Saturday, April 17, 2010

A hora certa



Anna Paula Buchalla
abuchalla@abril.com.br

É o sonho de todo pai e mãe de primeira viagem: um manual de instruções para lidar com seu bebê, ou um alarme que avise o instante correto de avançar para a próxima etapa do desenvolvimento infantil. Psicólogos e pediatras ouvidos por VEJA são unânimes: certas mudanças devem, sim, acontecer em faixas etárias específicas.

É claro que se pode apressá-las ou atrasá-las um pouquinho, em respeito ao ritmo próprio de cada criança – mas sem exageros nem para mais nem para menos. "Não é recomendável, por exemplo, tentar ensinar o filho a segurar o xixi antes dos 2 anos", explica a pediatra Isabel Rey Madeira, da Sociedade Brasileira de Pediatria. "Ele ainda não tem maturidade neurológica para fazer esse controle", diz. Com a ajuda de especialistas, VEJA estabeleceu o momento ideal de deixar certos hábitos para trás ou de criar outros desafios na vida das crianças – e na dos próprios pais.

Fotos Istockphoto


Comer sozinha

Quando: entre 6 meses e 1 ano
Por quê: a partir dos 6 meses, quando consegue levar a mão à boca, a criança já pode comer sozinha pedaços de frutas moles, como banana ou mamão – evidentemente, sempre com a supervisão de um adulto capaz de acudi-la caso ela se engasgue. Com 1 ano, é hora de aprender a usar a colherzinha. Estimulá-la a se alimentar sem a ajuda de um adulto favorece o desenvolvimento da coordenação motora. Conselho dos pediatras: os pais devem evitar as broncas por causa da bagunça que o filho faz ao comer sozinho. "As brigas podem trazer transtornos alimentares no futuro, pois a criança associa a hora da refeição a momentos estressantes", diz o pediatra Pedro Paulo Corrêa, do Hospital São Luiz, em São Paulo.

Trocar a mamadeira pelo copinho
Quando: 1 ano
Por quê: "Com 1 ano, a criança já tem capacidade psicomotora para beber líquidos no copo com a ajuda de um adulto", diz a pediatra Isabel Rey Madeira. Leite, chás, sucos e água podem ser oferecidos no copo de plástico – sem bico – já no fim do primeiro ano de vida. A utilização do copo, além de exercitar a autonomia, evita um dos efeitos mais perversos da mamadeira: seu uso prolongado pode contribuir para a obesidade. A praticidade da mamadeira, somada à sua associação a sensações de proteção e conforto, faz com que a criança se alimente mesmo quando não tem fome.

Largar a chupeta
Quando: até 2 anos
Por quê: antes dessa idade, o bebê está na chamada fase oral, e a chupeta de fato o acalma. Mas, quando os dentinhos começam a surgir, seu uso pode deformar a arcada dentária. "Esses danos, ao contrário do que se diz, não são irreversíveis, e em geral são corrigidos naturalmente quando a criança deixa de usar a chupeta – desde que isso não ocorra tarde demais", diz Marcelo Bönecker, professor de odontopediatria da Universidade de São Paulo. A chupeta pode ainda retardar o processo de fala, ao comprometer os movimentos da língua e dos lábios – mas isso não é regra. O ideal é começar a restringir seu uso no fim do primeiro ano, permitindo-o somente em locais e horários estabelecidos, como em casa, na hora de dormir.

Deixar de usar fraldas
Quando: entre 2 e 4 anos
Por quê: quando está pronta para dispensar o uso da fralda, a criança costuma reclamar que está suja ou avisa que algo vai acontecer. Se ela passa a acordar mais seca e não molha algumas fraldas durante o dia, esse é um sinal de que aprendeu a segurar a vontade.
Aos 3 anos, 98% das crianças conseguem controlar o músculo que regula a saída da urina. Para que uma criança aprenda a usar o banheiro, ela precisa estar amadurecida física e psicologicamente, sob pena de enfrentar uma ansiedade para a qual não está preparada. Até os 5 anos, é normal que ela deixe escapar o xixi de vez em quando.


Comer o primeiro fast-food
Quando: a partir de 3 anos
Por quê: não há como evitar – uma hora seu filho vai pedir o tal hambúrguer com batata frita que vem com um brinquedinho. Não é preciso negar a novidade. O que se recomenda é bom senso: um lanche desses pode ser saboreado uma vez ao mês sem nenhum problema. Mas, em excesso, os fast-foods são perniciosos: aumentam o risco de obesidade e hipertensão na fase adulta. Doces e frituras oferecidos em festinhas podem ser consumidos a partir de 1 ano, sem exageros.

Escovar os dentes sozinho
Quando: a partir de 4 anos, com supervisão
Por quê: a higiene bucal começa assim que nascem os primeiros dentinhos. Ela deve ser feita com escova – a gaze não remove a placa bacteriana – e creme dental com flúor, importante na prevenção da cárie. Nos primeiros anos, a escovação deve ser acompanhada por um adulto, pois, até os 6 anos, as crianças têm maior tendência a ingerir o creme dental. O excesso de flúor no organismo provoca a fluorose, que produz manchas brancas ou castanhas nos dentes. "Só a partir dos 6 anos a criança tem coordenação motora suficiente para remover a placa bacteriana e controlar a deglutição", explica Marcelo Bönecker.

Tomar banho sozinha
Quando: a partir de 6 anos
Por quê: antes disso, a criança pode se banhar sozinha – desde que um adulto a ajude a passar o sabonete ou a espalhar o xampu nos cabelos. A partir de 6 anos, a criança adquire a habilidade motora para se lavar corretamente sem a ajuda de um adulto. Vale lembrar que a higiene íntima das meninas requer atenção redobrada da mãe nessa fase de aprendizado.


Dormir na casa de um amiguinho
Quando: a partir de 6 anos
Por quê: nessa fase a criança já conquistou certa autonomia para tomar banho e escovar os dentes sozinha. Evidentemente, a decisão depende de sua maturidade e grau de independência. "Os pais devem tomar cuidado para não pular etapas", diz a psicóloga Vera Zimmermann, da Universidade Federal de São Paulo. É essencial conhecer bem os adultos que cuidarão do seu filho e o ambiente onde ele vai passar a noite.

Navegar na internet
Quando: a partir de 6 anos
Por quê: no início da alfabetização, a internet entra como um complemento das tarefas escolares. Mas ela não pode ocupar muitas horas do dia: os pais devem controlar o tempo que os filhos passam navegando na rede, batendo papo ou em joguinhos. É importante que acompanhem os sites e jogos preferidos do filho, inclusive dos adolescentes. "É como saber qual é a banda preferida dele ou que filme ele foi ver com os amigos", diz Vera Zimmermann.


Ganhar um celular

Quando: a partir de 10 anos
Por quê: "Antes disso, ele é desnecessário. A criança vai passar mais tempo brincando com os joguinhos do que usando o celular para se comunicar", diz a psicóloga Leila Salomão Tardivo, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. O ideal é dar a ela um celular pré-pago e ensiná-la a administrar o uso do aparelho. Cabe aos pais pagar os créditos para as ligações, mas a criança pode usar parte da mesada para complementá-los, desde que a decisão seja comunicada à família. Isso evita que ela deixe de lanchar na escola, por exemplo, para falar mais ao celular.

Receber mesada
Quando: a partir de 6 anos (semanal) e 14 anos (mensal)
Por quê: aos 6 anos, a criança vivencia as primeiras situações de consumo longe dos pais, como a compra de um lanche na cantina da escola. Mais importante do que o valor é a forma como ele será gasto. "Mesada não é prêmio, é um instrumento de educação", diz o consultor financeiro Gustavo Cerbasi, autor de Filhos Inteligentes Enriquecem Sozinhos. "A criança deve prestar contas dos gastos e entender que ela é responsável por uma parte do orçamento da família", acrescenta. Ela também pode ser estimulada a poupar, o que constitui um aprendizado útil sobre planejamento e autocontrole.

Ir sozinha para a escola
Quando: entre 13 e 14 anos
Por quê: quando a criança completa 11 anos, os pais devem acompanhá-la nos trajetos que ela fará sozinha em breve, seja de táxi, de ônibus ou a pé. Nessa fase, já podem ensinar algumas atitudes para ajudá-la a evitar situações de risco – como recusar carona de desconhecidos e andar, sempre que possível, na companhia de amigos.

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