Friday, February 12, 2010

Carta ao Leitor

Mal de Parkinson

Uma reportagem desta edição de VEJA mostra que nada se expandiu tanto nos sete anos de governo Lula quanto a máquina estatal federal e seus privilégios. Com a economia crescendo zero em 2009 e estimando-se que a riqueza nacional suba 5% em 2010, Lula entregará a faixa ao sucessor com aumento médio anual do PIB de 3,7%. Em contraste, nos sete anos de seu governo até agora foram criados mais 150 000 cargos federais, uma elevação de quase 20%. Para efeito de comparação: o crescimento populacional do Brasil entre 2002 e 2009 foi de 12%. Um servidor do estado brasileiro ganha hoje, em média, o dobro de um trabalhador com cargo equivalente na iniciativa privada.

Topfoto/Grupo Keystone
Cyril Parkinson
dissecou as razões da burocracia: conquistar, manter e aumentar os próprios privilégios


Não existe um parâmetro universal para determinar, em qualquer momento histórico, se um país tem mais funcionários públicos do que efetivamente precisa. Isso depende de diversas circunstâncias. Mas uma burocracia que cresce e enriquece mais do que o país que a sustenta, como é o caso da brasileira, já constitui evidência bastante convincente de desequilíbrio.

Se antes o gordo estado brasileiro teimava em não caber no figurino do PIB, a situação agora se tornou um caso de obesidade mórbida. Ou talvez o diagnóstico mais correto seja um ataque agudo do mal de Parkinson. Não a notória doença cerebral degenerativa diagnosticada pelo médico James Parkinson em 1817, mas a moléstia do crescimento incontrolável das burocracias estatais descrita admiravelmente por outro inglês, Cyril Northcote Parkinson, em 1955. Seus principais sinais:

1) O número de funcionários deve crescer sempre, ainda que o trabalho seja o mesmo ou até diminua.

2) Qualquer tarefa deve ser expandida até ocupar todo o tempo destinado a ela.

3) Todo funcionário precisa de mais subordinados e menos rivais.

4) É dever de um funcionário criar problemas que só outro funcionário pode resolver.

5) O imposto cria a despesa, e não o contrário.

Que a campanha eleitoral de 2010 escape da maldição do debate falso sobre "estado mínimo" versus "estado máximo", para se concentrar na erradicação do mal de Parkinson da burocracia oficial e, assim, dar aos brasileiros que pagam toda essa farra a chance de ser servidos por um "estado eficiente". É pedir muito?

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