Quadro: Armários abertos
Fotos Dida Sampaio/AE, Alan Marques, Lula Marques/Folha Imagem, Ronaldo de Oliveira/CB/D.A. Press e Márcia Kalume |
Fotos Dida Sampaio/AE, Alan Marques, Lula Marques/Folha Imagem, Ronaldo de Oliveira/CB/D.A. Press e Márcia Kalume |
Fotos JF Diorio/AE, Chico Sánchez/Efe e Fernando Donasci/Folha Imagem |
Sem medo de ser feliz Uma técnica permite a maturação dos óvulos em laboratórioe livra as mulheres dos penosos efeitos adversos dos tratamentos tradicionais para engravidar
A cada ano, 500 000 mulheres no mundo, 25 000 delas no Brasil, submetem-se a tratamentos de fertilidade. E, dessas, quase a metade se vê obrigada a passar pela estimulação ovariana. Do ponto de vista físico e emocional, trata-se de uma das etapas mais desgastantes de todo o processo. Durante dez dias, as pacientes recebem doses elevadíssimas de hormônios de modo a intensificar a produção de óvulos e, com isso, aumentar as chances de gravidez. Nenhuma delas passa incólume por esse bombardeio hormonal. Nos casos mais leves, elas são acometidas por alterações de humor, inchaço e dores abdominais. Nos mais graves, podem ser vítimas de trombose, infarto e derrame. Mas se está disseminando nas clínicas brasileiras uma técnica que livra as mulheres dos efeitos colaterais das injeções de hormônio. Batizado de IVM (sigla em inglês para maturação in vitro), o procedimento consiste em fazer com que os óvulos se desenvolvam em laboratório. Colhidos ainda imaturos nos ová-rios, eles são mergulhados em um meio de cultura durante dois dias, para depois ser fertilizados em um tubo de ensaio. Quando a IVM começou a ser estudada, no início dos anos 90, a chance de uma mulher engravidar por esse método girava em torno dos 10%. Hoje, a probabilidade de sucesso é quase o triplo. Esse aumento é consequência do aprimoramento dos meios de cultura usados para o amadurecimento dos óvulos em laboratório. Compostas de sais minerais e do hormônio FSH, indispensável para a maturação ovular, tais soluções proporcionam um ambiente semelhante ao do organismo feminino. Mesmo assim se está longe do ideal. "Nós conhecemos os principais componentes dessa cultura", diz o ginecologista Alfonso Massaguer, do Huntington Centro de Medicina Reprodutiva. "Mas ainda não conseguimos determinar com precisão as quantidades necessárias para reproduzir à perfeição as condições dos ovários maternos." Por isso, os índices de sucesso obtidos com a IVM são inferiores aos da estimulação ovariana (veja quadro abaixo). Para além de ser menos penosa, a maturação in vitro tem em seu favor o fato de não ter contraindicação, ao contrário da técnica tradicional. Entre as portadoras da síndrome do ovário policístico (distúrbio que provoca constantes alterações no ciclo de ovulação e dificulta a fecundação natural), a estimulação ovariana pode produzir um número enorme de óvulos, o que agrava ainda mais os efeitos colaterais do tratamento. Para as vítimas de câncer de mama, útero ou ovário, que querem congelar seus óvulos antes da quimioterapia, a estimulação ovariana pode fazer com que o tumor se alastre. Há ainda outro aspecto: embora muitos médicos garantam que pacientes com histórico familiar desses tumores não correm risco, é temerário receitar-lhes doses elevadas de hormônios. O estrógeno, por exemplo, que faz parte do coquetel pró-gravidez, serve de combustível para o surgimento e a proliferação de células cancerosas. O desconforto e os problemas causados pela estimulação ovariana ocorrem basicamente por dois motivos. O primeiro refere-se a uma questão meramente de espaço. A mulher foi programada para produzir apenas um óvulo por mês. Com a estimulação artificial, o organismo fabrica, em média, quinze óvulos. Para abrigar todos eles, é natural que os ovários aumentem de tamanho. Com isso, os vasos sanguíneos ao redor de tais órgãos acabam espremidos, o que provoca inchaço e dor abdominais. O grande temor, contudo, refere-se ao risco de trombose, infarto e derrame. A elevação nos níveis de estrógeno favorece a formação de coágulos e aumenta a probabilidade de entupimento das artérias coronárias e cerebrais. Aos 30 anos, Nancy Rezende e o marido, Geraldo, descobriram que não seriam pais sem ajuda médica. Em 2006, o casal fez a primeira tentativa de fertilização in vitro com estimulação ovariana. Durante o tratamento, Nancy teve dores fortíssimas no abdômen e sofreu oscilações drásticas de humor. Mesmo com todo esse tormento, ela não engravidou. O médico sugeriu, então, a IVM. A gravidez se concretizou na segunda tentativa. A filha dos Rezende, a simpática Camila, hoje com 7 meses, é uma das cinco crianças brasileiras a nascer a partir de um óvulo maturado em laboratório. "Agora, não me assusta mais a ideia de fazer tratamento para ter filhos", diz Nancy. Ela quer mais um no ano que vem. |
|