Saturday, June 05, 2010

Editoras nacionais criam distribuidora de e-books para o varejo

Veja on line-Editoras nacionais criam distribuidora de e-books para o varejo

04/06/2010 18:35

Por Maria Carolina Maia


Sérgio Machado, diretor do Grupo Record, não crê que o e-book seja ameaça ao livro de papel (Foto: Divulgação)

Seguindo o modelo de uma iniciativa criada na Espanha pelos três maiores grupos editoriais do país, seis editoras brasileiras decidiram unir esforços para a venda de e-books. Está surgindo, por isso, a Distribuidora de Livros Digitais (DLD), que deve terminar o ano com até 1.000 títulos disponíveis para livrarias como Saraiva, Cultura e a virtual Gato Sabido. "O nosso foco é o varejista, que, acreditamos, é quem deve abordar o leitor, pois conhece melhor seus padrões de interesse e sabe como satisfazê-los", diz o diretor do Grupo Record, Sérgio Machado. Ao lado da Record, entram na empreitada a Rocco, a Sextante, a Intrínseca, a Planeta e a Objetiva – as duas últimas conhecem bem a experiência espanhola, da qual fazem parte, respectivamente, sua matriz e sua sócia, a Santillana.

A expectativa dos brasileiros é de que, até o final de 2011, a DLD tenha um faturamento de cerca de 12 milhões de reais e que haja milhões de e-books em circulação pelo país - previsão que, lembra Sérgio Machado, depende do crescimento na venda de e-readers, os leitores de livros virtuais. Apesar dessa aposta na expansão do mercado digital, o executivo acredita que o livro físico não morrerá. "Eu vejo o e-book como uma coisa complementar ao print book, como o teatro e o cinema." O futuro do livro de papel, a relação entre autor e editor no mercado digital e a pirataria virtual estão entre os temas da entrevista de Sérgio Machado a VEJA.com.

Como surgiu a ideia de criar a DLD?
O modelo foi a distribuidora espanhola Libranda, que inclui a Planeta, a Santillana (sócia da Objetiva no Brasil) e a Random House Mondadori. Esses, que são os três maiores grupos editoriais da Espanha - representam cerca de 80% do mercado do país - resolveram se unir para explorar o mercado digital. A gente decidiu adotar a mesma fórmula porque a experiência europeia parece mais adequada ao caso brasileiro do que a americana. Nos Estados Unidos, a Amazon tentou controlar tudo, impondo preços e formatos - um e-book vendido pelo site, por exemplo, serviria para o Kindle, e-reader lançado pela própria Amazon, mas não para o iPad, da Apple. As livrarias, sobretudo as nacionais, estavam muito preocupadas com a ameaça da Amazon. Uma das nossas prioridades é evitar que haja canibalização a nível de preço no Brasil, por meio de concorrência desleal. Queremos, isso sim, que haja uma economia de negócio.

Com que títulos a Record vai estrear na DLD?
De início, cada editora-sócia da DLD está colocando dez livros na plataforma. A nossa ideia é termos de 500 a 1.000 livros até o final do ano. A Record começa com títulos nacionais: Perdas e Ganhos, da Lya Luft, A Casa das Sete Mulheres, da Letícia Wierzchowski, São Bernardo, do Graciliano Ramos, Limite sem Trauma, da Tania Zagury, Meu Nome Não É Johnny, do jornalista Guilherme Fiúza, e algum do (Carlos) Drummond (de Andrade). Uma variedade de gostos e autores.

Que cuidados a DLD vai tomar contra a pirataria?
Todo o conteúdo da distribuidora terá proteção contra a pirataria, por meio do DRM (Digital Right Manager), um software que permite ao consumidor fazer um número determinado de cópias de um livro, cinco ou seis.

Como os autores encaram a possibilidade de ter suas obras digitalizadas?
Estamos renegociando com os autores que já estavam no catálogo da Record. Há todo tipo de reação possível. Alguns acham ótimo o livro digital, outros preferem esperar, outros não querem fazer. Alguns proprietários dos direitos dos livros podem no início não querer fazer adendos aos contratos, permitindo a conversão do livro de papel em livro digital. Mas isso é uma questão de quando, não de se. Isso vai acontecer. Os contratos dos novos livros já incluem a questão do livro digital.

Financeiramente, não é mais interessante para o autor?
No caso do e-book, o escritor recebe uma porcentagem maior sobre a venda – no caso do livro físico, o percentual gira em torno de 10% do preço de capa. Mas, como o livro é mais barato que o de papel, acaba dando no mesmo.

Se o e-book veio para ficar, ele é uma ameaça ao livro de papel?
Eu vejo o e-book como uma coisa complementar ao print book. Não vai substituí-lo. Nós vamos continuar precisando do livro físico na vitrine das lojas, para fazer pilha, para atrair o consumidor. Por isso, inclusive, não deixaremos de ter custos de gráfica e de logística de distribuição.

Mas, se parte da tiragem será digital, o volume de livros físicos vai diminuir, e o preço, aumentar. Isso não pode tornar o livro um luxo para colecionadores, como é hoje o disco de vinil?
O livro em papel deve ter tiragem menor e se tornar mais caro, é fato. Mas não sei se vai chegar a ser como o vinil. Eu, pessoalmente, acho que no caso do livro não vamos ver o mesmo fenômeno que se passou com a música. A analogia que me ocorre mais parecida é de teatro com cinema. Uma coisa não substitui a outra. São formas diferentes, e complementares, de expressão artística. 


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