Saturday, April 17, 2010

Uma voz livre sob a burca


Hissa Hilal, uma dona de casa saudita, foi sensação na TV
com seus poemas contra o fundamentalismo islâmico


Bruno Meier

Ali Haider/EPA/Corbis/Latinstock


Campeão de audiência da televisão estatal de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e visto em grande parte do Oriente Médio,Million’s Poet, no ar desde 2006, é uma espécie de versão árabe de American Idol. Trata-se de um programa de calouros, em que o vencedor é escolhido por uma conjunção dos votos do público e do corpo de jurados. Mas os candidatos não cantam: recitam poemas de autoria própria. A poesia desfruta uma inusitada popularidade na cultura dos países árabes, onde muitos sabem de cor seus versos favoritos. O vencedor da edição mais recente do Million’s Poet, encerrada neste mês, foi Nasser al Ajami, do Kuwait, que levou o prêmio máximo de 1,3 milhão de dólares. Mas Hissa Hilal, uma dona de casa saudita de 43 anos, terceiro lugar na final, foi a vencedora moral da competição. Coberta com uma opressiva burca negra, Hissa – que é mãe de quatro filhos e teve de pedir autorização ao marido para participar do show – deu notoriedade internacional ao Million’s Poet ao fazer do programa uma plataforma para atacar o fundamentalismo islâmico e reivindicar mais liberdade no mundo árabe. "Minha poesia sempre foi provocadora. É uma maneira de dar voz às mulheres árabes, silenciadas por aqueles que têm sequestrado nossa cultura e nossa religião", declarou a poeta.

Um dos seus poemas mais incisivos trazia críticas às fatwas, os decretos draconianos expedidos por líderes religiosos como Abdul-Rahman al-Barrak, clérigo da Arábia Saudita que recentemente declarou como infiel (portanto, punível com a morte) toda pessoa que promover a mistura de homens e mulheres no mesmo ambiente. "Eu vi o mal nos olhos das fatwas, em um tempo em que o permitido está sendo retorcido em proibido", recitou Hissa na competição. Por essa ousadia, sites de militantes islâmicos chegaram a ameaçá-la de morte. Mas alguns membros do júri – composto apenas de homens sisudos e bigodudos – elogiaram a coragem da competidora. O público também a aplaudiu com entusiasmo. Pelo terceiro lugar, Hissa levou cerca de 800 000 dólares. Já disse que pretende comprar uma casa nova e buscar um bom médico para a filha autista. A decisão final sobre o uso do dinheiro, porém, caberá a seu marido.

O roqueiro silencioso


Um astro americano que abandona a música, um fã alucinado
e sua mulher frustrada formam o trio cômico de Juliet, Nua e Crua,
novo romance do escritor pop por excelência, Nick Hornby


Jerônimo Teixeira

Rex Features
DELICIOSA IRRELEVÂNCIA
Nick Hornby: a música pop tem lugar na vida emocional
de seus admiradores. Mas convém não levá-la muito a sério

O leitor de Juliet, Nua e Crua (tradução de Paulo Reis; Rocco; 272 páginas; 34 reais), que acaba de chegar às livrarias brasileiras, quase se sente traído pelo romancista, o inglês Nick Hornby, 53 anos, quando o ex-músico Tucker Crowe aparece fazendo compras em um supermercado na companhia do filho pequeno. Nas pouco mais de cinquenta páginas que precedem essa cena, Tucker vinha envolto em uma densa névoa de mito e mistério. Comparado pela crítica a Bob Dylan e Leonard Cohen, o cantor e compositor americano abandonara a carreira – sem nunca explicar suas razões – em 1986, em plena turnê de Juliet, seu mais aclamado disco. Na visão de fãs como Duncan, um me-dío-cre professor universitário inglês, Tucker seria uma versão roqueira do escritor J.D. Salinger: o artista que, depois de produzir suas obras-primas, escolhe o silêncio. Mas a conversa do astro aposentado com o filho, sobre os potenciais males que a carne vermelha causa à saúde, destoa do figurino de gênio recluso. E é para ser assim mesmo. Juliet, Nua e Crua sustenta, pelos meios da ficção, um ponto de vista que Hornby vem defendendo em seus ensaios sobre música: o pop ocupa, sim, um lugar relevante na vida emocional de seus admiradores – mas convém não levá-lo a sério demais.

O personagem central do livro não é nem o ex-astro nem seu fã ardoroso, mas Annie, a infeliz curadora de um acanhado museu em uma cidadezinha do litoral inglês. Acomodada em um casamento morno com Duncan, ela se torna, vicariamente, uma fã da música de Tucker. Em um momento de desacordo com o parceiro, Annie resolve postar na internet uma resenha desfavorável de um disco com sobras de estúdio de Tucker. O texto chama a atenção do músico – que rompe seu isolamento para se corresponder, por e-mail, com Annie, a essa altura em vias de se separar de Duncan. Hornby trata seu trio de fracassados com uma ironia compassiva; situações que poderiam ser deprimentes ganham sempre um colorido cômico. Os romances anteriores do autor, como Alta Fidelidade, têm sido atacados justamente pela complacência com que mostram o fã de música (ou de esportes) aprisionado em sua eterna adolescência. A crítica é um tanto injusta: neste novo romance, Duncan, o superfã, é retratado como uma figura irremediavelmente ridícula. Logo na primeira página, o leitor o encontra visitando, excitadíssimo, o banheiro infecto de uma casa de shows onde, reza a lenda, Tucker tomou a decisão de abandonar o showbiz.

É quando o romance se detém nas frustrações sentimentais de Annie ou nos casamentos desastrosos de Tucker que a narrativa desanda para a trivialidade, com diálogos e situações típicos daquela comédia romântica que o espectador esquece logo que sai do cinema. Análise psicológica não é a praia de Hornby. Juliet, Nua e Crua traz observações engraçadas e pertinentes sobre o modo como a internet vem mudando a relação dos fãs com a música. A alma do livro – e do escritor – é a deliciosa irrelevância do pop.

Introdução: Ingredientes do passado


“Não há história da humanidade, há somente várias histó- rias sobre todos os aspectos da vida humana.”

KARL POPPER

“Odestinodasnaçõesdependedesuaescolhadealimentos.” JEAN-ANTHELME BRILLAT-SAVARIN

HÁ MUITAS MANEIRAS DE VER O PASSADO: como uma lista de datas impor- tantes, uma sequência de reis e rainhas, uma série de impérios ascendentes e decadentes ou uma narrativa de progresso político, filosófico ou tecnológico. Este livro contempla a história de uma maneira inteiramente diferente: como uma série de transformações causadas, possibilitadas ou influenciadas pela comida. Ao longo do tempo, os alimentos fizeram mais do que simplesmente proporcionar sustento; eles agiram como catalisadores da transformação e da organização social, da concorrência geopolítica, do desenvolvimento industrial, do conflito militar e da expansão econômica. Desde a pré-história até a atualidade, os relatos dessas transformações formam uma narrativa que abrange a totalidade da história humana.

O primeiro papel transformador da comida foi servir como funda- mento para civilizações inteiras. A adoção da agricultura tornou possí- veis novos estilos de vida mais estáveis e pôs a humanidade no caminho para o mundo moderno. Mas os cultivos básicos que sustentaram as pri- meiras civilizações – cevada e trigo no Oriente Próximo, milhete e ar- roz na Ásia, milho e batata nas Américas – não foram descobertos por acaso. Na verdade, emergiram de um complexo processo de coevolução, à medida que aspectos desejáveis eram selecionados e propagados por

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agricultores primitivos. Esses cultivos básicos são, na verdade, invenções: tecnologias deliberadamente desenvolvidas que só existem como resultado da intervenção humana. A história da adoção da agricultura é a fábula de como engenheiros genéticos primitivos desenvolveram novas e poderosas ferramentas que tornaram a própria civilização possível. Nesse processo, a humanidade transformou as plantas, e elas, por sua vez, transformaram a humanidade.

Tendo provido uma plataforma sobre a qual as civilizações puderam ser fundadas, os alimentos atuaram como ferramentas de organização social, ajudando a moldar e estruturar as sociedades complexas que despontavam. A estrutura política, econômica e religiosa das sociedades antigas, desde os caçadores-coletores até as primeiras civilizações, baseava-se nos sistemas de produção e distribuição de comida. A produção de excedentes agrícolas e o desenvolvimento de sistemas coletivos de armazenamento e irrigação fomentaram a centralização política; rituais de fertilidade agrícola trans- formaram-se em religiões estatais; a comida tornou-se moeda e meio de tributação; banquetes eram realizados para obter influência e demonstrar status; distribuições de alimentos eram feitas para definir e reforçar estrutu- ras de poder. Por todo o mundo antigo, muito antes da invenção do dinheiro, comida era riqueza – e controle da comida era poder.

Depois do surgimento de civilizações em diferentes partes do mundo, os alimentos ajudaram a conectá-las umas às outras. Rotas de comércio funcionaram como redes internacionais de comunicação, fomentando não apenas a troca comercial, mas também a troca cultural e religiosa. A rota das especiarias que atravessou o Velho Mundo levou à fertilização transcultural em campos tão diversos quanto a arquitetura, a ciência e a religião. Geógra- fos primitivos começaram a se interessar pelos costumes e povos de terras distantes, e compilaram os primeiros esboços de mapas-múndi. De longe, a maior das transformações causadas pelo comércio de alimentos resultou do desejo europeu de superar o monopólio árabe sobre as especiarias. Isso levou à descoberta do Novo Mundo, à abertura de rotas comerciais maríti- mas entre a Europa, a América e a Ásia e ao estabelecimento dos primeiros postos coloniais por nações europeias. Nesse percurso, revelou-se também o verdadeiro traçado do mundo.

Introdução 9

Enquanto nações europeias competiam para construir impérios glo- bais, os alimentos ajudaram a promover a próxima grande transformação na história humana: um surto de desenvolvimento econômico através da industrialização. O açúcar e a batata, tanto quanto a máquina a vapor, sus- tentaram a Revolução Industrial. A produção de açúcar em plantations nas Índias Ocidentais foi, possivelmente, o primeiro protótipo de um processo industrial, embora dependente de trabalho escravo. A batata, nesse meio- tempo, superou a desconfiança inicial dos europeus para se tornar um ali- mento de primeira necessidade, capaz de garantir mais calorias por área de terra cultivada do que as plantações de cereais. Juntos, o açúcar e a batata forneciam um sustento barato para os trabalhadores nas fábricas da era in- dustrial. Na Grã-Bretanha, onde esse processo teve início, a controvertida questão sobre o futuro do país estar na agricultura ou na indústria foi res- pondida de maneira inesperada e decisiva pela Grande Fome da Batata na Irlanda, em 1845.

O uso da comida como arma de guerra é antigo, mas os conflitos mili- tares de grande escala dos séculos XVIII e XIX o elevaram a um novo nível. Os alimentos desempenharam um papel importante na determinação do resultado das guerras que definiram os Estados Unidos: a Guerra de Inde- pendência, nos anos 1770-80, e a Guerra Civil, nos anos 1860. Enquanto isso, na Europa, a ascensão e a queda de Napoleão estiveram intimamente ligadas à sua capacidade de alimentar vastos exércitos. A mecanização da guerra, no século XX, significou que, pela primeira vez na história, alimen- tar máquinas com combustível e munições tornou-se mais importante do que alimentar soldados. Durante a Guerra Fria, a comida assumiu um novo papel como arma ideológica entre capitalismo e comunismo e, em última instância, ajudou a determinar o resultado do conflito. Nos tempos moder- nos, ela tornou-se campo de batalha para outras questões, como comércio, desenvolvimento e globalização.

Durante o século XX, métodos científicos e industriais aplicados à agri- cultura levaram a uma expansão espetacular da oferta de alimentos e a um aumento correspondente da população mundial. A chamada revolução verde causou problemas ambientais e sociais, mas, sem ela, provavelmente teria havido fome generalizada em grande parte do mundo em desenvolvimento

10 Uma história comestível da humanidade

durante os anos 1970. E, ao permitir que a oferta de alimentos crescesse de forma mais acelerada que a população, a revolução verde abriu caminho para a industrialização surpreendentemente rápida da Ásia no final do século. Como as pessoas em sociedades industriais tendem a ter menos filhos do que em sociedades agrárias, já se pode prever agora que a humanidade atingirá seu ápice populacional no fim do século XXI.

Muito já se escreveu sobre gêneros alimentícios diversos, costumes e tradições relacionados a comida e sobre o desenvolvimento de culinárias nacionais específicas. Menos atenção, porém, foi dedicada ao impacto dos alimentos sobre a história mundial. Este livro, entretanto, não afirma que um único alimento encerre a chave para a compreensão da história da co- mida, nem tenta resumir toda a história dos alimentos ou do mundo. O que ele faz, utilizando uma série de disciplinas – entre as quais a genética, a arqueologia, a antropologia, a etnobotânica e a economia –, é concentrar-se especificamente nas interseções entre a história dos alimentos e a do mundo para formular uma pergunta simples: quais alimentos mais contribuíram para moldar o mundo moderno, e de que maneira? Adotando uma perspectiva histórica de longo prazo, fornece também uma nova maneira de iluminar os debates atuais sobre o tema, tais como a controvérsia que envolve os grãos geneticamente modificados, a relação entre comida e pobreza, a ascensão do movimento por comida “local”, o uso de produtos agrícolas para fabricar biocombustíveis, a eficácia dos alimentos como meio de mobilizar apoio po- lítico para várias causas e a melhor maneira de reduzir o impacto ambiental da agricultura moderna.

No livro A riqueza das nações, publicado pela primeira vez em 1776, Adam Smith fez a famosa comparação entre a influência oculta das forças de mer- cado, que agem sobre participantes atentos apenas a seus próprios interes- ses, e uma mão invisível. A influência dos alimentos sobre a história pode ser similarmente vista como um forcado invisível que, em vários momentos cruciais, incitou a humanidade e alterou seu destino, ainda que as pessoas geralmente não estivessem conscientes dessa influência. Muitas escolhas alimentares feitas no passado tiveram consequências de longo alcance, aju- dando a moldar de maneiras inesperadas o mundo em que vivemos hoje. Para o olho perspicaz, a influência histórica dos alimentos pode ser vista em

Introdução 11

toda parte, e não somente na cozinha, na mesa de jantar ou no supermercado. Pode parecer estranho que eles tenham sido um ingrediente tão importante nas questões humanas, mas o contrário seria muito mais surpreendente: afinal de contas, em tudo que fizeram ao longo da história, as pessoas foram literalmente impulsionadas pela comida.


Ensinamentos agrícolas


Fotos Getty Images

Bom prato de história


Uma análise ambiciosa da evolução da agricultura mostra como a comida modificou as sociedades – e desfaz alguns mitos alimentares contemporâneos


Diogo Schelp

The Bridgeman Art Library/Getty Images
FRUTA REAL
Quadro do holandês Hendrick Danckerts, de meados do século XVII, mostra o rei Carlos II,
da Inglaterra, recebendo um abacaxi do jardineiro John Rose: os alimentos
das Américas modificaram a economia europeia


VEJA TAMBÉM

Poucos temas despertam tanta paixão e posturas irracionais como a alimentação. Mitos e "achismos" sobre o que é mais saudável ou politicamente correto costumam guiar cada uma das escolhas feitas diante de uma gôndola de supermercado. Alguns dos modismos modernos a esse respeito: os transgênicos são perigosos; as comidas produzidas localmente têm menor impacto ambiental; e a dieta ideal contém apenas produtos orgânicos. EmUma História Comestível da Humanidade (Zahar; 280 páginas; 36 reais), o inglês Tom Standage, editor de tecnologia e negócios da revista The Economist, emprega o seu texto fácil e a incansável busca por detalhes históricos para dar racionalidade ao debate sobre as escolhas alimentares. O título e a capa prometem repetir a fórmula de sucesso de História do Mundo em 6 Copos, do mesmo autor, lançado no Brasil em 2005. Decepciona-se, no entanto, quem espera encontrar no livro uma viagem no tempo inspirada na gastronomia. Não há curiosidades sobre receitas nem descrições de sabores de pratos. Em vez disso, Standage explica como as transformações na produção e no comércio agrícola moldaram o mundo, desde a domesticação de plantas e animais, responsável pelo surgimento das primeiras civilizações, até a Revolução Verde, sem a qual o grande salto populacional do século passado não teria acontecido. O valor desse apanhado histórico ambicioso – que faz do título de Standage uma opção segura no variado cardápio das livrarias – está em desmitificar aqueles temas que atualmente atormentam o consumidor.


A desconfiança em relação ao que se come é um traço atávico do ser humano. Standage conta que, apesar de inúmeros alimentos do Novo Mundo, como o abacaxi, terem conquistado rapidamente as mesas europeias, a batata demorou a ser aceita, por preconceito. Até certo ponto, a repulsa é compreensível: ela foi o primeiro tubérculo comestível que a Europa conheceu. Mas também havia razões místicas para a batata, apesar de seu alto valor calórico e da facilidade de produção, ter demorado 200 anos para se popularizar, após ter sido levada pela primeira vez para o Velho Mundo em 1530. Explica Standage: "As batatas não eram mencionadas na Bíblia, o que sugeria que Deus não pretendera que os homens as comessem, diziam alguns clérigos. A aparência inestética, malformada, também repelia as pessoas". O paralelo com a irracionalidade que envolve as campanhas atuais contra os alimentos geneticamente modificados é evidente. Os transgênicos causam medo em alguns consumidores porque são desenvolvidos através da manipulação, em laboratório, dos genes. E, reza o mito, se um alimento não for resultado de processos naturais, não pode ser bom para o organismo humano nem para o ambiente. Uma História Comestível lembra, contudo, que a dieta humana é praticamente toda derivada de plantas e animais que não existem na natureza. São invenções do homem, resultado de centenas de anos de cruzamentos de variedades de espécies comestíveis.

Como no caso dos transgênicos, o consumidor que se pretende consciente, hoje, frequentemente se vale do argumento ambiental para dar preferência a este ou aquele alimento. Standage harmoniza exemplos históricos e acrescenta uma pitada de boa ciência moderna para mostrar que nem tudo é o que parece. A valorização da "comida local", por exemplo, aquela produzida dentro de um raio de poucos quilômetros da casa do consumidor, baseia-se em parte na ideia de que todo alimento que vem de longe provoca uma excessiva emissão de gás carbônico, por causa do combustível necessário para o transporte. Os cientistas já provaram, no entanto, que a produção local muitas vezes tem um impacto ambiental muito superior ao daquela feita em condições climáticas e geográficas mais adequadas, ainda que distantes. Um estudo recente citado no livro, por exemplo, descobriu que a criação de carneiros na Nova Zelândia emite tão pouca quantidade de gases do efeito estufa, comparada à da produção na Inglaterra, que compensa com folga as emissões causadas pelo transporte da carne de um país ao outro. Um brinde à racionalidade alimentar.

No subterrâneo da fantasia


Alice no País das Maravilhas parecia ser uma escolha lógica
para o diretor Tim Burton. Mas sua versão do clássico
do escritor Lewis Carroll é ao mesmo tempo feérica e tímida


Isabela Boscov

Fotos divulgação
ALICE NÃO MORA MAIS AQUI
Mia Wasikowska, no papel da Alice crescidinha: a atriz australiana seria uma ótima escolha
para a personagem – se esta houvesse sobrevivido à revisão do diretor

Aventuras de Alice no País das Maravilhas, o título com que o clássico infantil de Lewis Carroll ficou conhecido desde sua primeira publicação em português, em 1865 (logo em seguida ao lançamento da edição original inglesa), tem algo de enganoso. Uma tradução mais exata – embora talvez menos convidativa – para Alice in Wonderland seria Alice na Terra dos Assombros. Pois assombros, de fato, é só o que a pequena Alice encontra a partir do momento em que cai na toca de um coelho branco (não é à toa que ele chama a sua atenção; o coelho veste uma casaca) e, no fundo dela, se descobre em um mundo cuja lógica, se é que ela existe, em nada se parece com a lógica deste mundo. Como em um delírio de febre, Alice estica ao comer um biscoito, e então encolhe ao provar uma beberagem. Depara com uma lagarta que fuma um narguilé e com um gato cujo sorriso fixo continua pairando no ar mesmo depois que ele se vai. Dá braçadas em uma lagoa feita de suas próprias lágrimas. Comemora seu desaniversário e participa de um chá da tarde com um chapeleiro que, como bem descreve seu nome, é maluco. E é convocada a testemunhar em um julgamento sobre um roubo de tortas na corte da irascível Rainha de Copas, que tem cartas de baralho no lugar de lacaios e cuja ordem mais frequente – aliás, a única que ela sabe dar – é "cortem-lhe a cabeça!". Tudo muito curioso, mas não propriamente maravilhoso: todos esses personagens tentam provocar, hostilizar ou ridicularizar Alice – com sucesso. Ou seja, Alice não consegue ficar à vontade nem no mundo que tem de habitar, nem no mundo criado por sua imaginação (no desfecho, esclarece-se que tudo não passou de um sonho). Não surpreende, assim, que essa seja uma das histórias prediletas de Tim Burton, o diretor de Edward Mãos de Tesoura, Ed Wood e A Fantástica Fábrica de Chocolate: Burton construiu toda uma carreira sobre as dores e frustrações causadas pelos sentimentos de inadequação – os de seus personagens e também os seus. Surpreende, entretanto, que sendo Alice uma escolha tão, bem, lógica para o diretor, ele tenha demorado tanto tempo para realizar sua adaptação. Tempo demais, na verdade.

Tudo em Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, Estados Unidos, 2010), que estreia no país na próxima sexta-feira, tem aquele travo das ideias que foram analisadas, racionalizadas e buriladas até que a última centelha de vida fosse apagada delas. A imaginação visual de Burton, sua maior assinatura e melhor recomendação, atinge aqui um pico febril. Cada cena é uma explosão de cores, mas elas frequentemente adquirem tons biliosos. O 3D, formato para o qual o filme foi convertido depois de ter sido rodado no 2D convencional, é usado de maneira agressiva, quase vulgar. Nenhum personagem é poupado de fazer sua aparição. Vários, porém, são apresentados e logo depois largados no meio do caminho. Outros são adulterados sem que se identifique uma boa razão para tal: a Rainha de Copas, por exemplo, mantém sua personalidade, mas é chamada aqui de Rainha Vermelha, uma personagem bem diferente e que só existe em Através do Espelho, a sequência de País das Maravilhas publicada em 1871. O motivo parece ser a necessidade de contrapô-la à meiga Rainha Branca, que no filme é sua irmã e rival – Vermelha (Helena Bonham Carter) usurpou o trono de Branca (Anne Hathaway), e Alice é quem vai ter de comandar as forças do bem em uma guerra para derrubar a tirana e seus asseclas maléficos. Forças do bem? Guerra? A certa altura, Alice no País das Maravilhas, ícone da literatura vitoriana e manifesto em favor do nonsense promulgado em uma era que se inebriara do racionalismo, sai de vez do seu curso e vira uma fantasia medieval com batalhas, espadas e armaduras. Vira, enfim, uma tentativa desanimada, sem alma nem convicção, de emular sucessos da fantasia como O Senhor dos Anéis e Harry Potter e de, como neles, galvanizar o público em torno de um protagonista incumbido de uma missão messiânica.

MALUCO BELEZA
O Chapeleiro Maluco vivido por Johnny Depp é um rebelde melancólico,- inconformado mas impotente para se erguer sozinho contra a tirania da Rainha Vermelha. No livro de Lewis Carroll, ele tem lá suas diferenças com a monarquia, mas está longe de ser esse anarquista manso: quando está sentado à sua absurda mesa de chá, é também ele um déspota – e se mostra sempre rude com Alice

Se há dois sintomas claros de que esta Alice passou por um processo de desnaturação, porém, eles estão, primeiro, na figura triste em que o originalmente insolente Chapeleiro Maluco se transformou: quando Johnny Depp está em cena, com lentes que deixam seus olhos repletos de melancolia do tamanho de dois pires, o filme transpira o que de fato gostaria de ser – mais uma história em que Depp assume o lugar de alter ego trágico do diretor, e em que garotas perdidas em um labirinto de silogismos provavelmente não teriam muito que fazer. O segundo e mais grave sintoma está na alteração ostensiva da protagonista, de uma menina de 10 anos para uma jovem de 19, indignada com a ideia de ter de se casar com um aristocrata tolo e sem queixo. Muito da polêmica que a obra de Lewis Carroll acumulou no decorrer de sua trajetória vem da paixão (até onde se sabe platônica, mas nem por isso menos imprópria) que o escritor alimentou por sua musa, a menina Alice Liddell, que ele conheceu quando ela tinha 4 anos (veja o quadro abaixo). É compreensível e aceitável que Burton queira passar ao largo de qualquer rastro deixado por essas sugestões de pedofilia. Mas, na ânsia de se afastar delas, o diretor e a roteirista Linda Woolverton se jogam em uma outra armadilha: transformam o enredo em uma história de superação e de celebração do girl power – uma história, aliás, muito confusa.

Alice, agora uma protofeminista, se recusa a usar espartilho, numa liberação de sua silhueta reminiscente das queimas de sutiãs dos anos 60. Mas é também uma destilação dos mais tradicionais ideais de feminilidade: é maternal, compassiva e redentora. Quando chega a essa última etapa, aliás, adeus às formas exuberantes da australiana Mia Wasikowska, que terminam bem comprimidas sob uma armadura de metal. Mia, conhecida pela série In Treatment, mostra ser uma atriz de bom senso inato, capaz de fazer sempre a escolha mais sólida em cada situação em que é lançada. É provável que fosse uma excelente Alice – se algo de Alice houvesse restado nesta versão ao mesmo tempo tão feérica e tão tímida de Tim Burton.

CORTEM O CABEÇÃO
Interpretada por Helena Bonham Carter, a Rainha Vermelha é a grande vilã do filme, em oposição à etérea Rainha Branca. Nos livros originais, porém, não há vilões nem mocinhos, e as duas supostas rivais até tomam chá juntas. O bordão que a Rainha Vermelha repete ao longo do filme – "cortem-lhe a cabeça" – na verdade pertence a uma terceira monarca, a Rainha de Copas, essa sim uma desvairada autocrata


Um clássico insolente

Lewis Carroll/Getty Images

A PEQUENA MUSA
Alice Liddell com roupas de mendiga, em foto do próprio Lewis Carroll (à esq.):
o escritor disse que nunca esqueceria o dia em que conheceu a menina


"Esse foi um dia para não esquecer", registra o diário do reverendo inglês Charles Dodgson (1832-1898) em 25 de abril de 1856. Foi nesse dia que o professor de matemática de Oxford conheceu as três filhas do reitor Henry Liddell. Gago e tímido, Dodgson adorava crianças – sentimento cuja extensão (ou cuja gravidade) até hoje suscita debates entre biógrafos e estudiosos. Parece ter se apaixonado por Alice Liddell, que ainda não contava 4 anos naquele primeiro dia inesquecível. Nos anos seguintes, Dodgson comporia histórias fantasiosas para as irmãs Liddell. A própria Alice insistiu para que ele escrevesse os contos em que ela aparecia como protagonista. Daí surgiu Aventuras de Alice Debaixo da Terra, caderno manuscrito ilustrado pelo próprio Dodgson e presenteado a sua musa no Natal de 1864 (quando o autor já andava afastado da família Liddell, possivelmente por ter proposto um matrimônio indesejado à pré-pubescente Alice). Uma versão expandida seria publicada no ano seguinte, assinada pelo pseudônimo literário do autor, Lewis Carroll, e já com o título definitivo: Aventuras de Alice no País das Maravilhas. Em 1871, Através do Espelho, novo livro protagonizado por Alice, seria o best-seller de Natal na Inglaterra. Essas duas obras estão entre as mais extravagantes já escritas para o público infantil – e Alice no País das Maravilhas, o filme, reproduz essa extravagância só na superfície iridescente, jamais no espírito.

Em um tempo em que os livros para crianças eram moralizantes, Carroll ousou apresentar uma fantasia que ridicularizava a compostura exigida às pobres crianças vitorianas. "Fale só quando falarem com você", diz a sentenciosa Rainha Vermelha de Através do Espelho (que no filme é fundida – ou confundida – com a despótica Rainha de Copas). Alice observa que, se essa regra fosse seguida por todos igualmente, a conversa deixaria de existir. O livro exalta essa esperteza que os adultos tantas vezes tomam por insolência. Sem tal qualidade, Alice não sobreviveria ao País das Maravilhas e ao estranho mundo do outro lado do espelho. Esses são, afinal, universos de pesadelo, povoados por criaturas esquisitas que vivem aprisionadas em paradoxos lógicos e argumentos circulares. Um exemplo tão divertido quanto tenebroso é a hora do chá que nunca chega ao fim na mesa da Lebre de Março e do Chapeleiro Maluco – aliás, muito diferente do louco manso encarnado por Johnny Depp, o Chapeleiro é uma figura antipática, muito hostil a Alice. "Teria prazer em conhecer aquele coelho tagarela, mas não ambiciono a amizade do chapeleiro", disse a poeta Christina Rossetti em uma carta para Carroll.

Embora os jogos de palavras e as alusões históricas e literárias dos dois livros de Alice só possam ser plenamente apreciados por gente grande, Carroll ainda é uma leitura fascinante para as crianças. Poucos escritores compreenderam tão profundamente a inadequação que elas sentem diante das regras implacáveis dos adultos. As raízes psicológicas dessa compreensão são talvez sombrias – mas não comprometem a beleza do livro.

Jerônimo Teixeira

Trailer

As perguntas difíceis que as crianças fazem



Com reportagem de Daniela Macedo


1. Mamãe, de onde eu vim?
Image Source/Getty Images/RF

Livros que podem ajudar
De Onde Viemos?, de Peter Mayle
e Arthur Robins (Editora Zastras)

Sexo Não É Bicho-Papão,
de Marcos Ribeiro (ZIT Editora)

Mamãe, Como Eu Nasci?,
de Marcos Ribeiro (Editora Salamandra)

• Para perguntas sobre concepção e nascimento, se a criança tem até 4 anos, diga apenas que ela saiu da barriga da mamãe

• Entre os 4 e os 6 anos, procure responder somente àquilo que está sendo perguntado, utilizando uma linguagem simples, sem mencionar detalhes que ela não vai entender

• De 6 a 8 anos, meninos e meninas já podem ser esclarecidos sobre como um bebê surge na barriga da mãe – com termos como "a união da sementinha do papai com o ovo da mamãe". Diz a educadora sexual Maria Helena Vilela: "Nessa fase, a criança já troca informações sobre sexo com amigos da escola. O problema é que nem sempre elas serão corretas". Para saber até onde o filho conhece o assunto, é recomendável citar o caso de uma conhecida grávida – uma tia, por exemplo – e perguntar se ele sabe como o bebê surgiu na barriga dela

• Detalhes a respeito do ato sexual propriamente dito só a partir dos 8 anos – e à medida que a criança os solicita. Não adiante informações que ela ainda não quer processar

2. Para onde as pessoas vão quando morrem?

Lawrence Manning/Corbis/Latinstock/RF

• Numa simplificação da tradição judaico-cristã, é comum responder que quem morre vai para o céu. Não é errado recorrer a essa saída, mas é provável que a criança fique insatisfeita com tal fórmula

Até os 4 anos, pode-se falar de morte a partir do convívio com plantas e animais. "A plantinha nasce, cresce e morre" é um jeito de a criança começar a entender que a morte é o fim natural de um processo de desenvolvimento. Mentir a respeito da morte ou fantasiar demais impede que ela aprenda a enfrentar o luto. Segundo os psicólogos, mais importante do que explicar a situação ao filho é a forma como se reage a uma perda: os pequenos aprendem a lidar com a morte observando as reações dos adultos

A partir de 5 anos, a criança se interessa mais por assuntos relacionados ao ciclo da vida e, consequentemente, surgem as sensações de medo e insegurança. Por isso, quando ela as manifesta, deve ser estimulada a falar a respeito e a expor seus sentimentos e teorias sobre a morte. Se a família é religiosa, os pais já podem abordar o tema de acordo com suas crenças

• Para os maiores de 8 anos, diga que quando uma pessoa morre seu corpo é colocado dentro de um caixão e recebe um funeral. Acrescente que, na verdade, ninguém sabe exatamente o que acontece depois da morte. Mas faça isso de forma que a morte seja encarada como algo tão natural quanto o nascimento

A hora certa



Anna Paula Buchalla
abuchalla@abril.com.br

É o sonho de todo pai e mãe de primeira viagem: um manual de instruções para lidar com seu bebê, ou um alarme que avise o instante correto de avançar para a próxima etapa do desenvolvimento infantil. Psicólogos e pediatras ouvidos por VEJA são unânimes: certas mudanças devem, sim, acontecer em faixas etárias específicas.

É claro que se pode apressá-las ou atrasá-las um pouquinho, em respeito ao ritmo próprio de cada criança – mas sem exageros nem para mais nem para menos. "Não é recomendável, por exemplo, tentar ensinar o filho a segurar o xixi antes dos 2 anos", explica a pediatra Isabel Rey Madeira, da Sociedade Brasileira de Pediatria. "Ele ainda não tem maturidade neurológica para fazer esse controle", diz. Com a ajuda de especialistas, VEJA estabeleceu o momento ideal de deixar certos hábitos para trás ou de criar outros desafios na vida das crianças – e na dos próprios pais.

Fotos Istockphoto


Comer sozinha

Quando: entre 6 meses e 1 ano
Por quê: a partir dos 6 meses, quando consegue levar a mão à boca, a criança já pode comer sozinha pedaços de frutas moles, como banana ou mamão – evidentemente, sempre com a supervisão de um adulto capaz de acudi-la caso ela se engasgue. Com 1 ano, é hora de aprender a usar a colherzinha. Estimulá-la a se alimentar sem a ajuda de um adulto favorece o desenvolvimento da coordenação motora. Conselho dos pediatras: os pais devem evitar as broncas por causa da bagunça que o filho faz ao comer sozinho. "As brigas podem trazer transtornos alimentares no futuro, pois a criança associa a hora da refeição a momentos estressantes", diz o pediatra Pedro Paulo Corrêa, do Hospital São Luiz, em São Paulo.

Trocar a mamadeira pelo copinho
Quando: 1 ano
Por quê: "Com 1 ano, a criança já tem capacidade psicomotora para beber líquidos no copo com a ajuda de um adulto", diz a pediatra Isabel Rey Madeira. Leite, chás, sucos e água podem ser oferecidos no copo de plástico – sem bico – já no fim do primeiro ano de vida. A utilização do copo, além de exercitar a autonomia, evita um dos efeitos mais perversos da mamadeira: seu uso prolongado pode contribuir para a obesidade. A praticidade da mamadeira, somada à sua associação a sensações de proteção e conforto, faz com que a criança se alimente mesmo quando não tem fome.

Largar a chupeta
Quando: até 2 anos
Por quê: antes dessa idade, o bebê está na chamada fase oral, e a chupeta de fato o acalma. Mas, quando os dentinhos começam a surgir, seu uso pode deformar a arcada dentária. "Esses danos, ao contrário do que se diz, não são irreversíveis, e em geral são corrigidos naturalmente quando a criança deixa de usar a chupeta – desde que isso não ocorra tarde demais", diz Marcelo Bönecker, professor de odontopediatria da Universidade de São Paulo. A chupeta pode ainda retardar o processo de fala, ao comprometer os movimentos da língua e dos lábios – mas isso não é regra. O ideal é começar a restringir seu uso no fim do primeiro ano, permitindo-o somente em locais e horários estabelecidos, como em casa, na hora de dormir.

Deixar de usar fraldas
Quando: entre 2 e 4 anos
Por quê: quando está pronta para dispensar o uso da fralda, a criança costuma reclamar que está suja ou avisa que algo vai acontecer. Se ela passa a acordar mais seca e não molha algumas fraldas durante o dia, esse é um sinal de que aprendeu a segurar a vontade.
Aos 3 anos, 98% das crianças conseguem controlar o músculo que regula a saída da urina. Para que uma criança aprenda a usar o banheiro, ela precisa estar amadurecida física e psicologicamente, sob pena de enfrentar uma ansiedade para a qual não está preparada. Até os 5 anos, é normal que ela deixe escapar o xixi de vez em quando.


Comer o primeiro fast-food
Quando: a partir de 3 anos
Por quê: não há como evitar – uma hora seu filho vai pedir o tal hambúrguer com batata frita que vem com um brinquedinho. Não é preciso negar a novidade. O que se recomenda é bom senso: um lanche desses pode ser saboreado uma vez ao mês sem nenhum problema. Mas, em excesso, os fast-foods são perniciosos: aumentam o risco de obesidade e hipertensão na fase adulta. Doces e frituras oferecidos em festinhas podem ser consumidos a partir de 1 ano, sem exageros.

Escovar os dentes sozinho
Quando: a partir de 4 anos, com supervisão
Por quê: a higiene bucal começa assim que nascem os primeiros dentinhos. Ela deve ser feita com escova – a gaze não remove a placa bacteriana – e creme dental com flúor, importante na prevenção da cárie. Nos primeiros anos, a escovação deve ser acompanhada por um adulto, pois, até os 6 anos, as crianças têm maior tendência a ingerir o creme dental. O excesso de flúor no organismo provoca a fluorose, que produz manchas brancas ou castanhas nos dentes. "Só a partir dos 6 anos a criança tem coordenação motora suficiente para remover a placa bacteriana e controlar a deglutição", explica Marcelo Bönecker.

Tomar banho sozinha
Quando: a partir de 6 anos
Por quê: antes disso, a criança pode se banhar sozinha – desde que um adulto a ajude a passar o sabonete ou a espalhar o xampu nos cabelos. A partir de 6 anos, a criança adquire a habilidade motora para se lavar corretamente sem a ajuda de um adulto. Vale lembrar que a higiene íntima das meninas requer atenção redobrada da mãe nessa fase de aprendizado.


Dormir na casa de um amiguinho
Quando: a partir de 6 anos
Por quê: nessa fase a criança já conquistou certa autonomia para tomar banho e escovar os dentes sozinha. Evidentemente, a decisão depende de sua maturidade e grau de independência. "Os pais devem tomar cuidado para não pular etapas", diz a psicóloga Vera Zimmermann, da Universidade Federal de São Paulo. É essencial conhecer bem os adultos que cuidarão do seu filho e o ambiente onde ele vai passar a noite.

Navegar na internet
Quando: a partir de 6 anos
Por quê: no início da alfabetização, a internet entra como um complemento das tarefas escolares. Mas ela não pode ocupar muitas horas do dia: os pais devem controlar o tempo que os filhos passam navegando na rede, batendo papo ou em joguinhos. É importante que acompanhem os sites e jogos preferidos do filho, inclusive dos adolescentes. "É como saber qual é a banda preferida dele ou que filme ele foi ver com os amigos", diz Vera Zimmermann.


Ganhar um celular

Quando: a partir de 10 anos
Por quê: "Antes disso, ele é desnecessário. A criança vai passar mais tempo brincando com os joguinhos do que usando o celular para se comunicar", diz a psicóloga Leila Salomão Tardivo, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. O ideal é dar a ela um celular pré-pago e ensiná-la a administrar o uso do aparelho. Cabe aos pais pagar os créditos para as ligações, mas a criança pode usar parte da mesada para complementá-los, desde que a decisão seja comunicada à família. Isso evita que ela deixe de lanchar na escola, por exemplo, para falar mais ao celular.

Receber mesada
Quando: a partir de 6 anos (semanal) e 14 anos (mensal)
Por quê: aos 6 anos, a criança vivencia as primeiras situações de consumo longe dos pais, como a compra de um lanche na cantina da escola. Mais importante do que o valor é a forma como ele será gasto. "Mesada não é prêmio, é um instrumento de educação", diz o consultor financeiro Gustavo Cerbasi, autor de Filhos Inteligentes Enriquecem Sozinhos. "A criança deve prestar contas dos gastos e entender que ela é responsável por uma parte do orçamento da família", acrescenta. Ela também pode ser estimulada a poupar, o que constitui um aprendizado útil sobre planejamento e autocontrole.

Ir sozinha para a escola
Quando: entre 13 e 14 anos
Por quê: quando a criança completa 11 anos, os pais devem acompanhá-la nos trajetos que ela fará sozinha em breve, seja de táxi, de ônibus ou a pé. Nessa fase, já podem ensinar algumas atitudes para ajudá-la a evitar situações de risco – como recusar carona de desconhecidos e andar, sempre que possível, na companhia de amigos.

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