Saturday, September 27, 2008
Quadro: Brincando com fogo
Montagem sobre fotos de Istockohoto.com, H.Benser/Zefa/Corbis, Dan Tardif/Corbis/Latinstock, Germano Luders, Carlos Martinez/Stock Photo e Alfredo Franco |
Trecho de Lua Nova, de Stéphenie Meyer
O Vampiro antes de Drácula
de Martha Angel O retrato oval Edgar Allan Poe O castelo, onde meu criado se atrevera a forçar entrada para não permitir que eu, em minha desesperada condição de ferido, passasse a noite a céu aberto, era uma daquelas edificações em que o desalento e a grandeza se amalgamavam e que, em meio aos Apeninos, contemplavam carrancudos a passagem do tempo, não menos na realidade do que na imaginação de Mrs. Radcliffe. Tudo fazia crer que seu abandono era temporário e bastante recente. Instalamo-nos num dos aposentos menores e de mobília menos suntuosa, situado numa torre isolada. Apesar de requintadas, as decorações eram gastas e antiquadas. As paredes estavam revestidas com tapeçarias e adornadas com inúmeros e multiformes brasões, e com um bom número de inspiradas pinturas modernas, em molduras de belos arabescos dourados. Por estas pinturas, que pendiam não só das paredes principais, mas nos vários recantos que a bizarra arquitetura do castelo tornava necessários, por estas pinturas senti grande interesse, talvez devido a um princípio de delírio. Assim, pedi a Pedro que fechasse as pesadas venezianas do quarto - uma vez que a noite já caíra -, que acendesse o candelabro alto junto a minha cabeceira, e escancarasse as cortinas de veludo negro e franjado do dossel que envolvia a cama. Com tais providências eu esperava que, se não conseguisse dormir, ao menos pudesse contentarme em olhar as pinturas, alternando a contemplação com o manuseio de um pequeno livro que encontrara sobre o travesseiro, e cujo propósito era comentá-las e descrevê-las. Li por um longo, longo tempo, e com grande devoção contemplei os quadros. As horas voaram ligeiras, gloriosas, até que a negra meia-noite chegou. A posição do candelabro me desagradava. Estendendo a mão com dificuldade, e tentando não perturbar o criado que dormia, ajeitei-o de forma que a luz incidisse em cheio sobre o livro. A ação teve, porém, um efeito inesperado. Os raios das inúmeras velas (pois havia muitas) agora recaíam sobre um nicho do quarto que até então estivera encoberto pela sombra de um dos balaústres da cama. Eu assim notei, sob a luz vívida, uma pintura que antes me passara despercebida. Era o retrato de uma mulher jovem. Passei os olhos rapidamente pela pintura e então cerrei-os. A princípio, a razão de assim proceder não ficou aparente nem mesmo à minha própria percepção. Mas, enquanto minhas pálpebras permaneceram fechadas, procurei na mente as razões para ter agido desta forma. Fora um movimento impulsivo, uma tentativa de ganhar tempo para a reflexão - para assegurar-me de que a visão não me enganara -, de acalmar e dominar minha imaginação e permitir-me um olhar mais sóbrio, mais preciso. Um instante depois, voltei a contemplar a pintura com atenção. De que, agora, eu podia vê-la de maneira correta não havia mais dúvida, pois o primeiro lampejo das velas sobre o quadro pareceu dissipar o estupor sonolento que se havia apoderado de meus sentidos, e lançou-me sem aviso de volta à vigília. O retrato, como já disse, era de uma mulher jovem. Ele mostrava apenas a cabeça e os ombros, representados na forma que recebe o nome técnico de vinheta, num estilo que lembrava as obras de Sully. Os braços, o colo e até as pontas de seus cabelos radiantes se fundiam de modo imperceptível com as sombras indistintas, mas profundas, que compunham o fundo do quadro. A moldura oval exibia uma ornamentação elaborada, filigranada no estilo mourisco. Como objeto de arte, nada seria mais admirável que a pintura em si. Mas não poderia ter sido a execução da obra, ou a beleza imortal do rosto, o que me tocara de modo tão inesperado e veemente. Menos ainda poderia ser que minha imaginação, despertada de seu torpor, houvesse confundido o retrato com uma pessoa viva. No ato, dei-me conta de que as particularidades da composição, da representação e da moldura haviam dissipado de imediato tal idéia, e teriam impossibilitado considerá-la mesmo que por um instante. Refletindo com atenção sobre esses pontos, permaneci por talvez uma hora, meio sentado, meio reclinado, o olhar fixo no retrato. Ao final, satisfeito com o real segredo de seu efeito, recostei-me na cama. Eu encontrara o feitiço da pintura numa absoluta verossimilhança de expressão, a qual de início surpreendeu-me para então desconcertar-me, dominar-me e, por fim, deixar-me estarrecido. Com um medo profundo e respeitoso, reconduzi o candelabro a sua posição anterior. Agora que a causa de minha profunda agitação estava fora de vista, apanhei ansioso o livro que comentava as pinturas e sua história. Buscando o número que designava o retrato oval, li estas palavras vagas e surpreendentes: "Era uma donzela de rara beleza, tão encantadora como cheia de alegria. E amaldiçoada foi a hora em que viu, e amou, e desposou o pintor. Ele, passional, estudioso, austero, tendo já na Arte sua prometida. Ela, uma donzela de rara beleza, tão encantadora como cheia de alegria; toda luz e sorrisos, travessa como uma corça; amando e apreciando todas as coisas; abominando tão-somente sua rival, a Arte; temendo apenas a paleta e os pincéis e outros instrumentos malfadados que a privavam do semblante de seu amado. Assim, foi terrível para a donzela ouvir o pintor expressando o desejo de retratar até mesmo a jovem noiva. Era, porém, humilde e obediente, e por muitas semanas sentou-se, dócil, na câmera escura da torre, onde apenas a luz vinda do alto incidia sobre a tela pálida. Mas, ele, o pintor, regozijava-se com seu trabalho, que prosseguia hora após hora, dia após dia. E era um homem apaixonado, e intempestivo, e calado, que se perdeu em delírios, a ponto de não se permitir perceber que a luz tão lúgubre daquela torre antiga drenava a saúde e o espírito de sua noiva, que definhava aos olhos de to-dos, exceto aos seus. E, no entanto, ela sorria e continuava a sorrir, sem protestos, por saber que o pintor (que tinha grande renome) extraía dessa tarefa um prazer fervoroso e ardente, e trabalhava dia e noite para retratar aquela que tanto o amava, e que, porém, a cada dia mostrava-se mais frágil e abatida. Em verdade, houve quem vis-se o retrato e aos murmúrios comentasse a semelhança, como um prodígio, uma prova tanto do poder do pintor quanto de seu profundo amor por aquela que retratava de forma tão extraordinária. Entretanto, quando o trabalho estava quase concluído, ninguém mais era admitido na torre, pois o pintor fora arrebatado pelo ardor de seu trabalho, e apenas raramente erguia os olhos da tela, mesmo que para fitar a face da esposa. E ele se recusava a ver que os matizes que aplicava na tela eram extraídos da mulher que tinha a seu lado. Quando várias semanas haviam passado, e pouco restava a fazer, salvo uma pincelada sobre a boca e um toque sobre o olho, o espírito da dama outra vez tremeluziu como a chama da lamparina. E a pincelada foi aplicada e o toque colocado; e, por um momento, o pintor permaneceu em transe diante da obra que criara. Mas, no instante seguinte, enquanto ainda a admirava, ficou trêmulo e empalideceu. Assombrado, e exclamando em alta voz, "Isto é de fato a própria Vida!", virou-se para olhar sua amada. Ela estava morta."LIVROS
e Humberto Moura Neto
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Trecho Crepúsculo, de Stephanie Meyer
Trecho Crepúsculo, de Stephanie Meyer Foi ali, sentada no refeitório, tentando conversar com sete estranhos curiosos, que eu os vi pela primeira vez. Estavam sentados no canto do refeitório, à maior distância possível de onde eu me encontrava no salão comprido. Eram cinco. Não estavam conversando e não comiam, embora cada um deles tivesse uma bandeja cheia e intocada diante de si. Não me encaravam, ao contrário da maioria dos outros alunos, por isso era seguro observá-los sem temer encontrar um par de olhos excessivamente interessados. Mas não foi nada disso que atraiu e prendeu minha atenção. Eles não eram nada parecidos. Dos três meninos, um era grandalhão — musculoso como um halterofilista inveterado, com cabelo escuro e crespo. Outro era mais alto, mais magro, mas ainda assim musculoso, e tinha cabelo louro cor de mel. O último era esguio, menos forte, com um cabelo desalinhado cor de bronze. Era mais juvenil do que os outros, que pareciam poder estar na faculdade ou até ser professores daqui, em vez de alunos. As meninas eram o contrário. A alta era escultural. Linda, do tipo que se via na capa da edição de trajes de banho da Sports Illustrated, do tipo que fazia toda garota perto dela sentir um golpe na auto-estima só por estar no mesmo ambiente. O cabelo era dourado, caindo delicadamente em ondas até o meio das costas. A menina baixa parecia uma fada, extremamente magra, com feições miúdas. O cabelo era de um preto intenso, curto, picotado e desfiado para todas as direções. E, no entanto, todos eram de alguma forma parecidos. Cada um deles era pálido como giz, os alunos mais brancos que viviam nesta cidade sem sol. Mais brancos do que eu, a albina. Todos tinham olhos muito escuros, apesar da variação de cor dos cabelos. Também tinham olheiras — arroxeadas, em tons de hematoma. Como se tivessem passado uma noite insone, ou estivessem se recuperando de um nariz quebrado. Mas os narizes, todos os seus traços, eram retos, perfeitos, angulosos. Mas não era por nada disso que eu não conseguia desgrudar os olhos deles. Fiquei olhando porque seus rostos, tão diferentes, tão parecidos, eram completa, arrasadora e inumanamente lindos. Eram rostos que não se esperava ver a não ser talvez nas páginas reluzentes de uma revista de moda. Ou pintados por um antigo mestre como a face de um anjo. Era difícil decidir quem era o mais bonito — talvez a loura perfeita, ou o garoto de cabelo cor de bronze. Todos pareciam distantes — distantes de cada um ali, distantes dos outros alunos, distantes de qualquer coisa em particular, pelo que eu podia notar. Enquanto eu observava, a garota baixinha se levantou com a bandeja — o refrigerante fechado, a maçã sem uma dentada — e se afastou com passos longos, rápidos e graciosos apropriados para uma pista de decolagem. Fiquei olhando, surpresa com seus passos de dança, até que ela largou a bandeja no lixo e seguiu para a porta dos fundos, mais rápido do que eu teria pensado ser possível. Meus olhos dispararam de volta aos outros, que ficaram sentados, impassíveis. — Quem são eles? — perguntei à garota da minha turma de espanhol, cujo nome eu esquecera. Enquanto ela olhava para ver do que eu estava falando — embora já soubesse, provavelmente, pelo meu tom de voz —, de repente ele olhou para ela, o mais magro, o rapaz juvenil, o mais novo, talvez. Ele olhou para minha vizinha só por uma fração de segundo, e depois seus olhos escuros fulguraram para mim. Ele desviou os olhos rapidamente, mais rápido do que eu, embora, em um jorro de constrangimento, eu tenha baixado o olhar de imediato. Naquele breve olhar, seu rosto não transmitiu nenhum interesse — era como se ela tivesse chamado o nome dele, e ele a olhasse numa reação involuntária, já tendo decidido não responder. Minha vizinha riu sem graça, olhando a mesa como eu. — São Edward e Emmett Cullen, e Rosalie e Jasper Hale. A que saiu é Alice Cullen. Todos moram com o Dr. Cullen e a esposa. — Ela disse isso à meia-voz. Olhei de lado para o rapaz bonito, que agora fitava a própria bandeja, desfazendo um pãozinho em pedaços com os dedos pálidos e longos. Sua boca se movia muito rapidamente, os lábios perfeitos mal se abrindo. Os outros três ainda pareciam distantes e, no entanto, eu sentia que ele estava falando em voz baixa com eles. Nomes estranhos e incomuns, pensei. O tipo de nome que têm os avós. Mas talvez seja moda por aqui — nomes de cidades pequenas? Finalmente me lembrei de que minha vizinha se chamava Jessica, um nome perfeitamente comum. Havia duas meninas que se chamavam Jessica na minha turma de história, na minha cidade. — Eles são... muito bonitos. — Lutei com a patente atenuação da verdade. — É — concordou Jessica com outra risada. — Mas todos estão juntos... Emmett e Rosalie, e Jasper e Alice, quero dizer. E eles moram juntos. — Sua voz trazia toda a condenação e o choque da cidade pequena, pensei criticamente. Mas, para ser sincera, tenho que admitir que até em Phoenix isso provocaria fofocas. — Quem são os Cullen? — perguntei. — Eles não parecem parentes... — Ah, e não são. O Dr. Cullen é bem novo, tem uns vinte e tantos ou trinta e poucos anos. Todos foram adotados. Os Hale são mesmo irmãos, gêmeos... os louros... e são filhos adotivos. — Parecem meio velhos para filhos adotivos. — Agora são, Jasper e Rosalie têm 18 anos, mas estão com a Sra. Cullen desde que tinham 8 anos. Ela é tia deles ou coisa assim. — Isso é bem legal... Eles cuidarem de todas essas crianças, quando eram tão pequenos e tudo isso. — Acho que sim — admitiu Jessica com relutância, e tive a impressão de que por algum motivo ela não gostava do médico e da esposa. Com os olhares que ela atirava aos filhos adotivos, eu imaginava que o motivo era inveja. — Mas acho que a Sra. Cullen não pode ter filhos — acrescentou ela, como se isso diminuísse sua bondade. Em toda essa conversa, meus olhos disparavam sem parar para a mesa onde se acomodava a estranha família. Eles continuavam a olhar para as paredes e não comiam. — Eles sempre moraram em Forks? — perguntei. Certamente eu os teria percebido em um dos verões aqui. — Não — disse ela numa voz que dava a entender que isso devia ser óbvio, até para uma recém-chegada como eu. — Só se mudaram há dois anos, vindos de algum lugar do Alasca. Senti uma onda de pena, e também alívio. Pena porque, apesar de lindos, eles eram de fora, e claramente não eram aceitos. Alívio por eu não ser a única recém-chegada por aqui, e certamente não ser a mais interessante, por qualquer padrão. Enquanto eu os examinava, o mais novo, um dos Cullen, virou-se e encontrou meu olhar, desta vez com uma expressão de evidente curiosidade. Quando desviei os olhos rapidamente, me pareceu que o olhar dele trazia uma espécie de expectativa frustrada. — Quem é o garoto de cabelo ruivo? — perguntei. Eu o espiei pelo canto do olho e ele ainda estava me encarando, mas não aparvalhado como os outros alunos. Tinha uma expressão meio frustrada. Olhei para baixo novamente. — É o Edward. Ele é lindo, é claro, mas não perca seu tempo. Ele não namora. Ao que parece, nenhuma das meninas daqui é bonita o bastante para ele. — Ela fungou, um caso claro de dor-de-cotovelo. Eu me perguntei quando é que ele a tinha rejeitado. Mordi o lábio para esconder meu sorriso. Depois olhei para ele de novo. Seu rosto estava virado para o outro lado, mas achei que sua bochecha parecia erguida, como se ele também estivesse sorrindo. Depois de mais alguns minutos, os quatro saíram da mesa juntos. Todos eram muito elegantes — até o grandalhão de cabelo castanho. Era perturbador de ver. O garoto chamado Edward não olhou novamente para mim.LIVROS
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