Saturday, May 22, 2010

Leia entrevistas com opositores das Farc


21/05/2010 21:35

Por Ana Claudia Fonseca

(Foto: )

"Os terroristas estão encurralados"

Juan Manuel Santos preparou-se a vida toda para chegar à Presidência, mas acabou vítima do próprio sucesso. Perdeu o favoritismo porque o combate ao narcoterrorismo deixou de ser prioridade para os eleitores. Santos deu a seguinte entrevista para a jornalista Ana Claudia Fonseca, por e-mail.


O senhor acha que os colombianos já estão prontos para encerrar o capítulo da guerra civil?
O que temos aqui não é guerra civil, mas uma ameaça terrorista. Deu muito trabalho chegar onde chegamos. Custou-nos muito esforço, sacrifício, sangue e persistência. E agora que os terroristas estão encurralados, poderemos prestar mais atenção ao investimento social, à saúde, à educação, à construção de casas para todos. Devemos defender o legado do melhor presidente que a Colômbia já teve. Para o bem dos nossos filhos e dos filhos dos nossos filhos, temos que continuar avançando para que todos os colombianos tenham trabalho, trabalho e mais trabalho. Meu governo será o governo do trabalho.

Como pretende lidar com a corrupção no governo?
Vamos apresentar reformas constitucionais e legais para duplicar as penas dos corruptos. Buscaremos que esses delitos não prescrevam porque a luta contra a corrupção tem que ser tão contundente quanto a luta contra a guerrilha, o narcotráfico e os paramilitares, que somados são os “quatro cavaleiros do Apocalipse” que vêm assolando a Colômbia. Usando um termo militar, formaremos uma força-tarefa dedicada exclusivamente a perseguir os corruptos.

O senhor faria uma revisão do acordo militar com os EUA se isso ajudasse a melhorar a relação da Colômbia com os vizinhos?
Não renegociaria o acordo, já que fui eu quem o negociou sendo ministro da Defesa de Uribe. Cada vez que me perguntam sobre esse tema, repito a mesma coisa: fizeram uma tempestade em copo d’água. Quem ler esse acordo vai ver que não há nada nele, absolutamente nada, que permita pensar que se busca agredir um terceiro país.

Nas pesquisas de opinião o senhor aparece empatado com Mockus. O que explica o crescimento do candidato do Partido Verde?
É um modismo. Espero que possamos decantar o conteúdo dessa onda: o que ele propõe, qual é seu conhecimento de governo e quais são

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"Não negocio com as Farc"

Filho único de imigrantes lituanos, esse ex-professor de matemática de fala mansa, andar hesitante e gestos tranquilos se transformou, em apenas dois meses, num dos favoritos para vencer a eleição presidencial colombiana. Sua ascensão meteórica e seu discurso duro contra as Farc renderam-lhe várias ameaças de morte, que ele teima em ignorar. Mockus falou com a jornalista Ana Claudia Fonseca durante uma viagem de carro entre as cidades de Manizales e Pereira.


Se eleito, o que pretende manter e o que pretende mudar da política de seguridade democrática de Álvaro Uribe?
Quero rediscutir o tema do narcotráfico, que hoje corresponde a entre 1 e 2% do nosso PIB. Além dos custos econômicos, o tráfico de drogas custa a vida de milhares de jovens por ano. Isso tem de acabar. Minha ideia é transformar essas mortes em um tabu. Acho que o temor às sanções, mais o temor às crenças, mais o temor à culpa, que compõem o tabu, podem mudar essa situação. Por isso repetimos sempre nos nossos comícios a frase “a vida é sagrada”. Temos de recuperar o mandamento “não matarás” como proibição absoluta, e não relativa.

Acha que os eleitores entendem essa mensagem?
A maioria acha estranho eu falar de vidas sagradas em vez de mortes. Mas o bordão acabou pegando e hoje é repetido inclusive por outros políticos. Estou acostumado a ser incompreendido.

A sua campanha baseia-se no combate à corrupção e à má qualidade da educação na Colômbia. Como pretende lidar com esses problemas?
A distribuição desigual da educação é um dos grandes problemas do país. Se no campo os jovens estudam em média seis anos, nas grandes cidades estudam dez anos. E, se olharmos para a qualidade de ensino, essa desigualdade aumenta ainda mais. Na Colômbia ainda há muita desigualdade, de propriedade e de educação, então precisamos consertar isso através de uma reforma tributária que corrija o desequilíbrio de rendas. A economia de mercado em sua versão colombiana tende a gerar desigualdades muito grandes. A carga tributária na Colômbia é de 18%, a do Brasil, acredito, é de 32%. Uma carta alta não é o problema. O problema é usar os recursos de maneira ineficiente.
Eu acredito que a corrupção na Colômbia seja periférica. Explico: Quando eu era reitor (da Universidade Nacional de Bogotá), recebi uma carta de um senador recomendando uma estudante para o curso de Medicina. Ignorei e não interferi no processo do concurso. Não digo mentiras. Se uma pessoa passa em um concurso por um favor, é uma infâmia. Mas se passa por esforço próprio, vê sua auto-estima aumentada. Precisamos melhorar a auto-estima do país.

Como vê a relação entre Colômbia e Brasil?
É uma relação boa, de respeito mútuo. Obviamente, a interdependência tende a crescer, o comércio bilateral tende a crescer. No momento, a relação é um pouco desequilibrada. Mas há muitos colombianos interessados em investir no Brasil, há muitos jovens estudantes colombianos doutorando-se no Brasil. Acredito que, hoje em dia, os países não podem se isolar. Têm que aceitar um destino comum.

Como seria sua relação com Hugo Chávez?
Acredito que a Colômbia só atingirá seu potencial econômico se contar com os países limítrofes. Quanto mais dependermos uns dos outros, mais incentivos teremos para manter as relações diplomáticas no melhor estado. Mas temos que pensar com prudência e muita diplomacia as relações com o governo de Caracas.

Por que o senhor diz que seria mais fácil as Farc fecharem um acordo com Uribe?
Porque o presidente Uribe tem um treinamento técnico em negociações. E ele adoraria obter esse troféu antes do fim do seu mandato. Minha posição é que a Constituição é indiscutível. As fontes econômicas das Farc são a extorsão, o sequestro e o narcotráfico. É uma diferença importante com o que o grupo era nos anos 70. Hoje o grupo não tem mais uma ideologia política. Por isso, é imprescindível que as Farc aceitem a Constituição colombiana. Se não aceitarem, serão vistas como uma força extraterritorial. Seus membros serão detidos e processados conforme a Constituição. Por isso eu digo, se as Farc estão atrás de um acordo, que tentem obtê-lo de Uribe. Ainda restam dois meses. Corram.

Como explica o entusiasmo dos jovens com sua candidatura?
Tenho uma equipe muito boa que sabe falar a mesma língua dos jovens. Hoje tenho mais de 3.000 seguidores no Twitter e mais de 600.000 amigos no Facebook. Quando era prefeito de Bogotá, investi 5 milhões de dólares em computadores para as escolas. Acredito que a internet é um meio democrático. Não há hierarquia na rede, não é preciso fazer reverências. Há um grande nível de cidadania. Os jovens colombianos encontraram na minha campanha uma maneira forte de se expressar, de expressar o descontentamento com o país.

Quando era prefeito de Bogotá, o senhor saiu na rua de jaleco branco com um coração pintado no peito como alvo para os franco-atiradores. Isso em um país onde três presidentes foram assassinados. As ameaças de morte não o preocupam?
Nem um pouco. Acho que, de algum modo, minha incapacidade de sentir ódio me protege. Seria um desperdício me matar porque todos os colombianos perderiam com isso. Posso ser útil de várias maneiras. Se quiserem me tirar da disputa, basta inventarem rumores como o de que sou ateu.

O senhor é a favor da descriminalização das drogas para combater o narcotráfico?
Não. Sei que alguns países fazem isso, mas na Europa e nos Estados Unidos as pessoas não se matam por drogas como acontece no México e na Colômbia. Hoje, se vejo um traficante com correntes de ouro no pescoço, logo penso que é um traficante. Daqui a cinco anos espero que, quando vir um colombiano usando correntes de ouro, ache um crime de mau gosto, mas não fique com medo.

Quais foram os acertos e desacertos da diplomacia colombiana nos últimos oito anos?
Os acertos foram apresentar a Colômbia como um destino de oportunidades para o turismo e o investimento e a política de co-responsabilidade com países consumidores de drogas. O maior erro foi não investir numa política exterior. Por exemplo, com os vizinhos privilegiou-se uma política de microfones, personalista. Em meu governo, a relação com os países será a nível de Estado, não de pessoas.

Por que decidiu contar que tem Mal de Parkinson?
Minha campanha é baseada na transparência e na honestidade. Estaria mentindo se escondesse minha condição.

A campanha está sendo muito cansativa?
Sim e não. Em certos sentidos, acho que daqui a algumas semanas vou sentir saudades dessa correria. Minha esposa insiste muito para que me deixem dormir.
suas propostas concretas. Digo isso porque as ondas passam, aproximam-se da costa, quebram contra a orla e deixam de existir. Assim, é importante esperar a onda passar para ver o que ela deixou para trás. Nesta eleição precisamos decidir se daremos um salto ao vazio ou se protegeremos o legado do presidente Uribe. Não podemos correr o risco de destruir a obra do presidente, que nos ajudou a deixar para trás esses anos infernais de violência. Se o símbolo desse governo foi a “seguridad democrática”, o símbolo do meu governo será a prosperidade democrática, a prosperidade para todos.

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