Por que a Grécia não vai virar ruína
Europeus lutam para acertar um socorro de 120 bilhões de euros e evitar que
o drama financeiro dos gregos vire uma tragédia de dimensões continentais
Renata Betti
Fotos Aris Missinis/AFP e Tobias Schwarz/Reuters |
FÚRIA Gregos protestam contra as reformas econômicas, exigidas pela alemã Merkel para liberar o resgate financeiro |
Como pode um país tão pequeno, de 11 milhões de habitantes, cuja economia responde por um acanhado porcentual de 3% do PIB de todas as dezesseis nações que usam o euro como moeda, trazer tanta encrenca? Líderes europeus não disfarçam o azedume diante da crise financeira grega, uma tragédia mais para farsesca que dramática. Justo quando a economia mundial exibe indicadores saudáveis de que a crise internacional já ficou para trás, a imprudência grega na administração de suas contas traz um novo foco de preocupação. A Grécia quebrou. Não possui mais dinheiro em caixa nem fontes de financiamento para honrar os compromissos de sua dívida externa, superior a 300 bilhões de dólares. Na semana passada, o país teve a sua avaliação de crédito rebaixada. A Grécia perdeu a classificação de investment grade, conferida a países confiáveis e seguros para investimentos. Doeu no âmago da União Europeia ver um de seus membros ser colocado ao lado de países com um histórico temerário. Mas doerá ainda mais se a Grécia decretar a moratória de sua dívida externa, à maneira de uma Argentina.
Na semana passada, o diretor executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI), o francês Dominique Strauss-Kahn, afirmou que a Grécia precisará de uma ajuda ainda mais elevada do que o estimado originalmente. Será necessária uma boia de salvação de 120 bilhões de euros (ou 150 bilhões de dólares) para evitar o colapso. Esse é o valor das dívidas que vencem nos próximos três anos. O montante, se for aprovado pelo FMI e pelos países europeus que deverão participar do resgate, será o maior jamais oferecido a um país de relevância tão acanhada como a Grécia atual, a despeito de seu passado luminoso. A ideia é que, com essa ajuda, a Grécia compre tempo para executar as reformas destinadas a reorganizar suas finanças. A missão mais complexa (e que se arrasta há cinco meses) está em costurar esse socorro financeiro. A maior parte dessa conta caberia à Alemanha. Mas os seus contribuintes não se revelaram nada dispostos a bancar a irresponsabilidade dos vizinhos. Os alemães, mesmo nos piores dias da crise, mantiveram o seu déficit público sob controle, em torno de 3% do PIB. O rombo fiscal da Grécia, no entanto, explodiu, superando hoje 13% do PIB. Nessa situação, ficará difícil para a chanceler alemã, Angela Merkel, justificar o socorro financeiro. Por outro lado, se Merkel, assim como os demais líderes dos países mais ricos da Europa, cruzar os braços, a solidez do euro como moeda será questionada. Poderia contaminar outras economias frágeis do bloco, entre elas Portugal. Para complicar ainda mais, bancos alemães e franceses aparecem entre os principais credores dos gregos. Se a Grécia der o calote, essas instituições financeiras, muitas delas ainda cambaleantes, amargarão prejuízos bilionários.
Quais as alternativas colocadas na mesa? Essencialmente, salvar a Grécia, mesmo a contragosto. Afirma o economista Gustavo Loyola, sócio da consultoria Tendências: "O risco de um contágio internacional existe, claro, mas a probabilidade é minúscula. A Europa não tem outra opção a não ser evitar o colapso financeiro da Grécia. O custo de não salvá-la é enorme"