Dores do crescimento
No excepcional Educação, uma menina quer romper com as limitações
dos seus 16 anos - e daquilo que os costumes de 1961 lhe impõem
Isabela Boscov
Everett Collection/Grupo Keystone |
SEMPRE TEREMOS PARIS Carey e Sarsgaard, em um fim de semana roubado: as dificuldades de ser jovem e de ser adulto |
Numa cultura como a de hoje, que almeja prolongar ao máximo - e não raro além do razoável - a adolescência, pode soar incompreensível que uma adolescente deseje ingressar quanto antes na vida adulta. Mas a protagonista de Educação (An Education, Inglaterra, 2009), a impaciente, inquieta e, claro, irrefletida Jenny, indignada com as limitações dos seus 16 anos e do ano de 1961, é um argumento dos mais persuasivos sobre as virtudes de crescer e aparecer. O excelente filme da diretora dinamarquesa Lone Scherfig, desde sexta-feira em cartaz no país, não a poupa das dores habituais do crescimento. Mas, no decorrer de uma levíssima hora e meia, demonstra que essas dores são pouco perto da satisfação de ser dono do próprio nariz. Desde que - e aí vai a contrapartida que é um dos temas centrais do filme - se aprenda para onde apontar o nariz.
Jenny (Carey Mulligan), filha única de um casal de classe média dos subúrbios de Londres, estuda para conseguir uma vaga na Universidade de Oxford e, com ela, um arremedo de independência - é quase inevitável que tenha de virar professora. Ou isso, ou o casamento, sem nenhum espaço entre os dois para seus sonhos com concertos, exposições, visitas a Paris e night clubs enfumaçados onde se ouve jazz. Jenny tanto perscruta esse caminho já determinado para ela que encontra uma chance de se evadir: um caso com o playboy David (Peter Sarsgaard), que tem o dobro de sua idade, profissão indefinida mas indubitavelmente escusa, um carro esporte e um casal de amigos bons vivants como ele. Da noite para o dia, a vida de Jenny vira uma sucessão de prazeres feéricos. Na qual, é evidente, algo mais sombrio pouco a pouco vai se insinuar.
Adaptado pelo escritor Nick Hornby de um artigo autobiográfico da jornalista Lynn Barber, o roteiro de Educação é, ou mereceria ser, um candidato imbatível ao Oscar deste ano. Em um ótimo recurso dramático, seus dois protagonistas transitam em sentidos opostos: ela quer crescer logo, ele quer regredir a uma inconsequência a que não tem mais direito. Do breve cruzamento dos dois, o filme tira um mundo de comentários perspicazes. Os mais gerais dizem respeito às respectivas dificuldades de ser jovem e ser adulto. Mas Educação, graças também às ótimas interpretações de Carey e Sarsgaard, é muito específico no que toca à importância da juventude - e no que diz respeito à necessidade de, quando chega a hora, sair dela. Jenny posa de adulta; mas só quando abre os olhos e enxerga como estava enganada - sobre tudo - é que de fato começa a virar gente grande. Crescer, enfim, dói mais do que ela imaginava. Mas é ainda melhor do que ela esperava.
Trailer |