Saturday, February 27, 2010

É melhor prevenir


O compulsório dos bancos subiu. Isso fortalece
o BC - mas também indica medo de inflação


Benedito Sverberi
Reportagem de Luís Guilherme Barrucho

Sergio Lima/Folha Imagem
COFRE REFORÇADO
Henrique Meirelles, presidente do BC: "Olhamos sempre para a frente"


O Banco Central anunciou na semana passada que aumentará, a partir de 22 de março, os recolhimentos compulsórios de alguns tipos de depósito (veja o quadro). Na prática, os bancos terão de entregar ao BC uma parcela maior dos recursos que recebem de seus clientes. O resultado será a retirada de 71 bilhões de reais da economia - quase três quartos de todo o dinheiro que havia sido liberado em 2008, quando houve o afrouxamento dessas mesmas regras por causa da crise global. A preocupação subjacente a essa medida é o risco de aumento da inflação. Moeda no sistema bancário, ou liquidez, é combustível para a economia: os bancos transformam depósitos em novos empréstimos, o que estimula famílias e empresas a consumir mais. O ambiente fica, assim, mais propício à alta dos preços. Ora, o país já dá sinais de que está a todo o vapor. A taxa de desemprego de janeiro (7,2%), por exemplo, foi a menor para esse mês desde que o IBGE começou a medi-la, em 2002. Tanto a inflação voltou a preocupar que bancos e consultorias ouvidos periodicamente pelo BC estimam que, medida pelo índice oficial, o IPCA, ela poderá encerrar 2010 em 4,86% - acima da meta estipulada pelo governo, de 4,50%. "A diminuição da liquidez causada por um compulsório maior ajuda a política monetária. Pode, inclusive, reduzir a alta dos juros, que, acreditamos, é inevitável neste ano", avalia o estrategista-chefe do WestLB, Roberto Padovani.

A taxa de juros continua sendo o principal instrumento do BC para controlar a inflação. O compulsório, como diz Padovani, apenas ajuda nessa tarefa. Sua função essencial, na verdade, é outra: dotar um banco central de recursos para agir em momentos de turbulência. Segundo o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, as discussões no Comitê de Basileia - fórum em que BCs do mundo todo propõem formas de aprofundar a solidez do sistema financeiro global - já têm um consenso: o compulsório é a ferramenta ideal para prover liquidez de emergência quando o dinheiro some da economia. O Brasil, como tem sido usual nos últimos anos, antecipou-se ao anúncio de novas regras. Os sinais de que a economia mundial ainda não está 100% saudável, como evidenciam as agruras de países como Grécia, Portugal e Irlanda, confirmam que a cautela é acertada. "O Banco Central não faz regulação olhando o espelho retrovisor. Nós olhamos sempre para a frente", diz Meirelles.


Blog Archive