Friday, October 10, 2008

ELIANE CANTANHÊDE Brincando com fogo BRASÍLIA

- Mesmo quem tentava defender o presidente do Equador, Rafael Correa, agora concorda: ele ultrapassou todos os limites e está brincando com fogo. Com a retração do crédito mundial, quem vai investir no Equador e na Bolívia?
Os EUA, que estão feito barata tonta? A Alemanha, a França ou o Reino Unido, que mal sabem o que fazer com eles próprios? Ou a Islândia, que fechou Bolsas e bancos? Se há um país com alguma capacidade ainda de investir nos vizinhos, por ser mais rico, por estratégica ou até por uma questão ideológica, esse país é o Brasil. Pelo menos por enquanto... Correa, pois, comete o maior erro que pessoas, partidos e países podem cometer: escolher o inimigo errado. Ele tanto tensionou que Lula ontem parou de dizer que era tudo "problema de política interna" e partiu para a briga. Numa briga Brasil-Equador, quem ganha?
Correa assumiu o compromisso com Lula, no dia 30/9, em Manaus, de que recuaria na expulsão da Odebrecht e permitiria que seus dois funcionários deixassem o país. Lula, então, enviaria missão técnica com o anteprojeto dos sonhos de Correa, unindo Manaus à equatoriana Manta. Mas Correa rompeu o compromisso e, em vez de recuar, avançou na expulsão da Odebrecht e nas ameaças contra a Petrobras e contra o BNDES. Lula enfim deixou de ser bonzinho e deu o troco: fim da reunião, adiamento sine die do Manta-Manaus.
Quando Evo Morales decidiu abrir a temporada de enfrentamento ao Brasil, ele tinha lá seus trunfos: Lula não queria caso com país pobre e com presidente indígena, vindo da esquerda. E, "last but not least", o Brasil efetivamente precisava do gás boliviano. Correa não notou a diferença. O Brasil, a Odebrecht e a Petrobras não morrem sem um projeto a mais ou a menos. Mas, sem a boa vontade, as empresas e as verbas brasileiras, o Equador fica a ver navios. E pode afundar nesta hora de crise.

elianec@uol.com.br

Serra diz que PT não é partido de esquerda,REINALDO AZEVEDO,

e comemora resultado de pesquisa

Por Marina Novaes, na Folha. Volto no post seguinte:
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB) disse nesta quinta-feira acreditar em um segundo turno muito disputado entre seu afilhado político, Gilberto Kassab (DEM) e a petista Marta Suplicy. Segundo ele, a disputa na cidade não será polarizada entre votos de direita e votos de esquerda.
"Acho que não vale muito essa história de voto conservador e voto de esquerda. O PT não é um partido de esquerda de forma nenhuma e eu não dividiria dessa forma", disse Serra."Isso é uma idéia muito frágil que eles [os petistas] gostam de propagar, mas é algo falso."
O governador também enumerou algumas derrotas petistas nas urnas nestas eleições ao ser questionado sobre uma suposta dificuldade que o PT teria de conquistar o eleitor paulistano.
"O PT não entrou em Florianópolis, não entrou em Curitiba, dificilmente vai entrar em Porto Alegre, não entrou diretamente em Belo Horizonte, está fora do Rio. Então, se você for ver, São Paulo não é uma exceção."

"Cantando vitória"
Apesar de afirmar estar "satisfeito" com os resultados da pesquisa Datafolha --que indicam vantagem de 17 pontos do prefeito sobre Marta-- o governador tucano disse não estar "cantando vitória".
"Não estou cantando vitória, acho que o segundo turno vai ser muito disputado, mas acho que houve aqui uma boa gestão e a tendência da população é querer que continue", afirmou Serra, que disse estar "especialmente satisfeito" com a avaliação da gestão atual --segundo o Datafolha, 61% da população considera ótima ou boa.
"Como fui participante dessa prefeitura, fiquei especialmente mais satisfeito do que normalmente ficaria", afirmou.
Com participação discreta nas campanhas no primeiro turno por conta da disputa entre Geraldo Alckmin (PSDB) e Kassab, Serra afirmou que subirá ao palanque do prefeito quando for chamado. No segundo turno, o PSDB de Serra declarou apoio a Kassab.


É preciso fugir à armadilha. Mas o PT é de esquerda, sim!

Acho que o governador José Serra está certo ao afirmar que a disputa em São Paulo não se dá entre “direita” e “esquerda”, entre “conservadores e progressistas”, como o PT tenta fazer parecer. Só não sei se ambos achamos que isso não está certo da mesma maneira e pelos mesmos motivos. Até porque não temos tantos “conservadores” ou “direitistas” assim. Infelizmente. Mas isso agora não importa.

Ele faz bem em descaracterizar o que é uma óbvia armadilha ideológica preparada pelos petistas, que tem como alvo — ou como canteiro em que semeiam suas bobagens — a imprensa. Como o jornalismo, vocês sabem, não abre mão de ser “progressista”, o confronto entre o Bem e o Mal proposto pelo PT encontra nas redações aquele monte de gente de bom coração. Essa turma conta com os petistas para aliviar a sua consciência injustamente culpada, aleitada com o Ninho da empulhação e da demagogia nos cursos de jornalismo.

Os prefeitos José Serra e Gilberto Kassab experimentaram em detalhes os efeitos desse espírito justiceiro do jornalismo. A imprensa paulistana chegou até a criar banco e rampas antimendigos, lembram-se? Ora, a lógica do Tio Rei, um tanto jesuítica, como me diz um amigo, faz supor que, havendo rampas e bancos antimendigos, também os há pró-mendigos, certo? Ou perdi alguma coisa? Um historiador dedicado tem um filão e tanto a pesquisar: a coincidência entre a agenda do PT e a do jornalismo desde que existe o partido. Se quiserem, acrescentem aí a agenda de boa parte do Ministério Público — a partir, claro, da promulgação da Constituição de 1988. E, se sobrar tempo, cumpre investigar também o trabalho conjunto dessas três frentes.

Assim, em nome da verdade, é mesmo necessário descaracterizar essa falsa clivagem. Kassab tem uma avaliação recorde em São Paulo e é o franco favorito na eleição porque faz uma excelente administração; porque plantou AMAs cidade afora; porque construiu dois hospitais; porque pôs fim às escolas de lata; porque encerra o mandato com dinheiro em caixa, não com uma dívida bilionária; porque foi eficiente na distribuição dos uniformes escolares; porque aprimorou a central da distribuição de remédios gratuitos etc. É uma mentira histórica, uma falcatrua ideológica primitiva, afirmar que ações como essas são tipicamente de esquerda — ou Kassab seria um esquerdista, certo?

E por que uma administração com tanto apelo social é tratada a pauladas por boa parte da imprensa paulistana? Ora, porque Kassab é do DEM, e o DEM não é a encarnação dos sonhos adjetivos de justiça social, não é? Observem: o PT, com efeito, não vai jamais criar o socialismo ou sei lá o quê, mas o seu horizonte utópico continua a ser esse. Em nome dessa utopia, lidera e manipula os tais movimentos sociais, sabotando os governos adversários, para se apossar dos aparelhos de estado. O que tem a seu favor? A retórica justiceira, à qual aderem de forma mais ou menos bovina os formadores de opinião.

Logo, Serra faz muito bem em apontar essa tramóia.

Agora vamos ao que deve ser uma discordância. Não sei o que quer dizer o governador quando afirma que o PT NÃO é um partido de esquerda. Eu acho que é. É a esquerda possível no Brasil — o que quer dizer que aquelas legendas à esquerda dele próprio são inviáveis, como sabe aquela penca de nanicos ensandecidos que nos aborrecem com suas pregações escatológicas.

Haverá um PT socialista, estatizando empresas privadas, essas bobagens? Não! Isso não dá mais. Mas um PT, como afirmei na entrevista à GloboNews, que ainda se entende como um ente de razão, que tem nas mãos o futuro do país, quiçá da humanidade? Ah, isso, sim. Esse PT ainda está aí. Um PT que manipula as causas e carências sociais e que transgride as leis para construir o partido? Ah, isso ainda está aí. E isso caracteriza, sim, um partido de esquerda. E, dadas tais características, tem de ser combatido.

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