da Veja
Nas mãos das irmãs fotógrafas Tracy Raver e Kelley Ryden,
eles são uns anjinhos adormecidos que não dão um pingo de trabalho.
Já em casa...
Suzana Villaverde
Fotos Ryden-Raver LLC |
Eles são minúsculos, bochechudos, irresistivelmente adoráveis. Mas choram tanto... Essa reclamação, tão comum quanto o olhar tresnoitado em pais de bebês novinhos, não parece existir no estúdio das fotógrafas Kelley Ryden e Tracy Raver, irmãs gêmeas de 39 anos, especialistas em fotos de recém-nascidos. A prova da habilidade quase mágica em administrar o sono impossível é o livro Sleeping Beauties: Newborns in Dream-land (Belos Adormecidos: Recém-Nascidos no Mundo dos Sonhos), um apanhado de bebezinhos adormecidos em poses aparentemente impossíveis. A julgar pelas fotos, perto de Kelley e Tracy não existem os dois bichos-papões do sono neonatal, a cólica e o refluxo – sendo a cólica, segundo o pediatra Marcelo Reibscheid, "um choro mais doído, de que se ouve falar desde o tempo de nossos avós", e o refluxo a qualificação dos tempos modernos para "qualquer coisa que faça a criança chorar". Quem tem um bebê novo em casa sabe exatamente o que ele está dizendo (veja conselhos do pediatra no quadro abaixo). Pois diante das duas fotógrafas, bem alimentados, em ambiente suave, os recém-nascidos comportam-se como os perfeitos anjinhos que não são na vida real. A quem se admira diante da suprema serenidade das fotos, Kelley garante: todos estão dormindo mesmo, e fazem aquelas carinhas mesmo. "Conosco não tem choro. Cada sessão de foto de mais ou menos três horas se passa quase em silêncio, com sons e música suaves e fala baixinha. Quando acaba, os pais querem levar a gente para casa", brinca.
Ambas mães de filhos pequenos, as irmãs largaram o emprego (programadora de software e executiva de negócios) para se dedicar à fotografia de crianças em geral e, nos últimos três anos, só de bebês. Nesse processo, desenvolveram algumas técnicas infalíveis para acalmar até os mais escandalosos. Primeiro, pedem que os bebês sejam amamentados e vestidos com roupas confortáveis pouco antes de saírem de casa. Quando acomodados no carro dos pais, a viagem até o estúdio – localizado a vinte minutos do centro de Omaha, no Nebraska, bem no meião gelado nos Estados Unidos – já embala os recém-nascidos. Adormecidos, eles entram num estúdio projetado para lembrar o ventre materno: na sala onde as fotos são tiradas, a temperatura ambiente fica em torno de 30 graus e uma máquina reproduz som semelhante ao que escutavam dentro da barriga da mãe. O bebê ideal para ser fotografado tem entre 5 e 12 dias de vida, uma espécie de janela de oportunidade em que estão bem alimentados pelo leite materno abundante e antes das benditas cólicas, em geral desencadea-das com gritante força a partir da terceira semana. Fotos fora do estúdio, só em dias de temperatura amena, em locais isolados. Nessa fase, os bebês são muito maleáveis, como se vê pelas fotos com perninhas caprichosamente dobradas e bracinhos cruzados em torno do rosto. Mesmo assim, na maioria das situações, sobretudo quando ficam soltos num espaço ou pendurados, há sempre a mão providencial de uma das irmãs em algum ponto, segurando a pose (posteriormente, é removida no computador). "Os bebês estão sempre na posição que se vê. Nada é forçado. Mas algumas poses precisam de mais ajuda e cuidado", conta Kelley.
Mesmo com poucos dias de vida, é possível notar diferenças de temperamento, registra ela, e, sim, meninas dão mais trabalho que meninos. Kelley é tão calma que só de ouvir sua voz sua-ve já começa a dar um soninho: "Quando se trabalha com bebês, é preciso saber transmitir tranquilidade. Pessoas muito aceleradas ou nervosas passam isso para o recém-nascido". Por isso mesmo, pais podem assistir às fotos – bem de longe e sem interferir. A estratégia vem dando certo: cada sessão de fotos das irmãs custa 1 700 dólares (cerca de 3 000 reais) e a agenda está lotada para os próximos meses. Que pai ou mãe resiste a ver seu bebezinho embalado em sono angelical, nem que seja só na fotografia?
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DORMIR, DORMIR, DORMIR De barriga cheia, em locais quentinhos e sem barulho, os bebezinhos do livro, a maioria entre 5 e 12 dias de vida, fazem pose: paz e maleabilidade |
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Mamãe, eu quero Bebês muito novinhos choram por cinco motivos: fome, dor, calor, frio e fralda suja. Tirando isso, dormem o tempo todo. Fácil? Pois pais e mães imploram conselhos para o fim do choro. O pediatra Marcelo Reibscheid, de São Paulo, oferece alguns Dar mais leite. "A fome é o motivo mais comum do choro. E o bebê para de chorar assim que é amamentado" Usar o bom e velho cueiro. "Embrulhado na posição fetal e impedido de mover pernas e braços, ele se sente protegido" Fazê-lo sentir o cheiro da mãe. "Qualquer blusa não lavada por perto faz com que o bebê sinta a presença dela" Tocar música. "Existem discos prontos para isso. Vão de música clássica a rock" Dar colo. "O bebê pode ficar mal-acostumado. Mas, se nada resolve, é a solução" Rezar, fazer promessa, aproveitar para ler os clássicos e esperar que seis meses passem rápido. Não, não foi o pediatra que disse isso. |