Friday, February 12, 2010

A crise grega e o pesadelo que ronda o euro

Grécia abala a confiança no euro

A crise financeira expõe o desequilíbrio fiscal nas economias europeias
e arranha a credibilidade da moeda comum. Restaurar a confiança internacional
exigirá cortar gastos e recolocar as finanças públicas nos trilhos


Luís Guilherme Barrucho

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União Europeia inaugurou um novo patamar de integração política e econômica no globo. A cooperação entre seus países permitiria à região fazer frente a outras potências, como os Estados Unidos e o Japão, e, assim, assegurar o bem-estar social e a segurança de sua população. Com o passar dos anos, o bloco incorporou nações menos desenvolvidas do continente e instituiu uma moeda única, o euro, que atraiu investidores e chegou a ameaçar o domínio do dólar como reserva internacional de valor. Mas a crise financeira mundial fez emergir as fragilidades na estrutura econômica de algumas nações do bloco. À medida que a turbulência dos mercados se acentuou, veio à tona a irresponsabilidade fiscal de alguns países, sobretudo a Grécia. Diante do risco de que o déficit crescente no orçamento grego pudesse contaminar outros europeus com situação fiscal semelhante e pôr em xeque a confiabilidade do bloco, líderes regionais reuniram-se às pressas na semana passada. Ao fim do encontro, chegou-se a um acordo para ajudar a Grécia. Ainda que não tenha sido feita menção formal a um resgate financeiro, a reunião serviu para acalmar o temor dos investidores internacionais.

A condição para que os gregos recebam a ajuda é que eles apresentem um plano de ajuste orçamentário. Foi o que fez o ministro de Finanças, George Papaconstantinou, que propôs enxugar os gastos e reduzir o déficit fiscal para 3% do PIB, como determina o Tratado de Maas-tricht. Hoje, o rombo no orçamento é de 13% do PIB, um dos índices mais elevados do planeta (veja o quadro).As medidas de ajuste incluem o congelamento dos salários dos servidores públicos e o aumento da idade mínima para aposentadoria. Levar as reformas adiante terá um custo político: na semana passada, as ruas de Atenas foram tomadas por manifestantes, e os funcionários públicos entraram em greve. Afirma Carlos Langoni, da Fundação Getulio Vargas: "Economias pequenas se beneficiaram com a adoção do euro, mas tiveram de abdicar do controle de sua política monetária, que fica a cargo do Banco Central Europeu. Em um momento de crise, não podem aumentar os juros ou desvalorizar a sua moeda, o que dificulta a recuperação".

A Grécia, apesar de lidar com dificuldades maiores, não é o único país do bloco que precisa apertar o cinto. Analistas já criaram um acrônimo, o "Pigs", para designar as economias da zona do euro cujas finanças inspiram mais atenção: Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha. Para debelarem os ataques especulativos contra o euro e o alastramento da crise de confiança por todo o continente, a Inglaterra e a Suécia, países que não adotam a moeda única, chegaram a sugerir que a Grécia fosse socorrida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). A sugestão foi imediatamente rechaçada pela Alemanha e pela França. "O euro ainda não perdeu seu posto de moeda forte e confiável, mas será preciso construir uma estrutura institucional que permita intervenções de outros países quando necessário", disse a VEJA o economista Carlo Bastasin, do Peterson Institute, em Washington. Acima de tudo, os europeus terão de demonstrar seu compromisso com o rigor na administração das finanças públicas se quiserem que sua moeda única continue a representar uma alternativa em relação à dominância do dólar.

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