Saturday, June 19, 2010

Europa Futebol Clube


Ter jogadores em clubes das principais ligas é meio
caminho andado para o sucesso internacional


Carlos Maranhão e Fábio Altman, de Johannesburgo

Fotos Paulo Vitale e Gero Breloer/AP
Messi e Cacau (à dir.): o argentino e o brasileiro naturalizado alemão hoje são legítimos europeus


A que atribuir o mau desempenho da seleção da África do Sul nas duas primeiras partidas da Copa, empate em 1 a 1 com o México e derrota de 3 a 0 para o Uruguai? O treinador Carlos Alberto Parreira encontrou a resposta: falta de jogadores atuando em equipes da Europa. "Lá eles aprendem a ter malícia e senso de colocação, a ser profissionais, a adquirir hábitos de uma nova vida", disse Parreira a VEJA. Entre os 23 atletas dos Bafana Bafana, não mais que sete (três titulares) têm contrato com clubes do exterior. Na seleção de Dunga, há vinte na Europa. A Argentina de Maradona reúne dezesseis.

Tentou-se vender a Copa de 2010 como um torneio africano capaz de aproximar da taça, pela primeira vez, times alegres e "peladeiros", segundo um batido jargão. "É preconceito imaginar os jogadores africanos dessa maneira, divertidos e exóticos", afirma o historiador Peter Alegi, professor de história da África na Universidade do Estado de Michigan. Virou imagem desgastada. O futebol, hoje, é sinônimo de Europa. Apenas o Chelsea, da Inglaterra, está representado por doze jogadores na Copa. Das seis seleções do continente na disputa, só a da Argélia é dirigida por um nativo. Nas outras há dois suecos, um francês, um sérvio e um brasileiro, admirador da escola italiana.

O fenômeno da europeização tem origem econômica. Em 2009, o faturamento dos torneios europeus chegou a 15,7 bilhões de euros. Metade desse total vem dos campeonatos da Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França. Os jogadores procuram o exílio dourado porque ele pode lhes dar celebridade e fortuna às vezes desde a adolescência (o argentino Messi foi para o Barcelona com 13 anos). O brasileiro Cacau, naturalizado alemão, autor de um dos gols nos 4 a 0 contra a Austrália, emigrou com 18 anos e teve duplo sucesso: além de assinar bons contratos, conseguiu ir ao Mundial, sonho que seria remoto caso ainda jogasse no Brasil. As histórias de Messi e Cacau – tão distantes na fama e na habilidade – traduzem o futebol atual, feito de expatriados milionários.

Com reportagem de Alexandre Salvador


A Jabulani desvendada


Pesquisador japonês submete a bola do Mundial a testes
de aerodinâmica e explica por que ela surpreende os jogadores


Alexandre Salvador

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Após as primeiras disputas, alguns jogadores elegeram o adversário mais traiçoeiro da Copa do Mundo: a bola usada em campo, batizada pelo fabricante, a Adidas, de Jabulani. Os goleiros Chaouchi, da Argélia, e Green, da Inglaterra, levaram frangos vergonhosos. Suas equipes culparam a bola oficial da Copa, cujo comportamento imprevisível estaria fazendo com que os jogadores errem seus passes por longa margem e dificultando o trabalho dos goleiros. Júlio César, o goleiro do Brasil, foi impiedoso – comparou a Jabulani com uma bola de plástico daquelas vendidas em supermercados. A Universidade Loughborough, na Inglaterra, parceira da Adidas na criação da Jabulani, diz que ela tem apenas uma diferença relevante em relação à bola do último Mundial: é 5% mais veloz. Faltou dizer qual característica da Jabulani a torna mais rápida.

Para esclarecer essa questão, VEJA procurou o engenheiro japonês Takeshi Asai, da Universidade de Tsukuba. Ele foi o único, além da Adidas, a realizar testes comparativos entre a Jabulani e a Teamgeist, a bola da Copa de 2006. Para isso, Asai mediu o comportamento das bolas no túnel de vento. "Os testes revelam que as duas sofrem de maneira distinta a ação do atrito com o ar. Por essa razão, as trajetórias e as distâncias atingidas no campo de jogo são diferentes", explica Asai. Segundo o engenheiro, o que faz a diferença é a camada externa de cada uma delas. A superfície da Teamgeist é completamente lisa. A Jabulani tem ranhuras nos gomos e textura crespa. Um leigo pode pensar que a bola de superfície lisa ofereceria menos resistência ao ar e, portanto, viajaria mais rápido. Sob as leis da física não é o que acontece. A superfície texturizada é mais eficiente do ponto de vista aerodinâmico do que a lisa. Por isso a Jabulani é mais rápida e seus voos podem ser mais altos e mais longos que os da bola usada na Copa de 2006. "A Jabulani segue o mesmo princípio das bolas de golfe, que possuem pequenas depressões na superfície para atingir as distâncias exigidas nas partidas", disse a VEJA o engenheiro Ken Bray, da Universidade de Bath, na Inglaterra, especialista em tecnologia de equipamentos esportivos. Resta aos jogadores se habituar à nova bola antes de ser eliminados

Quadro: As revelações do túnel do vento


Como calar a vuvuzela na Copa do Mundo


quinta-feira, 17 de junho de 2010 | 12:47

Depois que a Fifa voltou atrás e desistiu de proibir a presença das barulhentas vuvuzelas nos estádios da Copa, muita gente achou que a única alternativa seria reduzir o volume da TV. Há outra saída, porém: alterar a configuração de áudio do seu aparelho.

Para isso, acesse o equalizador gráfico do menu da TV – operação que normalmente pode ser realizada via controle remoto. Uma vez ali, selecione a faixa de frequência de 300Hz e a reduza até o mínimo: o som das vuvuzelas, que gira em torno de 235 Hz, é imediatamente abafado. Você pode tentar também aumentar o sinal das demais faixas de frequência.

O site Anti Vuvuzela Filter oferece outra alternativa – mas ela é bem mais complicada e seu resultado é discutível. O endereço vende um arquivo, pelo valor de 2,95 euros (6,52 reais), que, ao ser reproduzido pelo computador, anula o som desagradável. A onda sonora emitida tem a mesma frequência que a da vuvuzela, mas em fase invertida – o que cancela o zumbido. Mas, para isso, é preciso ligar simultaneamente PC e TV.

As cornetas têm causado irritação pelo mundo inteiro. Um site (Banvuvuzela) decidiu medir o quão enervados estão os torcedores, colocando no ar uma enquete sobre o eventual banimento da corneta: até a manhã desta quinta-feira, 87.400 votos pediam que o brinquedo fosse calado, ante 9.300 a seu favor.

(Por Paula Reverbel)

Vuvuzela, não!


É hora de gritar bem alto para impedir a proliferação
no Brasil dessa praga insuportável que virou a marca
registrada do Mundial da África do Sul


Fábio Altman, de Johannesburgo

Paulo Vitale
SÍMBOLO
Culturalmente interessante, mas muito chata e perigosa para a audição


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A vuvuzela, o símbolo da Copa da África do Sul, cujo ruído multiplicado lembra o barrir de uma manada de elefantes, incomoda muita gente e faz mal à saúde. Especialistas da Universidade de Pretória comprovaram o risco de perda da audição em exposições prolongadas. Em estudo recente, na véspera do Mundial, eles examinaram onze voluntários antes e depois de uma partida de futebol com público de 30 000 pessoas. O grupo esteve sujeito a um pico máximo de 140 decibéis e mínimo de 100 decibéis – patamar maior que 125 decibéis é danoso aos tímpanos. A investigação detectou, em todos os testados, "significativa redução da capacidade auditiva".

Nos estádios, é péssimo. Pela televisão, pior. Na semana passada, a empresa contratada pela Fifa para gravar os jogos decidiu filtrar parcialmente o som. Mas dura é a vida de quem não pode controlar o áudio. Para Júlio César, goleiro do Brasil, ficar parado debaixo das traves é ingrato. "Os jogadores de linha ao menos se movimentam, e esquecem a zoeira ao redor", disse a VEJA.

O estrondo internacional produz entusiasmo em Neil van Shalkwyk, dono do registro da marca vuvuzela. Ele diz ter vendido 1,5 milhão de unidades na Europa neste ano. Esperto, já conversa com importadores do Brasil. Vai esbarrar em um problema: o cornetão brasileiro, muito comum, produz o mesmo som e é igualmente irritante. O modelo vendido no país é menor (seu comprimento varia entre 50 e 60 centímetros, contra 1 metro da vuvuzela africana). Melhor seria importar outro produto que se espalhou em Johannesburgo: protetores auriculares que, há quinze dias, custavam meros 10 rands (2,5 reais) e agora são vendidos a 15 rands. E, melhor ainda, banir o maldito monstro sonoro dos nossos estádios.

A Força Expedicionária Brasileira

veja

Trancada, isolada e muda, a seleção parece uma tropa
que foi à guerra e esquece que a nação toda quer saber
o que ela faz e está pensando


Carlos Maranhão, de Johannesburgo

André Chaco/Fotoarena/AE
SOLDADOS DE DUNGA
Os jogadores no seu campo de batalha, antes de enfrentar a Coreia do Norte.
"Manda quem pode, obedece quem tem juízo", diz o goleiro Júlio César

Eles parecem uma tropa. Vestem reluzentes uniformes, cada um ocupa sua posição determinada na unidade de infantaria, cumprem com rigor as ordens do comandante em chefe e quase não falam. Protegidos em seu QG ou entrincheirados, comportam-se como se estivessem em campanha – não futebolística, na disputa de um campeonato mundial, mas numa operação militar. Além de enfrentarem os adversários encarados como inimigos – primeiro a Coreia do Norte, batida na estreia de terça-feira passada pelo magro e preocupante placar de 2 a 1, neste domingo a Costa do Marfim e na próxima sexta Portugal –, eles foram longamente instruídos sobre como defrontar o que seu superior hierárquico considera outro tipo de obstáculo: a imprensa.

Nada de ficar dando entrevistas ou aparecer na TV. Só podem abrir a boca, sem nenhuma crítica ao batalhão, dentro de um código rígido. A cada dia, como num rodízio de sentinelas, dois deles são designados para a missão de participar de uma coletiva de imprensa, em que cerca de 200 jornalistas, mantidos a distância em suas cadeiras, disputam o direito de formular perguntas durante meia hora. Na véspera e depois das partidas, cumprindo uma determinação da Fifa, todos passam por uma espécie de corredor polonês em zigue-zague, entre o vestiário e o ônibus, a chamada zona mista, e os que concordarem param diante dos repórteres que se acotovelam. Alguns seguem marchando, como fez o lateral Maicon após a estreia, com a justificativa de que estivera na coletiva anterior. O atacante Robinho "ouve" a primeira indagação sem tirar do ouvido o fone do iPod. O comandante, esse, atravessa o corredor de nariz erguido, passos cadenciados, um, dois, feijão com arroz. Suas únicas aparições são nas tais coletivas obrigatórias, quando dá espetadas com sua baioneta e afirma que essa "é uma forma nova de trabalhar". Na hora dos treinamentos, ninguém chega perto da soldadesca nem da intendência – roupeiro, massagista, auxiliares, igualmente proibidos de se pronunciar. Com frequência, são manobras secretas. Ou, ainda na definição do comandante, privadas. "Manda quem pode, obedece quem tem juízo", comentou o goleiro Júlio César na coletiva de sexta passada.

É assim que vem sendo a vida dos pentacampeões mundiais em seu teatro de operações na África do Sul. Aqui o que menos importa são as dificuldades de trabalho dos jornalistas. A questão é que, ao trancar os jogadores, impedir o acesso aos treinamentos e limitar ao máximo as entrevistas, o comandante Dunga, radicalizando seu maquiavelismo, transmite a seguinte mensagem: assistam aos nossos jogos, torçam pela nossa vitória, mas por favor não nos importunem com críticas e pedidos. Faz com isso uma inversão de papéis, pois não são os jornalistas que ele afasta, mas todos os brasileiros que acompanham apaixonadamente a seleção a distância e ficam privados de informações. Entre uma Copa e outra, o futebol é alvo de interesse exclusivo dos torcedores de clube. Durante os trinta dias do Mundial, porém, é a nação de 193 milhões de habitantes que veste a camisa amarela.

Jamais ocorreu nada semelhante na história dos canarinhos. "Na Copa de 70, três vezes por semana, dois jornalistas almoçavam com a delegação e falavam com quem queriam", lembra o ex-lateral Carlos Alberto Torres. "É preciso manter essa boa relação, porque o país inteiro está interessado em acompanhar o que acontece com nossa seleção." Em competições passadas, o técnico e os jogadores davam entrevistas diariamente, antes e depois dos treinos. Havia exagero, é claro, com a publicação de uma avalanche de notícias e uma batelada de irrelevâncias, embora nesse período leitores, telespectadores, ouvintes e internautas fiquem curiosos para saber se a dor nas costas de Júlio César poderia impedi-lo de atuar, se o meia Kaká comentou com a mulher sua falta de ritmo de jogo ou se o atacante Luis Fabiano estaria preparando uma nova coreografia para comemorar os gols. Durante a semana passada, foi impossível apurar coisas banais como essas. No período mais duro do regime militar, com a vigência da censura e do AI-5, os ditadores não davam entrevista. Dentro da seleção brasileira, chefiada na Copa de 70 por um brigadeiro e presidida em 1978 por um almirante, chegaram a trabalhar na comissão técnica o capitão Cláudio Coutinho, que seria o treinador "campeão moral" na Argentina, o major Raul Carlesso e mais três militares. "Mesmo assim, em plena ditadura, a liberdade era maior do que hoje", compara o experiente comentarista esportivo Orlando Duarte. "Os jornalistas passeavam pelo hotel da seleção à vontade e entrevistavam quem bem entendiam. Nas catorze Copas que cobri, nunca vi nada parecido com o que acontece agora."

Com reportagem de Kalleo Coura

O pássaro que ruge


O locutor esportivo mais conhecido do Brasil foi alvo da
campanha "Cala boca Galvão" no Twitter, que mostrou até
onde a rede de 140 caracteres pode levar um assunto: o mundo


Jadyr Pavão Júnior e Rafael Sbarai

Joel Silva/Folhapress
"SALVEM O GALVÃO"
Imagem do vídeo que se seguiu à frase do Twitter: grandes jornais e sites de notícias se interessaram pelo assunto


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Ferir com palavras, pondo para circular histórias falsas com o objetivo de irritar ou destruir alguém, é uma prática tão antiga quanto a história humana. A humanidade viajava ainda à velocidade de 16 quilômetros por hora das carroças, mas as notícias ruins e fofocas já pareciam ter asas. As línguas de trapo mal esperavam o conquistador romano Júlio César, talvez o mais celebrado general e estadista de todos os tempos, sair de Roma para começar seu trabalho de intriga e destruição. Conforme registrou o historiador Gaius Suetonius Tranquillus, morto por volta do ano 122 da era cristã, o patriciado "punha para circular histórias" dando conta de que César arrancava todos os pelos do corpo com pinças e era chamado de "marido de todas as esposas e esposa de todos os maridos". Foi assim antes com gregos, macedônios e egípcios. As maledicências continuaram viajando mais rápido na Idade Média, durante e depois da Revolução Industrial. O que há de novo nesse campo? A internet. Se já voavam de ouvido em ouvido, as fofocas e falsidades ganharam o dom da instantaneidade com os milhões de computadores, celulares e tablets de todo o planeta interconectados por uma rede em que, pela primeira vez na história, todas as máquinas se comunicam na mesma linguagem, sem incompatibilidades nem fronteiras.

A fofoca digital pode criar verdadeiros tsunamis que chicoteiam o globo jogando as opiniões de milhões de pessoas de um lado para o outro. Antes que alguém possa verificar a verdade de um fato, sua versão ou versões já se tornaram o fenômeno. O caso que engolfou o locutor Galvão Bueno, a voz oficial das Copas do Mundo e das Olimpíadas nas transmissões da Rede Globo, é uma amostra do poder dessas novas correntes de pensamento criadas na internet. "Cala a boca, Galvão" era uma tirada que já circulava por aí fazia anos. Há pouco mais de uma semana, contudo, ela ganhou o mundo. Postada por usuários no Twitter, a rede social de troca de mensagens de até 140 caracteres, a frase CALA BOCA GALVAO - assim mesmo, em letras maiúsculas, sem vírgula e sem acento - virou hit e se manteve entre os dez assuntos mais comentados do serviço da internet durante toda a semana. Os brasileiros aumentaram a fervura, atribuindo sentidos absurdos à frase: segundo uma das versões, em português, cala boca significaria salve, e galvão, o nome de um pássaro em extinção. Alguns dos maiores sites e jornais do mundo, como o The New York Times, tentaram decifrar a brincadeira, e assim a difundiram ainda mais.

Justin Sullivan/Getty Images
O CONCORRENTE
Mark Zuckerberg, do Facebook: empate com o Twitter no Brasil em número de visitantes únicos


Nascido em 2006 como ferramenta para facilitar a troca de mensagens de trabalho via celular, o Twitter teve uma vida discreta por aproximadamente um ano, até que, durante um festival de música americano, percebeu-se que ele não precisava ficar restrito às empresas. Durante o evento, o número de posts diários saltou de 20 000, em média, para 60 000. Uma luz se acendeu na cabeça de seus criadores - jovens empreendedores do Vale do Silício, na Califórnia, com o programador Biz Stone à frente. A ideia das mensagens curtas não era propriamente uma novidade: os torpedos de celular (SMS) já permitiam apenas 160 caracteres. Mas ao adotar o slogan "O que você está fazendo?" o Twitter se apresentou como uma ferramenta que oferecia algo diferente: um canal para as pessoas dizerem ao mundo o que sentem, pensam ou fazem no exato momento em que teclam. A outra característica crucial do Twitter era permitir que aqueles que de outra forma jamais se aproximariam se ligassem numa rede de seguidos e seguidores. Inicialmente, o esforço para acumular seguidores tinha ares de brincadeira. Ostentar um grande número de fãs era um galardão vazio. Mas, no começo de 2009, quando o ator Ashton Kutcher e a rede de TV CNN disputaram tweet a tweet quem atingiria antes a marca de 1 milhão de seguidores (ele venceu), já estava claro que o Twitter não precisava ser apenas um amplificador de vaidades e irrelevâncias.

Atualmente, há 105 milhões de usuários do Twitter espalhados pelo mundo. Todos os dias, 600 milhões de buscas e 65 milhões de mensagens movimentam a rede. Por mês, são 190 milhões de visitas únicas. Esses números fazem do Twitter a segunda maior rede social do planeta, atrás do Facebook, com mais de 400 milhões de pessoas (a rede Qzone tem 310 milhões de usuários, mas só na China, em mandarim). No Brasil, a ferramenta é vice-campeã em número de acessos, ao lado do Facebook, com 10,7 milhões de visitantes únicos ao mês, atrás do Orkut, com 26,9 milhões.

A sede do Twitter, em São Francisco, reúne um pequeno corpo de funcionários: 175. Como tantas iniciativas revolucionárias da internet, o modelo de negócio da empresa ainda não está claro. Gigantes da web já tentaram "abocanhar o passarinho", símbolo do Twitter. Em 2008, o Facebook teria posto sobre a mesa de seus donos uma oferta de meio bilhão de dólares. Um ano depois, foi a vez do Google. Biz Stone explicou por que as ofertas foram recusadas: "O Twitter está focado em desenvolver novas funcionalidades e em permanecer independente". Em 2009, a empresa fechou as contas no azul graças a uma parceria com Microsoft e Google. Pelo acordo, avaliado em 25 milhões de dólares, as gigantes passaram a incluir tweets nos seus resultados de buscas na web.

AFP
DESAFIO AOS AIATOLÁS
A iraniana Neda Agha-Soltan é baleada durante protesto em Teerã: o Twitter ajudou os manifestantes a expor a repressão


Em quatro anos, o Twitter já provocou impactos na política, nos negócios, na cultura do entretenimento. O exemplo mais extraordinário de suas potencialidades deu-se há um ano, nas eleições iranianas. Em repúdio à reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, alinhado com o regime ditatorial dos aiatolás, uma fatia da população recorreu à rede para denunciar fraudes na apuração, organizar protestos nas ruas de Teerã e divulgar imagens da repressão policial. O movimento chegou a ser saudado como "revolução do Twitter". "Numa rede como essa, a voz das pessoas comuns ganha enfim dimensão pública", diz Tim Hwang, do Web Ecology Project, centro de estudos sobre a internet da Universidade Harvard.

O Twitter também se mostrou eficaz num contexto político democrático. Nas eleições americanas de 2008, o então candidato democrata Barack Obama fez uso da ferramenta para mobilizar a militância, arrecadar fundos e conquistar novos eleitores. No Brasil, os três principais candidados à Presidência - José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva - tuítam. "Todos os políticos brasileiros vão querer ser o Obama da eleição deste ano", vaticina Alex Primo, pesquisador de redes sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com base nos dados do IBGE e do Comitê Gestor da Internet no Brasil, o consultor em marketing digital Cláudio Torres calcula que 18% do eleitorado é formado por jovens entre 18 e 24 anos com acesso à internet - e, portanto, expostos às campanhas on-line.

O mundo empresarial já abraça o Twitter, uma ferramenta poderosa para anunciar e interagir com os consumidores. Uma pesquisa realizada em fevereiro com companhias americanas reflete a tendência. Segundo a Society for New Communications Research, mais de um terço das 500 maiores empresas listadas pela revista Fortune usa o Twitter de forma consistente. Companhias de diversos segmentos utilizam a rede para se relacionar com o seu público de forma mais íntima e instantânea, além de oferecer promoções exclusivas aos seus seguidores. O ator Ashton Kutcher, que, antes de bater a CNN, era mais conhecido como o namorado bonitão da atriz Demi Moore, foi outro que aprendeu a fazer negócios no Twitter. Ele dominou tão bem a arte de falar com seguidores em 140 caracteres que se tornou uma espécie de guru. Abriu uma consultoria, a Katalyst, voltada às novas mídias.

No campo do entretenimento, o Twitter transforma anônimos em famosos e abre novos horizontes para os célebres. No Brasil, quem despontou graças aos microposts foi Tessália Serighelli de Castro, que até adotou o apelido Twittess em homenagem à mãozinha recebida do Twitter. Colecionadora de 60 000 fãs quando ainda era anônima, ela foi convidada pela Globo para participar do Big Brother Brasil 10. O âncora do Jornal Nacional, William Bonner, está no segundo time, dos usuários que, já célebres, abriram uma nova seara na rede. Ele aumentou sua claque de seguidores à base de comentários fortuitos sobre o noticiário, recados para a mulher, Fátima Bernardes, e consultas como: "Que gravata usar na próxima edição do Jornal Nacional?". As mensagens curtas se mostraram propícias a bate-bocas inusitados. Na semana passada, em um de seus monólogos radiofônicos, o ditador venezuelano Hugo Chávez jurou que Ricky Martin era um chavista. O cantor acionou imediatamente seu 1,2 milhão de seguidores para desmentir o coronel. O ex-menudo ainda emendou, usando uma hashtag, marcação típica do Twitter: "# free Venezuela". ("Libertem a Venezuela").

Em boa parte do tempo, o Twitter é uma espécie de vuvuzela da internet, que apenas amplifica o nada. Mas, por sua velocidade, mobilidade e alcance, é uma plataforma que, em certas circunstâncias, parece "dar poder ao homem comum", como gostam de dizer alguns teóricos. "É como se cada indivíduo tivesse seu próprio meio de comunicação", diz o sociólogo francês Michel Maffesoli. Empresas e celebridades já se viram em apuros por causa do Twitter. Formou-se um certo conhecimento sobre como agir nessas situações. No episódio do CALA BOCA, a Globo mobilizou artistas de seu elenco acostumados a usar a rede para que defendessem Galvão Bueno. Na terça-feira, dia da estreia do Brasil na Copa, a emissora fez com que Galvão falasse do episódio numa entrevista. Ele disse aceitar tudo como brincadeira, e isso minimizou os danos à sua imagem. Mas o passarinho do Twitter deixou sua marca no ombro do locutor.

Bem, amigos...

Divulgação
A VOZ DO BRASIL
Com façanhas marcantes e gafes inesquecíveis, Galvão Bueno é, há mais de trinta anos, o narrador esportivo número 1 do país


Desde 1978, quase todas as glórias e tristezas do esporte brasileiro chegaram aos olhos, ouvidos e corações dos telespectadores pela narração rascante, emocionada e ufanista do locutor carioca Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno, que está às vésperas de completar 60 anos. Fosse a conquista do pentacampeonato mundial de futebol de 2002 - quando transmitia os gols de Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo multiplicando os erres até não poder mais, uma de suas marcas registradas -, a morte na pista, em 1994, de seu amigo Ayrton Senna, cujos 41 triunfos ele anunciava ao som do Tema da Vitória, ou as medalhas olímpicas do vôlei, lá estava no ar a voz mais ouvida do país.

Dono de uma audiência cativa, Galvão Bueno é tão admirado que em qualquer estádio em que esteja presente são desfraldadas faixas nas arquibancadas com seu nome. E ao mesmo tempo tão achincalhado - nos jogos, na imprensa, nos programas humorísticos, na internet - que teria todos os motivos do mundo para andar de mau humor. Ele acha graça de tudo, sempre sorridente, falando sem parar, cheio de si, dono da verdade, a começar pelo episódio da campanha "Cala boca Galvão".

Capaz de narrar com precisão qualquer esporte, dono de timbre impecável e raciocínio rápido, Galvão é autor de façanhas como a de pedir aos telespectadores que piscassem as luzes de casa durante os jogos que passavam de madrugada na Copa de 2002, realizada na Coreia do Sul e no Japão. O país inteiro virava um vaga-lume. Só um personagem com seu poder, em uma emissora como a Globo, poderia provocar uma reação desse tamanho. Mas, da mesma forma que se orgulha disso, ele lamenta alguns momentos constrangedores que protagonizou. Dois ficaram para a história. Um foi seu grito esganiçado, quase histérico, "é tetra, é tetra!" em 1994, ao lado de Pelé e do comentarista de arbitragem Arnaldo Cézar Coelho. O outro aconteceu na Copa de 1974, quando narrou por um pool de três emissoras paulistas, diretamente de um estúdio brasileiro, a partida entre Alemanha Oriental e Austrália pensando que estivessem jogando Bulgária e Sué-cia. Só percebeu o desastre depois que as imagens transmitidas da Alemanha mostraram no placar do estádio quais seleções de fato estavam em campo. Apreciador de vinhos de qualidade, lançará em agosto um tinto e um espumante gaúchos com seu nome. Com um salário estimado em 1 milhão de reais por mês, Galvão mora a maior parte do tempo em Mônaco, mas tem também endereços no Rio de Janeiro e em Londrina (PR), cidade de sua segunda mulher. Acusado de ufanismo, tira a referência de letra, como fez no caso do Twitter. "Sou um torcedor-narrador, e daí?", responde. "Meu trabalho é passar emoção a quem está em casa." Bem, amigos, o homem é mesmo um prodígio.

O corpo reclama


Os voos de longa duração afetam vários aspectos da saúde.
Especialistas ensinam aqui como evitar os contratempos mais comuns.

Pele ressecada

O que acontece: o ar frio e seco faz com que as glândulas sebáceas diminuam a produção de óleo na superfície da pele, deixando-a ressecada

O que fazer: para o rosto, use cremes ou loções cremosas à base de óleos naturais (como o de maracujá), glicerina e vitaminas, como C e E. "Evite o uso de batons. Em geral, eles têm substâncias que retiram um pouco da umidade da pele", explica a dermatologista Denise Steiner. A água termal é indicada para equilibrar o pH da pele

O que evitar: suspenda o uso de cremes com ácidos quatro dias antes da viagem. Eles deixam a pele mais sensível

Cabelos arrepiados

O que acontece: com a pressurização da cabine do avião, os cabelos apresentam maior reação eletrostática, o que acentua o arrepiado

O que fazer: lave os fios antes de viajar e aplique um leave in ou hidratante noturno sem enxágue

O que evitar: na semana da viagem, não use colorações, que ressecam ainda mais os fios

Stockbyte/Getty Images


Olhos vermelhos

O que acontece: a baixa umidade do ar faz com que a lágrima, que tem o papel de lubrificar os olhos, evapore mais rapidamente. O resultado é uma sensação de ardência e vermelhidão

O que fazer: pingar colírio a cada duas horas. A recomendação para quem usa lentes de contato é retirá-las antes do embarque. "Prefira os colírios com função lubrificante, que são levemente mais viscosos que a água, contendo metilcelulose ou hipromelose na fórmula", diz Mário Motta, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia

Dorling Kindersley/Getty Images

Ardência no nariz

O que acontece: o ar seco da cabine provoca ardência nas narinas por ressecar a mucosa nasal

O que fazer: umedecer as narinas com soro fisiológico. Duas borrifadas de spray ou um medidor de conta-gotas para cada narina ajudam a diminuir o desconforto

Má circulação nas pernas

O que acontece: manter os joelhos dobrados por muito tempo prejudica o retorno do sangue venoso nos membros inferiores. Inchaço, coceira, dores e sensação de peso nas pernas são as principais queixas

O que fazer: o ideal é levantar-se e andar por cinco minutos a cada hora para melhorar a circulação. Quando não for possível se levantar, recorra a alguns exercícios simples. Com os pés apoiados no solo, levante o calcanhar e volte a apoiá-lo no chão algumas vezes. Movimentos circulares com os pés também amenizam o problema. Sapatos confortáveis e meias elásticas de média compressão até os joelhos são essenciais em viagens longas. Elas são contraindicadas para portadores de insuficiência cardíaca ou problemas arteriais e para quem tem infecções de pele, feridas, eczemas ou micoses


Os pequenos passageiros

Ariel Skelley/Corbis/Latinstock


É o drama dos pais de filhos pequenos: o que fazer para entretê-los durante as longas horas de voo? A consultora Cecília Aflalo, da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), selecionou algumas atividades que costumam funcionar para a maioria das crianças:

• de 1 a 4 anos
Revistas para desenhar e pintar, boneco ou boneca preferida da criança, livros de histórias – tradicionais ou audiobooks – e DVD portátil com desenhos animados

• de 4 a 7 anos
Além de se divertir com os itens acima, a criança pode se distrair com revistas de passatempos e games portáteis

• a partir de 7 anos
Nessa fase, podem-se incluir sudoku, caça-palavras, forca, jogos de cartas, como trunfo, e brincadeiras interativas que estimulam o vocabulário. Um exemplo: citar animais que começam com a letra A. Mas baixinho, para que os passageiros à volta possam dormir...

Com reportagem de Daniela Macedo e Gabriella Sandova

Para não perder a calma


Aeroportos congestionados, filas intermináveis
no check-in e voos superlotados.


Anna Paula Buchalla
abuchalla@abril.com.br

Essa é a realidade dos brasileiros que vão viajar nas férias de julho – e, em particular, da maioria que voa na classe econômica. Mas há algumas medidas que agilizam o embarque (elas são especialmente úteis para quem viaja aos Estados Unidos), minimizam o transtorno das filas e até evitam prejuízos. VEJA ouviu comissários de bordo e especialistas em viagens sobre a melhor forma de garantir um embarque tranquilo.


Shutterstock

Problema: o passageiro acha que tem só um item de bagagem de mão – mas desconsidera a bolsa, o casaco, as sacolinhas de compras feitas no duty free...

recomendação: compacte ao máximo a bagagem de mão em um volume apenas e deixe espaço livre nela para acomodar uma ou outra sacolinha. Embarcar com muitos itens é complicado e ainda incomoda os outros passageiros. Os voos andam com lotação de 100% – e os maleiros da cabine, por consequência, também. Nos voos domésticos, a soma das dimensões (altura, largura e comprimento) não deve ser superior a 115 centímetros e o peso não pode exceder 5 quilos. Nos voos internacionais, cada companhia aérea possui uma norma para bagagem de mão – pode variar de 5 (TAM) a 18 quilos (American Airlines). Pese as malas em casa. Isso evitará gastos com excesso de bagagem ou o constrangimento de ter de passar itens de uma mala para outra no saguão do aeroporto



Divulgação


Problema: como acondicionar laptop e outros eletrônicos que precisam ser removidos da bagagem de mão para passar pelo aparelho de raio X – nos aeroportos americanos, a segurança manda para um "chiqueirinho" e submete a revista quem desobedece à regra

Recomendação: reserve, na maleta, um espaço do qual o laptop possa ser tirado e então reacomodado sem rearranjos nem obstruções. Ainda mais fácil: hoje existem maletas especiais, autorizadas pelas polícias federais estrangeiras, que dispensam a remoção do laptop. Em geral, esses modelos não têm nenhum zíper, botão, fivela de metal ou bolso. Nenhum outro objeto, além do notebook, deve ser guardado na maleta




Andy Caulfield/Getty Images

Problema: o passageiro chega ao aeroporto e descobre que seu voo está superlotado, atrasado ou foi cancelado pela companhia aérea

Recomendação: reclame e não deixe barato. Desde o dia 13, uma resolução da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determina que, quando o cliente solicitar, as empresas deverão reembolsar imediatamente o valor da passagem e da taxa de embarque. A regra vale para overbooking, cancelamento ou atraso superior a quatro horas. Antes, as companhias tinham até trinta dias para efetuar o pagamento. Após duas horas de espera, o passageiro também passa a ter direito a alimentação adequada e proporcional ao tempo de espera até o embarque




Simon Marcus/Corbis/Latinstock

Problema: o passageiro chega ao aeroporto e descobre que seu voo está superlotado, atrasado ou foi cancelado pela companhia aérea

Recomendação: reclame e não deixe barato. Desde o dia 13, uma resolução da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determina que, quando o cliente solicitar, as empresas deverão reembolsar imediatamente o valor da passagem e da taxa de embarque. A regra vale para overbooking, cancelamento ou atraso superior a quatro horas. Antes, as companhias tinham até trinta dias para efetuar o pagamento. Após duas horas de espera, o passageiro também passa a ter direito a alimentação adequada e proporcional ao tempo de espera até o embarque


Alan Shein/Corbis/Latinstock

Problema: a mala é aberta pelos fiscais depois de passar pelo raio X e, embora não tenha sido apreendida, viaja praticamente aberta até seu destino

Recomendação: para viagens aos Estados Unidos, onde a mala despachada pode ser inspecionada por agentes federais, prefira cadeados com segredo TSA (sigla para transportation security administration, ou administração de segurança nos transportes). Eles podem ser abertos com uma chave mestra e travados novamente pelos agentes sem ser danificados. Os modelos que não estão de acordo com as normas da TSA correm o risco de ser destruídos e inutilizados pelos seguranças que farão a inspeção




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Problema: ainda que se chegue ao aeroporto com três horas de antecedência, a fila do check-in é extensa e há sempre o risco de perder o horário do embarque

Recomendação: é possível fazer um embarque mais rápido. Há, por exemplo, o check-in antecipado: ele pode ser feito via internet, celular ou totens de autoatendimento espalhados pelos aeroportos. Ainda que seja preciso ficar na fila para despachar a bagagem, o processo no balcão de atendimento é bem mais rápido. Outra opção: algumas companhias, como a TAM, retiram as malas em casa e as entregam no destino. Por enquanto, o serviço vale somente para voos nacionais e custa entre
50 e 100 reais, de acordo com o peso da mala

Outras fontes consultadas: Geraldo Lorenzi Filho, pneumologista; Guilherme Pitta, cirurgião vascular; Jozian Quental, dermatologista; Luciano Barsanti, tricologista; Infraero; Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor; Avianca; Le Postiche; e Samsonite

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