Saturday, February 06, 2010

Um sucessor no horizonte


Único brasileiro a vencer um Grand Slam juvenil,
Tiago Fernandes segue os passos de Guga


Alexandre Salvador, de Camboriú

Laílson Santos
Tiago na academia: seis horas diárias
de treino


Desde a aposentadoria de Gustavo Kuerten, o Guga, os brasileiros não tinham uma conquista no tênis para comemorar. No sábado 30, finalmente surgiu a oportunidade: o alagoano Tiago Fernandes, de 17 anos, levantou a taça de campeão juvenil de um dos principais torneios do circuito mundial, o Grand Slam da Austrália. Tiago saltou da 25ª para a terceira posição no ranking juvenil e se tornou a grande promessa do tênis brasileiro. Não faltam convites para que comece imediatamente a jogar nos torneios profissionais. De volta ao Brasil, na semana passada, Tiago foi direto do aeroporto para a academia, na cidade de Camboriú, em Santa Catarina. Há dois anos, ele vive a dura rotina de seis horas diárias de treino exigida por Larri Passos, o mesmo técnico que acompanhou Guga das primeiras raquetadas ao tricampeonato de Roland Garros. Não é a única coincidência. O campeão juvenil também é agenciado pelo empresário de Guga.

O rigor do treinamento imposto por Larri Passos é folclórico no mundo do tênis. "Existem regrinhas básicas: viajar com a namorada, só depois de estar no Top 10. Quem se atrasa para o treino paga dez flexões por minuto", disse Tiago a VEJA. "Viajo de trinta a 35 semanas por ano. Não vejo meus pais desde o réveillon." O treinador também não aprova a exposição em redes sociais na internet e vigia de perto os passos de cada um dos 28 atletas que treinam em suas quadras. A casa do treinador, aliás, fica dentro da academia. Filho de uma família de classe média alta de Maceió, Tiago teve, no início, dificuldade para se adaptar ao sistema. "Aqui é o inferno. Nas primeiras semanas, ele devia querer matar a gente. Eu brincava que no jantar era melhor tirar as facas da mesa", diz Marcus Barbosa, o Bocão, técnico auxiliar de Larri e acompanhante de Tiago na maioria das viagens. Todo esse esforço tem um objetivo: criar um novo campeão, e não apenas outro Nicolás Pereira ou Marcelo Saliola, tenistas que brilharam no circuito juvenil mas fracassaram como profissionais.

"O grande problema do tênis juvenil é que a maioria dos garotos não está pronta para abandonar a adolescência", afirma Ricardo Acioly, ex-capitão do Brasil na Copa Davis. Ele acredita que esse não seja o caso de Tiago, que já mora longe dos pais e parece convicto de que o trabalho duro dá bons resultados. "No mundo do esporte de alto nível, a pressão sempre vai existir. Se o cara quer ser campeão, ele vai ter de saber lidar com isso", diz o tenista. Na maioria dos casos, a pressão é o reflexo das expectativas criadas pelo jovem atleta. "Nossa única preocupação é com o bem-estar dele. Se Tiago não quiser continuar a jogar, nós seremos os primeiros a apoiar a decisão dele", afirma a mãe dele, Edna Fernandes. Só o tempo dirá se ele suportará o treinamento e terá sucesso no tênis. Por enquanto, seguir o exemplo (e o treinador) de Guga já é uma bola vencedora.

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