CLÓVIS ROSSI O café e o Bope
MADRI - Volto a La Vaguada, o centro comercial do norte de Madri que fica pertinho de onde morávamos no tempo em que eu era correspondente desta Folha.
Não deveria. Mexe com uma das minhas frustrações nacionalisteiras. É que abriram lá uma das lojas da cadeia de cafeterias colombiana "Juan Valdez". Já era desagradável ver, mundo afora, a Starbuck's norte-americana, apesar de os Estados Unidos serem o país que prepara o mais "imbebível" dos cafés no mundo todo.
E o Brasil, nada? Tudo bem que a Colômbia também é grande produtora de café, mas será possível que não conseguimos pôr de pé algo que permita ao Brasil explorar mais valor agregado do que a mera exportação do grão ou, no máximo, do solúvel?
Aliás, nem isso, ao menos na loja da Starbuck's que fica em frente à fonte de Netuno, no centro de Madri. Lá estão expostos cafés da Guatemala, da Colômbia, obviamente, até de Sumatra, mas do Brasil nadica de nada. A menos que entrem na composição da "home blend", a mistura da casa, que contém cafés latino-americanos, assim genericamente, como diz o rótulo.
Até o rapaz que serve o café na "Juan Valdez" do La Vaguada é bogotano. Estava na Espanha, surgiu a chance, pimba, lá está ele feliz da vida com o emprego. As vendas que ele faz "beneficiam 560 mil famílias colombianas produtoras de café", informa o guardanapo com o logo da "Juan Valdez" Não é um negocinho merreca, não. "La Gaceta de los Negócios" informa que uma pesquisa feita pela empresa Ipsos mostra que só Madri consome 6,5 milhões de euros diários em xícaras de café.
Todo o mundo sabe que a Colômbia tem sérios problemas de imagem, sempre vinculada ao narcotráfico e à violência. Não obstante, inventou e emplacou a "Juan Valdez". Nós, pelo jeito, vamos ficar só com o Bope.