Trecho de A Senhora do Jogo, de Sidney Sheldon e Tilly Bagshawe PRÓLOGO AS MÃOS DE LEXI TEMPLETON tremiam enquanto lia a carta. Sentada na cama, vestida de noiva, no que um dia fora o quarto da sua bisavó, sua ágil mente estava a mil. Pense. Você não tem muito tempo. O que Kate Blackwell teria feito? Aos 41 anos, Lexi Templeton ainda era uma mulher bonita. O sedoso cabelo louro não tinha nenhum fio branco, e o corpo esbelto e pequeno não mostrava nenhum sinal da recente gravidez. Prometera a si mesma que recuperaria o corpo monumental antes do casamento. Queria fazer justiça ao vestido vintagede Monique Lhullier, um modelo coluna apertado da melhor renda marfim, quase branca. E fizera. Mais cedo, por volta de cem convidados reunidos em Cedar Hill House, a lendária propriedade da família Blackwell no Maine, prenderam a respiração quando Lexi Templeton apareceu no gramado de braço dado com seu pai. A bela e a fera. Peter Templeton, pai de Lexi, que já fora um renomado psiquiatra e um dos solteirões mais cobiçados de Nova York, agora era um homem velho. Frágil, arqueado por causa da idade e do sofrimento, Peter Templeton conduziu sua linda filha ao altar coberto de rosas. Ele pensou: agora eu posso ir. Agora posso ir me juntar à minha querida Alexandra. Nossa menininha finalmente está feliz. Ele estava certo. Lexi Templeton estava feliz. Sabia que estava deslumbrante. Estava se casando com o homem que amava, cercada pela família e pelos amigos. Só estava faltando uma pessoa. Essa pessoa nunca mais testemunharia nenhuma conquista de Lexi. Ele nunca mais se alegraria com outro de seus fracassos. A vida dele e a de Lexi estavam entrecruzadas desde que nasceram, como raízes de uma enorme árvore. Mas agora ele se fora, para nunca mais voltar. Apesar de tudo que tinha acontecido, Lexi sentia saudades dele. Você está me vendo, Max querido? Está assistindo? Agora, sente pena de mim? Por um momento, Lexi Templeton sentiu uma pontada de tristeza por causa da perda. Então, olhou para seu futuro marido, e todos os desgostos evaporaram. Hoje seria perfeito. O clichê. O conto de fadas. O dia mais feliz de sua vida. O presidente dos Estados Unidos não pôde vir ao casamento. Havia um pequeno conflito no Oriente Médio. Mas mandou um telegrama parabenizando-a, que o irmão de Lexi, Robbie, leu em voz alta quando os recém-casados cortaram o bolo. E todo o resto do mundo estava lá. Presidentes de indústrias, primeiros-ministros, reis, astros e estrelas do cinema. Como presidente da poderosa Kruger Brent Ltda., Lexi Templeton era uma celebridade norte-americana. Parecia uma rainha porque era uma rainha. Tinha tudo: indiscutível beleza, imensa fortuna e poder que se estendia aos quatro cantos do mundo. Agora, graças a seu novo marido, também tinha amor. Mas também tinha inimigos. Inimigos poderosos. Um dos quais estava determinado a destruí-la, mesmo do túmulo. Lexi leu a carta de novo. "Eu sei o que você fez. Eu sei de tudo." A teia estava se fechando. Lexi sentiu o medo revirar em seu estômago como leite estragado. Tem de haver um jeito de sair dessa. Sempre existe um jeito. Eu não vou para a prisão. Não vou perder a Kruger Brent. Não vou perder a minha família. Pense! Algumas horas antes, na recepção, o governador do Maine tinha feito um discurso sobre Lexi. "...uma mulher notável, de uma família notável. Todos conhecemos a coragem e a integridade de Lexi Templeton. Sua força, sua determinação, seu tino para os negócios, sua honestidade..." Honestidade? Se eles soubessem! " ...essas são as características da Lexi Templeton pública. Mas hoje estamos aqui para celebrar outra coisa. Uma alegria particular. Um amor particular. E um amor que aqueles de nós que conhecem Lexi sabem que ela muito merece." Lexi pensou: nenhum de vocês me conhece. Nem mesmo meu marido. Eu não "mereço" o amor dele. Mas batalhei por ele e o conquistei, e não vou deixar ninguém tirá-lo de mim. Muito menos você. Agora, a maioria dos convidados tinha ido embora. Robbie e seu acompanhante ainda estavam no andar de baixo. Assim como a filhinha de Lexi, Maxine, e a babá. A qualquer momento seu marido viria procurá-la. Estava na hora de partir para a lua de mel. Estava na hora... Lexi Templeton foi até a janela. Além dos perfeitos gramados de Cedar Hill House, podia ver os vários telhados brancos de Dark Harbor e, atrás deles, o mar escuro e sombrio. Nesta noite, as rebeldes águas pareciam ainda mais ameaçadoras. Estão esperando. Um dia, elas vão engolir toda a ilha. Uma grande onda virá e levará tudo. Como se nada disso jamais tivesse existido. Dois homens de terno saíram de seu carro e se aproximaram da guarita. Mesmo antes de eles mostrarem seus distintivos, Lexi sabia quem eram. Era exatamente como a carta dizia: "A polícia está a caminho. Você não tem como fugir, Alexandra. Não desta vez." Lágrimas encheram os olhos de Lexi. Podia ouvir a voz de sua tia Eve como se ainda estivesse viva, provocando-a, carregada de ódio. Ela estava certa? Era realmente isso? O final do jogo? Depois de todos os esforços de Lexi? Lembrou-se de um poema de Dylan Thomas que aprendera na escola: "Não entre tão depressa nessa noite escura. Ira, ira de encontro ao fenecer da alvura." Soltarei minha ira, com certeza. Não permitirei que aquela bruxa velha me vença sem lutar. Os policiais estavam atravessando o portão agora. Estavam quase na porta. Lexi Templeton respirou fundo e desceu para recebê-los. |