Sunday, November 29, 2009

Breve, claro, exato


Em Máximas de um País Mínimo, Reinaldo Azevedo, colunista
de VEJA.com, mostra que os consensos burros da política
brasileira podem ser desmontados em poucas e sucintas frases


Nelson Ascher

Lailson Santos
IGUARIAS DO PENSAMENTO
Reinaldo Azevedo: o rigor argumentativo de seus textos longos concentra-se de forma demolidora nos aforismos


A lógica é uma iguaria do pensamento. Mas há quem prefira comer capim", diz o jornalista Reinaldo Azevedo, colunista de VEJA.com, em Máximas de um País Mínimo (Record; 200 páginas; 34,90 reais), livro que reúne, alfabeticamente organizados por tópicos, trechos de seus artigos e ensaios. De fato, o que ele escreve se caracteriza pela transparência e rigor metodológicos. Reinaldo levanta os fatos, submete-os ao microscópio, coteja-os com outros, cita as fontes, compara intenções declaradas com resultados observáveis, faz as ressalvas necessárias e, só então, emite um juízo. Seu instrumento para tanto é a linguagem. Daí que o blog lhe seja um veículo particularmente apropriado, pois, apesar de preconcepções segundo as quais esse tipo de ferramenta nada admitiria além de observações curtas, telegráficas, é lá que ele pode desenvolver seus argumentos sem limitações artificiais de espaço. Na concentração da máxima ou aforismo, de outro lado, a prosa discursiva e a poesia se aproximam, e a análise se converte em síntese. A coletânea prova que, caso quisesse, o autor se daria igualmente bem valendo-se apenas dessa forma oracular, lacônica.

Principalmente de natureza política, os aforismos de Reinaldo Azevedo abordam os achaques do que ele batizou de "o país dos petralhas". Lula ("Se Lula não existisse, jamais seria inventado"), Celso Amorim ("o maior de todos os patetas menores"), Caetano Veloso, Chico Buarque, Edir Macedo, Marco Aurélio Garcia, Marilena Chauí e Tarso Genro estão entre seus alvos favoritos. Nem por isso o livro deixa de questionar e demolir consensos internacionais que, no Brasil, são endossados por petistas e demais esquerdistas: o culto a Obama, o presidente americano que já nasceu histórico (e que veio não para governar, mas para ser "modelo de estátua", segundo Reinaldo), a demonização de Israel, a apologia do terrorismo e de tiranos como Hugo Chávez ou Fidel Castro, o duvidoso aquecimento global antropogênico e a correção política.

Para funcionar, um aforismo deve ser breve, exato e claro. Seu recurso preferencial é o paradoxo, que evidencia uma contradição inerente ao assunto comentado. Atribui-se a Kafka - aliás, um grande aforista - a afirmação de que contra piadas não há argumentos. O mesmo vale para as máximas, pois sua contestação requer, não raro, réplicas extensas, e combater meia dúzia de palavras com 10 000 equivale, em contextos polêmicos, a uma admissão de derrota. Cumprindo essas exigências, as de Reinaldo são ainda mais difíceis de refutar, porque pressupõem raciocínios elaborados e remetem o leitor aos textos dos quais foram extraídas. Concentram o máximo no mínimo.

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