Saturday, September 27, 2008

Quadro: Para diminuir a alavancagem

Quadro: As bolas fora

Quadro: No vermelho

Quadro: Com amigos

Quadro: Ladeira abaixo

Quadro: Brincando com fogo

Montagem sobre fotos de Istockohoto.com, H.Benser/Zefa/Corbis, Dan Tardif/Corbis/Latinstock, Germano Luders, Carlos Martinez/Stock Photo e Alfredo Franco
Certifica.com

Quadro: Os benefícios

Trecho de Lua Nova, de Stéphenie Meyer


LIVROS  


1. FESTA

EU TINHA NOVENTA E NOVE POR CENTO DE CERTEZA DE que estava sonhando.

Os motivos para minha certeza eram que, primeiro, eu estava de pé em um raio brilhante de sol - o sol claro e ofuscante que nunca luzia em minha nova cidade chuvosa, Forks, no estado de Washington - e, segundo, eu olhava minha avó Marie. Vovó morrera havia seis anos, então era uma prova concreta da teoria do sonho.

Minha avó não mudara muito; seu rosto estava exatamente igual ao que eu lembrava. A pele era macia e murcha, dobrando-se em centenas de pequenas rugas que pendiam delicadas. Como um damasco seco, mas com uma nuvem de cabelo branco e espesso se destacando em volta dele.

Nossas bocas - a dela com rugas ressecadas - se estendiam no mesmo meio sorriso de surpresa, exatamente ao mesmo tempo. Aparentemente, ela também não esperava me ver.

Eu estava prestes a lhe fazer uma pergunta; tinha tantas - O que ela estava fazendo ali, no meu sonho? O que ela andara fazendo nos últimos seis anos? Vovô estava bem, e eles se encontraram, onde quer que estivessem? -, mas ela abriu a boca quando tentei falar, então parei para permitir que ela falasse primeiro. Ela fez uma pausa também e depois nós duas sorrimos com o pequeno embaraço.

"Bella?"

Não era vovó que chamava meu nome, e nós duas nos viramos para ver quem se unira a nossa reuniãozinha. Não precisava olhar para saber quem era; aquela era uma voz que eu reconheceria em qualquer lugar - reconheceria e reagiria a ela, quer estivesse acordada ou dormindo... Ou até morta, posso apostar. A voz pela qual eu pisaria em brasas - ou, sendo menos dramática, pela qual eu chapinharia na lama em cada dia de chuva fria e interminável.

Edward.

Embora eu sempre fi casse emocionada ao vê-lo - consciente ou não -, e embora eu quase tivesse certeza de que era um sonho, entrei em pânico enquanto Edward se dirigia a nós sob o sol reluzente.

Entrei em pânico porque vovó não sabia que eu estava apaixonada por um vampiro - ninguém sabia disso -, então, como eu explicaria o fato de que os feixes brilhantes de sol se dividiam em sua pele em mil fragmentos de arco-íris, como se ele fosse feito de cristal ou diamante?

Bom, vó, deve ter percebido que meu namorado brilha. É só uma coisa que ele faz no sol. Não se preocupe com isso...

O que ele estava fazendo? O motivo para ele morar em Forks, o lugar mais chuvoso do mundo, era que podia ficar ao ar livre durante o dia sem revelar o segredo de sua família. E no entanto ali estava ele, andando elegantemente em minha direção - com o sorriso mais lindo em seu rosto de anjo, como se eu fosse a única presente.

Nesse segundo, desejei não ser a única exceção a seu misterioso talento; em geral eu me sentia grata por ser a única pessoa cujos pensamentos ele não podia ouvir com clareza, como se fossem pronunciados em voz alta. Mas agora eu queria que ele fosse capaz de me ouvir também, assim poderia escutar o alerta que eu gritava em minha cabeça.

Lancei um olhar de pânico para minha avó e vi que era tarde demais. Ela estava se virando para olhar para mim de novo, os olhos tão alarmados quanto os meus.

Edward - ainda sorrindo daquele jeito tão lindo que fazia meu coração parecer inchar e explodir no peito - pôs o braço em meu ombro e virou-se para olhar minha avó.

A expressão de vovó me surpreendeu. Em vez de parecer apavorada, ela me olhava timidamente, como se esperasse por uma repreensão. E ela estava de pé numa posição tão estranha - um braço afastado canhestramente do corpo, esticado e, depois, envolvendo o ar. Como se estivesse abraçando alguém que eu não podia ver, alguém invisível...

Só então, enquanto eu olhava o quadro como um todo, foi que percebi a enorme moldura dourada que cercava as feições de minha avó. Sem compreender, levantei a mão que não estava na cintura de Edward e a estendi para tocá-la. Ela imitou o movimento com exatidão, espelhando-o. Mas onde nossos dedos deveriam se encontrar não havia nada, a não ser o vidro frio...

Com um sobressalto vertiginoso, meu sonho tornou-se abruptamente um pesadelo.

Não havia vovó alguma.

Aquela era eu. Eu em um espelho. Eu - anciã, enrugada e murcha. Edward estava a meu lado, sem reflexo, lindo de morrer e com 17 anos para sempre.

Ele apertou os lábios perfeitos e gelados em meu rosto desgastado.

- Feliz aniversário - sussurrou.

Acordei assustada - minhas pálpebras se arregalando - e arfante. A luz cinzenta e embaçada, a familiar luz de uma manhã nublada, tomou o lugar do sol ofuscante de meu sonho.

Um sonho, disse a mim mesma. Foi só um sonho. Respirei fundo e pulei novamente quando meu despertador tocou. O pequeno calendário no canto do mostrador do relógio me informou que era dia 13 de setembro.

Um sonho, mas pelo menos, de certo modo, bastante profético. Era o dia do meu aniversário. Eu tinha oficialmente 18 anos.

Durante meses, tive pavor desse dia.

Por todo o verão perfeito - o verão mais feliz que tive na vida, o verão mais feliz que qualquer um em qualquer lugar teria e o verão mais chuvoso da história da península de Olympic - essa triste data ficou de tocaia, esperando para saltar sobre mim.

E, agora que chegara, era ainda pior do que eu temia. Eu podia sentir - eu estava mais velha. A cada dia eu ficava mais velha, mas isto era diferente, era pior, quantificável. Eu tinha 18 anos.

E Edward jamais teria essa idade.

Quando fui escovar os dentes, quase me surpreendi com o fato de que o rosto no espelho não mudara. Olhei para mim mesma, procurando por algum sinal de rugas iminentes em minha pele de marfim. Mas os únicos vincos eram os da minha testa, e eu sabia que, se conseguisse relaxar, eles desapareceriam.

Não consegui. Minhas sobrancelhas se alojaram em uma linha de preocupação acima de meus angustiados olhos castanhos.

Foi só um sonho, lembrei a mim mesma de novo. Só um sonho... Mas também meu pior pesadelo.

Não tomei o café-da-manhã, com pressa para sair de casa o mais rápido possível. Não fui inteiramente capaz de evitar meu pai e tive de passar alguns minutos fingindo-me animada. Tentei ficar empolgada de verdade com os presentes que eu pedira para ele não comprar para mim, mas sempre que eu tinha de sorrir, parecia que podia começar a chorar.

Lutei para me controlar enquanto dirigia para a escola. A visão de minha avó - eu não pensava nela como eu mesma - não saía de minha cabeça. Só o que consegui sentir foi desespero, até que parei no estacionamento conhecido atrás da Forks High School e vi Edward curvado e imóvel sobre seu Volvo prata polido, como um monumento de mármore em homenagem a algum esquecido deus pagão da beleza. O sonho não lhe fizera justiça. E ele esperava ali por mim, exatamente como nos outros dias.

O desespero desapareceu por um momento, substituído pela admiração. Mesmo depois de meio ano com ele, eu ainda não acreditava que merecia tanta sorte.

Sua irmã, Alice, estava a seu lado, também esperando por mim.

É claro que Edward e Alice não eram de fato parentes (em Forks, corria a história de que todos os irmãos Cullen tinham sido adotados pelo Dr. Carlisle Cullen e sua esposa, Esme, os dois indiscutivelmente novos demais para ter fi lhos adolescentes), mas sua pele tinha exatamente a mesma palidez, os olhos tinham o mesmo tom dourado, com as mesmas olheiras fundas, como hematomas. O rosto de Alice, como o dele, era de uma beleza incrível. Para alguém que sabia - alguém como eu -, essas semelhanças representavam a marca do que eles eram.

A visão de Alice esperando ali - seus olhos caramelo brilhantes de empolgação e um pequeno embrulho prateado nas mãos - deixou-me carrancuda. Eu disse a Alice que não queria nada, nada mesmo, nenhum presente, nem mesmo alguma atenção pelo aniversário. Obviamente, meus desejos estavam sendo ignorados.

Bati a porta de minha picape Chevy 53 - uma chuva de ferrugem caiu do teto molhado - e andei devagar na direção deles. Alice pulou à frente para me receber, a cara de fada reluzente sob o cabelo preto e desfiado.

- Feliz aniversário, Bella!

- Shhh! - sibilei, olhando o estacionamento para me certifi car de que ninguém a ouvira. A última coisa que eu queria era uma espécie de comemoração do melancólico evento.

Ela me ignorou.

- Quer abrir seu presente agora ou depois? - perguntou ansiosamente enquanto seguíamos para onde Edward ainda esperava.

- Nada de presentes - protestei num murmúrio.

Ela por fi m pareceu entender meu estado de espírito.

- Tudo bem... Mais tarde, então. Gostou do álbum que sua mãe mandou para você? E a câmera de Charlie?

Suspirei. É claro que ela saberia quais eram meus presentes de aniversário. Edward não era o único membro da família com habilidades in comuns. Alice teria "visto" o que meus pais planejavam assim que eles toma- ram a decisão.

- É. São ótimos.

- Eu acho que é uma ótima idéia. Só se chega ao último ano da escola uma vez. Pode muito bem documentar a experiência.

- Quantas vezes você fez o último ano? - Isso é diferente.


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O Vampiro antes de Drácula



LIVROS


de Martha Angel
e Humberto Moura Neto

O retrato oval

Edgar Allan Poe

O castelo, onde meu criado se atrevera a forçar entrada para não permitir que eu, em minha desesperada condição de ferido, passasse a noite a céu aberto, era uma daquelas edificações em que o desalento e a grandeza se amalgamavam e que, em meio aos Apeninos, contemplavam carrancudos a passagem do tempo, não menos na realidade do que na imaginação de Mrs. Radcliffe. Tudo fazia crer que seu abandono era temporário e bastante recente. Instalamo-nos num dos aposentos menores e de mobília menos suntuosa, situado numa torre isolada. Apesar de requintadas, as decorações eram gastas e antiquadas. As paredes estavam revestidas com tapeçarias e adornadas com inúmeros e multiformes brasões, e com um bom número de inspiradas pinturas modernas, em molduras de belos arabescos dourados. Por estas pinturas, que pendiam não só das paredes principais, mas nos vários recantos que a bizarra arquitetura do castelo tornava necessários, por estas pinturas senti grande interesse, talvez devido a um princípio de delírio. Assim, pedi a Pedro que fechasse as pesadas venezianas do quarto - uma vez que a noite já caíra -, que acendesse o candelabro alto junto a minha cabeceira, e escancarasse as cortinas de veludo negro e franjado do dossel que envolvia a cama. Com tais providências eu esperava que, se não conseguisse dormir, ao menos pudesse contentarme em olhar as pinturas, alternando a contemplação com o manuseio de um pequeno livro que encontrara sobre o travesseiro, e cujo propósito era comentá-las e descrevê-las.

Li por um longo, longo tempo, e com grande devoção contemplei os quadros. As horas voaram ligeiras, gloriosas, até que a negra meia-noite chegou. A posição do candelabro me desagradava. Estendendo a mão com dificuldade, e tentando não perturbar o criado que dormia, ajeitei-o de forma que a luz incidisse em cheio sobre o livro.

A ação teve, porém, um efeito inesperado. Os raios das inúmeras velas (pois havia muitas) agora recaíam sobre um nicho do quarto que até então estivera encoberto pela sombra de um dos balaústres da cama. Eu assim notei, sob a luz vívida, uma pintura que antes me passara despercebida. Era o retrato de uma mulher jovem. Passei os olhos rapidamente pela pintura e então cerrei-os. A princípio, a razão de assim proceder não ficou aparente nem mesmo à minha própria percepção. Mas, enquanto minhas pálpebras permaneceram fechadas, procurei na mente as razões para ter agido desta forma. Fora um movimento impulsivo, uma tentativa de ganhar tempo para a reflexão - para assegurar-me de que a visão não me enganara -, de acalmar e dominar minha imaginação e permitir-me um olhar mais sóbrio, mais preciso. Um instante depois, voltei a contemplar a pintura com atenção.

De que, agora, eu podia vê-la de maneira correta não havia mais dúvida, pois o primeiro lampejo das velas sobre o quadro pareceu dissipar o estupor sonolento que se havia apoderado de meus sentidos, e lançou-me sem aviso de volta à vigília.

O retrato, como já disse, era de uma mulher jovem. Ele mostrava apenas a cabeça e os ombros, representados na forma que recebe o nome técnico de vinheta, num estilo que lembrava as obras de Sully. Os braços, o colo e até as pontas de seus cabelos radiantes se fundiam de modo imperceptível com as sombras indistintas, mas profundas, que compunham o fundo do quadro. A moldura oval exibia uma ornamentação elaborada, filigranada no estilo mourisco. Como objeto de arte, nada seria mais admirável que a pintura em si. Mas não poderia ter sido a execução da obra, ou a beleza imortal do rosto, o que me tocara de modo tão inesperado e veemente. Menos ainda poderia ser que minha imaginação, despertada de seu torpor, houvesse confundido o retrato com uma pessoa viva. No ato, dei-me conta de que as particularidades da composição, da representação e da moldura haviam dissipado de imediato tal idéia, e teriam impossibilitado considerá-la mesmo que por um instante. Refletindo com atenção sobre esses pontos, permaneci por talvez uma hora, meio sentado, meio reclinado, o olhar fixo no retrato. Ao final, satisfeito com o real segredo de seu efeito, recostei-me na cama. Eu encontrara o feitiço da pintura numa absoluta verossimilhança de expressão, a qual de início surpreendeu-me para então desconcertar-me, dominar-me e, por fim, deixar-me estarrecido. Com um medo profundo e respeitoso, reconduzi o candelabro a sua posição anterior. Agora que a causa de minha profunda agitação estava fora de vista, apanhei ansioso o livro que comentava as pinturas e sua história. Buscando o número que designava o retrato oval, li estas palavras vagas e surpreendentes:

"Era uma donzela de rara beleza, tão encantadora como cheia de alegria. E amaldiçoada foi a hora em que viu, e amou, e desposou o pintor. Ele, passional, estudioso, austero, tendo já na Arte sua prometida. Ela, uma donzela de rara beleza, tão encantadora como cheia de alegria; toda luz e sorrisos, travessa como uma corça; amando e apreciando todas as coisas; abominando tão-somente sua rival, a Arte; temendo apenas a paleta e os pincéis e outros instrumentos malfadados que a privavam do semblante de seu amado. Assim, foi terrível para a donzela ouvir o pintor expressando o desejo de retratar até mesmo a jovem noiva. Era, porém, humilde e obediente, e por muitas semanas sentou-se, dócil, na câmera escura da torre, onde apenas a luz vinda do alto incidia sobre a tela pálida. Mas, ele, o pintor, regozijava-se com seu trabalho, que prosseguia hora após hora, dia após dia. E era um homem apaixonado, e intempestivo, e calado, que se perdeu em delírios, a ponto de não se permitir perceber que a luz tão lúgubre daquela torre antiga drenava a saúde e o espírito de sua noiva, que definhava aos olhos de to-dos, exceto aos seus. E, no entanto, ela sorria e continuava a sorrir, sem protestos, por saber que o pintor (que tinha grande renome) extraía dessa tarefa um prazer fervoroso e ardente, e trabalhava dia e noite para retratar aquela que tanto o amava, e que, porém, a cada dia mostrava-se mais frágil e abatida. Em verdade, houve quem vis-se o retrato e aos murmúrios comentasse a semelhança, como um prodígio, uma prova tanto do poder do pintor quanto de seu profundo amor por aquela que retratava de forma tão extraordinária. Entretanto, quando o trabalho estava quase concluído, ninguém mais era admitido na torre, pois o pintor fora arrebatado pelo ardor de seu trabalho, e apenas raramente erguia os olhos da tela, mesmo que para fitar a face da esposa. E ele se recusava a ver que os matizes que aplicava na tela eram extraídos da mulher que tinha a seu lado. Quando várias semanas haviam passado, e pouco restava a fazer, salvo uma pincelada sobre a boca e um toque sobre o olho, o espírito da dama outra vez tremeluziu como a chama da lamparina. E a pincelada foi aplicada e o toque colocado; e, por um momento, o pintor permaneceu em transe diante da obra que criara. Mas, no instante seguinte, enquanto ainda a admirava, ficou trêmulo e empalideceu. Assombrado, e exclamando em alta voz, "Isto é de fato a própria Vida!", virou-se para olhar sua amada. Ela estava morta."


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Trecho Crepúsculo, de Stephanie Meyer


LIVROS  

Trecho Crepúsculo, de Stephanie Meyer

Foi ali, sentada no refeitório, tentando conversar com sete estranhos curiosos, que eu os vi pela primeira vez.

Estavam sentados no canto do refeitório, à maior distância possível de onde eu me encontrava no salão comprido. Eram cinco. Não estavam conversando e não comiam, embora cada um deles tivesse uma bandeja cheia e intocada diante de si. Não me encaravam, ao contrário da maioria dos outros alunos, por isso era seguro observá-los sem temer encontrar um par de olhos excessivamente interessados. Mas não foi nada disso que atraiu e prendeu minha atenção.

Eles não eram nada parecidos. Dos três meninos, um era grandalhão — musculoso como um halterofilista inveterado, com cabelo escuro e crespo. Outro era mais alto, mais magro, mas ainda assim musculoso, e tinha cabelo louro cor de mel. O último era esguio, menos forte, com um cabelo desalinhado cor de bronze. Era mais juvenil do que os outros, que pareciam poder estar na faculdade ou até ser professores daqui, em vez de alunos.

As meninas eram o contrário. A alta era escultural. Linda, do tipo que se via na capa da edição de trajes de banho da Sports Illustrated, do tipo que fazia toda garota perto dela sentir um golpe na auto-estima só por estar no mesmo ambiente. O cabelo era dourado, caindo delicadamente em ondas até o meio das costas. A menina baixa parecia uma fada, extremamente magra, com feições miúdas. O cabelo era de um preto intenso, curto, picotado e desfiado para todas as direções.

E, no entanto, todos eram de alguma forma parecidos. Cada um deles era pálido como giz, os alunos mais brancos que viviam nesta cidade sem sol. Mais brancos do que eu, a albina. Todos tinham olhos muito escuros, apesar da variação de cor dos cabelos. Também tinham olheiras — arroxeadas, em tons de hematoma. Como se tivessem passado uma noite insone, ou estivessem se recuperando de um nariz quebrado. Mas os narizes, todos os seus traços, eram retos, perfeitos, angulosos.

Mas não era por nada disso que eu não conseguia desgrudar os olhos deles.

Fiquei olhando porque seus rostos, tão diferentes, tão parecidos, eram completa, arrasadora e inumanamente lindos. Eram rostos que não se esperava ver a não ser talvez nas páginas reluzentes de uma revista de moda. Ou pintados por um antigo mestre como a face de um anjo. Era difícil decidir quem era o mais bonito — talvez a loura perfeita, ou o garoto de cabelo cor de bronze.

Todos pareciam distantes — distantes de cada um ali, distantes dos outros alunos, distantes de qualquer coisa em particular, pelo que eu podia notar. Enquanto eu observava, a garota baixinha se levantou com a bandeja — o refrigerante fechado, a maçã sem uma dentada — e se afastou com passos longos, rápidos e graciosos apropriados para uma pista de decolagem. Fiquei olhando, surpresa com seus passos de dança, até que ela largou a bandeja no lixo e seguiu para a porta dos fundos, mais rápido do que eu teria pensado ser possível. Meus olhos dispararam de volta aos outros, que ficaram sentados, impassíveis.

— Quem são eles? — perguntei à garota da minha turma de espanhol, cujo nome eu esquecera.

Enquanto ela olhava para ver do que eu estava falando — embora já soubesse, provavelmente, pelo meu tom de voz —, de repente ele olhou para ela, o mais magro, o rapaz juvenil, o mais novo, talvez. Ele olhou para minha vizinha só por uma fração de segundo, e depois seus olhos escuros fulguraram para mim.

Ele desviou os olhos rapidamente, mais rápido do que eu, embora, em um jorro de constrangimento, eu tenha baixado o olhar de imediato. Naquele breve olhar, seu rosto não transmitiu nenhum interesse — era como se ela tivesse chamado o nome dele, e ele a olhasse numa reação involuntária, já tendo decidido não responder.

Minha vizinha riu sem graça, olhando a mesa como eu.

— São Edward e Emmett Cullen, e Rosalie e Jasper Hale. A que saiu é Alice Cullen. Todos moram com o Dr. Cullen e a esposa. — Ela disse isso à meia-voz.

Olhei de lado para o rapaz bonito, que agora fitava a própria bandeja, desfazendo um pãozinho em pedaços com os dedos pálidos e longos. Sua boca se movia muito rapidamente, os lábios perfeitos mal se abrindo. Os outros três ainda pareciam distantes e, no entanto, eu sentia que ele estava falando em voz baixa com eles.

Nomes estranhos e incomuns, pensei. O tipo de nome que têm os avós. Mas talvez seja moda por aqui — nomes de cidades pequenas? Finalmente me lembrei de que minha vizinha se chamava Jessica, um nome perfeitamente comum. Havia duas meninas que se chamavam Jessica na minha turma de história, na minha cidade.

— Eles são... muito bonitos. — Lutei com a patente atenuação da verdade.

— É — concordou Jessica com outra risada. — Mas todos estão juntos... Emmett e Rosalie, e Jasper e Alice, quero dizer. E eles moram juntos. — Sua voz trazia toda a condenação e o choque da cidade pequena, pensei criticamente. Mas, para ser sincera, tenho que admitir que até em Phoenix isso provocaria fofocas.

— Quem são os Cullen? — perguntei. — Eles não parecem parentes...

— Ah, e não são. O Dr. Cullen é bem novo, tem uns vinte e tantos ou trinta e poucos anos. Todos foram adotados. Os Hale são mesmo irmãos, gêmeos... os louros... e são filhos adotivos.

— Parecem meio velhos para filhos adotivos.

— Agora são, Jasper e Rosalie têm 18 anos, mas estão com a Sra. Cullen desde que tinham 8 anos. Ela é tia deles ou coisa assim.

— Isso é bem legal... Eles cuidarem de todas essas crianças, quando eram tão pequenos e tudo isso.

— Acho que sim — admitiu Jessica com relutância, e tive a impressão de que por algum motivo ela não gostava do médico e da esposa. Com os olhares que ela atirava aos filhos adotivos, eu imaginava que o motivo era inveja. — Mas acho que a Sra. Cullen não pode ter filhos — acrescentou ela, como se isso diminuísse sua bondade.

Em toda essa conversa, meus olhos disparavam sem parar para a mesa onde se acomodava a estranha família. Eles continuavam a olhar para as paredes e não comiam.

— Eles sempre moraram em Forks? — perguntei. Certamente eu os teria percebido em um dos verões aqui.

— Não — disse ela numa voz que dava a entender que isso devia ser óbvio, até para uma recém-chegada como eu. — Só se mudaram há dois anos, vindos de algum lugar do Alasca.

Senti uma onda de pena, e também alívio. Pena porque, apesar de lindos, eles eram de fora, e claramente não eram aceitos. Alívio por eu não ser a única recém-chegada por aqui, e certamente não ser a mais interessante, por qualquer padrão.

Enquanto eu os examinava, o mais novo, um dos Cullen, virou-se e encontrou meu olhar, desta vez com uma expressão de evidente curiosidade. Quando desviei os olhos rapidamente, me pareceu que o olhar dele trazia uma espécie de expectativa frustrada.

— Quem é o garoto de cabelo ruivo? — perguntei. Eu o espiei pelo canto do olho e ele ainda estava me encarando, mas não aparvalhado como os outros alunos. Tinha uma expressão meio frustrada. Olhei para baixo novamente.

— É o Edward. Ele é lindo, é claro, mas não perca seu tempo. Ele não namora. Ao que parece, nenhuma das meninas daqui é bonita o bastante para ele. — Ela fungou, um caso claro de dor-de-cotovelo. Eu me perguntei quando é que ele a tinha rejeitado.

Mordi o lábio para esconder meu sorriso. Depois olhei para ele de novo. Seu rosto estava virado para o outro lado, mas achei que sua bochecha parecia erguida, como se ele também estivesse sorrindo.

Depois de mais alguns minutos, os quatro saíram da mesa juntos. Todos eram muito elegantes — até o grandalhão de cabelo castanho. Era perturbador de ver. O garoto chamado Edward não olhou novamente para mim.


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