Saturday, March 20, 2010

O PT continua dando de ombros...


...e repete o mesmo erro visto no mensalão: ignora as evidências de que seu tesoureiro cobrava propina e decide mantê-lo no cargo


Diego Escosteguy

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Na noite da última terça-feira, o lobista e deputado cassado José Dirceu, acusado pela Procuradoria-Geral da República de comandar a "organização criminosa" do mensalão, réu no Supremo Tribunal Federal por corrupção ativa e formação de quadrilha, celebrou seus 64 anos numa alegre festa em Brasília. Dirceu, o perseguido, aproveitou a tertúlia para anunciar sua enigmática convicção de que será absolvido no STF – e propôs um brinde especial ao novo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, apontado como um dos operadores do mensalão petista e, também, como responsável por desfalques milionários na Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo, a Bancoop. "Vamos defender nossos amigos dessas denúncias infundadas", arengou o petista, observado de perto pelo presidente do Senado, José Sarney, e pelo senador Renan Calheiros, ambos do PMDB, políticos retos que, como Dirceu, conhecem bem esse tipo de "denúncia infundada". Até o outrora discreto chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, foi às falas: "Não vamos aceitar linchamento sem provas". O partido, portanto, está disposto a manter no cargo João Vaccari, o coletor de propina do mensalão junto aos fundos de pensão.

Sergio Castro/AE
NEM AÍ
O tesoureiro do PT, João Vaccari, não se deu ao trabalho de responder às denúncias

As declarações no convescote de Dirceu demonstram que o PT resolveu aplicar no caso de Vaccari a mesma tática belicosa que adota desde o começo do governo Lula sempre que surgem evidências de malfeitorias cometidas pelos companheiros. É uma estratégia rudimentar, na qual o partido se defende tão somente atacando os autores das denúncias – ou, ainda, o mensageiro delas: "a mídia golpista". Essa atitude prepotente, de deprezo aos demais protagonistas do jogo democrático, serve ao propósito político de interditar o debate e a validade de quaisquer investigações, ignorando, assim, a substância objetiva das provas apresentadas ao público. A nota divulgada pelo tesoureiro na semana passada – em resposta às revelações de VEJA sobre os depoimentos sigilosos do corretor Lúcio Funaro aos procuradores que investigam o mensalão – ratifica isso. Nela, lê-se apenas que as denúncias visam a "influenciar o processo eleitoral". Nada diz sobre os fatos. Ou seja, nega sem negar. Não nega que Vacca-ri recebeu o corretor e o deputado mensaleiro Valdemar Costa Neto na sede da Bancoop, no fim de 2004. Não nega que nesse encontro Vaccari explicou que, para fazer negócios nos fundos de pensão, era necessário pagar um pedágio ao PT. Não nega que, na conversa, Vaccari explicou que Funaro e Valdemar também deveriam pagar propina para participar dessas negociatas.


Ao desprezo pelos fatos seguiu-se a terceira linha de defesa do PT, na qual o partido procurou distanciar Vaccari do comitê da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Ele é tesoureiro do PT, mas não cuidará das finanças da campanha, asseguram os articuladores do partido. Bobagem. Nem distância física existe. O provável comitê de campanha de Dilma funcionará no mesmo prédio da sede do PT, em Brasília. A partir de abril, quando deixará a Casa Civil para dedicar-se exclusivamente à campanha, Dilma será funcionária do PT. Seu salário sairá dos cofres administrados por Vaccari. Ao menos cinco assessores dela deixarão a Casa Civil e passarão a receber pelo partido. A sigla também bancará, naturalmente, toda a estrutura da caminhada eleitoral de Dilma até julho, quando a campanha começará oficialmente e o comitê poderá arrecadar doações. O partido estima que gastará entre 5 e 8 milhões de reais nesse período de pré-campanha. Tudo com a assinatura de João Vaccari – o homem que pedia comissão a empresários, segundo depoimentos em poder da Procuradoria-Geral da República.

Apesar da soberba petista, a oposição conseguiu, na semana passada, apro-var a convocação de Vaccari para depor numa CPI do Senado. O tesoureiro deve aparecer no Congresso nesta terça-feira, mas não há esperança de que ele se disponha a dar explicações. O promotor José Carlos Blat, que coordena as investigações do caso Bancoop, também irá. O corretor Lúcio Funaro foi convidado, mas não pretende depor. Ele disse a amigos que só quer testemunhar caso Vaccari desminta seu depoimento. "Que-ro ver se ele tem coragem de ir para uma acareação comigo", desafiou Funaro. "O pessoal está tentando trazer 2005 para a eleição de 2010. Acho pouco eficaz", disse a ministra Dilma Rousseff. Por "pessoal", entenda-se adversários. Porém, ao eleger Vaccari como o novo tesoureiro do partido, foi o PT que levou o mensalão para o coração da campanha da ministra.

Fotos J.F. Diorio/AE e Cristiano Mariz
O INIMIGO MORA AO LADO
O lobista José Dirceu, que defendeu Vaccari, e a sede do PT em Brasília: o tesoureiro vai despachar
perto do comitê de Dilma

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