Rumo à saída JANIO DE FREITAS
A DECISÃO DE AFASTAR Antonio Palocci e a escolha da substituta nem foram tão cedo quanto o pronunciamento da então senadora Gleisi Hoffmann, pelo afastamento do ministro ainda que temporário; nem feitos por Dilma Rousseff já tão perto de concretizá-los, como consta de grande parte do noticiário.
A recusa pelo procurador-geral Roberto Rangel ao pedido de inquérito encabeçado por PPS, PSDB e DEM por não apresentação de indícios para investigação também não foi determinante para o afastamento de Palocci.
Quando se acirravam as críticas de imobilismo da presidente, com cobranças até no PT, e depois vinham as considerações sobre possíveis substitutos, já a solução se consolidava nas consultas e conversas necessárias. Em sigilo fechado entre três pessoas. É sugestivo lembrar, a propósito, um despacho de Paulo Bernardo, ministro das Comunicações e marido de Gleisi Hoffmann, com Dilma, noticiado antes da semana passada como coisa de rotina. Não era.
A firmeza com que Palocci sustentou ter todas as explicações que os órgãos de controle desejassem, para efeitos legais e para tranquilizar a opinião pública, fez com que Dilma decidisse dar-lhe tempo. Como desejado também por Lula. Mas afinal, diante da intensidade política assumida pelo caso, pressionou-o para antecipar de público as explicações que disse ter.
Nas entrevistas à Folha e à TV Globo, Palocci mal repetiu o pouco que dissera em nota, quando noticiados os sinais do seu suspeito enriquecimento, para instruir os petistas do Senado em sua defesa. As entrevistas confirmaram a impossibilidade de Palocci demonstrar a licitude do veloz enriquecimento como deputado e coordenador da campanha presidencial de Lula/Dilma.
Palocci tornou dispensável a decisão do procurador-geral para a decisão da presidente. Se o despacho de Roberto Rangel viesse contrário ao ministro, bastaria por si mesmo para o afastamento. Se favorável, como o teor insuficiente da petição induzia, favoreceria a substituição do ministro em nome do seu desgaste e das condições políticas do governo, sem no entanto sobrecarregá-lo moralmente. Palocci pode dizer que saiu, vá lá, inocentado. E que a demissão foi de iniciativa sua. Não faz diferença, para o que importa.
Em tempo: o título do artigo de terça-feira ("Nem mais um dia") e sua origem no final do texto não foram propriamente premonição ou acaso, no dia da queda de Palocci. Eram o pesaroso limite do possível, para as percepções mais aguçadas. A escolha de Gleisi Hoffmann foi surpresa geral, e uma aposta interessante de Dilma Rousseff, desde logo vitoriosa ao menos do ponto de vista estético.