Carta ao Leitor
VEJA revelou na semana passada que o comando da campanha de Dilma Rousseff tinha descoberto e mandado interromper uma operação subalterna de espionagem de adversários e até de correligionários. A reportagem contou que a ordem de cima foi dada de forma incontrastável, alertando, porém, para a impossibilidade de verificar se ela estava sendo cumprida. Como é natural, feita a revelação pela revista, cada lado da disputa reagiu a seu modo. O PSDB responsabilizou diretamente a candidata pela iniciativa. O PT saiu-se da maneira usual nesses casos, afirmando que ninguém da campanha fez nada de errado. São circunstâncias típicas da política. Mas os fatos são teimosos. Eles podem ser distorcidos por versões, mas no fim voltam a incomodar. O que interessa aos brasileiros é garantir a lisura da disputa eleitoral, banindo do cenário a figura tétrica dos dossiês – termo, aliás, que a reportagem cuidou de não utilizar. E o fez por convicção de que seu uso só serviria para banalizar a investigação jornalística primorosa realizada pela sucursal de Brasília. Dossiê, no Brasil, se tornou sinônimo de fabricação de provas, adulteração de documentos, chantagem e compra de falsos testemunhos. As campanhas presidenciais oferecem uma oportunidade única para conhecer melhor um candidato que pode vir a dirigir os destinos do país. Por mais incômodo que seja, merece divulgação qualquer fato real verificável que traga à luz alguma verdade sobre determinado candidato. Todos sabem como uma guerra de dossiês pode começar. Basta para isso um punhado de aloprados com alguma verba e nenhuma supervisão de adultos. Mas ninguém sabe como uma guerra de dossiês pode terminar. O grau de volatilidade desses instrumentos é tal que seu poder de destruição foge ao controle dos autores, podendo tornar-se eles próprios mais vítimas ainda do que seus alvos. O dano está feito quando um deles cai na corrente frenética da opinião pública turbinada atualmente pelos jatos digitais da internet. Por isso, o ideal é evitar que dossiês sejam fabricados; em sendo, que não venham a público; em vindo, que sejam ignorados. A verdade liberta. A fabricação de dossiês escraviza.
A teimosia dos fatos
A abertura da reportagem de VEJA da semana passada: o ideal
é evitar que dossiês sejam fabricados; em sendo, que não venham a público;
em vindo, que sejam ignorados