Saturday, March 20, 2010

Meninas super poderosas


Com Telephone, Lady Gaga e Beyoncé fazem mais do que renovar
o clipe como peça de divulgação da música pop. Agora, a música pop
é que passa a existir em função do clipe


Sérgio Martins

Fotos Divulgação
ANUNCIE AQUI
Lady Gaga em cena de Telephone: clipe com nove patrocinadores, referências a Quentin Tarantino
e muito sexo proibido para menores


No último dia 11, a cantora americana Lady Gaga lançou o clipe da canção Telephone. O vídeo, que é coestrelado pela diva Beyoncé, tornou-se uma sensação imediata no YouTube. Em algumas horas, foi visto por 500 000 pessoas. Em uma semana, ultrapassou a casa dos 20 milhões – e contando. Pode-se imaginar que o total estaria progredindo ainda mais rapidamente se, a certa altura, o YouTube não tivesse restringido seu acesso a maiores de idade: demorou, mas a direção do site afinal se deu conta de que Telephone exibe "conteúdo impróprio". Muito impróprio. No filmete de nove minutos e 32 segundos de duração (a música entra só lá pelo terceiro minuto, e é diversas vezes interrompida para que o enredo se desenrole), Lady Gaga, também coautora do roteiro, é levada a uma prisão feminina e violentamente despida por carcereiras lésbicas, que querem conferir os rumores de que a pop star seria hermafrodita (não, não é, concluem, olhando de perto as evidências). Gaga beija langorosamente uma prisioneira com jeito de homem, dança vestindo um exíguo biquíni de couro e enrola o cabelo com latas de um refrigerante diet – um dos dez patrocinadores cujas marcas são muito visíveis no clipe. Quando Beyoncé a liberta da prisão e as duas dividem um bolinho de recheio cremoso, em uma cena que pode e deve ser levada para a maldade, Gaga já deixou claro o manifesto representado por Telephone. Sua concepção do pop é tão extrema, nos dias de hoje, quanto aquela que Madonna propôs na década de 80: desde que o próprio artista esteja no controle de sua imagem, não há limite para sua exploração, transformação em objeto de fetiche e comercialização.

Para Gaga, esse é mesmo o tripé sobre o qual se sustenta a cultura pop, assim como seu próprio sucesso sem precedentes. Com Telephone, ela e Beyoncé igualaram o recorde de Mariah Carey, como as únicas artistas a levar um total de seis canções ao topo da parada pop da Billboard (a medição, baseada em execuções no rádio, começou a ser feita em 1992). A diferença é que Mariah Carey realizou seu feito no decorrer de doze anos, entre 1993 e 2005, enquanto Beyoncé o fez ao longo de sete anos, entre 2003 e a semana passada. Lady Gaga, porém, debutou na parada pela primeira vez dezesseis meses atrás. Há menos de um ano e meio, portanto. É a única artista, homem ou mulher, a emplacar seis canções consecutivas no primeiro lugar – e em tão pouco tempo.

Deixe-se Mariah Carey, cujo momento já passou, de fora dessa equação. Entre Beyoncé e Lady Gaga, não há dúvida de que a primeira é o talento mais completo: Beyoncé é linda, tem uma voz extraordinária, é uma grande dançarina e uma intérprete capaz de abarcar qualquer gênero. Já vendeu mais de 25 milhões de discos, em meio à crônica e ao que tudo indica irreversível crise da indústria fonográfica, e é indiscutivelmente um ícone. Lady Gaga é sexy, mas não bonita. Dança bem, mas não especialmente bem. Tem uma voz que não é má, mas que, por seus próprios méritos, não a levaria nem perto do ponto a que ela chegou. E é uma compositora extremamente eficaz, mas apenas e tão somente de pancadões superproduzidos e hiperdançáveis (ao menos até aqui). Em Telephone, contudo, é Gaga quem está no comando. Beyoncé, não obstante os mais de 100 milhões de acessos no YouTube ao onipresente vídeo de Single Ladies (isso sem incluir as incontáveis paródias), que a credenciam a figurar como uma das renovadoras desse gênero, está de carona, aprendendo como se faz para desdobrar um conceito até suas últimas possibilidades.

DO OUTRO LADO DA LINHA
Beyoncé atende ao chamado de Gaga: apesar dos 100 milhões de acessos a Single Ladies, agora ela é quem tem a aprender


Desde que Lady Gaga se lançou, esta tem sido a engrenagem que a faz acumular tal ímpeto: o videoclipe. Por causa dela, o clipe saiu da estagnação criativa e mercadológica em que se encontrava havia quase duas décadas e promete voltar a ser a peça promocional prioritária da música pop. Ou, seguindo o raciocínio disposto por Gaga em ví-deos como Poker Face, Paparazzi, Bad Romance (este, com 152 milhões de acessos até aqui) e em particular o novoTelephone, a música pop é que passa a existir em função do videoclipe. Telephone inclui um sem-número de referências aos trabalhos do diretor Quentin Tarantino e dos papas do movimento pop, os artistas plásticos Andy Warhol e Roy Lichtenstein: na visão de Gaga, a sua arte é a mesma que a deles – não a música nem o figurino extravagante, mas a manipulação da sua imagem. Lady Gaga, enfim, é o produto que Lady Gaga fabrica a cada aparição sua. É compreensível, assim, que ela deteste ver mencionado seu nome verdadeiro, Stefani Joanne Angelina Germanotta. Seja quem for essa pessoa, ela é isso – uma pessoa real. Não a criação efervescente, excitante e indecifrável que ela inventou e a quem deu o nome de Lady Gaga. E que, desde então, foi incumbida de inventar as mil Gagas diferentes – e contando – vistas até aqui.

Aventuras vertiginosas para garotos e garotas\


No excelente Como Treinar o Seu Dragão, não há
emoção que se compare à de dar asas à imaginação


Isabela Boscov

Fotos Divulgação
VOO-SOLO
Soluço cavalga o dragão Banguela: quando as regras dos adultos não servem, que se criem novas


Praticamente não existe ficção infantil ou infantojuvenil cujo tema central não seja o confrontamento com as regras do mundo adulto – porque há pouco, na vida de uma criança, que consuma mais tempo e energia do que entendê-las, ou que cause mais perplexidade e eventual sofrimento do que aprender a lidar com elas. Por boa razão, assim, essa é a base sobre a qual se assenta o roteiro de boa parte dos filmes para crianças que se produzem hoje. Mas não muitos podem se gabar de compreender tão bem o reverso dessa condição quanto Como Treinar o Seu Dragão (How to Train Your Dragon, Estados Unidos, 2010). No desenho que estreia na sexta-feira no país, o menino Soluço, magrinho e meio medroso, é um fracasso como viking e uma decepção para seu pai, o chefe do clã. Nunca vai ser um caçador de dragões. E matar dragões é o que de mais essencial se pode fazer na ilha de Berk, assolada por ferocíssimos cuspidores de fogo. Uma coincidência, um momento de compaixão e a curiosidade típica da idade o colocam em um caminho diferente. Soluço vai se transformar, em segredo, em um domador de dragões. E essa é de fato a pedra de toque do filme – o sentimento libertador, inebriante e vertiginoso que uma criança prova quando descobre que, às vezes, há uma alternativa a pôr-se sob as rédeas adultas: pode-se usar a imaginação para inventar regras melhores.

FREUD EXPLICARIA
O chefe da aldeia: um viking-modelo, mas não necessariamente um pai ideal


Como Treinar o Seu Dragão
é adaptado do livro homônimo (tradução de Heloisa Prieto; Intrínseca; 224 páginas; 19,90 reais), o primeiro de uma série de oito volumes protagonizados por Soluço e escritos pela inglesa Cressida Cowell. A autora, que passou os verões de sua infância em uma ilha escocesa isolada, sem eletricidade nem telefone, guarda uma lembrança vívida do senso de aventura que experimentou ali, e em especial de como acreditava que, naquela costa escarpada, os dragões existiriam de fato. Essa memória emotiva norteia seus livros e permanece intacta na animação dirigida pela dupla do anárquico Lilo & Stitch.

Os cenários são sempre monumentais, mas ora parecem idílicos, ora têm um quê de assustador, como no mundo interior da infância – sugestões muito bem aproveitadas no trabalho em 3D. A descoberta mútua entre Soluço e o dragão Banguela, que ele salva e "conserta" (ele perdeu parte da cauda ao ser perseguido), é repleta de humor e sentimento. E o final introduz um dado real de sacrifício físico que é mais comum em desenhos inflexivelmente morais como os do japonês Hayao Miyazaki do que nas animações dos grandes estúdios americanos (no caso, a DreamWorks de Shrek), com sua visão superprotetora da infância: aqui, Soluço perde algo precioso por se manter fiel às suas convicções. Mas ele e toda Berk ganham mais ainda por ter ouvido o menino que compensa o que lhe falta em autoridade com o que lhe sobra em imaginação.


Trailer

Fora de esquadro


A Caixa, do diretor de Donnie Darko, foi rejeitado pelo público
e pela crítica. Difícil entender por quê: visto no estado
de espírito adequado, ele chega a ser um grande filme


Isabela Boscov

CRIME E CASTIGO
Marsden e Cameron debatem sobre apertar ou não o botão que lhes dará 1 milhão
de dólares – e poderá causar uma morte: boas pessoas talvez não o sejam por completo

Arlington Steward, um homem de aspecto sério (além de metade do rosto faltando, em razão do que se supõe ser um acidente terrível), bate à porta da professora Norma (Cameron Diaz) e lhe oferta uma pequena caixa de madeira encimada por um botão. Se ela apertar o botão, diz Steward (Frank Langella), ganhará 1 milhão de dólares. Mas alguém que ela não conhece morrerá. O marido de Norma (James Marsden), um cientista da Nasa, examina a caixa: não há nenhum transmissor dentro dela. Tudo não passa de balela, diz ele. Ela tem suas dúvidas. O casal debate, e ela repentinamente aperta o botão – porque a anuidade escolar do filho está para subir, porque o marido foi recusado no programa de astronautas (a história se passa em 1976), e porque sim. Ocorre que a caixa foi concebida exatamente para testar esse impulso humano, o de tomar decisões condenáveis quando se tem a perspectiva combinada de ganho pessoal e impunidade. De pronto, os acontecimentos começam a se precipitar e a seguir em direções imprevistas. Ou absurdas, diriam alguns, já que envolvem pessoas cujo nariz sangra, portais de água para outras dimensões, uma sonda deixada em Marte e outras tantas coisas que seria uma pena explicar – isso se fosse possível explicá-las.

Richard Kelly, o diretor de A Caixa (The Box, Estados Unidos, 2009), que estreia nesta sexta-feira no país, tem apenas 34 anos e já é uma figura notória em Hollywood. Seu primeiro filme, Donnie Darko, sobre um adolescente que pode ou não estar desequilibrado (mas, em todo caso, conversa com um coelho gigante), é um trabalho que, no que dependesse dos exibidores, teria sido ignorado. Mas, graças ao público que o descobriu, é cultuado. O segundo filme do cineasta, a ficção científica Southland Tales, foi consensualmente execrado por todos, público e crítica. E, com A Caixa, a virulência redobrou. As resenhas foram demolidoras, e a empresa CinemaScore, que registra a reação dos espectadores nas sessões de estreia dos filmes, virtualmente nunca computara uma média tão baixa: F, em um sistema em que C já equivale a ruim.

O intrigante é o porquê de tais reações. A Caixa, de fato, é um filme bizarro. Mas é também incrivelmente inventivo e angustiante (isso é bom), graças ao domínio superlativo que o diretor tem da linguagem que emprega. Dando excelente uso a uma lição ensinada por Stanley Kubrick, ele explora de maneiras enervantes a simetria e o equilíbrio absolutos: nada tão perfeito, claro, pode ser deste mundo. A câmera se movimenta sempre perpendicular ou paralelamente em relação aos personagens e objetos, o que cria a ilusão claustrofóbica de que também o espectador está sendo observado, por alguém logo atrás de si. E a trilha, cheia de acordes dissonantes, aumenta a sensação de insegurança. O filme, é verdade, propõe mais questões do que é capaz de resolver. Mas até nisso retoma uma tradição honorável do suspense – que o público contemporâneo, em detrimento de seu próprio prazer, parece rejeitar.


Trailer

Tudo por ela


O recluso Rubem Fonseca enfrenta os holofotes
em uma livraria paulistana para prestigiar uma pupila


Bruno Meier

Michel Filho/Ag. O Globo
MESTRE E DISCÍPULA
Fonseca, com Paula, na livraria: seis horas de mimos


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Aos 84 anos, o escritor Rubem Fonseca fez uma rara aparição pública na última quarta-feira, em São Paulo: foi visitar a escritora Paula Parisot, de 31, que ficou confinada por sete dias num quarto cenográfico montado em uma livraria. Durante seis horas, o escritor conversou com ela, beijou sua mão e entregou-lhe alimentos. Quando ele ameaçou deixar o local para fugir aos fotógrafos, Paula chorou. O objetivo da apresentação era divulgar o primeiro romance de Paula, Gonzos e Parafusos (Leya; 172 páginas; 34,90 reais). Divulgação foi o que não faltou. A carioca Paula disse a VEJA que seu mundo "se transformou" com a leitura de Feliz Ano Novo, de Fonseca, na adolescência. O primeiro contato se deu quando Paula o abordou em uma padaria do Leblon. Em 2007, a Companhia das Letras, que então editava Fonseca, lançou um volume de contos de Paula, por indicação do escritor. Segundo a Folha de S.Paulo, foi Paula o pivô da ida de Fonseca para a concorrente Agir, num lance que agitou o mercado editorial no ano passado, depois que a Companhia recusou Gonzos e Parafusos. Fonseca, que detesta ficar sob os holofotes, teria então se sujeitado a eles duas vezes por causa de Paula – na troca de editora e na visita à livraria. Resta saber se, quando ela levar sua apresentação a Portugal, ele cruzará também o Atlântico pela pupila.

LIVROS

Trecho de Gonzos e parafusos,
de Rubem Fonseca

I

Este não é o início da história.

Eu poderia dizer, como outros já disseram: a tragédia começou no dia em que nasci. Mas não é tão simples assim.

Às vezes a Baronesa Elisabeth Bachofen-Echt vem me visitar. Porém, o fato de ela não existir não me torna necessariamente uma louca. Porque, nesse caso, toda pessoa com imaginação seria louca.

Eu estava pronta para ir a uma festa com a Amanda. Havia até comprado um livro com a poesia completa de T. S. Eliot para o aniversariante. Sempre faço isso, presenteio as pessoas com as coisas que eu gostaria de ganhar.

"O tempo presente e o tempo passado/ Estão ambos talvez presentes no tempo futuro/ E o tempo futuro contido no tempo passado." Esses versos do T. S. Eliot não me saíam da cabeça. Desembrulhei o livro e, ao abri-lo, deparei com o poema Burnt Norton, dos Quatro Quartetos, cuja primeira frase é essa. Decidi ficar em casa e com o livro para mim. A edição que eu tinha estava em mau estado de tanto ter sido compulsada.

Telefonei para a Amanda e disse que não iria mais à festa com ela.

Tirei a roupa, que vestira especialmente para a festa, e as pulseiras. Removi a maquiagem observando o meu rosto no espelho do banheiro como se aguardasse uma resposta. Por um momento deixei de acreditar que existia, mas ver-me refletida me deu a certeza de que eu continuava viva. Contemplar a minha imagem me tranquilizou, ainda que aquele corpo, dentro do qual eu me abrigava, parecesse estranho. Reparei então nas cicatrizes no meu braço esquerdo e nos meus pulsos. Aceitei-as ao invés de repeli-las. Elas estabeleciam uma junção, uma união profunda comigo mesma.

De cada cem mil pessoas, 750 se ferem propositalmente de diferentes maneiras. Porém, elas não são loucas nem suicidas, conquanto algumas acabem se matando.

Volta e meia alguém me pergunta que cicatrizes são essas na parte superior do meu braço e nos meus pulsos. Por isso, raramente saio sem pulseiras e não gosto de usar camisa sem manga. Como as pessoas são perversas, fazem propositalmente perguntas constrangedoras fingindo uma ingênua curiosidade. E se você rechaça a pergunta te chamam de sem educação. Se diz a verdade – tentei me suicidar, desejei me ferir -, elas suspiram com uma falsa expressão de dó e se desculpam, sentindo-se superiores. Federico foi o único que riu e me deu dentadas bem de leve no pescoço, dizendo, "Bela, Bela, você é impossível".

Federico Sanchéz, meu colega de profissão, divide comigo o apartamento onde temos nossos consultórios. É cheio de vida, muito expansivo e bem articulado, apesar do sotaque portenho. Ele nasceu em Buenos Aires. Quando está feliz contagia a todos com a sua gargalhada eufórica. Beija, abraça e até morde as pessoas de excitação. Contudo, a sua alegria é ocasionalmente substituída pela depressão e pela ansiedade, o que faz a epiderme do seu cotovelo ficar ferida e descascar. Ele sofre de psoríase. Além de amigos, éramos amantes. No entanto, eu não era apaixonada por Federico e, por mais que o estimasse, não o amava.

É irritante descobrir que até eu abuso do verbo amar, esse verbo que pretende dizer tudo e não diz nada.

Já expliquei isso diversas vezes para uma das minhas analisandas, que apelidei de Madame Bovary, porque se chamava Emma como a personagem de Flaubert e era magra, pálida, de olheiras azuladas como, aliás, todas as heroínas tísicas dos romances franceses do século 19. Minha paciente, como a Bovary, certa vez se apaixonou, mas, assustada com a inesperada paixão extraconjugal, não teve coragem de trair o marido e se arrependeu. "Eu devia ter me entregado a ele", repetia sem parar. Eu sabia que, assim como aconteceu com Madame Bovary, não demoraria muito para que minha paciente fosse para a cama com o primeiro estranho que aparecesse. Eu, em silêncio, talvez a incentivasse, a traição quando secreta pode ser benéfica ao casamento. O traidor passa a sentir culpa e a tratar melhor o seu cônjuge.

A minha Emma Bovary também tinha ideias românticas sobre a vida, e em mais de uma ocasião me perguntou, "Todo mundo é capaz de amar?". Expliquei-lhe que todos somos capazes de transferir.

"Não sei o que significa o amor", insistiu a minha Madame Bovary.

"Ninguém sabe", respondi.

No meu aniversário de seis anos o meu avô paterno, um senhor esguio de poucas palavras, sussurrou no meu ouvido, "Vá até a varanda e fique escondida me esperando".

"Pode sair de trás das plantas", disse ele.

Agachada, olhei para o vovô, que me pareceu ainda maior. Ele ajoelhou ao meu lado. Ficamos quase da mesma altura. Então, sem dizer uma só palavra, ele me entregou uma caixa de plástico cilíndrica e transparente, amarrada com laços de fita. Vi através do plástico uma boneca cabeçuda de cabelos loiros cacheados. O corpo da boneca era minúsculo e ela trajava uma roupa prateada.

"Abre", falou.

Fiz o que ele mandou.

No pescoço da boneca havia um coração rosa com um dizer em letras vermelhas. Vovô leu em voz alta o que estava escrito no pingente: "Eu te amo".

"Não mostre o seu presente para ninguém. Essa boneca simboliza o amor."

"Mas, vovô, ela é feia."

"Você vai acabar achando ela bonita."


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Todos amam Jane. Até os mortos-vivos


Orgulho e Preconceito e Zumbis, que mistura o texto original
de Jane Austen a uma praga de criaturas hediondas, é uma prova
de que a modernidade não afeta os artistas verdadeiramente imortais


Isabela Boscov

Stock Montage/Getty Image
BONS MODOS E SHAOLIN
A heroína Elizabeth Bennet desfere um golpe de kung fu, em uma das ilustrações do romance:
é possível que Jane (à esq.) aprovasse, com orgulho e sem preconceito


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Jane Austen morreu em 1817, aos 41 anos. Logo antes de expirar, disse que nada mais necessitava da vida que não a morte. Talvez fosse resignação, talvez fosse vaidade. Em uma célebre carta a um sobrinho, anos antes, a escritora descrevera seu trabalho como o de alguém que pinta "com um pincel finíssimo sobre um pedacinho de marfim, produzindo quase nenhum efeito depois de muita labuta". Era, enfim, uma autora de perfeccionismo intransigente – e, sendo também dona de um senso crítico implacável, é quase certo que estivesse segura da marca que, não obstante a morte precoce, deixaria na literatura: um livro incompleto, por causa da saúde em declínio; cinco romances perfeitos; e um romance sublime, Orgulho e Preconceito. Em seu breve período produtivo, Jane fora já muito festejada. Nos quase 200 anos desde sua morte, alcançou uma envergadura só um pouco menor que a de William Shakespeare: é a escritora obrigatória para todo autor de língua inglesa com alguma ambição estilística (e deveria ser para os de todas as outras línguas também, com lucros consideráveis para o leitor). Quem não conhece a fundo como Jane Austen manejou o idioma não pode aspirar a domá-lo completamente. Das inovações na pontuação à doutrina da precisão despótica no uso do vocabulário, ela estabeleceu o padrão-ouro. Em outro aspecto, ainda não surgiu quem se iguale a ela: no poder misterioso de emitir julgamentos vastos sobre seus personagens com um mero turn of phrase, como se diz: aquele volteio malicioso que se dá a uma frase para que, embora aparente inocência, ela transpire zombaria, ironia ou cinismo (a desaprovação era uma especialidade sua). O melhor romance dessa autora maravilhosa ganhou uma versão um tanto heterodoxa: o absurdamente divertido Orgulho e Preconceito e Zumbis (tradução de Luiz Antonio Aguiar; Intrínseca; 320 páginas; 29,90 reais), que chega às livrarias no próximo dia 22.

No livro do americano Seth Grahame-Smith (que assina como "coautor", com Jane), o vilarejo de Meryton é o mesmo do texto original, cheio de intrigas, fofocas e demonstrações desavergonhadas de oportunismo social. Mas a Inglaterra convive também com outra praga: os mortos-vivos que se propagam com particular rapidez durante a primavera, quando as chuvas amolecem o solo e lhes tornam mais fácil emergir de seus túmulos. Elizabeth Bennett, a protagonista, conserva a língua afiada – assim como suas espadas e adagas. Treinada por um mestre de shaolin, ela é uma emérita matadora de zumbis e de quem mais a ofenda. Tanto que, quando conhece o arrogante Mr. Darcy e ele a esnoba num baile, cogita decapitá-lo. Acaba esquecendo a ideia porque os convivas são atacados por uma horda repelente e ela tem de ir à luta. "Planejar como inserir os zumbis na história foi um trabalho penoso. Já escrever as cenas foi a coisa mais deliciosa que fiz", disse a VEJA Grahame-Smith. Não deve ser força de expressão: algumas passagens, como aquela em que a feiosa Mrs. Collins, em plena metamorfose, tenta acertar a direção das colheradas de sopa enquanto sonha em mastigar cérebros, são uma mescla tão bem urdida do linguajar de Jane Austen com o humor pop contemporâneo que dá vontade, a qualquer um, de tê-las escrito. E de lê-las: em uma acolhida que não poderia ser calculada, Orgulho e Preconceito e Zumbis chegou ao terceiro posto na lista de livros mais vendidos do jornal The New York Times.

Jane Austen é hoje uma marca extremamente rentável. Além de um sem-número de filmes declaradamente ou não adaptados de seus romances, há centenas de títulos que se aproveitam de seus personagens e histórias. Orgulho e Preconceito e Zumbis, porém, inaugurou uma nova tendência: o mash-up classic, ou "clássico mistureba", em tradução livre. A mesma editora americana, a Quirk Books, lançou Razão e Sensibilidade e Monstros Marinhos; outras empresas embarcaram na onda com títulos que combinam, sobretudo, Jane a vampiros. Como o filão vem rendendo ouro, muitos outros clássicos devem ganhar versões assim dadaístas. Jane talvez se sentisse insultada com essa carinhosa bagunça com seu trabalho tão laboriosamente escrito e reescrito. Ou talvez não. A imitação (e eventual mutilação) é a maior homenagem que se pode prestar a um artista – e nem orgulho nem senso de humor lhe faltavam. Ao contrário do preconceito, que ela só alimentava para com pessoas aborrecidas, mesquinhas ou, que gafe, sem imaginação.


LIVROS

Trecho de Orgulho e Preconceito e Zumbis
de Jane Austen e Seth Grahame-Smith

Capítulo 1

É uma verdade_ universalmente aceita que um zumbi, uma vez de posse de um cérebro, necessita de mais cérebros. E nunca tal verdade foi mais inquestionável do que durante os recentes ataques ocorridos em Netherfield

Park, nos quais os dezoito moradores de uma propriedade foram chacinados e consumidos por uma horda de mortos-vivos.

— Meu caro Sr. Bennet

— disse-lhe certo dia sua esposa —, já soube que Netherfield

Park foi alugada novamente?

O Sr. Bennet respondeu que não havia tomado conhecimento disso, e continuou absorto em suas tarefas matinais, que consistiam em afiar adagas e limpar mosquetes — já que os ataques dos não mencionáveis vinham aumentando de forma alarmante nas últimas semanas.

— Pois foi — replicou ela.

O Sr. Bennet não comentou.

— E não quer saber quem se mudou para lá? — disse em voz estridente sua mulher, perdendo a paciência.

— Mulher, estou cuidando dos meus mosquetes. Diga as asneiras que quiser, mas me deixe tratar da defesa de minha propriedade! Tal resposta foi como um convite a prosseguir, o que bastou para a Sra. Bennet.

— Ora, muito bem, meu caro marido. A Sra. Long contou que Netherfield

foi alugada por um jovem de grande fortuna; que ele conseguiu escapar de Londres numa charrete de quatro cavalos tão logo a estranha praga rompeu a linha de defesa de Manchester.

— Como ele se chama?

— Bingley.

Um jovem solteiro com quatro ou cinco mil de renda por ano. Que beleza para nossas meninas.

— Como assim? Será que ele pode treiná-las no manejo da espada e do mosquete?

— Como você pode ser tão maçante? É claro que sabe que estou me referindo a ele se casar com uma delas.

— Um casamento? Em tempos como os que vivemos? Certamente o Sr. Bingleynão tem tal intenção.

— Intenção? Ridículo! Como pode dizer uma coisa dessas? É muito provável que ele se apaixone por uma delas. Portanto, você deve visitá-lo tão logo ele chegue.

— Não vejo razão para isso. Além do mais, não devemos utilizar as estradas mais do que o absolutamente necessário, sob o risco de perdermos mais cavalos e veículos para o infeliz flagelo que tem atormentado tanto nosso bem-amado Hertfordshire ultimamente.

— Mas pense em suas filhas!

— É nelas que penso, mulher tola! Preferiria imensamente que estivessem com a mente concentrada nas artes mortais a toldada por sonhos com matrimônio e fortuna, como obviamente acontece com você! Vá visitar esse Bingley, se acha que deve, embora eu a advirta para o fato de que nenhuma de nossas filhas tem muito o que as recomende; são tolas e ignorantes como a mãe delas, à exceção de Lizzy, que, mais do que as irmãs, desenvolveu aquele instinto matador.

— Sr. Bennet!

Como pode insultar suas próprias filhas dessa maneira? Você se delicia em me envergonhar. Não tem nenhuma compaixão pelos meus pobres nervos.

— Interpreta-me mal, minha cara. Nutro intenso respeito por seus nervos. São meus velhos conhecidos. Pelo menos nestes últimos vinte anos é praticamente tudo sobre o que tenho ouvido falar.

O Sr. Bennet era um misto tão peculiar de perspicácia, humor sarcástico, reserva e autodisciplina que a convivência de 23 anos havia sido insuficiente para que a esposa lhe entendesse o temperamento. Já a mente dela apresentava menos dificuldades à compreensão. Tratava-se de uma mulher de escassa inteligência, pouca instrução e gênio instável. Quando estava insatisfeita com algo, fazia-se de doente dos nervos. Quando estava de fato nervosa — o que era seu estado constante, desde o primeiro surto da estranha praga, ainda em sua juventude —,só obtinha consolo apegando-se a tradições que agora pareciam supérfluas para os demais.

O Sr. Bennet dedicava sua própria existência a manter as filhas vivas.

A Sra. Bennet, a lhes conseguir casamento.

Capítulo 2

O Sr. Bennet foi uma_ das primeiras pessoas a visitar o Sr. Bingley. Aliás, visitá-lo sempre fora sua intenção, apesar de, até o último momento, garantir à esposa que não deveria fazê-lo; assim, até o final da tarde após a visita, ela ainda não tomara conhecimento do ocorrido. E tudo foi revelado da maneira que se segue.Observando sua segunda filha empenhada em entalhar o brasão dos Bennet no punho de uma espada nova, ele subitamente se dirigiu a ela, dizendo:

— Espero que o Sr. Bingley aprecie isso, Lizzy.

— Não estamos em condições de saber do que o Sr. Bingley gosta — disse a mãe da moça em voz ressentida —, uma vez que não chegaremos a visitá-lo.

— Ora, mamãe — replicou Elizabeth —, você esquece que iremos encontrá-lo no próximo baile.

A Sra. Bennet não se dignou a responder, mas, incapaz de se conter, começou a repreender uma das filhas:

— Pelo amor de Deus, Kitty! Pare de tossir desse jeito. Soa como se você tivesse sido contaminada.

— Mãe! Que coisa pavorosa de se dizer, com tantos zumbis nas redondezas

— retrucou Kitty, perturbada. — Quando será esse seu próximo baile, Lizzy?

— De amanhã a quinze dias.

— Ah, sim, precisamente — gritou a mãe. — E será impossível apresentar o Sr. Bingley a minhas filhas, já que eu própria não fui apresentada a ele. Ah, desejaria jamais ter escutado o nome Bingley!

— Lamento ouvir isso — disse o Sr. Bennet.

— Se já o soubesse esta manhã, certamente não teria ido visitá-lo. Que infelicidade. Mas o fato é que fui visitá-lo, e agora não há como escapar às apresentações.

O espanto das mulheres era exatamente o efeito que ele desejava causar; e o da Sra. Bennet superou o de todas as demais. No entanto, quando o primeiro frêmito de alegria passou, ela se apressou a declarar que era exatamente isso o que esperava.

— Que bondade de sua parte, meu caro Sr. Bennet!

Mas eu sabia que acabaria por persuadi-lo. Sabia que ama suas filhas de tal modo que não negligenciaria a necessidade de travar relações com esse senhor. Ora, estou muito contente, e que brincadeira fez de tudo isso, saindo logo cedo,pela manhã, sem dizer nada até agora.

— Não confunda minha indulgência com qualquer relaxamento de nossa disciplina — disse o Sr. Bennet.

— As meninas devem continuar seu treinamento, com ou sem Bingley.

— Claro, claro — apressou-se a assentir a Sra. Bennet.

— Elas devem se tornar mais letais do que nunca.

— Agora, Kitty, pode tossir à vontade — caçoou o Sr. Bennet;

Deixando o aposento enfastiado com os excessos da esposa.

— Que pai magnífico têm vocês, meninas — disse ela quando a porta se fechou. — Alegrias como essa são cada vez mais raras desde que o bom Deus decidiu fechar os portais do Inferno e condenar os mortos a vagar entre nós. Lydia, minha adorada, apesar de você ser a mais jovem, ouso dizer que o Sr. Bingley dançará com você no baile.

— Oh! — exclamou Lydia, deslumbrada. — Isso não me amedronta.

Embora seja a mais jovem, sou a mais experiente na arte de atrair o sexo oposto. Mãe e filhas passaram o restante da noite em conjeturas sobre quãobrevemente o Sr. Bingley haveria de retribuir a visita do Sr. Bennet e tentando decidir quando já seria apropriado convidá-lo para jantar.


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Um Lugar ao Sol: um diretor acerta contas com o passado

UM LUGAR AO SOL (A Place in the Sun, Estados Unidos, 1951. Paramount)

• Filho de atores, o cineasta Geor-ge Stevens (1904-1975) teve um começo peripatético, acompanhando os pais e pulando de emprego em emprego. Talvez por isso, aos 36 anos e já consagrado por sucessos como A Mulher do Dia e Gunga Din, tenha se aferrado à ideia de adaptar o romance Uma Tragédia Americana, de Theodore Dreiser: o protagonista, George Eastman (Montgomery Clift), é o primo pobre em uma família rica e odeia seu passado, em que foi arrastado para lá e para cá, na pobreza, pelos pais missionários. Quando consegue um emprego na confecção do tio milionário, tolamente crê que suas ambições foram preenchidas. Mas, quanto mais ele sobe, mais elas aumentam – em especial o desejo pela socialite Angela Vickers (Elizabeth Taylor, aos 17 anos, deslumbrante). E aí surge o problema: o que fazer com a operária que ele engravidou (Shelley Winters, como de hábito roubando o filme) e que o pressiona a casar? Um dramalhão bem ao estilo dos anos 50, mas da melhor estirpe, Um Lugar ao Sol deu razão à intuição do diretor: foi um sucesso retumbante de público. E virou um clássico.

PIRATAS DO ROCK (The Boat that Rocked, Inglaterra, 2009. Universal)

DVD
Piratas do Rock: quando a BBC não queria admitir que o rock existia

• Em 1966, a Inglaterra inteira balançava ao som do pop e do rock. Mas, alheia a essa efervescência, a então vetusta BBC transmitia menos de uma hora cheia de rock por dia. Azar seu – rádios piratas começaram a pipocar por todo o país, transmitindo 24 horas por dia, sete dias por semana, aquilo que o público queria ouvir (e literalmente metade da Inglaterra sintonizava nelas). Não, porém, impunemente: setores conservadores do governo não descansaram até desativá-las, em 1967, por meio de um decreto que nada ficava a dever, nos seus meandros furtivos, a uma daquelas medidas provisórias brasileiras editadas na caluda. O governo inglês ganhou a batalha, mas o rock ganhou a guerra. A história de uma dessas rádios, instalada em um navio ancorado no Canal da Mancha, é o que conta o filme do diretor Richard Curtis, roteirista de Quatro Casamentos e Um Funeral. Ótimos atores, como Philip Seymour Hoffman e Bill Nighy, personagens coloridos e, evidentemente, uma trilha sonora sensacional garantem a simpatia do enredo.

DISCOS

PLASTIC BEACH, Gorillaz (EMI)

• O Gorillaz nasceu há dez anos, de uma brincadeira do vocalista do Blur, Damon Albarn, com o cartunista Jamie Hewlett. A dupla criou uma banda fictícia, na qual os integrantes eram personagens de desenho animado e o estilo, uma mistura de funk, disco music, rap e reggae. Albarn se encarregou dos vocais e das composições, enquanto o restante dos instrumentistas foi recrutado entre o primeiro escalão do pop. Mas a brincadeira virou coisa séria: o grupo tocou nas rádios e vendeu mais CDs do que qualquer outro trabalho de Albarn – e, desde 2003, quando o Blur foi desfeito, tornou-se sua prioridade. A sonoridade do Gorillaz, que já lançou dois álbuns, é basea-da na qualidade dos artistas que Albarn reúne a cada gravação. O time convocado para Plastic Beach faz deste o trabalho mais variado do quarteto. A dançante Stylo, primeiro single do álbum, tem participação do rapper Mos Def e do cantor de soul Bobby Womack; White Flag, que traz uma orquestra do Líbano, é inspirada na música oriental e nas obras do compositor russo Prokofiev.


DISCO
Gorillaz: uma banda
com integrantes
de mentirinha
e som de verdade

CHOPIN: NOTURNOS, Nelson Freire (Universal)

Noturnos são pequenas peças para piano idealizadas pelo compositor irlandês John Field. Nelas, a mão direita do pianista toca uma melodia que pode ser cantarolada, enquanto a mão esquerda faz um acompanhamento pontilhado. O pianista e compositor polonês Frédéric Chopin usou a criação de Field e a alçou a outro patamar. Ele criou 21 noturnos que estabeleceram sua reputação como grande pianista e lhe abriram as portas dos salões de Paris. Os noturnos hoje são o cavalo de batalha de qualquer pianista que se aventure pelo romantismo. Na interpretação de um solista menos experiente, eles se tornam peças enfadonhas e açucaradas. Pelas mãos de Nelson Freire, que nos últimos dez anos lançou dois CDs dedicados à obra de Chopin, nunca são menos do que sublimes. Em sua dedicação ao compositor, Freire, inequivocamente, e de longe, o melhor pianista brasileiro e um dos melhores em atividade hoje no mundo, superou a gravação de chopinianos de alta patente como a portuguesa Maria João Pires e o italiano Maurizio Pollini. Com Freire, os timbres são cristalinos, e a leitura nunca descamba para o sentimentalismo – só exalta a beleza.

LIVRO

QUATTROCENTO, de Susana Fortes (tradução de Maria Alzira Brum; Record; 308 páginas; 43 reais)

LIVRO
Lorenzo de Medici: uma loucura tentar matá-lo – e maior ainda deixá-lo vivo

• Em abril de 1478, na catedral de Santa Maria del Fiore, um grupo de conspiradores puxou as adagas escondidas sob suas capas e atacou os Medici, a mais poderosa família da Florença renascentista. Lorenzo de Medici, o Magnífico, foi ferido, mas sobreviveu. Seu irmão, Giuliano, morreu. A conspiração foi atribuída aos Pazzi, uma família rival. O atentado, chamado Conjura dos Pazzi, marcou a memória dos florentinos e serviu de referência simbólica para quadros de vários artistas ilustres, como Leonardo da Vinci e Botticelli. No romance Quattrocento, quem mais se aproxima da reprodução fidedigna dos fatos daquele dia é o pintor fictício Pierpaolo Masoni. Ao preparar uma tese sobre sua obra, a estudante Ana Sotomayor, protagonista do enredo, identifica o verdadeiro autor da conspiração contra os Medici – e, assim, envolve-se em uma investigação policial que a conduzirá até o Vaticano. A espanhola Susana Fortes, que ficou conhecida com o romance O Amante Albanês, transita aqui pelo território entre a fantasia e a realidade.
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