Tuesday, July 20, 2010

Adriano Pires O Comportamento das Ações da Petrobras


Blog do Adriano-O Globo on line

O Comportamento das Ações da Petrobras

19/07/2010 - 09:52

Nos últimos doze meses as ações das empresas petrolíferas que mais se desvalorizaram foram a da BP e da Petrobras. A desvalorização das ações da BP em, praticamente 50%, já se esperava devido ao acidente do Golfo do México. Esse acidente que já é o maior da indústria petrolífera trouxe mudanças no mercado de petróleo aumentando o risco das empresas, em particular, daquelas que possuem uma maior produção no mar. Isso sem dúvida se reflete no comportamento das ações das empresas de petróleo que caíram bastante nas últimas semanas.

A surpresa do mercado foi a Petrobras ser a petrolífera que apresentou a maior queda nas suas ações depois da BP. As ações da Petrobras chegaram a perder o valor de um Bradesco. Quais seriam as causas dessa enorme desvalorização das ações da Petrobras? Será que o acidente com a plataforma da BP explica esse comportamento das ações? Com certeza, explica a menor parte. As verdadeiras causas da queda brutal das ações da Petrobras estão diretamente ligadas a gestão política da empresa. Desde o anúncio da descoberta da camada pré-sal, a estatal passou a anunciar vultosos investimentos num contexto de crise internacional. O Plano de Investimentos2009-2013 era de US$ 174 bilhões. É bom lembrar que este plano foi anunciado no final de 2008 no auge da crise econômica. Naquela ocasião a Petrobras recorreu a empréstimos na Caixa Econômica, Banco do Brasil e BNDES. Durante todo o ano de 2009 e parte de 2010 ocorreu a discussão no Congresso Nacional dos projetos de lei apresentados pelo governo que objetivam mudar o marco regulatório do setor de petróleo e gás natural do Brasil. Dos quatro projetos o da capitalização da Petrobras é que o que precisava ser aprovado o mais rápido possível para que a empresa tivesse condições de executar o seu Plano de Investimentos.

A condução das discussões, por parte da direção da Petrobras, sobre o projeto de capitalização da empresa gerou sempre incertezas e dúvidas, o que provocou esse comportamento de queda das ações da estatal, desde que foi anunciada a capitalização baseada na cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo. Primeiro a discussão no Congresso foi mais demorada do que a empresa esperava e durante esse período, diretores da estatal fizeram declarações que criaram ainda mais incertezas. A principal declaração foi de que a Petrobras faria a capitalização em julho mesmo que a ANP não tivesse concluído a certificação dos volumes de petróleo e o valor do barril. Basta ler o projeto de lei, que agora já foi sancionado pelo presidente Lula, para verificar que não seria possível efetuar a capitalização sem que a ANP concluísse a certificação, através da contratação de uma empresa internacional. Com isso, mais uma vez a capitalização foi adiada e as incertezas aumentadas. A nova data será final de setembro, segundo a Petrobras. Mais uma vez a empresa erra ao marcar a capitalização para as vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais. Mais uma vez os interesses políticos prevalecem sobre os dos acionistas. Outro ponto foi o fato da Petrobras lançar o seu novo Plano de Investimentos para o período 2010-2014 sem que a capitalização tenha sido aprovada. O novo plano mais ambicioso do que o anterior, no volume de US$ 224 bilhões, ainda traz um viés de decisão política que é a construção de cinco novas refinarias.

Também restam dúvidas de qual será o valor do barril de petróleo nessa cessão onerosa. Dependendo desse valor o beneficiário poderá ser o acionista privado ou a União. Caso se coloque um preço baixo para o barril estaremos beneficiando o acionista privado, em particular o estrangeiro na compra das ações no processo de capitalização. Caso contrário, a União poderá passar a deter um maior volume de ações em suas mãos. Isso mostra o erro de se fazer uma capitalização desse porte, na principal estatal brasileira num ano de eleições. Com certeza, as eleições influenciaram na determinação do preço do barril colocado na cessão onerosa.

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