Wednesday, October 18, 2006

Tesoureiro do PT reuniu-se com Freud

Encontro aconteceu em apartamento de José Carlos Espinoza, outro assessor direto de Lula em campanhas eleitorais

Participantes da reunião se contradizem sobre motivo e conteúdo da conversa, ocorrida após depoimento de Freud Godoy na PF


Paulo Whitaker - 6.out.2002/Reuters
José Carlos Espinoza (de óculos, atrás de Lula), que recebeu Freud Godoy em seu apartamento


RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O tesoureiro do diretório nacional do PT e coordenador de infra-estrutura da campanha do candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Paulo Ferreira, reuniu-se com Freud Godoy, ex-assessor especial da Presidência, após o depoimento que este prestou à Polícia Federal sobre a tentativa frustrada de compra de um dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB).
A reunião ocorreu no apartamento de José Carlos Espinoza, 52, ex-chefe do Gabinete Regional da Presidência da República em São Paulo e um dos mais próximos assessores de Lula nas campanhas anteriores. Espinoza deixou o cargo no início da atual disputa para exercer, no comitê do presidente em São Paulo, a função de encarregado da agenda do candidato à reeleição.
Paulo Ferreira falou com a Folha às 18h25 de ontem. Indagado sobre a reunião, fez um discurso contra a imprensa e em defesa de Freud: "Escreva aí: Freud tem a minha inteira solidariedade". Em seguida, desligou o telefone sem nada responder. Mais tarde, ele confirmou ter ido à casa de Espinoza "dar um abraço" em Freud.
A data da reunião é imprecisa: Espinoza disse acreditar ter sido a noite do dia 18, e o advogado de Freud Godoy, Augusto Botelho, indicou a noite do dia 19. Freud prestou o primeiro depoimento à PF entre 14h e 18h20 do dia 18.
O motivo e o conteúdo da reunião de um implicado no caso do dossiê com o responsável pela arrecadação de dinheiro do PT também são controversos. Espinoza, que concedeu entrevista à Folha ontem à tarde na frente do comitê de Lula, na avenida Indianópolis (na capital paulista), disse que o pedido do encontro partiu de Freud, com a intenção de discutir "o seu futuro no PT".
Espinoza disse que Ferreira "tranqüilizou" Freud, mas negou que se tenha discutido auxílio financeiro a ele (leia texto nesta página).
O advogado de Freud, Augusto Botelho, que primeiro negou a reunião, mas depois a confirmou, apresentou uma versão diferente. Disse que a iniciativa partiu do tesoureiro, Paulo Ferreira, que queria "inteirar-se" do caso do dossiê.
O advogado se contradisse ao falar que não conhecia Espinoza. Apenas o teria visto anos atrás quando, na função de estagiário do escritório de advocacia do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi colher uma assinatura de Lula para uma procuração.
Ao saber que o próprio Espinoza havia explicado à Folha que encontrou-se com ele horas antes da reunião com o tesoureiro, Botelho admitiu ter estado no prédio de Espinoza, na Mooca.
Segundo a última edição da revista "Veja", Freud e Espinoza tiveram uma reunião no dia 18, daquela vez na própria sede da superintendência da PF e com o preso Gedimar Pereira Passos, segundo uma carta enviada à revista por três delegados federais cujos nomes foram mantidos em sigilo.
A exemplo da PF paulista, Espinoza e o advogado de Freud negaram o encontro no prédio da polícia.
Segundo um primeiro depoimento prestado à PF pelo advogado Gedimar Passos, funcionário do comitê de Lula em Brasília, preso no dia 15 de setembro com R$ 1,7 milhão que seria usado para comprar o dossiê, a ordem para a operação teria vindo de Freud. No último dia 3, em ofício enviado ao Tribunal Superior Eleitoral, Passos retirou a acusação.

Petista diz que ex-assessor foi "tranqüilizado"

DA REPORTAGEM LOCAL

Encarregado no comitê da campanha à reeleição de Lula em São Paulo de organizar a agenda do candidato, José Carlos Espinoza, 52, disse ontem que Paulo Ferreira, tesoureiro nacional do PT, "tranqüilizou" Freud Godoy, ex-assessor da Presidência, implicado por integrante do comitê de Lula no escândalo do dossiê. Leia os principais trechos da entrevista.


FOLHA - O sr. participou de uma reunião com Freud Godoy e Gedimar Passos na sede da PF?
JOSÉ CARLOS ESPINOZA -
Não participei de nenhuma reunião e não teria porque participar. Por que eu estaria numa reunião dessas?

FOLHA - Como foi a reunião na sua casa com Freud e o tesoureiro Paulo Ferreira?
ESPINOZA -
Nós tivemos uma primeira reunião com o doutor Augusto [Botelho], advogado do Freud, onde a gente foi conversar um pouco do que estava acontecendo e da possível prisão preventiva dele que havia sido pedida. O doutor Augusto foi embora, veio o Paulo Ferreira e nós fomos conversar mais a situação do Freud, interna. Como é que ficava a situação dele? Ele estava se exonerando da Presidência, como é que ficava a situação dele dentro do partido, o que seria exigido dele, ou ser pedido. O Paulo Ferreira nos tranqüilizou. Ele falou: "Olha, por enquanto não muda absolutamente nada. Não muda absolutamente nada. Vamos esperar os fatos irem se desenrolando e a gente vê o que é necessário". Agora, nada mais além disso, nada mais.

FOLHA - Freud solicitou alguma ajuda financeira?
ESPINOZA -
Nenhuma.

FOLHA - Foi oferecida a ele alguma coisa?
ESPINOZA -
Olha, eu diria, nesse caso, não foi. Mas acho que, dependendo das condições, acho que até isso é possível. Mas não foi, pelo menos naquele momento, não foi conversado nem cogitado nada disso.

FOLHA - Por que foi procurado o tesoureiro e não alguém da presidência ou da secretaria-geral do partido?
ESPINOZA -
Olha, porque o tesoureiro também é um membro do partido. Poderia ter sido outro, mas o Ferreira é que tinha participado da reunião em Brasília e ele então é que tinha o resultado das conversas em Brasília. Foi por esse motivo.

FOLHA - Que reunião em Brasília?
ESPINOZA -
Eles tiveram uma reunião em Brasília para discutir o episódio, a compra do dossiê, como é que ia encaminhar, como é que estava, sobre o Gedimar, o Valdebran. Porque até então essas pessoas estão sendo ditas como [integrantes] do PT. Então tem toda uma preocupação, uma movimentação. E o Paulo Ferreira foi a pessoa que acompanhou essa reunião lá. Foi ele que veio trazer o relato dessa reunião para nós e tranqüilizar a gente, dizer: "Olha, tranqüilo, vamos ver, vamos investigar, vai dar problema. "Nêgo" vai virar sua vida de cabeça pra baixo, mas por enquanto está tudo tranqüilo". Paulo Ferreira não foi (...). Você que falou agora nessa questão de tesoureiro. Eu nem (...). É um membro do partido, está na coordenação da campanha também e é o cara que participou da reunião lá em Brasília. (...) O que ele falou pra mim foi o seguinte, o que foi conversado com ele foi o seguinte: "Olha, nós fizemos uma reunião lá e tomamos essas decisões, nós vamos fazer essas coisas".

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