Editoras nacionais criam distribuidora de e-books para o varejo
04/06/2010 18:35 Por Maria Carolina Maia Seguindo o modelo de uma iniciativa criada na Espanha pelos três maiores grupos editoriais do país, seis editoras brasileiras decidiram unir esforços para a venda de e-books. Está surgindo, por isso, a Distribuidora de Livros Digitais (DLD), que deve terminar o ano com até 1.000 títulos disponíveis para livrarias como Saraiva, Cultura e a virtual Gato Sabido. "O nosso foco é o varejista, que, acreditamos, é quem deve abordar o leitor, pois conhece melhor seus padrões de interesse e sabe como satisfazê-los", diz o diretor do Grupo Record, Sérgio Machado. Ao lado da Record, entram na empreitada a Rocco, a Sextante, a Intrínseca, a Planeta e a Objetiva – as duas últimas conhecem bem a experiência espanhola, da qual fazem parte, respectivamente, sua matriz e sua sócia, a Santillana. A expectativa dos brasileiros é de que, até o final de 2011, a DLD tenha um faturamento de cerca de 12 milhões de reais e que haja milhões de e-books em circulação pelo país - previsão que, lembra Sérgio Machado, depende do crescimento na venda de e-readers, os leitores de livros virtuais. Apesar dessa aposta na expansão do mercado digital, o executivo acredita que o livro físico não morrerá. "Eu vejo o e-book como uma coisa complementar ao print book, como o teatro e o cinema." O futuro do livro de papel, a relação entre autor e editor no mercado digital e a pirataria virtual estão entre os temas da entrevista de Sérgio Machado a VEJA.com. Como surgiu a ideia de criar a DLD? Com que títulos a Record vai estrear na DLD? Que cuidados a DLD vai tomar contra a pirataria? Como os autores encaram a possibilidade de ter suas obras digitalizadas? Financeiramente, não é mais interessante para o autor? Se o e-book veio para ficar, ele é uma ameaça ao livro de papel? Mas, se parte da tiragem será digital, o volume de livros físicos vai diminuir, e o preço, aumentar. Isso não pode tornar o livro um luxo para colecionadores, como é hoje o disco de vinil? Veja on line-Editoras nacionais criam distribuidora de e-books para o varejo
O modelo foi a distribuidora espanhola Libranda, que inclui a Planeta, a Santillana (sócia da Objetiva no Brasil) e a Random House Mondadori. Esses, que são os três maiores grupos editoriais da Espanha - representam cerca de 80% do mercado do país - resolveram se unir para explorar o mercado digital. A gente decidiu adotar a mesma fórmula porque a experiência europeia parece mais adequada ao caso brasileiro do que a americana. Nos Estados Unidos, a Amazon tentou controlar tudo, impondo preços e formatos - um e-book vendido pelo site, por exemplo, serviria para o Kindle, e-reader lançado pela própria Amazon, mas não para o iPad, da Apple. As livrarias, sobretudo as nacionais, estavam muito preocupadas com a ameaça da Amazon. Uma das nossas prioridades é evitar que haja canibalização a nível de preço no Brasil, por meio de concorrência desleal. Queremos, isso sim, que haja uma economia de negócio.
De início, cada editora-sócia da DLD está colocando dez livros na plataforma. A nossa ideia é termos de 500 a 1.000 livros até o final do ano. A Record começa com títulos nacionais: Perdas e Ganhos, da Lya Luft, A Casa das Sete Mulheres, da Letícia Wierzchowski, São Bernardo, do Graciliano Ramos, Limite sem Trauma, da Tania Zagury, Meu Nome Não É Johnny, do jornalista Guilherme Fiúza, e algum do (Carlos) Drummond (de Andrade). Uma variedade de gostos e autores.
Todo o conteúdo da distribuidora terá proteção contra a pirataria, por meio do DRM (Digital Right Manager), um software que permite ao consumidor fazer um número determinado de cópias de um livro, cinco ou seis.
Estamos renegociando com os autores que já estavam no catálogo da Record. Há todo tipo de reação possível. Alguns acham ótimo o livro digital, outros preferem esperar, outros não querem fazer. Alguns proprietários dos direitos dos livros podem no início não querer fazer adendos aos contratos, permitindo a conversão do livro de papel em livro digital. Mas isso é uma questão de quando, não de se. Isso vai acontecer. Os contratos dos novos livros já incluem a questão do livro digital.
No caso do e-book, o escritor recebe uma porcentagem maior sobre a venda – no caso do livro físico, o percentual gira em torno de 10% do preço de capa. Mas, como o livro é mais barato que o de papel, acaba dando no mesmo.
Eu vejo o e-book como uma coisa complementar ao print book. Não vai substituí-lo. Nós vamos continuar precisando do livro físico na vitrine das lojas, para fazer pilha, para atrair o consumidor. Por isso, inclusive, não deixaremos de ter custos de gráfica e de logística de distribuição.
O livro em papel deve ter tiragem menor e se tornar mais caro, é fato. Mas não sei se vai chegar a ser como o vinil. Eu, pessoalmente, acho que no caso do livro não vamos ver o mesmo fenômeno que se passou com a música. A analogia que me ocorre mais parecida é de teatro com cinema. Uma coisa não substitui a outra. São formas diferentes, e complementares, de expressão artística.