lembra o vereador, hoje curado. "Jamais imaginei que poderia ser contaminado com Chagas sem ter sido picado pelo barbeiro." Os sintomas da infecção costumam durar cerca de três semanas, e o tratamento é feito à base de medicamentos que atacam diretamente o parasita.

Em sua forma clássica de transmissão, o barbeiro pica sua vítima e, em seguida, defeca. Os parasitas contidos nas fezes do animal caem na corrente sanguínea da pessoa quando ela coça o local da picada. Nos casos da contaminação por via oral, o Tripanosoma cruzi entra na circulação sanguínea pelo trato digestivo. O parasita consegue sobreviver até 48 horas após a morte do barbeiro. É isso que explica por que o barbeiro ainda pode causar danos mesmo depois de morrer - em geral, durante o processo de moagem da cana e do açaí. Dessa maneira, a quantidade de parasitas que entram no organismo humano chega a ser dez vezes maior em relação à picada do barbeiro. "O intestino do barbeiro pode conter milhares de parasitas", diz o cardiologista José Carlos Pachón, do Hospital do Coração, em São Paulo. Por isso, a doença transmitida por via oral tende a ser mais agressiva. Além dos sintomas tradicionais, o paciente pode ser acometido por hemorragia intestinal. Um dos tópicos da cartilha sobre a prevenção da doença de Chagas é só consumir alimentos pasteurizados ou que tenham sido higienizados com hipoclorito de sódio, um composto capaz de matar o Tripanosoma cruzi.

Até o fim de 2010, a expectativa é que a cartilha da Sociedade Brasileira de Cardiologia seja adotada por associações médicas dos Estados Unidos e de alguns países da Europa, como Espanha, França e Itália. "Por causa da imigração de latino-americanos, tais países vêm assistindo a um crescimento no número de doentes de Chagas", diz o cardiologista Jadelson Andrade, coordenador de normatizações e diretrizes científicas da SBC. Lá, as principais formas de contaminação são por meio das transfusões de sangue e doações de órgãos. Em junho do ano passado, o jornal espanhol El País publicou uma reportagem em que se lia: "A doença de Chagas, uma patologia típica da América Latina, já pode ser considerada um problema de saúde pública na Espanha". Assim como nos Estados Unidos, a Espanha registra cerca de 100 000 casos de Chagas. Por isso, uma das recomendações das novas diretrizes é que os testes de sangue para a detecção da doença de Chagas sejam obrigatórios em hemocentros e hospitais - o que já acontece no Brasil desde os anos 90.


RADAR


Lauro Jardim
ljardim@abril.com.br

Brasil

Conflito de interesses
Nelson Takayanagi e Rogério Takayanagi, pai e filho, ocupam respectivamente uma das gerências-gerais da Anatel e a diretoria de marketing da TIM. Um parentesco dessa natureza é questão delicada. Mais ainda quando o pai toma decisões que envolvem a empresa em que seu filho ocupa uma diretoria. Foi o que ocorreu em três casos recentes. Num deles, em 29 de janeiro, Takayanagi pai assinou um despacho mantendo uma cobrança de taxas de interconexão de rede – uma decisão que agradou às teles móveis e irritou as fixas.

Leonardo Carvalho/Folha Imagem
Vem aí a Secretaria de Defesa do Consumidor
Luiz Paulo Barreto, o novo ministro da Justiça, trabalha para criar ainda neste semestre uma Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor.
Mãos à obra
Barreto: novo ministro, nova secretaria



Partidos

Operação de salvamento
A cúpula do DEM tem reuniões marcadas nos próximos dias com seus marqueteiros. Pretende começar quanto antes o trabalho de resgate da sigla, atingida no lamaçal de corrupção promovido por José Roberto Arruda.

Economia

Seguro contra bala perdida
A Bradesco Seguros começou a vender seguros populares de acidentes pessoais em duas das favelas mais simbólicas do Rio de Janeiro e de São Paulo, Rocinha e Heliópolis. Por 3,50 reais mensais, o seguro abrange inclusive balas perdidas. Em caso de morte, a família do segurado recebe 20 000 reais. Quase 500 contratos já foram fechados.

Conexão Brasil-Guiné 1
A Andrade Gutierrez vai fazer várias obras na Guiné Equatorial. Entre elas, a ampliação do aeroporto da capital, Malabo. O contrato é de cerca de 300 milhões de dólares.

Conexão Brasil-Guiné 2
A propósito, Teodoro Obiang, que preside a Guiné Equatorial há 31 anos, negocia a compra de um dos apartamentos mais caros do Rio de Janeiro: a cobertura de 2 000 metros quadrados de um prédio projetado por Oscar Niemeyer, em Ipanema. Vale uns 25 milhões de reais. O imóvel pertence a Vera, ex-mulher do empresário Sérgio Andrade. No prédio já morou outro presidente: JK.

Futebol

Mike Hewitt/AFP
Petrobras cortejada
A Petrobras acaba de receber do Chelsea, um dos clubes mais populares da Inglaterra, uma sondagem inusitada. Os ingleses querem patrocínio e ofereceram inclusive a mudança de nome do seu estádio, o Stamford Bridge, que viraria Petrobras Stamford Bridge. Curioso também é ver o Chelsea, que pertence ao magnata russo do petróleo Roman Abramovich, bater às portas da estatal. De zero a dez, a chance de o Chelsea receber o mesmo "não" que o Manchester United e o Real Madrid receberam em 2009 é dez.
Proposta
Estádio do Chelsea: o clube do magnata russo
do petróleo quer dinheiro da Petrobras



Perillo quer Duda na sua campanha

Ailton Freitas/Ag. O Globo e Nilton Fukuda/AE
Dobradinha?
Perillo e Duda: o ex-marqueteiro de Lula pode fazer a campanha do governador que o presidente detesta


O senador tucano Marconi Perillo está negociando com Duda Mendonça para que o baiano seja o seu marqueteiro na campanha pela reeleição ou ao governo de Goiás. Mais uma prova de que a política é como as nuvens no céu – a cada olhada elas já mudaram de forma e posição. Em 2005, quando o mensalão explodiu, Duda era o marqueteiro de Lula, e foi Perillo quem riscou um dos fósforos que mais fizeram levantar as chamas do escândalo: revelou que alertara pessoalmente Lula da existência do mensalão. Lula até hoje odeia Perillo.

Com Paulo Celso Pereira

Blog Archive