Saturday, January 16, 2010

Bandas disputam o mesmo nome

Música

A guerra dos clones

Bandas que viveram seu auge criativo há décadas acabam se dividindo
em várias versões. Nenhuma delas oferece mais do que saudosismo


Sérgio Martins

Ayrton Vignola/Folha Imagem
OUTRO TIJOLO NO MURO
Roger Waters, ex-Pink Floyd: ele perdeu judicialmente o nome da antiga banda. Mas ainda se agarra ao mesmo repertório

O grupo jamaicano The Wailers Band, que acompanhou o astro do reggae Bob Marley (1945-1981) por mais de uma década, se apresenta nesta semana no Rio e em São Paulo. O show inclui hits do cantor e compositor jamaicano, como No Woman, No Cry e I Shot the Sheriff. The Original Wailers iniciou sua turnê por dezoito cidades brasileiras na semana passada. Nos shows, toca hits de Bob Marley, como No Wo-man, No Cry e I Shot the Sheriff. Não, você não leu errado: existem dois The Wailers fazendo shows no Brasil. The Wailers Band tem à frente o baixista Aston Barrett, que tocou de fato com Marley. The Original Wailers é uma dissidência do grupo de Barrett, liderada pelos vocalistas e guitarristas Al Anderson e Junior Marvin. Eles tocaram menos tempo com Bob Marley, mas contam com a bênção de sua viúva, Rita (que assim se vingou do processo de décadas que Barrett moveu contra ela, sem sucesso, alegando ser coautor de várias canções de Bob Marley). "Nós somos os Wailers originais. O outro não passa de um tributo", diz Barrett. "Aston não liga para qualidade, só quer saber de dinheiro", devolve Marvin (como se as apresentações de seu grupo fossem de graça). Os dois Wailers juntos não valem meio Bob Marley. Como outras bandas históricas que se dividiram e multiplicaram, vivem de explorar o saudosismo dos fãs.

O nome de uma banda de sucesso é uma marca forte, um patrimônio que seus integrantes costumam disputar. Uma das brigas mais conhecidas se deu em torno da banda inglesa Pink Floyd, expoente do rock progressivo dos anos 70. Seu líder, o baixista Roger Waters, anunciou o fim da banda em 1983 – mas os outros três integrantes voltaram à estrada, com um disco novo, quatro anos depois. Roger Waters foi aos tribunais para reivindicar os direitos sobre o nome – e perdeu. O repertório de um show do Pink Floyd, porém, costuma ser quase indiscernível daquele que se ouve nas apresentações de seu ex-baixista. Waters especializou-se nos discos históricos de sua antiga banda: já fez um show baseado em The Dark Side of the Moon e neste ano deve apresentar a íntegra de The Wall no Brasil.

Regis Martin/Getty Images
METADE DE BOB MARLEY
Show da The Wailers Band: disputas com a viúva do ídolo
do reggae

A proliferação de bandas replicantes tem seu extremo cômico (ou melancólico, dependendo da perspectiva) em The Platters, conhecida por sucessos dos anos 50 como Only You e The Great Pretender. Já houve até quatro Platters, só dois com integrantes da melhor fase da banda, os cantores Sonny Turner e Herb Reed (que ganhou judicialmente o direito exclusivo de usar o nome). Os Beach Boys, dos anos 60, também passaram pelo milagre da replicação – sua surf music hoje é repisada cansativamente pela banda do cantor Mike Love, detentor do nome Beach Boys, pelo grupo de Brian Wilson, que compôs o grosso do repertório, e por uma contrafação montada pelo guitarrista Al Jardine e duas filhas de Wilson. Essa última estreou com o nome Beach Boys, Family & Friends, mas foi rebatizada como Al Jardine, Family & Friends depois que Mike Love ganhou um processo reivindicando o nome. Nenhum desses monstros da nostalgia apresenta o poder criativo das bandas originais. No mercado da nostalgia, o melhor que podem oferecer é o nome.

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