Monday, October 09, 2006

Comparação com FHC é uma "canoa furada" para Lula, afirma tucana

FOLHA

Surpresa na eleição gaúcha, Yeda Crusius diz que ex-presidente entregou país "tinindo" para petista

Candidata diz que governo federal mantém política econômica monetarista sem necessidade, pois cenário externo é mais favorável

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A tucana Yeda Crusius diz que trazer a pauta nacional para a eleição gaúcha será uma ""canoa furada" para o PT, porque, segundo ela, o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) entregou ""um país tinindo" ao governo Lula.
Segundo ela, os petistas mantiveram uma política econômica monetarista -com juros altos e câmbio baixo- sem necessidade, pois o contexto externo foi mais favorável. Por isso, o crescimento do PIB, segundo ela, foi pífio no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Surpresa da eleição no Estado ao ser a primeira colocada no primeiro turno, com 32,90% dos votos e deixar de fora do segundo turno o governador Germano Rigotto (PMDB), Yeda enfrenta agora o ex-governador Olívio Dutra (PT) como favorita, pegando carona na expressiva votação do também tucano Geraldo Alckmin no Rio Grande do Sul.
O PT deve atacar Yeda explorando o fato de ela, como deputada federal, ter votado em Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara. Ele renunciou ao cargo e ao mandato sob suspeita de cobrar propina do dono de um restaurante na Casa. Os petistas também tentam colar na tucana a imagem de "privatista".
Leia os principais trechos da entrevista da ex-ministra do Planejamento no governo Itamar Franco à Folha. (LG)

FOLHA - O PT diz que a sra. vai promover privatizações. Isso está incluído no seu projeto de gestão?
YEDA CRUSIUS
- A questão financeira do Rio Grande do Sul não tem nada a ver com o tempo em que se fez um programa de estabilidade, o Plano Real, que implicava em quebra de monopólio. Em 1995, entramos em um ciclo novo mundial. Privatizar qualquer estatal era entregar para o capital estrangeiro. Então, havia um discurso bem treinado, maniqueísta, que procurava isolar o Brasil do resto. Mas isolar do quê, se não existia mais muro? Agora, voltar a essa pauta é voltar a uma pauta que não existe mais. Olham pelo retrovisor. Não vamos privatizar. Pelo contrário, vamos qualificar com gestão todas as entidades estatais.

FOLHA - Na disputa presidencial, o PT pretende fazer comparações com o governo FHC.
YEDA
- Se fizerem isso, estarão entrando em uma canoa furada. Vão chamar à discussão o período Lula. O governo Fernando Henrique implantou um programa de estabilização, enfrentou oito crises externas, o país era vulnerável, e ele entregou um país tinindo para o governo Lula. O que foi o governo Lula senão uma seqüência irrefreável de corrupção? Se quiserem nacionalizar a coisa, é ruim para eles.

FOLHA - E o crescimento baixo do PIB em todos esses anos de governos do PT e do PSDB?
YEDA
- Sofremos oito crises externas, crescemos pouco, fizemos imensas transformações, mas em 2002 entregamos um país tinindo. Então, o governo Lula deixou passar uma oportunidade de o Brasil crescer a 7%. Ele continuou aplicando receitas monetaristas que não cabiam em um país que não estava sofrendo ataques externos. Que pena que o governo Lula atrasou o país. É um governo que ficou nadando sobre a herança bendita que recebeu, não baixou juros, jogou o câmbio no chão sem nenhuma necessidade. Quem é pífio no crescimento é o governo Lula.

FOLHA - A sra. é criticada porque votou no ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) para presidente da Câmara.
YEDA
- Eu votei e tirei. Votamos contra a presidência ser dada ao PT. Como teve segundo turno, às 3h, Severino passou na sala da liderança do PSDB, e firmamos com ele quatro compromissos. Ele montou as CPIs. Foi a gestão do Severino que montou as CPIs em cada denúncia de corrupção. O Brasil não saberia quem é o PT. No momento em que foi denunciado, dissemos que falhou pessoalmente.

FOLHA - O governo Lula se orgulha das CPIs que foram criadas.
YEDA
- Não foram dele, foram do Severino.

FOLHA - E no governo FHC, não faltaram as CPIs?
YEDA
- Foram 53 CPIs. A única que lembram sempre que não houve foi a do dossiê rosa, que era tão falso quanto este dossiê [contra o tucano José Serra].

FOLHA - No caso da compra de votos para a reeleição, não faltou uma CPI?
YEDA
- Nós, parlamentaristas, somos a favor da reeleição. Terminou [a investigação] porque ou [os implicados] pediram afastamento ou foram investigados. VOLTAR A ARTIGOS ETC

O debate: como e por que Alckmin venceu

O debate: como e por que Alckmin venceu

Querem uma síntese do que foi o debate? Alckmin chamou Lula de “mentiroso” e sinônimos mais de uma vez. E o petista não conseguiu reagir. Ao contrário, admitiu ter falado no rádio a mentira que seu oponente denunciava. E Alckmin fez a pergunta fatal: “Qual a origem do dinheiro?” E se dirigindo aos telespectadores: “Por que ele [Lula] não pergunta a seu churrasqueiro [Jorge Lorenzetti]? O tucano venceu o debate? É claro que sim. É isso o que as pesquisas vão dizer? Bem, aí é outro problema. Mas vamos com calma e por partes. E também pretendo provar, no penúltimo bloco deste texto, o mal que Marilena Chaui fez a Lula.

Vocês sabem que voto contra Lula. E, pois, voto em Alckmin. Conhecem também o que penso a respeito da importância de derrotar o PT — partido que, seguida estritamente a lei, tem de ser extinto por infração a todos os códigos de conduta que regem a vida social: da Constituição à legislação eleitoral. Mas sei separar as coisas. Fui um crítico muito duro das primeiras semanas da campanha de Alckmin na TV, que estava errada. O primeiro texto afirmando que aquilo não levaria a nada foi publicado aqui. Podem procurar. Depois, as circunstâncias impuseram a mudança de tom, começou a haver um lento, mas contínuo, crescimento nas urnas. Ainda assim, parecia que não haveria tempo. Mas chegaram os magos do PT com a sua idéia “genial” de um dossiê fajuto. O resultado está aí.

Faço essa observação para lembrar que sei a diferença entre o que é fato e o que é minha torcida. E o fato é que Alckmin nocauteou, sim, Lula nos argumentos. Uma pesquisa de opinião a respeito tende a reproduzir o quadro da preferência eleitoral. Por enquanto, pode até ser que se registre a “vitória de Lula” no confronto. E, no entanto, Lula, Alckmin, eu e qualquer um que tenha visto o debate sabemos que o petista foi esmagado. A cara desenxabida de Marta Suplicy numa entrevista ao fim do programa denunciava tudo. O comportamento, ainda estupefato, de Maro Aurélio Garcia numa entrevista ao programa Canal Livre era o retrato da noite. Lula acabara de ter uma das piores performances de sua vida em encontros dessa natureza.

Fator surpresa
O que desorientou Lula e seus assessores foi o tom surpreendentemente duro de Alckmin. À queima-roupa, o tucano lascou a pergunta sobre a origem do dinheiro sujo que pagou o “dossiê fajuto” (nossa expressão pegou, leitores) logo de cara. Lula titubeou. Não esperava. Disse que também queria saber... E tentou ensaiar ali uma teoria conspiratória: a negociata o teria prejudicado; logo, ele não seria responsável por ela. Não adiantou. Alckmin não desistiu da questão. Na sua vez de atacar, o petista afirmou que os sanguessugas começaram com Barjas Negri, nomeado depois secretário do governo de São Paulo. E o ex-governador disparou uma frase que era um sinal claro que a noite estava perdida para Lula: “Não me meça pela sua régua”.

E não deu um minuto de descanso ao petista. O presidente-candidato se atrapalhou já na largada. Esqueceu de cumprimentar os telespectadores, os promotores do evento, e saiu se defendendo. Lula é bom palanqueiro. Costuma ser mais afinado em debate do que estava neste domingo, mas nunca foi um bom satirista, não consegue fazer ironias, ser sutil, engraçado. Tentou colar em Alckmin a pecha de “candidato ensaiado”. Não adiantou. O outro, mostrado em metade da tela, conservava no rosto um sorriso frio e sereno. Lula estava com olhos injetados, mais inchados do que de hábito e com o raciocínio mais confuso do que o normal.

À sugestão de que estava ensaiado, Alckmin responde que seu adversário ficava olhando para as suas fichas, lendo o que lhe prepararam. E ironizava: “Você (sic) está mal informado. O que o pessoal escreveu aí está errado”. Lula então anunciou que iria fazer as perguntas sem as fichas. Não deu. Parou de disfarçar. Pôs os óculos e passou a ler um verdadeiro relatório de assessoria. Do ponto de vista do espetáculo dos antagonistas, um desastre para o petista.

Ditão, Diogo e Reinaldo
Numa noite em que o Ditão de Pinda baixou em Alckmin, que seguiu rigorosamente as orientações deste blog e do Podcast do Diogo (neste ponto, petralha aciona a tecla SAP para piadas), Lula teve de se confrontar com a notável capacidade do ex-governador de São Paulo de decorar números, dados, comparações etc. O que lhe permitiu falar com fluência, mantendo o outro o tempo inteiro nas cordas, como um boxeador que protege a cara com as luvas e começa a tomar soco no fígado. Beijou a lona a primeira vez quando o tucano falou sobre os gastos com cartões corporativos. Dedo em riste, pediu a Alckmin que não fosse leviano. Na seqüência, ouviu a palavra “mentiroso”. Solicitou direito de resposta. Alckmin mandou bala: então também iria pedir porque foi chamado de “leviano”. A produção decidiu que não houve ofensas. Lula soçobrava.

E Alckmin não parava de bater. Numa das perguntas, Lula tentou interrompê-lo, e ele não teve dúvida: “Candidato, respeito!” Num debate, jamais se deve dar ao adversário a vantagem de nos passar um pito por infração das regras. Em 1982, Franco Montoro, que disputava o governo de São Paulo, respondia a uma questão, e Reynaldo de Barros, homem de Maluf, tentou falar junto. Ganhou um “Cala a boca!”. Com autoridade. E ele se calou. O pito do “Dr. Alckmin” foi a segunda beijada na lona dada por Lula. Voltou a ver o chão do ringue de perto quando afirmou, depois de ter acusado Alckmin de ser o responsável pelo PCC em São Paulo, que ninguém era culpado pela violência, nem ele, presidente, nem os governadores...

Privatizações
Uma esperteza do petismo acabou custando caro. Lula andou dizendo em comícios que Alckmin, se vencer, vai privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil e os Correios. Infelizmente, é mentira. Não vai. Aqui, uma observação a meus amiguinhos conservadores: privatizar pode ser o correto, e é. Mas debater o tema é entregar o poder ao Apedeuta de bandeja. Como o PSDB não fará isso mesmo que vença, precisa, sim, desmentir a coisa. E Alckmin conseguiu fazê-lo sem satanizar as privatizações.

Foi nesse ponto, já no fim do debate, que o tucano chamou Lula de mentiroso. E o petista, que não tinha como se defender, teve de admitir que fizera mesmo a acusação. Alckmin estava com o seu programa ali: “Eu o desafio a mostrar onde é que está escrito isso aqui”. E disse, outra vez, a palavra "mentira". A Lula restou balbuciar que os tucanos gostam de vender estatais. De novo, as pernas estavam bambas.

Fator Marilena Chaui
O PT tem um especialista em ética: Marilena Chaui. Acredito que foi o nosso Platão de calças (o original usava túnica, rá, rá, rá) da USP quem soprou ao seu Tiranete de Siracusa que “ética não é saber antes das irregularidades, mas punir depois que se fica sabendo”. Ele repetiu isso ao longo do programa umas três vezes. Bem, nem Franklin Martins agüentou. Foi obrigado a perguntar-lhe que garantia haveria, então, de que novas irregularidades não aconteceriam sem que o chefe ficasse sabendo. Sim, a definição do Apedeuta de ética é formidável. Poderia ser redigida de uma outra forma: “Ética é igual ignorância”. Ora, se, neste momento, houver algum aliado de Lula fazendo alguma sacanagem, onde está a ética? No fato de Lula não saber de nada. Não é magnífico?

Não, não, Lula. Ética, na coisa pública, é criar um conjunto de procedimentos que elimine o máximo possível as possibilidades de alguém transgredir o que está socialmente pactuado. Por exemplo: aparelhar o Estado, nomear 30 mil companheiros, receber em palácio tesoureiro e presidente do partido, tudo isso estimula os atos aéticos, que não são aceitos como valores pelo Estado democrático.

Se..., os efeitos e a conclusão
Se alguém realmente indeciso assistiu ao debate e se este ajuda a definir o voto, é claro que Alckmin faturou. Lula não conseguiu fazer, desta vez, nem mesmo aquele discurso populista, coalhado de metáforas. Num momento de grande inspiração, respondendo sobre política externa, imaginem só, mandou bala: “Minha mãe dizia: ‘Cada macaco no seu galho’”. Por que ele disse isso? Sei lá eu. Duvido que ele saiba. O debate serviu também para evidenciar as suas fragilidades técnicas, políticas e intelectuais, agora que ele já não é mais o santo intocável de 2002, incensado pelo jornalismo político, que gritava “preconceito!” à simples sugestão de que ele pudesse ser despreparado. Delúbio Soares, Marcos Valério, Jorge Lorenzetti, Ricardo Berzoniev e congêneres “humanizaram” Lula. E como!!!

O debate também é importante como antecipação de como será a campanha de segundo turno. Se Lula esperava se manter naquela linha do ineditismo-triunfalista, pode tirar o cavalo da chuva. O encontro deste domingo marca, definitivamente, o ponto de inflexão do PSDB. Finalmente, é possível ligar Lula à sua obra. Assim, o PT também vai mudar a sua estratégia. Agora que o dossiê fajuto fracassou e que a linguagem propositiva, paz e amor, não foi o bastante para garantir a vitória no primeiro turno, vem pauleira por aí. Mas atenção: programa de televisão e debates não substituem o trabalho dos líderes tucanos nos Estados.

A performance de Alckmin não teve um único erro. O Ditão sabia das coisas: “Bate nele, doutor! Bate nele!”
Por Reinaldo Azevedo VOLTAR A ARTIGOS ETC

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