Saturday, April 24, 2010

Pulmões a salvo


Uma vacina é capaz de prevenir os problemas respiratórios que afligem
os bebês prematuros. Mas poucos pais e pediatras a conhecem


Gabriella Sandoval

Claudio Gatti
ALVO FÁCIL
Nascida com 23 semanas de gestação, Sophia foi vítima do vírus causador de bronquiolite: quinze dias na UTI


A miúda Sophia, de 3 anos, pesava 630 gramas quando nasceu: sua mãe estava na 23ª semana de gestação. A menina passou seis meses internada, foi submetida a cinco cirurgias e a catorze transfusões de sangue. Mas foi uma bronquiolite, que contraiu quando tinha 1 ano e 3 meses, o que mais assustou seus pais. Ela passou quinze dias internada em uma UTI, fraca e com dificuldade para respirar. "Foram dias de muita angústia", diz a mãe, Elza Falcão, de 40 anos. O vírus sincicial respiratório, o VSR, que atacou os brônquios e os pulmões de Sophia, é a principal causa de hospitalização de prematuros com menos de 1 ano de vida. Bebês que nascem antes de 37 semanas de gestação são especialmente vulneráveis a ele: têm risco até dez vezes maior de contrair formas graves de bronquiolite e pneumonia. "Neles, a doença é mais severa e evolui rapidamente para complicações", diz o neonatologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Isso porque o desenvolvimento de seus pulmões não se completou no útero, o que os torna alvo fácil para o vírus. Para esses recém-nascidos, entretanto, há uma arma de prevenção eficaz. Trata-se de um anticorpo monoclonal, o palivizumabe, que funciona como uma vacina. Administrado via injeção intramuscular, ele evita hospitalizações em até 70% dos casos. Embora esteja incluído no calendário de vacinações da SBIm, são poucos os pediatras que o recomendam. "É por puro desconhecimento", afirma Kfouri. A entidade iniciará uma campanha no começo de maio para esclarecer pais e médicos sobre a existência de um calendário só para prematuros e a importância da imunização.

O índice de nascimentos precoces só faz aumentar: nos últimos dez anos, passou de 8% para 13% nos hospitais particulares. A principal razão é a maior ocorrência de gestações múltiplas, efeito dos tratamentos de fertilidade, e de gestações tardias – ambas fatores de risco para partos prematuros. A prevenção, no caso desses bebês, é essencial. Mesmo as vacinas comuns devem ser administradas de modo diferente aos prematuros. A BCG, que previne formas graves de tuberculose, deve ser aplicada assim que o recém-nascido atinge 2 quilos. No caso da hepatite B, são necessárias quatro doses, em vez de três. Outra precaução importante, segundo a infectologista pediátrica Lily Yin Weckx, da Universidade Federal de São Paulo: "A tríplice bacteriana deve, preferencialmente, ser acelular, o que reduz o risco de reações como febre alta". Em relação ao palivizumabe, há um porém: ele é caro. Uma dose pode custar mais de 1 000 reais – sendo que se preconiza uma injeção por mês na época de circulação do vírus, de março a setembro. Mas alguns planos de saúde cobrem o valor, e o medicamento é oferecido gratuitamente em postos de vacinação dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro a bebês que nascem com menos de 28 semanas. E saúde de recém-nascido, claro, não tem preço.

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