Wednesday, October 22, 2008

RUY CASTRO Ou cede ou leva bala

RIO DE JANEIRO - Em Santo André (SP), na semana passada, Lindemberg Alves, 22 anos, não se conformou com que Eloá Cristina, 15, não quisesse reatar o namoro com ele. Invadiu armado o apartamento da garota e a tornou refém (a ela e a amiga Nayara, idem, 15) por inacreditáveis 100 horas, sob o cerco da polícia e o circo da mídia. Por fim, no quinto dia do seqüestro, numa cena confusa de invasão, ele matou Eloá com um tiro na cabeça, baleou Nayara e foi preso.
Em Sorocaba (SP), na noite do último domingo, outro jovem, Daniel de Souza, 22, invadiu a casa da ex-namorada, Camila Araújo, 16, e a matou, também com um tiro na cabeça por ela se recusar a voltar com ele. O casal tinha um filho de um ano e meio, em frente ao qual, parece, o crime foi cometido. Daniel está preso.
No Rio, mesmo dia, mesma hora, o motorista Roberto Costa Júnior, 28, discutiu por dinheiro com seu patrão, o empresário Arthur Sendas, 73, na porta dos fundos do apartamento deste. Por não ter sua reivindicação (seja qual for) atendida, sacou de uma pistola. Um tiro atingiu a cabeça de Arthur Sendas e o matou. Roberto fugiu, mas, no dia seguinte, se entregou.
É impressionante como, há tempos, no Brasil, os jovens não admitem ser contrariados. Quando querem alguma coisa, não enxergam o lado da outra parte e não lhe dão escolha: ou esta cede ou leva bala, quase sempre na cabeça, para não haver dúvida. Algo o país tem feito para disseminar tanto egoísmo e insensibilidade em seus filhos.
Impressiona também como qualquer pessoa parece ter sempre uma arma carregada à mão. Com isso, entre nós, uma vida humana passou a valer menos que um cartucho deflagrado. Num recente plebiscito, o Brasil votou contra a limitação do uso de armas pela população. Optou por viver sob o tiroteio.

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