Sunday, April 01, 2007

DANUZA LEÃO Por favor, me expliquem

Franklin Martins não deixava de dizer o que pensava sobre o governo -esse mesmo de que agora é empregado

EU ENTENDO de algumas coisas, mas de outras confesso minha total ignorância. Do assunto Franklin Martins, por exemplo. Só para começar, o que faz uma pessoa que ganha - e sem nem fazer muito esforço - entre R$ 50 mil e R$ 100 mil por mês, se demitir para aceitar um cargo onde vai passar a ganhar R$ 8.000. Estranho, não?
É bem verdade que nesse novo cargo ele vai ser, no lugar de jornalista, ministro, e colado ao poder. Será então vaidade? Ambição?
Mas ainda tem mais; a pessoa em questão, Franklin Martins, era dos melhores comentaristas políticos da TV, um homem corajoso, que não deixava de dizer o que pensava em relação ao governo -esse mesmo governo de que agora é empregado.
Quem acompanhou os duros tempos da ditadura sabe que quem escreveu a famosa carta aos militares, exigindo a libertação de 15 companheiros em troca da vida do embaixador americano, Charles Elbrick, foi Franklin Martins. Bela carta, aliás. Não passa pela cabeça de ninguém que uma pessoa com aqueles ideais aceite ser porta-voz do governo do presidente Lula, a quem ele nunca poupou. Bela jogada do presidente, aliás. Mas tem mais: além de porta-voz, é ele quem vai cuidar de toda a publicidade do governo. Isso significa que se algum jornal disser alguma coisa que ele ache que não caiu bem, ele tem o poder de cortar a publicidade dos órgãos oficiais -Banco do Brasil, Caixa Econômica, e por aí vai. Não só o poder como o dever, penso eu. Não vamos também nos esquecer de que um dos 15 libertados no episódio do seqüestro do embaixador foi o ex-deputado cassado José Dirceu, que não cansa de mexer seus pauzinhos para ser anistiado, e agora já está metido até em negócios com o etanol.
Eu queria que alguém me explicasse se está certo Franklin Martins aceitar esse emprego. Com isso ele joga no lixo sua biografia, o que talvez para ele não tenha a menor importância. Mas para muita gente tem.
Eu, uma modesta cidadã, não vou acreditar mais em uma só palavra do que ele disser, e vou ficar de olho nessa história da publicidade oficial, que vai estar nas mãos dele.
Até agora não ouvi nem li ninguém falar sobre o assunto, dizer se ele fez bem ou mal em assumir o tal cargo, se ele não deveria ter recusado. Em outros tempos - até umas duas semanas atrás - eu ficaria orgulhosa de ser apresentada a esse homem que teve coragem para tanta coisa.
Hoje, mais não. Será que é o passar dos anos que faz com que as pessoas mudem? Ou eu estou completamente errada e ele tinha todo o direito de aceitar ser porta-voz do governo Lula?
Preciso que alguém me esclareça, alguém em quem eu acredite, alguém que seja correto, honesto, que não tenha mudado com o tempo. Que tenha conhecido Franklin Martins profundamente, e que possa me explicar o que se passou com ele, se é normal que as pessoas mudem, até para que eu entenda que a vida é assim mesmo, e me conforme com isso, ou se continuo com minhas opiniões, mesmo sozinha, mesmo que talvez errada.
E a única pessoa que gostaria que me falasse sobre isso, e na qual eu acreditaria, chama-se Fernando Gabeira. Eles foram companheiros, Gabeira deve entender.
Diga alguma coisa a respeito, Gabeira; diga tudo que você acha, Gabeira, porque estou precisando de sua opinião.
Aliás, só da sua.

ELIANE CANTANHÊDE Nunca antes neste país?

ELIANE CANTANHÊDE

BRASÍLIA - O governo Lula cedeu aos sargentos controladores de vôo e abriu uma crise com brigadeiros, generais e almirantes. O tempo dirá se foi um bom negócio. A história costuma dizer que não.
No meio do tiroteio entre o governo e os sublevados, quem foi atingido por uma bala certeira, e não necessariamente perdida, foi a Aeronáutica, que foi desmoralizada.
O comandante Luiz Carlos Bueno foi atropelado pelas negociações dos ministros da Defesa, Waldir Pires, e do Trabalho, então Luiz Marinho, com os sargentos que fizeram operação-padrão em outubro, contrariando as leis militares e até a Constituição. Agora, o novo comandante, Juniti Saito, foi desautorizado pelo próprio presidente.
Perdem Lula, Alencar, Pires, Dilma, Saito e toda a cadeia de comando militar, resvalando no descontrole e no sacolejo do Estado democrático. Ganham os controladores de vôo, que foram à guerra e venceram. Em vez de punidos, como quis Saito, foram brindados com as promessas de vantagens e de desmilitarização do setor. No dia 30 de março de 1964, Jango se reuniu com sargentos no Automóvel Clube sob aplausos do então consultor-geral da República, Waldir Pires. No dia 30 de março de 2007, Lula ditou do AeroLula a ordem para seu governo ceder aos sargentos de vôo, com apoio do ministro da Defesa, Waldir Pires -que depois sumiu.
O país não é o mesmo, a democracia é uma realidade e não há nenhuma hipótese de golpes. Mas essas coisas deixam marcas profundas. Lula e seu governo não estão apenas demonstrando incompetência num apagão mais do que previsto; estão brincando com fogo.
A foto dos militares esparramados pelo chão, com uniformes amarfanhados, em greve num setor vital e parando o país, é uma imagem terrível do governo Lula para a história.

elianec@uol.com.br

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