Saturday, March 20, 2010

Os chinelos foram só o começo


Com o lançamento de uma linha de tênis e sapatos fechados,
a Havaianas caminha para se consolidar como grife
internacional – pelo menos é esse o objetivo


Gabriella Sandoval

The Grosby Group
EM PÉS FAMOSOS
A atriz americana Megan Fox:
essa, sim, é de soltar as tiras


Depois de transformar suas modestas Havaianas em moda no mundo todo, a Alpargatas lança-se a uma nova empreitada: repetir o sucesso comercial do chinelo de dedo com os tênis Havaianas. O resultado, como se vê na página ao lado, é interessante. Bem coloridos, os tênis mantêm na sola e na palmilha a mesma borracha dos chinelos. No mês passado, a empresa enviou à Europa (e só para lá, por enquanto) os pares de estreia da sua linha de calçados fechados que inclui os tênis, batizada de Soul Collection. Além dos modelos de cano baixo e alto, há uma sapatilha e o bom e velho (e de gosto duvidoso) sapato de lona – na nova versão, com borracha no lugar da palmilha de corda. A iniciativa tem um viés sazonal. "Os tênis visam aos europeus, que, por motivos climáticos, só podem usar as sandálias durante quatro meses no ano", diz Carla Schmitzberger, diretora de negócios da unidade de sandálias da marca. Os modelos, à venda em magazines luxuosos como Harrods e Selfridges, em Londres, e Galerias Lafayette, em Paris, custam entre 28 e 55 euros (em torno de 68 a 133 reais). Os novos tênis e sapatos Havaianas estarão disponíveis no Brasil a partir de maio, com preços entre 50 e 75 reais. Eles serão vendidos na loja-conceito da marca em São Paulo até o fim do ano, quando a distribuição se estenderá às 82 franquias do país. No ano que vem, devem chegar aos Estados Unidos.

Com o lançamento dos sapatos fechados no exterior, a Havaianas caminha para se consolidar como grife internacional. Sua lista de produtos inclui, além dos chinelos de borracha, bolsas de lona, toalhas de algodão e meias. Essas últimas foram feitas para países gélidos, como Ucrânia e Canadá. Todos os itens da marca Havaianas são produzidos no Brasil. As sandálias são fabricadas em Campina Grande, na Paraíba, e respondem por 80% do mercado de chinelos de borracha no país. Elas representam ainda metade do faturamento de 2,4 bilhões de reais do grupo, que conta também com as marcas Topper, Mizuno, Rainha, Dupé e Timberland. Em 1999, quando as exportações em massa tiveram início, apenas 1,3% das sandálias seguia para outros países. No ano passado, 13% dos 190 milhões de pares que deixaram a fábrica tiveram como destino o mercado externo. Os chinelos de borracha estão presentes em oitenta países – os principais compradores são Austrália, Filipinas, Argentina, Estados Unidos, França, Itália e Espanha.

Fotos Divulgação
BOLSAS
Feitos de lona, os modelos lembram o design de certa marca italiana


Há nove anos a Alpargatas começou a arquitetar sua estratégia para vender as sandálias no mercado internacional. Depois de enfrentar uma crise no fim da década de 80, a empresa decidiu ampliar a linha, que por 32 anos se ancorou em um único modelo, aquele da palmilha branca com solado e tiras da mesma cor (quem viveu aquele período provavelmente lembra que era comum os surfistas inverterem o solado para ter o chinelo de uma cor só). A Alpargatas também aumentou o número de pontos de venda e partiu para um marketing agressivo – era preciso mostrar ao mundo o produto de um país reconhecido por sua moda praia, mas com poucas referências em qualidade e inovação. Em 2003, cada um dos indicados ao Oscar recebeu um par dos chinelos com cristais Swarovski. Um ano antes, a marca conseguiu incluir seus chinelos no desfile da coleção verão do estilista Jean Paul Gaultier. Desde 2007, a Alpargatas tem escritórios em Nova York e Madri, que concentram as operações e a distribuição dos produtos pelos continentes. "A partir dos anos 90, a Havaianas deixou o ciclo vicioso que privilegiava alto volume, baixo custo e pouco investimento. Desde então, ela não para de se reinventar", diz Carla Schmitzberger. Reinventar significa, no jargão empresarial, criar artifícios para manter uma marca vigorosa. Até aqui, ela tem conseguido.

MODELO ALPARGATAS
O sapato que foi moda nos anos 80 ressurge com sola de borracha no lugar da palmilha de corda


As Havaianas são um dos raros casos de produto nacional que ostenta a sua própria marca no exterior – não vendem apenas a matéria-prima ou o artigo que receberá a etiqueta de outra marca. Além disso, conseguiram fazer do "Made in Brazil" um sinônimo de qualidade. No caso das sandálias, associa-se o produto ao clima tropical e ao estereótipo dos brasileiros sempre divertidos e descontraídos. "Qualquer país poderia fazer um chinelo de borracha parecido, mas a marca conseguiu ser reconhecida como original", diz Alberto Serrentino, sócio da GS&MD – Gouvêa de Souza, uma das maiores empresas de consultoria em varejo e consumo do país. Nos últimos anos, nos Estados Unidos e na Europa, as sandálias ultrapassaram os limites da areia. Duas reportagens do The New York Times questionaram a conveniência de usá-las em ambientes de trabalho, hábito adotado por muitos americanos no verão. O melhor marketing é quando elas aparecem em pés famosos, como os das atrizes Lindsay Lohan e Megan Fox. Vieram, como era de esperar, as edições limitadíssimas. A joalheria H. Stern chegou a criar três pares com penas de ouro e diamantes. O preço: 52 000 reais.

CHINELO COM MEIA
Na Ucrânia e no Canadá a combinação é usada no inverno: a meia tem uma fenda única para o encaixe dos dedos


TÊNIS DE CANO ALTO
Há seis opções de cor: eles estarão à venda na loja-conceito da marca, em São Paulo, a partir de maio



Tiras de história

Inspiradas nas zori, as sandálias japonesas de tiras de tecido e solado de palha de arroz, as Havaianas foram lançadas no Brasil em 1962. Quase meio século depois, estão presentes em oitenta países. Atualmente, há mais de 500 combinações de estampas

Tradicional
Ano: 1962
Com o solado interno branco e tiras da mesma cor da sola (pretas, azuis, vermelhas ou amarelas), o chinelo de dedo conquistou rapidamente os consumidores das classes sociais mais baixas por causa do preço e da forma como era exposto – amontoado em caixas de papelão nas seções de produtos de limpeza das lojas. Na década de 70, a marca enfrentou as imitações com slogans como "As legítimas" e "Não deformam, não soltam as tiras e não têm cheiro". A primeira forma do chinelo resistiu ao tempo e ainda representa 30% das vendas da marca
Vendas de chinelos: 100 000 pares/ano

Top
Ano: 1994
Depois de reinarem sozinhas por 32 anos, as Havaianas tradicionais passaram a dividir as gôndolas com o modelo monocromático. Malu Mader e Luana Piovani estrelaram comerciais com o lema "Havaianas. Todo mundo usa". É o início da reversão de seis anos consecutivos de queda nas vendas
Vendas de chinelos: 75,2 milhões pares/ano


Copa
Ano: 1998
Em ano de Copa do Mundo, a Havaianas lançou um chinelo com uma pequena bandeira do Brasil na tira. Com a derrota para a França, o produto saiu de linha, mas logo voltou – agora com o nome Brasil – a pedido dos consumidores. Hoje, o modelo com a bandeirinha é um dos mais vendidos no exterior
Vendas de chinelos: 99,8 milhões pares/ano


Slim
Ano: 2006
A marca seguiu a moda das rasteirinhas e lançou um modelo bem feminino, com tiras mais finas e delicadas e solado baixo. Ele ganhou estampas metalizadas com listras e desenhos indianos
Vendas de chinelos: 162 milhões pares/ano

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