Saturday, January 16, 2010

Hebe Camargo enfrenta o câncer

Medicina

A luta de Hebe contra o câncer

Na semana passada, a apresentadora do SBT descobriu que tem um tumor raro. Ela reagiu com a força de sempre – e os novos medicamentos para a moléstia, mais eficientes e com menos efeitos colaterais, autorizam seu otimismo


Adriana Dias Lopes

Mário Rodrigues
PALAVRÃO E DETERMINAÇÃO
Hebe Camargo: ela quis começar a quimioterapia logo que soube do diagnóstico de câncer.
E não perdeu o apetite: no primeiro dia de tratamento, pediu que lhe levassem ao hospital
um polvo assado com alho

Na segunda-feira 11, às 20 horas, os médicos que estão tratando de Hebe Camargo entraram em seu quarto na Unidade de Terapia Semi-Intensiva do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para lhe dar uma notícia difícil: ela tem um câncer no peritônio, a membrana que reveste os órgãos das regiões pélvica e abdominal. Hebe, de 80 anos, reagiu com o vigor costumeiro. Disse um palavrão – e em seguida quis se informar sobre o tratamento. A equipe médica, coordenada pelo oncologista Sergio Simon e pelo cirurgião Antonio Luiz Macedo, deu detalhes da quimioterapia, e a paciente determinou: "Quero começar imediatamente". Hebe vem demonstrando o otimismo próprio de sua personalidade. E tem motivos para tanto: medicações que passaram a ser usadas no fim dos anos 90 aumentam a sobrevida para seu tipo de câncer em 80% dos casos – antes delas, o índice de resposta ao tratamento ficava em torno de 50%.

O câncer de Hebe – uma variedade rara, que afeta apenas cinco em cada 100 000 mulheres – tem o nome de carcinoma seroso papilífero primário de peritônio. Silencioso em suas fases iniciais, alastra-se rapidamente. Os primeiros sinais da moléstia – dores e inchaço do abdômen – foram sentidos por Hebe quando ela passava o réveillon em Miami. Na noite da virada de 2010, ela fez a ceia com um grupo de amigos brasileiros no restaurante Gotham Steak, instalado num hotel cinco-estrelas, o Fontainebleau, mas não aproveitou a festa. "A Hebe mal tocou nos assados. E, ao contrário do usual, não bebeu uma gota de álcool", diz um empresário e amigo presente. Nos dias seguintes, Hebe pediu ao sobrinho, Claudio Pessutti, seu companheiro de viagem, que a ajudasse a procurar um gastroenterologista assim que chegassem ao Brasil. De volta ao país, em 5 de janeiro, a apresentadora deu entrada no Hospital Albert Einstein para ser submetida a uma colonoscopia e a uma endoscopia, que descartaram qualquer doença no estômago ou no intestino.

No dia seguinte, uma tomografia identificou um aglomerado de nódulos na região pélvica e um acúmulo de líquido no peritônio. Aventou-se a hipótese de tumor no aparelho reprodutivo. No sábado 9, a apresentadora passou por uma cirurgia diagnóstica por laparoscopia. Durante o procedimento, que teve a duração de três horas, os médicos encontraram cerca de duas centenas de nódulos com até 0,5 centímetro espalhados por todo o peritônio. Vários desses nódulos foram retirados para biópsia. Os cirurgiões também extirparam o ovário e a trompa direitos (Hebe já não tinha útero, extraído há dez anos, quando foi afetado por miomas). Os exames revelaram que o tumor originou-se no peritônio e está restrito a ele.

Em sua forma típica, o carcinoma de Hebe acomete primariamente o ovário, para depois contaminar outros órgãos. O surgimento de um tumor similar no peritônio é raro, e se explica pelo fato de células do órgão reprodutor feminino migrarem para essa membrana ainda na fase de desenvolvimento do feto. O sintoma mais evidente do tumor é o inchaço abdominal. "Os nódulos perfuram a parede do peritônio. O líquido que circula por dentro da membrana escapa por esses microfuros e vai se acumulando", explica Fernando Maluf, oncologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Hebe estava com 6 litros de líquido acumulados, o equivalente a uma gestação de quatro meses.

O tratamento é o mesmo usado no caso de câncer de ovário. Consiste em seis sessões de quimioterapia, cada uma com duração de quatro a cinco horas. O intervalo entre elas é de 21 dias – tempo necessário para o sistema de defesa do organismo se recuperar do bombardeio. Os médicos consideram ainda a possibilidade de, ao fim das sessões, submeter a apresentadora a uma segunda cirurgia, para explorar a região e extrair nódulos que porventura não tenham sido eliminados. Os quimioterápicos utilizados – o paclitacel e a carboplatina – são eficazes em 80% dos casos. "O principal efeito colateral é a queda de cabelos, que afeta mais de 90% dos pacientes", diz Bernardo Garicochea, oncologista da PUC do Rio Grande do Sul. Mas enjoo, infecção e anemia – problemas que, com medicações anteriores, estavam quase sempre associados à quimioterapia – ocorrem em apenas 5% dos casos.

Hebe está reagindo bem ao tratamento. Durante a primeira sessão de quimioterapia, ocorrida no dia 13, sentiu fome e não teve dúvidas: pediu ao sobrinho que encomendasse no restaurante português A Bela Sintra, em São Paulo, um de seus pratos prediletos, o polvo à lagareira, um assado feito com alho laminado e guarnecido com batatas. É a mesma vitalidade que sempre transpareceu na carreira da apresentadora, que se confunde com a história da televisão e do showbiz no Brasil. Hoje no SBT de Silvio Santos, Hebe começou aos 11 anos, cantando em shows de calouro no rádio, e participou dos primórdios da televisão brasileira, na Tupi de Assis Chateaubriand. É uma das artistas mais queridas do país. Sua alta estava prevista para domingo 17.

Rádio Tupi
ESTRELA PRECOCE
Hebe Camargo canta em um programa de rádio, em 1945:
carreira sempre cheia de vitalidade


Com reportagem de Marcelo Marthe

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