Saturday, May 01, 2010

O "fabuloso Fab"


Em troca de e-mails com a namorada, executivo do Goldman Sachs
narra as fábulas das ‘monstruosidades’ de seu ‘Frankenstein’ financeiro


Luís Guilherme Barrucho

Mark Wilson/AFP
SOB SUSPEITA
Fabrice Tourre, executivo do Goldman Sachs, em depoimento no Congresso:
"O Frankenstein voltou-se contra seu criador"


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Fabrice Tourre, filho de uma família de classe média francesa, graduou-se em matemática em 2000, na École Centrale, em Paris, faculdade das mais distintas, de onde saíram Gustave Eiffel e André Michelin. Em 2001, Tourre, aos 22 anos, concluiu mestrado em Stanford, prestigiosa universidade californiana por onde passaram algumas das mentes mais criativas do Vale do Silício. No mesmo ano, foi recrutado pelo mais admirado dos bancos de Wall Street, o Goldman Sachs. Antes dos 30 anos, o matemático, especialista em equações complexas, já havia alcançado os andares mais elevados da instituição financeira, ao ser promovido a uma das vice-presidências. Seu salto se deu depois de ter criado um investimento financeiro, o Abacus 2007-AC1, que ajudou um dos clientes do banco a faturar 1 bilhão de dólares ao apostar no desmoronamento da bolha imobiliária. Tourre foi recompensado com a direção executiva da filial do Goldman em Londres. Na semana passada, o franzino executivo negou as acusações de crimes financeiros perante o Congresso americano, ao depor na comissão que investiga a suposta fraude com a missão de caçar as bruxas de Wall Street.

Tourre responde às acusações abertas pela Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, responsável pela fiscalização do mercado financeiro). Com o seu Abacus 2007-AC1, o executivo, dizem os investigadores, teria ajudado a vender papéis que já sabia serem podres. Pesa contra ele uma série de e-mails, trocados com sua namorada, tão cândidos quanto comprometedores e reveladores dos ardis de Wall Street. "Toda a estrutura está prestes a desabar", escreveu Tourre em janeiro de 2007 (veja o quadro). "O único sobrevivente em potencial, o Fabuloso Fab." O executivo falava das "monstruosidades" dos instrumentos financeiros por ele mesmo criados e afirmava que o "Frankenstein estava se voltando contra o seu criador". As mensagens do Fabuloso Fab são as mais confessionais. Mas os congressistas divulgaram e-mails que flagram outros diretores com as calças arriadas. Um deles classificou uma de suas transações como "shitty deal"(ou "um negócio de m***"). O Goldman sustenta que todas as suas operações foram feitas dentro da lei. Terá de rebater as acusações e comprovar a licitude de seus negócios nos tribunais. Na semana passada, foi aberta uma nova frente de investigação do banco, desta vez por procuradores federais. Desde abril, as ações do banco acumulam perdas de 14%.

Para o fabuloso Tourre, entretanto, o caso representa um revés em sua prodigiosa carreira. O executivo, atualmente com 31 anos, tirou licença. Deverá dar uma pausa também nas festinhas que costumava oferecer. Nos tempos de Nova York, eram comuns as noites de embalo em seu quarto e sala, de acordo com relatos de seus antigos vizinhos. Quando foi transferido para Londres, mudou-se para um apartamento mais espaçoso, não sem antes pedir um desconto de 20% no preço do aluguel por causa da turbulência financeira. Como um matemático de talento, soube tirar proveito da crise para fechar um negócio de ocasião.

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