Saturday, May 15, 2010

Uma chance em 40 milhões


Essa é a probabilidade de um passageiro ser o único sobrevivente
de um desastre aéreo. Na semana passada, essa ocorrência improvável
salvou a vida de um menino na Líbia


Laura Ming

Andrew Medichini/AP
O sobrevivente
O menino Ruben, de 9 anos, no hospital: ele escapou do desastre com o Airbus A330 na Líbia
(à dir.) com fraturas nas pernas e não corre risco de vida


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O avião é, de longe, o meio de transporte mais seguro que existe – apenas um acidente com vítimas acontece a cada 6 milhões de decolagens. Ainda assim, nos acidentes com sobreviventes, em média 70% dos passageiros conseguem escapar. Na semana passada, o menino Ruben van Assouw, de 9 anos, protagonizou um feito extraordinário no mundo das estatísticas. Ele foi o único sobrevivente de um acidente com um avião de passageiros. O Airbus A330 da Afriqiyah Air-ways, companhia aérea da Líbia, caiu próximo ao aeroporto de Trípoli quando tentava pousar. Dos 93 passageiros e onze tripulantes, apenas o garoto holandês não morreu. A probabilidade de um avião cair e só uma pessoa se salvar é de uma em 40 milhões, praticamente a mesma de ganhar na Mega-Sena com apenas uma aposta de seis números. É 400 vezes mais provável ser atingido por um raio na cabeça. Desde 1970, apenas dezesseis pessoas conseguiram esse feito. No ano passado, uma garota de 12 anos foi resgatada no mar após passar horas boiando em destroços da aeronave em que estava e que havia caído próximo às Ilhas Comores, na costa leste da África. Das 153 pessoas a bordo, ela foi a única sobrevivente. O que mais chama atenção entre os dezesseis sobreviventes únicos computados desde 1970 é que metade deles tinha menos de 18 anos. Esse número desafia as probabilidades, já que há muito mais passageiros adultos do que crianças nos voos comerciais.

Essas estatísticas levantam uma questão: as crianças e os adolescentes resistem mais aos traumas físicos provocados pelos acidentes aéreos do que os adultos? Segundo quatro médicos ouvidos por VEJA, a favor dessa teoria há o fato de que os jovens são mais leves, o que faz com que a força do impacto de uma batida seja menor e, portanto, menos danosa para eles. O corpo juvenil também é mais maleável que o do adulto, o que diminuiria a intensidade do choque. Esses argumentos fazem sentido, mas são de difícil aplicação em um desastre da magnitude da queda de um avião. A velocidade da aeronave influencia mais a força do impacto do que o peso do corpo. No caso do menino Ruben van Assouw, especula-se que ele estivesse no fundo do avião, a parte mais preservada no acidente. A única explicação para só Ruben ter sobrevivido – e não um dos seus pais ou seu irmão mais velho, que também estavam a bordo – é a sorte. Ele sofreu diversas fraturas nas pernas, continua hospitalizado em Trípoli, mas não corre risco de vida.

Ainda há poucos indícios do que teria derrubado o Airbus A330 da Afriqiyah Airways – o mesmo modelo do fatídico voo da Air France que caiu em maio do ano passado sobre o Atlântico, próximo à costa do Nordeste brasileiro. A aeronave tinha menos de um ano de uso. Vinha de Johannesburgo, na África do Sul, e caiu a poucos metros da pista. As primeiras investigações apontam para uma neblina que teria atrapalhado a visão dos pilotos – o aeroporto de Trípoli não é dotado de ILS, o equipamento que permite pousos com pouca visibilidade. Causa estranheza o fato de o avião não ter se incendiado após a queda – o que pode indicar pouco ou nenhum combustível nos tanques. As duas caixas-pretas já foram recuperadas e devem ajudar a esclarecer as causas do desastre.

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