Quadro: No túnel do tempo
Fotos Flavio Canalonga/Luizinho Coruja/Antonio Ribeiro/Cristina Granato/Marco De Bari/Istockphoto/Jorge Rosenberg/Paulo Marcos/Oscar Cabral/Pedro Martinelli/Divulgação/Luiz Carlos
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Fotos Selmy Yassuda, Alexandre Schneider, Roberto Loffel, Eder Chiodetto e Leonardo Wen/Folha Imagem
Ailto De Freitas/O Globo, Rogerio Montenegro, Celso Junior/AE e Dida Sampaio/AE
04/08/2009 07:11 Por Cecília Araújo No dia 19 de julho, Jacqueline Ruas, de 15 anos, embarcava para uma viagem à Disney, em Orlando (EUA). Depois de nove dias em terras americanas, a garota começou a se sentir mal, com febre e sintomas de resfriado. Ao consultar um médico, recebeu como receita o medicamento Tamiflu, usado no tratamento da nova gripe. Hospitalizada no Celebration Hospital, em Orlando, foi liberada pelas autoridades de saúde americanas logo que descartaram a possibilidade de gripe A, mesmo sendo diagnosticado um quadro de pneumonia. A empresa de turismo garante que a liberação incluía a viagem de avião de volta ao Brasil, que ocorreu no sábado, 1º de agosto. Durante o trajeto, Jacqueline passou mal algumas vezes e precisou ser levada ao avião em cadeira de rodas na conexão que saía do Panamá, com destino a Guarulhos. Pouco antes da chegar ao Brasil, na madrugada de 2 de agosto, domingo, dois médicos a bordo foram chamados para socorrer a menina, que teve uma parada cardiorrespiratória. Ela morreu poucos minutos antes do desembarque. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, a garota trazia em sua bagagem, entre outros medicamentos, o Tamiflu, o xarope Syrup, o anti-inflamatório Motrin e o Tylenol, usado contra dor e febre. Os primeiros exames do Instituto Médico Legal (IML) de Guarulhos apontaram a pneumonia como causa da morte de Jacqueline. Contudo, a família ainda tem dúvida e quer apurar responsabilidades. O hospital americano não se pronunciou, e investigações foram iniciadas para esclarecer o ocorrido. Enquanto isso, a presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Jussara Fiterman, em entrevista a VEJA.com, afirma que os pais de jovens que têm viagens programadas não devem entrar em pânico. O resultado negativo do teste para identificar a nova gripe nos EUA pode ter sido equivocado? A garota poderia ter embarcado, mesmo descartada a contaminação pelo vírus H1N1? O quadro de pneumonia grave poderia ser constatado antes? Havia dois médicos no voo. Se eles soubessem da gravidade do quadro da jovem, o atendimento no avião seria suficiente para salvar Jacqueline? Que cuidados os pais podem tomar quando os filhos viajam? Se os pais identificam o risco de uma doença respiratória, é o caso de cancelar a viagem?Caso Jacqueline destaca necessidade de cuidados com doenças respiratórias
Reprodução da foto do passaporte de Jacqueline Ruas(Foto: AE)
Os testes em caso de suspeita da gripe geralmente são confiáveis. Porém, as conclusões ainda são nebulosas. A garota foi medicada com Tamiflu e antibióticos, o que prova que as informações sobre o atendimento nos Estados Unidos não são claras. Até o momento, estamos trabalhando com hipóteses; não se sabe o que aconteceu. Também não podemos concluir qual o tipo de pneumonia causador da morte da garota. Os novos exames vão esclarecer qual microorganismo causou a doença e identificar o tipo da pneumonia. O importante agora é saber mais detalhes sobre o que aconteceu.
De qualquer maneira, ela não deveria ter embarcado, pois já havia sido diagnosticada uma doença respiratória. Ela passava mal no aeroporto antes de embarcar, um quadro que poderia ser grave. O certo seria ter tido um atendimento mais intensivo e viajar apenas depois de melhorar. Não faz sentido uma menina de 15 anos ser levada de cadeira de rodas para dentro do avião com um quadro de pneumonia.
A pneumonia tem sintomas anteriores à evolução da gravidade do quadro. Em alguns casos, ela evolui rapidamente, mas isso não acontece em uma ou duas horas. Há 15 dias, quando Jacqueline embarcou para a Disney, não dava para prever a pneumonia, pois a garota ainda não tinha sintomas. Provavelmente, ela adquiriu o quadro respiratório nos EUA. Porém, durante o trajeto de volta, certamente daria tempo de identificar, examinar e verificar os fatores de gravidade da pneumonia. Parece estranho que não tenham detectado a tempo. Os principais sintomas são tosse, febre, expectoração e dor para respirar, que pode evoluir para falta de ar. Nos casos agudos, chegam rapidamente à insuficiência respiratória.
Muitas vezes, quando nós, médicos, viajamos, somos chamados para ajudar em situações como essa. Mas nem todos estão acostumados com o caso em questão por serem especialistas de outras áreas. Mesmo quando estão preparados, é necessária uma estrutura mínima para atender. Nos aviões não há um local adequado. Além disso, as aeronaves têm medicamentos em quantidades mínimas.
Especialmente no contexto atual, é importante ficar atento aos sintomas respiratórios, para detectar uma doença e diminuir os riscos de sua evolução. Se o jovem não apresenta sintomas, não é preciso fazer exames. Não vale a pena criar demanda para os hospitais, porque não há como atender tantas pessoas saudáveis. Ainda mais nesses meses de inverno, quando há sobrecarga de atendimento. Dessa forma, é necessário identificar os quadros apenas a partir de sintomas reais. Não há motivos para entrar em pânico.
Ao detectar sintomas, os pais devem levar o adolescente a um pneumologista. A viagem só deve ser cancelada se, na avaliação do especialista, for constatado risco de evolução da doença.
04/08/2009 07:11 Por Cecília Araújo No dia 19 de julho, Jacqueline Ruas, de 15 anos, embarcava para uma viagem à Disney, em Orlando (EUA). Depois de nove dias em terras americanas, a garota começou a se sentir mal, com febre e sintomas de resfriado. Ao consultar um médico, recebeu como receita o medicamento Tamiflu, usado no tratamento da nova gripe. Hospitalizada no Celebration Hospital, em Orlando, foi liberada pelas autoridades de saúde americanas logo que descartaram a possibilidade de gripe A, mesmo sendo diagnosticado um quadro de pneumonia. A empresa de turismo garante que a liberação incluía a viagem de avião de volta ao Brasil, que ocorreu no sábado, 1º de agosto. Durante o trajeto, Jacqueline passou mal algumas vezes e precisou ser levada ao avião em cadeira de rodas na conexão que saía do Panamá, com destino a Guarulhos. Pouco antes da chegar ao Brasil, na madrugada de 2 de agosto, domingo, dois médicos a bordo foram chamados para socorrer a menina, que teve uma parada cardiorrespiratória. Ela morreu poucos minutos antes do desembarque. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, a garota trazia em sua bagagem, entre outros medicamentos, o Tamiflu, o xarope Syrup, o anti-inflamatório Motrin e o Tylenol, usado contra dor e febre. Os primeiros exames do Instituto Médico Legal (IML) de Guarulhos apontaram a pneumonia como causa da morte de Jacqueline. Contudo, a família ainda tem dúvida e quer apurar responsabilidades. O hospital americano não se pronunciou, e investigações foram iniciadas para esclarecer o ocorrido. Enquanto isso, a presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Jussara Fiterman, em entrevista a VEJA.com, afirma que os pais de jovens que têm viagens programadas não devem entrar em pânico. O resultado negativo do teste para identificar a nova gripe nos EUA pode ter sido equivocado? A garota poderia ter embarcado, mesmo descartada a contaminação pelo vírus H1N1? O quadro de pneumonia grave poderia ser constatado antes? Havia dois médicos no voo. Se eles soubessem da gravidade do quadro da jovem, o atendimento no avião seria suficiente para salvar Jacqueline? Que cuidados os pais podem tomar quando os filhos viajam? Se os pais identificam o risco de uma doença respiratória, é o caso de cancelar a viagem?Caso Jacqueline destaca necessidade de cuidados com doenças respiratórias
Reprodução da foto do passaporte de Jacqueline Ruas(Foto: AE)
Os testes em caso de suspeita da gripe geralmente são confiáveis. Porém, as conclusões ainda são nebulosas. A garota foi medicada com Tamiflu e antibióticos, o que prova que as informações sobre o atendimento nos Estados Unidos não são claras. Até o momento, estamos trabalhando com hipóteses; não se sabe o que aconteceu. Também não podemos concluir qual o tipo de pneumonia causador da morte da garota. Os novos exames vão esclarecer qual microorganismo causou a doença e identificar o tipo da pneumonia. O importante agora é saber mais detalhes sobre o que aconteceu.
De qualquer maneira, ela não deveria ter embarcado, pois já havia sido diagnosticada uma doença respiratória. Ela passava mal no aeroporto antes de embarcar, um quadro que poderia ser grave. O certo seria ter tido um atendimento mais intensivo e viajar apenas depois de melhorar. Não faz sentido uma menina de 15 anos ser levada de cadeira de rodas para dentro do avião com um quadro de pneumonia.
A pneumonia tem sintomas anteriores à evolução da gravidade do quadro. Em alguns casos, ela evolui rapidamente, mas isso não acontece em uma ou duas horas. Há 15 dias, quando Jacqueline embarcou para a Disney, não dava para prever a pneumonia, pois a garota ainda não tinha sintomas. Provavelmente, ela adquiriu o quadro respiratório nos EUA. Porém, durante o trajeto de volta, certamente daria tempo de identificar, examinar e verificar os fatores de gravidade da pneumonia. Parece estranho que não tenham detectado a tempo. Os principais sintomas são tosse, febre, expectoração e dor para respirar, que pode evoluir para falta de ar. Nos casos agudos, chegam rapidamente à insuficiência respiratória.
Muitas vezes, quando nós, médicos, viajamos, somos chamados para ajudar em situações como essa. Mas nem todos estão acostumados com o caso em questão por serem especialistas de outras áreas. Mesmo quando estão preparados, é necessária uma estrutura mínima para atender. Nos aviões não há um local adequado. Além disso, as aeronaves têm medicamentos em quantidades mínimas.
Especialmente no contexto atual, é importante ficar atento aos sintomas respiratórios, para detectar uma doença e diminuir os riscos de sua evolução. Se o jovem não apresenta sintomas, não é preciso fazer exames. Não vale a pena criar demanda para os hospitais, porque não há como atender tantas pessoas saudáveis. Ainda mais nesses meses de inverno, quando há sobrecarga de atendimento. Dessa forma, é necessário identificar os quadros apenas a partir de sintomas reais. Não há motivos para entrar em pânico.
Ao detectar sintomas, os pais devem levar o adolescente a um pneumologista. A viagem só deve ser cancelada se, na avaliação do especialista, for constatado risco de evolução da doença.