Hoje, ou no período de dez dias, como já antecipou o delegado Protógenes Queiroz, o juiz Fausto De Sanctis vai condenar Daniel Dantas, em primeira instância, por oferecer propina de US$ 1 milhão a dois delegados da PF e, assim, ser poupado na tal operação que veio a ser conhecida por Satiagraha. O advogado do banqueiro, naturalmente, nega tudo e diz que as acusações são frágeis. Especialistas dizem que De Sanctis pode ainda, caso decida pela condenação, pedir a prisão cautelar de Dantas. Vamos ver: agora ou depois, é evidente que o juiz vai condená-lo. Ou, então, é maluco de pedra. Os advogados de Dantas alegarão cerceamento de defesa e apontarão a ação de um “triunvirato acusatório”: PF, Ministério Público e o próprio De Sanctis, que, creio, não decidirá contra si mesmo...
Dantas que se dane. Desde que lhe meteram na mão aquelas pulseiras ligadas entre si, recomendo aqui: “Vai, Dantas, conta tudo; conta tudo”. Talvez ele agravasse um pouco a sua situação, né? Mas levaria junto muitos santos do pau oco. Já imaginaram? Seria um ato patriótico do banqueiro... Talvez pegasse uma cana. Mas quantos outros poderiam partilhar dos mesmos afetos, hein? Só o mensalão renderia um belíssimo capítulo da memória política nacional. Mas, sei, minha sugestão é inútil. Um amigo, que é banqueiro, diz que a gente nunca deve esperar atos patrióticos de... banqueiros, hehe. Dado o conjunto da obra — tanto a sua atuação como a de seus amigos —, sua condenação, amanhã ou no período de dez dias, é mais certa do que uma declaração infeliz de Lula.
Condenado Dantas nesse processo, seus advogados recorrem etc e tal. E a novela sobre o favorito desses setores da PF se estenderá muito além das maldades de Flora, em A Favorita, apenas um pouco menos perversa do que Dantas. Ponto parágrafo.
E então...
Já ouço, com antecipação, o alarido que se seguirá à condenação: “Tá vendo? Eles estavam certos!” É mesmo? “Eles” quem? “Certos” em quê? Outros juízes se pronunciarão sobre o caso em outras instâncias. Se as provas forem consideradas consistentes, “cada um com os seus pobrema”, como diz uma personagem de rádio. Ocorre que a condenação de Dantas, ainda que merecida, não anula o espetáculo grotesco de ilegalidades da Operação Satiagraha e o escancarado desrespeito à Constituição que ela traz consigo. E não me refiro aos direiotos agravados de Dantas, não. Mas das demais pessoas agredidas por Protógenes em seu grotesco folhetim. O que, como se sabe, também está sendo investigado.
Os tontos-maCUTs podem espernear à vontade, incluindo os anões sustentados pelos inimigos de Dantas e pelo capilé oficial — um bando de homúnculos ladrões; ou será agora que todo adversário do banqueiro é gente boa? Fiquem certos: continuarei a apontar a esbórnia constitucional e institucional dessa gente sem me sentir minimamente intimidado. Não usarão Dantas para avançar sobre o estado de direito. Ainda que o empresário venha a ser condenado em última instância, os delírios conspiratórios do Sr. Protógenes continuam ridículos. Ainda que Dantas seja pego roubando pirulito de criança, as declarações do juiz De Sanctis sobre a Constituição continuam grotescas. E eu continuarei a escrever a respeito.
E sabem por quê? Porque eu posso! Porque não devo nada a ninguém, de banda nenhuma: à PF, ao governo, a Dantas ou a seus inimigos, que hoje sustentam o subjornalismo dos anões e ratazanas. Não devo dinheiro para o BNDES nem pago meu uísque com grana da publicidade estatal. Fui claro ou preciso desenhar?
Ademais, repetindo o nosso Weimar, impecável, lembro:
(...) o que se vislumbra é que a tendência inverte-se: em lugar de direitos, o que avança é uma perigosa nuvem negra de ilegalidades, injustiças e tirania. O que não muda, em relação aos piores tempos, é que a alteração ocorra em benefício de outra, pequeníssima, parte da elite, dos privilegiados, dos donos do poder.
Não há como deleitar-se com o fato de que injustiças, ilegalidades, sejam cometidas contra quem quer que seja. Na há como alegrar-se com o pensamento doentio de:
“Agora, sim, estamos todos sob o império do arbítrio!” Faz-se justiça com esse jeito torto? Não! Beneficia-se a democracia? Não, ela contrai-se! Até porque, é claro, lógico, natural, incontroverso, sabido pela história que para haver tirania é preciso que haja tiranos, sempre intocáveis pela lei. Lei que será deles. A estes a lei não ameaça. Não se acaba o arbítrio com mais arbitrariedade. O remédio que resta, doloroso, fica por conta da bala do fuzil ou da forca. Remédio sempre terrível, com enormes efeitos colaterais.
É isso aí, Weimar! Eu quero viver na sua República. E não quero viver na República de Dantas, de Protógenes ou de De Sanctis. Desta vez, acho que quase desenhei.