Saturday, March 27, 2010

Os prisioneiros de Chávez


O venezuelano mandou prender três homens cujo único crime
foi discordar do governo. Um dos presos é dono do último
canal de TV independente do país


Duda Teixeira

Fotos Yunio Lugo/Archivo Latino, Leonardo Ramírez /AP e Reuters
VÍTIMAS DO AUTORITARISMO
Zuloaga, dono da Globovisión, é detido no aeroporto (no destaque).
À direita, o ex-governador Oswaldo Paz: opinar é crime


Se ainda havia dúvidas de que o regime venezuelano já atingiu o estágio ditatorial, elas desapareceram na semana passada, quando o presidente Hugo Chávez mandou prender três opositores ao seu projeto autoritário. Na segunda-feira, Oswaldo Álvarez Paz, ex-governador do estado de Zulia, foi detido em Caracas. Ele havia comentado em um programa de televisão sobre as relações entre o presidente e os narcoguerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e os terroristas bascos do ETA. Na quinta-feira, foi a vez do deputado federal Wilmer Azuaje e do dono do canal de televisão Globovisión, Guillermo Zuloaga. Azuaje acusa a família do presidente de corrupção no estado de Barinas. Zuloaga, por sua vez, preside o único canal de TV que não se submeteu à mordaça chavista – todos os demais foram comprados, expropriados ou cooptados pelo regime. Em uma reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), realizada em Aruba, Zuloaga declarou: "Não se pode falar em liberdade de expressão em um país quando o governo usa a força para fechar os meios de comunicação". Chávez sen-tiu-se "ofendido e vilipendiado". Zuloaga foi detido quando embarcava para passar a Páscoa em uma ilha caribenha. Foi interrogado e solto algumas horas depois, mas permanece proibido de deixar o país.

A Venezuela tem quarenta presos de consciência. Entre eles estão jornalistas, políticos, militares e uma juíza, María Lourdes Afiuni, que determinou a libertação de um empresário detido, sem julgamento, por quase três anos. A repressão cresce à medida que a economia venezuelana afunda e as eleições legislativas se aproximam. Neste ano, a inflação deve chegar a 40%. O país vive apagões constantes e, para economizar eletricidade, Chávez decretou três dias de feriado. Nas eleições deste ano, o presidente corre o risco de perder a maioria na Assembleia Nacional – isso se ele não empastelar completamente as eleições, como tentou fazer das últimas vezes. Enquanto o pleito não chega, o caudilho impõe medo à população e censura o seu acesso a informações independentes. Com as prisões da semana passada, Chávez deixou claro do que é capaz



SEM TRÉGUA
Chávez: prisões para contornar a crise energética e popularidade em baixa

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