Saturday, March 13, 2010

Alemanha para todos


Em Soul Kitchen, não faz diferença ser grego, turco - ou até alemão


Isabela Boscov

Everett Collection/Grupo Keystone
PORTO SEGURO
Os irmãos Zinos e Illias, em seu restaurante no porto de Hamburgo: uma cidade que muda, e não se incomoda


Alemão filho de turcos, o diretor Fatih Akin, de 36 anos, é autor de filmes tristes e contundentes - além de imensamente talentosos - sobre as ligações e desconexões que marcam suas próprias circunstâncias. Em Do Outro Lado, por exemplo, uma série de acontecimentos une um punhado de personagens na Turquia e na Alemanha. Mas nenhum deles se dará conta desses vínculos: creem-se, até o final, isolados. Em Contra a Parede, uma moça e um homem mais velho, ambos turcos que vivem na Alemanha, se casam porque o arranjo convém a cada um deles por diferentes razões. Eles nada têm em comum - exceto o fato de que tentam por todos os meios esquecer de onde vieram. Akin tem sempre voltado, assim, a uma realidade dura: a hostilidade de fundo étnico está tão entranhada nas culturas europeias que nem a força da necessidade (e os alemães, para ficar só nesse caso, muito necessitam dos imigrantes turcos) basta para dissipá-la ou atenuar seus efeitos sobre os hostilizados. Soul Kit-chen (Alemanha, 2009), portanto, é um alento: o novo filme de Akin, que estreia na próxima sexta-feira, não apenas é uma comédia, como trata de um santuário - a Hamburgo onde ele nasceu, e em partes da qual ser turco, grego, chinês ou alemão importa, claro, como dado cultural. Mas não como fator de divisão.

Akin escolhe como protagonistas dois irmãos gregos (e vale lembrar que a beligerância entre turcos e gregos é acirrada). O adorável Zinos (Adam Bousdoukos) dirige um restaurante que serve comida péssima, mas que a clientela operária da região do porto prestigia. Espremido entre dívidas e problemas com a namorada - alemã loiríssima, sem que esse dado jamais entre em jogo -, ele arrisca contratar um cozinheiro cigano, competente, mas temperamental, e topar a ajuda do irmão Illias (Moritz Bleibtreu), um tolo trapaceiro. Azares e mais azares despencam sobre Zinos e Illias. E, entre eles, vários golpes de sorte também. Todos, de alguma forma, ligados à efervescência de uma cidade que parece ter parado de se incomodar com o ritmo em que vai mudando. Leve, divertido e não raro tocante, Soul Kitchen não é, porém, menos político que os filmes anteriores de Akin. É apenas mais otimista.


Trailer

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