Alemanha para todos
Akin escolhe como protagonistas dois irmãos gregos (e vale lembrar que a beligerância entre turcos e gregos é acirrada). O adorável Zinos (Adam Bousdoukos) dirige um restaurante que serve comida péssima, mas que a clientela operária da região do porto prestigia. Espremido entre dívidas e problemas com a namorada - alemã loiríssima, sem que esse dado jamais entre em jogo -, ele arrisca contratar um cozinheiro cigano, competente, mas temperamental, e topar a ajuda do irmão Illias (Moritz Bleibtreu), um tolo trapaceiro. Azares e mais azares despencam sobre Zinos e Illias. E, entre eles, vários golpes de sorte também. Todos, de alguma forma, ligados à efervescência de uma cidade que parece ter parado de se incomodar com o ritmo em que vai mudando. Leve, divertido e não raro tocante, Soul Kitchen não é, porém, menos político que os filmes anteriores de Akin. É apenas mais otimista.Em Soul Kitchen, não faz diferença ser grego, turco - ou até alemão
Isabela BoscovEverett Collection/Grupo Keystone PORTO SEGURO
Os irmãos Zinos e Illias, em seu restaurante no porto de Hamburgo: uma cidade que muda, e não se incomoda
Alemão filho de turcos, o diretor Fatih Akin, de 36 anos, é autor de filmes tristes e contundentes - além de imensamente talentosos - sobre as ligações e desconexões que marcam suas próprias circunstâncias. Em Do Outro Lado, por exemplo, uma série de acontecimentos une um punhado de personagens na Turquia e na Alemanha. Mas nenhum deles se dará conta desses vínculos: creem-se, até o final, isolados. Em Contra a Parede, uma moça e um homem mais velho, ambos turcos que vivem na Alemanha, se casam porque o arranjo convém a cada um deles por diferentes razões. Eles nada têm em comum - exceto o fato de que tentam por todos os meios esquecer de onde vieram. Akin tem sempre voltado, assim, a uma realidade dura: a hostilidade de fundo étnico está tão entranhada nas culturas europeias que nem a força da necessidade (e os alemães, para ficar só nesse caso, muito necessitam dos imigrantes turcos) basta para dissipá-la ou atenuar seus efeitos sobre os hostilizados. Soul Kit-chen (Alemanha, 2009), portanto, é um alento: o novo filme de Akin, que estreia na próxima sexta-feira, não apenas é uma comédia, como trata de um santuário - a Hamburgo onde ele nasceu, e em partes da qual ser turco, grego, chinês ou alemão importa, claro, como dado cultural. Mas não como fator de divisão.Trailer