Saturday, May 29, 2010

Além de grandes, brilhantes


No pós-crise, joalherias oferecem peças enormes,
cheias de pedras vistosas, assinadas por nomes conhecidos.
Em suma, irresistíveis. A tática está dando certo, e se alguém
precisa de sugestões...


Bel Moherdaui

Fotos Laílson Santos e divulgação
FULGURANTE
Raquel exibe seus brincos imensos, Diane posa com suas pulseiras: graúdas em tudo


Em dúvida sobre como presentear a mulher amada neste Dia dos Namorados? Ah, esses homens... Talvez por distração ou perda temporária de memória, eles vivem se esquecendo do que faz sucesso de verdade. É tão fácil, só quatro letrinhas: joia. Coisas brilhantes e preciosas têm uma carga simbólica única, sem contar o insubstituível suspiro de emoção que acompanha a abertura da caixinha. Se ainda faltarem argumentos, anote-se que a compra de joias contribuirá para a retomada de uma indústria que cresce nos últimos meses a até 20% – um ritmo chinês, não fosse o período ao que se compara. Aquele mesmo, o da crise, que cortou fundo justamente nos produtos situados no topo do supérfluo. Dá pena até de lembrar. "Até o ano passado, as principais fábricas de joias de ouro no Brasil tiveram uma queda de 40% a 50% em sua produção. Em 2009, as exportações caíram 28%", diz Hécliton Santini Henriques, presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos. A crise interrompeu um período de ouro, sem trocadilhos, de crescimento acelerado, mas serviu também para ativar as habilidades comerciais de um dos ramos de negócios mais antigos do mundo.

Um dos recursos foi aumentar o uso de pedras preciosas chamativas, de valor menos elevado que o dos tradicionais diamantes, e diminuir, no caso das peças mais em conta, a quantidade de ouro – este, salva-vidas derradeiro nas épocas de crise, continua sem dar provas de arrefecimento no atual e ainda volúvel momento econômico. "As joalherias passaram a fazer peças mais leves, com mais pedras, que dão impacto maior e reduzem o preço médio", explica Henriques. Outra estratégia das grandes joalherias foi promover parcerias com mulheres conhecidas no mundo do luxo, dando a suas peças uma assinatura facilmente identificável e, em alguns casos, o ar de modernidade buscado por consumidoras habituadas ao ritmo acelerado da moda em constante mudança e não àquelas peças que deveriam durar para sempre. "Hoje, as coisas são muito efêmeras mesmo na joalheria. Ao contrário do tempo em que um broche não saía nunca de moda, agora é preciso estar constantemente se renovando. As parcerias enriquecem essa dinâmica", diz Mario Pantalena Júnior, cuja joalheria acaba de lançar uma linha com a arquiteta e chiquérrima socialite Raquel Silveira. "Raquel é muito antenada, mora entre São Paulo e Nova York. É uma mulher de extremo bom gosto, jovem e bem relacionada", descreve Pantalena. Na parceria, foi desenvolvida a coleção Dentelle, joias em filigrana, um tipo de trabalho em ouro que parecia perdido no passado, mas passou pela devida atualização. A técnica permite fazer joias em tamanhos maiores sem a desvantagem do peso excessivo. "Queria coisa grande, mas muito leve, porque detesto brinco pesado que rasga a orelha", diz Raquel, que fez um total de quinze peças, todas graúdas, no tamanho e no preço – entre 5 000 e 10 000 reais.

EM VERDE
A esmeralda que a salamandra segura tem 36,5 quilates

A tática de aliar nome importante às coleções rende também prestígio e, no caso de uma rede internacional como a H. Stern, a mais desejada das projeções: o uso de peças por grandes nomes do cinema ou da música em festas cujas imagens são infinitamente reproduzidas mundo afora. A primeira coleção da estilista belgo-americana Diane von Furstenberg para a joa-lheria foi um caso clássico. As pulseiras de ouro (aqui vendidas por uma média de 25 000 reais), ou em versão cravejada de diamantes (a estonteantes 682 000 reais), apareceram mais de uma vez em pulsos estrelados. Diane desenhou uma segunda coleção, também em proporções avantajadas, usando cristais em formatos irregulares. Outra joalheria tradicional, a Amsterdam Sauer, famosa pela excelência das gemas e pelo conservadorismo do estilo, buscou a renovação diretamente na fonte da maior conhecedora da consumidora de produtos de luxo no Brasil, Eliana Tranchesi, da Daslu. "Daniel Sauer chegou e tirou do bolso esmeraldas de todos os tamanhos. Em um minuto, ele me convenceu a criar joias com elas", diz Eliana, que concebeu peças do tipo de que suas clientes gostam. Em outras palavras, coisas de rica – a mais original, um anel de salamandra com uma esmeralda de 36,5 quilates, 110 diamantes e dois rubis, custa 38 000 reais. "É interessante ver como são diferentes a compra de uma joia e a de uma roupa. A joia é uma compra pensada. Em geral, a cliente gosta, vai para casa, avalia, traz o marido para ver, e só aí decide", compara Eliana, que na sua loja facilita o pagamento em até oito parcelas.

EM VERMELHO
Rodonita, ouro e brilhantes
no anel de 23 000 reais

Com uma clientela mais jovem, o joalheiro Jack Vartanian também manteve uma característica cara à consumidora brasileira – o tamanho –, acrescida da busca de originalidade. "A cliente está desperdiçando menos e pensando mais. Para conquistá-la, é preciso fazer peças diferentes e raras", diz. Em busca do diferente, salpicou sua nova coleção de pequenos blocos de rodonita, pedra num vermelho vibrante que em geral é usada em joias aborrecidamente convencionais e subvalorizadas. Um problema que Vartanian se encarregou de resolver. Seu anel de rodonita de 42 quilates com ouro branco e ouro rosado e sessenta pequenos diamantes custa 22.820 reais. Está certo que por esse preço daria para passar o Dia dos Namorados no Taiti, mas e o suspiro na hora de abrir a caixinha?

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