Como viviam os primeiros europeus
Concentração Há um século já se sabe da existência dos povos da Europa antiga, mas apenas na década de 70 foram estudados os sítios arqueológicos que permitiram reconstituir sua história. As descobertas dos artefatos, no entanto, permaneceram ocultas pela Cortina de Ferro comunista até o início da década de 90. Mesmo após a queda do Muro de Berlim, os arqueólogos dos grandes centros mundiais de pesquisa tiveram dificuldade em investigar o assunto porque os estudos só haviam sido publicados em romeno, búlgaro e moldávio. "São línguas que poucas pessoas falam na Europa Ocidental. Esperamos que a exposição faça com que mais cientistas se interessem por esses povos e realizem pesquisas sobre eles", disse a VEJA a arqueóloga americana Jennifer Chi, curadora da mostra. Ainda há muito a descobrir a respeito dos povos da Europa antiga. Sabe-se que migraram de regiões onde hoje estão a Grécia e a Macedônia e que cultivavam trigo e cevada, além de criar gado bovino e ovelhas. Os grupos eram independentes e, provavelmente, falavam várias línguas. Mas mantinham um comércio ativo uns com os outros. Peças feitas de um tipo de conchaSpondylus, que existe apenas no Mar Egeu, foram encontradas na Polônia e são o registro arqueológico mais antigo de comércio a longa distância. Acredita-se que, na época, pulseiras e colares feitos com essas conchas fossem tão valiosos quanto os confeccionados com ouro e simbolizassem alto status social. A peça que mais causa sensação nos visitantes é a estatueta batizada de O Pensador, pela semelhança com a escultura homônima do francês Auguste Rodin (1840-1917). Entre os povos da Europa antiga, imagens masculinas eram raridade. Já as representações de mulheres são comuns. Os corpos estilizados eram vistos como símbolos femininos divinos que trariam fertilidade para os homens e para as terras. Como uma sociedade tão evoluída desapareceu do mapa permanece um mistério. Os historiadores apostam numa invasão de suas terras por guerreiros nômades vindos do norte e também em mudanças no clima da região que teriam inviabilizado a agricultura. Os estudos sobre as mais antigas civilizações da Europa, concordam os cientistas, estão apenas no início. A descoberta dos primeiros europeus
Há 7 000 anos, muito antes que gregos e romanos erguessem suas civilizações, povos que ocuparam o vale do Rio Danúbio alcançaram um notável desenvolvimento na organização social, na agricultura e no comércio
Laura MingFotos Marius Amarie
Estatueta batizada de O Pensador, pela semelhança com a de Rodin: uma das raras representações masculinas da cultura hamangia
Uma série de explorações arqueo-lógicas feitas no vale do Rio Danúbio, território hoje dividido entre a Romênia, a Bulgária e a Moldávia, trouxe à tona novidades surpreendentes sobre os povos da Antiguidade. Entre 5500 a.C. e 3500 a.C., aquele pedaço da Europa foi ocupado por populações com um estágio de desenvolvimento notável para o seu tempo. Elas eram organizadas socialmente, praticavam a agricultura e viviam em cidades que chegaram a ter 2 000 moradias, incluindo prédios de dois andares. Sabiam fundir e moldar o cobre – um grande avanço tecnológico para a época – e o ouro e mantinham relações comerciais entre si. Tudo isso milênios antes que os gregos e os romanos erigissem suas civilizações ou até mesmo que os egípcios construíssem suas pirâmides. Como não dominavam a escrita, não deixaram registros que nos informem como chamavam a si próprios. Os historiadores se referem a eles como os povos da Europa antiga e, para identificá-los, usam o nome atual das regiões que habitaram, como Hamangia, Cucuteni e Varna. Uma coleção de 250 objetos e obras de arte dos povos da Europa antiga pode ser vista até o fim de abril no Instituto para Estudos do Mundo Antigo da Universidade Nova York. Pela primeira vez, a maioria das peças deixa os museus dos países nos quais foram encontradas.Legado artístico
Escultura que reproduz prédio de dois andares (à esq.), vaso e figura feminina: os estudos sobre os povos da Europa antiga estão apenas no início