Saturday, February 27, 2010

Carta ao Leitor


O público e o privado

Rickeyrogers/Reuters
O proselitismo sobre estatismo e privatização empobreceu a campanha presidencial de 2006


O entrevistado das Páginas Amarelas de VEJA, Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, convida os leitores a escapar da armadilha fundamentalista e paralisante que divide o mundo entre estatistas e privatizantes. Disse ele, referindo-se ao sistema bancário: "Não me agrada o maniqueísmo entre público e privado. O modelo misto pode atender a uma economia melhor do que os dois extremos". Com 21,8% de suas ações em mãos de investidores privados, metade deles estrangeiros, o Banco do Brasil é em si mesmo um exemplo dessa combinação.

Bendine fala com a autoridade de quem orientou a instituição financeira pública que dirige a buscar o lucro e, ao mesmo tempo, cumprir suas tradicionais funções de apoio à agricultura e a setores da economia vistos como muito arriscados pelos bancos privados, especialmente nos momentos de arrocho creditício como o trazido pela crise internacional no ano passado. Foi justamente em 2009 que o BB obteve um lucro recorde de 10 bilhões de reais, com crescimento de 15% em relação ao ano anterior. O feito do banco e as palavras de seu presidente nas Páginas Amarelas de VEJA colocam a questão da dicotomia entre público e privado em um patamar superior de complexidade.

Seria ideal que, nos debates eleitorais deste ano, os candidatos evitassem o recurso quixotesco de brandir lanças ideológicas contra inimigos imaginários como o "estado mínimo", pronto a vender o Banco do Brasil e a Petrobras a preço de banana – ou sua nêmesis, o "leviatã estatal", disposto a ser dono até de padarias e botequins. Isso é ficção. Má ficção.

O eleitorado brasileiro já atingiu maturidade suficiente para esperar ser brindado na campanha com discussões que esclareçam a verdadeira visão econômica de cada candidato. Nas economias mais avançadas do planeta, a iniciativa privada é o motor do desenvolvimento, a grande provedora de empregos e a fonte da riqueza nacional que financia a máquina e as iniciativas estatais. Ao estado cabe incentivar a concorrência, criar e aplicar um marco regulatório previsível e empreender apenas onde o setor privado não pode ou não quer se aventurar. Qualquer política pública que ignore esses fatores está fadada ao fracasso.

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