Saturday, June 20, 2009

Quadro: A palavra do presidente

Fotos Lumi Zunica, Anja Niedringhaus/AP, Samir Batista, Dida Sampaio/AE, J.Freitas/ABR, Fabio Posebom/Abr, Wilson Dias/ABR, Celso Junior/Aecristina Gallo/EFE

Quadro: O que dizem as pessoas comuns

O que dizem as pessoas comuns

A esmagadora maioria dos 100 cidadãos de dez estados ouvidos pela reportagem de VEJA mostrou-se indignada com as frases condescendentes do presidente Lula em relação à corrupção e à impunidade. Eles responderam a duas indagações: por que no Brasil as denúncias não dão em nada e se concordam com Lula em que políticos como Sarney devem ter um tratamento diferente do que têm as pessoas comuns. Entre os entrevistados, há estudantes, cientistas, artistas, comerciantes e profissionais liberais. Há brasileiros anônimos e famosos, ricos e pobres. Não importa. São todos iguais perante a lei e – o mais importante – querem que seja assim. A comparação entre o que eles e o presidente pensam sobre o assunto revela um fenômeno preocupante: o distanciamento entre a política e o mundo real. Passou da hora de os senhores de Brasília ouvirem a voz dos cidadãos conscientes.
Fotos Marcio Lima, Selmy Yassuda, divulgação, Nelio Rodrigues/Ag. 1º Plano, Mirian Fichtner, Cristiano Mariz, Manoel Marques, Nilton Fukuda/AE, Marcio Lima, Julio Vilela, Reginaldo Teixeira, Mirian Fichtner, Ricardo Junqueira

Quadro: Meninos, aprendam


Foto Cheryl Ungar e ilustrações Natalia Forcat

Quadro: O QUE ESTÁ EM DISCUSSÃO


Fotos Pedro H. Bernardo/Folha Imagem, Jf Diorio/AE, Fernanda Preto e divulgação

Quadro: O NORTE AMBIENTAL


Montagem com fotos Jorge Araujo/Folha Imagem e Ed Ferreira/AE/Jefferson Bernardes/Preview.com/Ana Branco/Ag. Globo/divulgação e Ana Araujo

Quadro: A turma do fundão


FOTOS JULIO VILELA

Quadro: O consumo dos brasileiros


Foto Lailson Santos

Quadro: A receita é do Brasil

• Quadro: Duas décadas de desastres


Fotos Victor Rojas/AFP, Diego Haliasz/AFP, Juan Mabromata/AFP

Trecho dO LIVRO

O matrimônio do general Kurt von Hammerstein-Equord foi

abençoado com sete filhos,quatro moças e três rapazes.Este relato

trata dele e de sua família.

um dia difícil

Como toda manhã,em 3 de fevereiro de 1933 o general dei-

xou seus aposentos na ala leste do Bendlerblock pontualmente às

sete horas.Não tinha que andar muito até o gabinete,que ficava no

andar de baixo.Ali,naquela mesma noite,deveria sentar-se para

conversar com um certo AdolfHitler.

Quantas vezes já o encontrara? Deve tê-lo visto já no inverno de

1924/25 na casa do fabricante de pianos Edwin Bechstein,que ele

conhecia havia muito.É o que diz seu filho Ludwig.Hitler não teria

causado maior impressão em seu pai.Ele o descreveu então como um

doidivanas,se bem que um doidivanas habilidoso.A sra.Helene

Bechstein fora desde sempre uma grande admiradora de Hitler.Além

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de financiá-lo durante seus anos em Munique — falava-se de em-

préstimos e joias —,ela o introduzira ao que julgava ser a boa socie-

dade.Dava grandes jantares para Hitler,para apresentá-lo a amigos

influentes,e lhe ensinara como manejar os talheres à mesa,quando

e como beijar a mão de uma senhora,como envergar um fraque.

Alguns anos mais tarde,em 1928 ou 1929,Hitler foi ter com o

general na residência deste na Hardenbergstrasse,não muito longe

da estação Zoologischer Garten,presumivelmente para sondar o

que o Estado-Maior pensava a seu respeito.Franz von Hammers-

tein,que na época tinha sete ou oito anos,recorda como o pai rece-

beu a visita:“Sentaram-se na varanda e conversaram.A opinião do

meu pai sobre aquele homem:ele fala demais,e de modo muito

confuso.Deu-lhe de ombros.Mesmo assim,Hitler não desistiu

dele e lhe enviou uma assinatura gratuita de uma revista nazista”.

O terceiro encontro aconteceu em 12 de setembro de 1931,na

casa de um certo sr.Von Eberhardt,por insistência de Hitler,que a

essa altura liderava o segundo partido mais forte da Alemanha.

“Hammerstein disse por telefone a seu amigo [e então ministro da

Defesa] Schleicher:‘O figurão de Munique quer falar conosco’.

Schleicher respondeu:‘Infelizmente não posso’.”A reunião durou

quatro horas.Na primeira,Hitler falou sem parar,até que Ham-

merstein fez uma observação;nas restantes,discutiram;e por fim

Hammerstein — segundo esse sr.Von Eberhardt — teria decla-

rado:“Queremos ir mais devagar.De resto,somos da mesma opi-

nião”.Ele de fato fez tal declaração? Seria um indício das ambiva-

lências profundas dessa época de crise, à qual nem mesmo as

cabeças mais atiladas estavam imunes.

Depois dessa conversa,Schleicher teria perguntado a Von

Eberhardt:“Que você acha desse Hitler?”.“Embora muito do que

ele diz seja inaceitável,não há maneira de contornar um homem

que tem o apoio das grandes massas.”“O que eu vou fazer com esse

psicopata?”,teria respondido Schleicher,então major-general e

um dos políticos mais influentes do país.

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Kurt von Hammerstein,por volta de 1934

Menos de um ano depois,o “psicopata”dominava a Alema-

nha.Em 3 de fevereiro de 1933,reuniu-se pela primeira vez com a

cúpula das Forças Armadas* para expor seus planos e,se possível,

conquistá-la.O anfitrião da noite foi o general Kurt Freiherrvon

Hammerstein-Equord.

Na ocasião,tinha 54 anos de idade e parecia ter chegado ao

ápice da carreira.Já em 1929,como major-general,fora nomeado

chefe do departamento de tropas,termo sob o qual se camuflava o

Estado-Maior das Forças Armadas — que,pelo Tratado de Versa-

lhes,não podia existir.Um ano depois,fora promovido a general e a

comandante do Exército,o cargo mais alto do Exército alemão.A

decisão fora muito polêmica.Os partidos de direita rechaçavam-no

com veemência;censuravam-no por não ser “patriota”o bastante.

No Ministério da Defesa,era chamado “o general vermelho”,prova-

velmente por conhecer bem,por experiência própria,o Exército

Vermelho.Ficara impressionado com a ligação estreita entre a tropa

e as massas,em contraste com o completo isolamento político entre

as Forças Armadas alemãs e as classes trabalhadoras.Ainda assim,

era absurdo atacar Hammerstein como esquerdista,como fazia o

Völkischer Beobachter;afinal de contas,ele era,por suas atitudes,um

militar aristocrata da velha guarda.Numa reunião de comandantes

em fevereiro de 1932,ele se expressou inequivocamente:“Nossas

convicções nos levam à direita,mas precisamos saber com clareza

quem são os responsáveis pela catástrofe política de agora.Estou

falando dos líderes dos partidos de direita.São elesos culpados”.

Um ano mais tarde,embora pudesse contabilizar uma car-

reira de sucesso,Hammerstein estava fundamentalmente farto de

seu cargo.

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* Ao longo deste livro, “Forças Armadas”traduz Reichswehr, denominação

anterior à Wehrmachtnazista; usada durante a República de Weimar, ela con-

serva,entretanto,a menção a “império”(Reich).(N.T.)

a carreira exemplar de um cadete

1888 Colégio militar de Plön

1893 Colégio militar central de Berlim-Lichterfelde

1898 Segundo-tenente no 3oRegimento da Guarda em Berlim

1905-07 Em Kassel

1907 Academia de Guerra em Berlim

1909 Primeiro-tenente

1911 Na seção de logística do Estado-Maior Geral

1913 Capitão no Estado-Maior

1913 Ajudante na Intendência-Geral

1914 Comandante de companhia em Flandres

1915 Primeiro oficial (operações) do Estado-Maior do VIII

Corpo de Reserva

1916 No Estado-Maior Geral

1917 Major

1918 Primeiro oficial (operações) do Estado-Maior do

Comando-Geral

1919 No Estado-Maior do Corpo Lüttwitz

1919 No Estado-Maior do IComando de Grupo em Berlim

1920 Tenente-coronel

1920 Comandante do Estado-Maior do II Comando de

Grupo em Kassel

1922 Comandante do 3o Batalhão do 12o Regimento de

Infantaria em Magdeburg

1924 Comandante do Estado-Maior da 3aDivisão em Berlim

1925 Coronel

1929 Major-general, comandante do Estado-Maior do I

Comando em Berlim

1929 Tenente-general,comandante do departamento de tropas

1930 General de infantaria,comandante do Exército

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um clã de longa data e um casamento à altura

Os barões Von Hammerstein são uma família muito ramifi-

cada que descende da velha nobreza da Vestfália e que,segundo o

almanaque de Gotha, dividiu-se em duas linhagens e quatro

ramos.Mil anos atrás,viviam na Renânia,onde ainda hoje,nas

proximidades de Andernach,podem-se ver as ruínas de um castelo

que leva seu nome;mais tarde,estiveram também em Hannover,

na Áustria e em Mecklenburg.Encontram-se entre eles proprietá-

rios rurais,oficiais,conselheiros e guardas-florestais;as mulheres

casavam-se à altura de sua condição ou terminavam a vida como

freiras ou abadessas.

O pai do general vivia como guarda-florestal em Mecklen-

burg-Strelitz.Mandou o filho para o colégio militar,ainda que o

jovem,segundo consta,preferisse virar advogado ou comerciante

de café em Bremen. Como o pai tinha mais dois filhos, mas

nenhum recurso,não havia como financiar outro tipo de estudo.

Não bastasse isso,o jovem Hammerstein era ocasionalmente con-

vocado a prestar serviços de pajem na corte imperial em Potsdam,

coisa que lhe agradava tão pouco quanto o treinamento militar.Já

nesses anos de formação conheceu o futuro chanceler Kurt von

Schleicher.Aos vinte anos,os dois receberam a patente de oficial e

seguiram como tenentes para o 3oRegimento da Guarda.A tropa

gozava de muito prestígio;dela saíram vários generais e também,

infelizmente,Paul von Hindenburg e seu filho Oscar.

Como preparação à Academia de Guerra,Hammerstein pas-

sou à Artilharia de Campanha em Karlsruhe.Viajou com todos os

pertences em dois cestos de roupa,depois de leiloar o resto em seu

antigo regimento.A decisão teria consequências de longo alcance

para Hammerstein;pois em Karlsruhe,para onde se transferiu de

caso pensado,ele reencontrou uma senhorita cujo pai,o barão

Walther von Lüttwitz,era o comandante do Estado-Maior local.

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