Friday, April 02, 2010

Quanto mais tempo, melhor


Ver as fotos inéditas de Marilyn Monroe nos intervalos de uma filmagem
em 1958 é relembrar o poder da sua beleza e do seu apelo erótico
e confirmar, com um suspiro: que mulher!

Fotos divulgação
NADA FORA DE LUGAR
Marilyn de frente, embasbacando Tony Curtis, de costas, com o coração aberto, ou envolta em peles
e protegendo-se do sol na cadeira do diretor: "Seios como balas para meninos pidões"


Loura, a pele acetinada de leite derramado, reentrâncias e saliências – estas, principalmente – sem aditivo de espécie alguma, Marilyn Monroe incendeia cada cena em que aparece em Quanto Mais Quente Melhor, lançado em 1959, três anos antes de sua morte precoce, aos 36. E isso em preto e branco. Pois essa Marilyn incandescente agora surge em cores, num conjunto de onze slides fotografados para uma revista num intervalo das filmagens, em 1958, e nunca antes publicados, os quais irão a leilão em junho, em Las Vegas. As fotos foram feitas no exato dia em que ela filmou a cena em que tem de seduzir um Tony Curtis falsamente indiferente. Envolta num vestido semitransparente de chiffon rebordado em branco e prata, ela desliza sobre o colo dele para um longo e insuportavelmente inocente beijo. O vestido famoso é um escândalo. Na frente, os bordados rareiam e os seios impulsionam o tecido translúcido como se movidos por propulsão atômica. Atrás, escorrem pelas costas nuas e rodeiam uma pequena janela em forma de coração bem em cima daquele lugar que nem sequer podia ser mencionado na década de 50. "Transbordando num vestido que oferece seus seios como balas a meninos pidões, ela parece totalmente alheia a sexo, enquanto os homens se derretem em irrefreável desejo", descreveu o crítico americano Roger Ebert.

E como. Hoje farsesco e forçado como tantos filmes do passado, Quanto Mais Quente Melhorsobrevive pelo teor erótico de Marilyn no papel de protótipo de todas as louras burras e pela piada fundamental: homens gostam de mulheres, mulheres gostam de dinheiro e cavalheiros esquisitos – nem pensar em mencionar, na época, homossexuais – é que gostam de homens. A trama é sobre dois músicos de quinta, Curtis e Jack Lemmon, que testemunham um crime e fogem dos gângsteres responsáveis disfarçados de mulher (daí o preto e branco – em cores, a maquiagem pesada para atenuar a barba e os outros atributos dos dois homões ganhava um tom esverdeado). Acabam numa orquestra feminina como coleguinhas de Marilyn. Os nomes mais conhecidos do filme tinham em comum a transposição da miséria ao estrelato global. O diretor Billy Wilder, judeu nascido Samuel Wilder no que hoje é a Polônia, chegou a Los Angeles fugindo do nazismo, sozinho e sem falar uma palavra de inglês. Marilyn Monroe, nascida Norma Jean Mortensen, de pai desconhecido e mãe sofredora de doença mental, morou de casa em casa e foi "modelo" até ser descoberta. Tony Curtis, nascido Bernard Schwartz, filho de judeus húngaros criado no Bronx, chegou a ir para um orfanato porque os pais não tinham como dar o que comer à família. Quanto Mais Quente Melhor, com suas piadas de duplo sentido e sua estrela seminua, foi um escândalo para a época ("Condenado", classificou a Liga da Decência da Igreja Católica). Na vida real, em Hollywood, as coisas eram bem mais explícitas. Curtis, hoje com 84 anos, à época uma beleza que rivalizava com a de Marilyn, resumiu assim o ambiente na cidade do cinema: "Quando cheguei lá, aos 22 anos, eu me tornei mais ativo que o Vesúvio – homens, mulheres, bichos. Eu adorava aquilo tudo". Durante a filmagem, ele e Marilyn, ambos casados, reataram um caso antigo. Ela engravidou e sofreu um aborto dois meses depois; Curtis afirma que o filho era dele. "O que tive com ela foi inesquecível", escreveu em sua autobiografia. Disso, pelo menos, ninguém duvida.

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