HORA DA VIRADA EDITORIAL O GLOBO 3/10/2009
Não era mesmo uma candidatura qualquer. Chicago — a grande surpresa, pela desclassificação ainda na primeira rodada de votação — seria a quinta cidade americana a hospedar os Jogos, na sua versão moderna, desde 1896; Tóquio, a segunda vez; Madri, a primeira, mas a Espanha já se beneficiara com Barcelona em 1992. Já a candidatura do Rio, como disse o presidente Lula, precisava ser entendida não apenas como uma candidatura em nome do Brasil, mas também como representante da América do Sul, excluída do circuito tradicional do maior evento esportivo do planeta — quase um monopólio das nações desenvolvidas, dispostas a fazer apenas raras concessões a Atenas, por razões históricas. Fora deste clube exclusivo, também sediaram jogos a Cidade do México (1968) e Sidney (Austrália), em 2000. Pode ser que a escolha do Rio guarde alguma semelhança com a de Seul, capital da Coreia do Sul, para os Jogos de 1988. À época, a Coreia se firmava como um dos “tigres” asiáticos, notabilizados pelo crescimento econômico a altas taxas, anos seguidos. E hoje o Brasil desponta como um dos Brics — sigla de Brasil, Rússia, Índia e China —, bloco que, muitos apostam, dominará parcela importante do PIB mundial nos próximos anos. No que se refere à China não há dúvidas; o mesmo com a Índia, até pelo tamanho da população. Quanto ao Brasil, são grandes as chances, mas a depender da maturidade dos próximos governos. É inegável que o protagonismo mundial do presidente Lula foi trunfochave na votação esmagadora obtida pela cidade sobre Madri, a segunda finalista. E por várias outras razões — a estabilidade econômica e política num continente em turbulência, por exemplo —, o Brasil está na moda, e o Rio — sua cara vista pelo mundo — seria páreo duro para Chicago, Tóquio e a capital espanhola. Em mais de 500 anos de história, o dia de ontem tem de entrar na crônica da cidade como um divisor de águas. Algo capaz de rivalizar com a chegada da família real portuguesa em 1808, em termos de poder de irradiação de benefícios inúmeros: na economia, na vida social, segurança, na política, na administração pública, entre outras áreas. Em termos de Olimpíadas propriamente ditas, pode-se saber o que não dá certo no estudo do caso de Atenas-2004, Jogos dos quais restaram estádios ociosos e prejuízos. Exemplo de perdas também é Montreal de 1976 — foram necessárias três décadas para amortizar os gastos —, assim como Barcelona, ao contrário, se constitui ícone de sucesso. Um dos sonhos cariocas para 2016 é ver acontecer no Porto e Centro da cidade a metamorfose ocorrida em região parecida da cidade espanhola. O próprio Pan-Americano de 2007 é didático sobre o que não fazer: investimentos subestimados, fiscalização precária ou inexistente, nenhuma obra importante de infraestrutura prometida no projeto executada e, como em Atenas de cinco anos atrás, equipamentos esportivos sem uso após o evento. Incluamse, ainda, neste passivo, erros técnicos na construção da Vila. São problemas os quais, em nenhuma hipótese, podem ocorrer nas Olimpíadas. Daí ser crucial começar, o mais cedo possível, a montagem de uma estrutura impecável de organização, planejamento, gerência. Toda permeada por uma cultura de extrema transparência na prestação de contas à sociedade, usando para isso inclusive a internet. O mesmo profissionalismo que o Comitê Olímpico Brasileiro e os governos carioca, fluminense e federal adotaram na montagem do lobby próRio, e na produção de uma eficiente apresentação aos delegados do Comitê Internacional — com uma mistura de emoção e objetividade na dose certa —, precisa ser mantido como regra em todo o enorme trabalho que há pela frente. Inevitáveis as análises sobre as implicações políticas da vitória. A imagem de Lula se fortalece ainda mais, dentro e fora do país; o governador Sérgio Cabral aparece como forte parceiro do Planalto e consolida o estilo de trabalho em dupla com o prefeito Eduardo Paes. Vale destacar o efeito prático do benefício para todos quando há um trabalho conjunto das três esferas administrativas — municipal, estadual e federal. Pelo passado de capital federal, o Rio é a cidade brasileira que mais padece quando essas esferas não se entendem — infelizmente, a regra de muitos anos; quebrada, ainda bem, agora. A responsabilidade dos administradores públicos e empresários privados que se envolverão no projeto Rio-2016 é reverter de vez o dramático processo de esvaziamento enfrentado pela região metropolitana carioca a partir de 1960, com a transferência da capital para Brasília. Nos últimos tempos, com a ampliação da produção e procura de petróleo no litoral fluminense, bem como a execução de grandes projetos industriais na região, a decadência acelerada do Rio de Janeiro foi contida. Mas ficaram sequelas na favelização, na criminalidade, no subemprego, na máquina pública de qualificação inferior à de outras cidades e estados. A organização, a realização e o legado que podem deixar as Olimpíadas representam uma oportunidade única, histórica, de o Rio se recuperar definitivamente, com implicações positivas óbvias para todo o país.
A TRANSFORMAÇÃO DE UMA CIDADE EDITORIAL JORNAL DO BRASIL 3/10/2009
DEPOIS DE TRÊS TENTATIVAS o Rio de Janeiro finalmente consegue ver concretizado o antigo sonho de entrar para a história como a primeira capital da América do Sul a receber os Jogos Olímpicos. A escolha dos delegados do COI em Copenhague, por 63 votos a 32, dados a Madri, é um carimbo indelével em uma campanha profissional em todos os aspectos e que, ao contrário das outras duas vezes em que disputamos, produziu um conjunto de propostas tão convincente quanto tecnicamente bem amarrado. A alegria que tomou conta da cidade com a escolha é manifestação genuína do carioca que ama o Rio com todos os seus defeitos e qualidades e que sonhava com o resgate da importância histórica da metrópole, reduzida desde a transferência da capital federal para Brasília. É o renascimento. E as palavras do medalhista de ouro Cesar Cielo, presente à cerimônia, completam o sentido do que significa ser uma cidade olímpica. Para o nadador, os Jogos são, acima de tudo, uma enorme oportunidade de gerar inclusão social através do esporte. Essa é a chave para o sucesso, e não será desperdiçada. A escolha do Rio coroa a atuação em defesa de um ideal de cidade como há muito não se via. Unidos, os governos federal, estadual e municipal aplicaram-se nos estudos, na amarração de um caderno de encargos que transmitisse aos eleitores sobretudo a disposição política de abraçar a causa, independentemente de questões locais. Que fosse capaz de dar a medida do conhecimento dos problemas e da capacitação técnica para enfrentálos. Que deixasse claro aos comissários do COI que não há retórica capaz de produzir resultados práticos, só o trabalho conjunto, ordenado e com foco absolutamente definido. É isso que uma Olimpíada exige: em troca da celebração dos ideais do esporte (Altius, Fortius, Tertius), os atletas devolvem ao povo um lugar melhor, mais moderno e com uma visão social muito diferente do que havia antes. Agora o relógio começará a correr ao contrário, descontando os prazos até o acendimento da pira olímpica. Temos desafios imensos a serem enfrentados, e a forma como foram exibidos na disputa deixa claro que os planos existem. Presidente, governador e prefeito já podem incluir nas próprias biografias esse feito histórico. Mas é preciso manter a disposição e passar do protocolo de intenções para a realidade. Transporte, segurança, educação, saneamento, saúde, entre outros itens, precisam ser imediatamente tratados não mais como prioridades locais ou regionais mas como preparação para a Olimpíada. Essa conjunção de esforços certamente só trará benefícios. Hoje é dia de festa. Com toda justiça. Afinal, o Rio derrotou os reis da Espanha e sua sisuda e rabugenta delegação e até mesmo o indiscutível carisma do casal Obama na defesa por Chicago. Vendo os filmes apresentados no evento, já se permitia uma torcida muito positiva: ao contrário dos concorrentes, a cidade muy leal que Estácio de Sá um dia fundou foi mostrada como um lugar de espaços amplos, tanto para deixar claro que abrigar os Jogos seria possível como para demonstrar que aqui todos são sempre bem-vindos, rivais ou não de candidatura. Para uma festa da qual todos são responsáveis e ganhadores. Vendo o Redentor onipresente, só mesmo como diz Gilberto Gil: “Salve o Rio de Janeiro, aquele abraço. Todo povo brasileiro, Aquele abraço!”.
O VAZAMENTO DA PROVA DO ENEM EDITORIAL O ESTADO DE S. PAULO 3/10/2009
Com a divulgação pelo jornal O Estado de S. Paulo do vazamento da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que seria realizada neste fim de semana por mais de 4,1 milhões de alunos em 1.826 cidades, o Ministério da Educação (MEC) adotou a única decisão cabível: cancelou a realização das provas. E, apesar de o ministro Fernando Haddad ter anunciado que o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) - o órgão responsável pelo Enem - irá trocar a prova viciada por uma prova substitutiva previamente elaborada, prometendo aplicá-la dentro de 45 dias, especialistas afirmam que, em face das gritantes falhas no esquema de segurança do MEC, a nova versão também poderia estar comprometida.
Os repórteres Renata Cafardo e Sérgio Pompeu tiveram acesso à prova do Enem no começo da noite da última quarta-feira. E, depois de examinarem cuidadosamente a parte relativa a linguagens e códigos, principalmente as questões que envolviam personagens de tiras de conhecidas histórias em quadrinhos, como Mafalda e o gato Garfield, versos de Gonçalves Dias e de Carlos Drummond de Andrade e o filme Touro Indomável, de Martin Scorsese, levaram os fatos delituosos ao conhecimento do ministro Haddad. Na madrugada da quinta-feira, o ministro e o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, reconheceram oficialmente o vazamento, cancelaram a realização da aprova e pediram à Polícia Federal a imediata abertura de inquérito criminal.
Aplicada desde 1998 e concebida para induzir ao aperfeiçoamento dos currículos do ensino médio e propiciar a democratização do acesso ao ensino superior, a prova do Enem é o maior exame simultâneo do País e a versão de 2009 é o mais concorrido de todos os mecanismos de avaliação do MEC. Isto porque, além de aferir o grau de conhecimento dos estudantes que terminam o ensino médio e de selecionar os bolsistas do ProUni, a partir deste ano o exame passou a valer para certificar a conclusão do ensino básico por pessoas com mais de 18 anos e a ser utilizado como vestibular unificado, em etapa única, para 24 das 55 universidades federais.
Até as maiores instituições de ensino superior do País, como a USP e a Unicamp, aceitam os resultados do Enem na composição da nota em seus processos seletivos. Por isso, mesmo sendo optativo, o Enem de 2009 teve o dobro do número de inscritos na prova do ano passado. Pelos levantamentos feitos pelo MEC e pelo Inep com base no último Censo Escolar da Educação Básica, o índice de inscrição no Enem já atinge cerca de 80% dos estudantes que estão na 3ª série da rede pública e privada de ensino médio.
Apesar da experiência já acumulada pelo Inep na aplicação do Enem, a prova de 2009, ao contrário do que ocorreu nos anos anteriores, começou a apresentar problemas desde que começou a ser elaborada. Quando o MEC propôs às universidades federais sua utilização como vestibular unificado, os pedagogos divergiram quanto ao conteúdo das questões, à abordagem pedagógica e aos critérios de correção da prova. Depois, o Inep estimulou as inscrições pela internet, mas o sistema de informática do MEC não estava preparado para atender à demanda. Em seguida, a greve da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT) prejudicou a entrega dos cartões de inscrição aos candidatos. A definição dos locais da prova também gerou problemas, pois muitos candidatos teriam de se deslocar para cidades distantes até 330 quilômetros de suas residências. Ao todo, o Inep recebeu 6 mil pedidos de estudantes para trocar o local da prova. Por fim, o MEC acabou montando um confuso e ineficiente sistema de informações aos alunos, recorrendo à internet, a "torpedos" por meio de celulares, a chamadas telefônicas convencionais e a cartas. E estas tiveram problemas de remessa, por erros primários da listagem de endereços, que, por razões inexplicadas, não ficou a cargo do Inep.
Na realidade, todas essas dificuldades apenas confirmam o que apontamos em diversos editoriais. No conteúdo, as profundas mudanças introduzidas no Enem de 2009 foram oportunas e merecem aplauso. Mas foram implementadas a toque de caixa, sem planejamento adequado, com o objetivo de usá-las como trunfo político a serviço de um projeto eleitoral. Tanto açodamento só podia resultar em confusão, coroada com o vazamento da prova.
GRANDE VITÓRIA, MAIOR DESAFIO EDITORIAL O ESTADO DE S. PAULO 3/10/2009
Sem dúvida foi uma grande vitória do Rio, do Brasil e da América do Sul. Mas é maior ainda o desafio de transformar a cidade do Rio de Janeiro, em apenas sete anos, naquilo que ela há muito deveria ser - e está tão longe de ser - em termos de infraestrutura urbana, de transportes, de habitação e, sobretudo, de segurança pública, para sediar os Jogos Olímpicos. Será difícil que a cidade consiga, mesmo com o formidável orçamento inicialmente previsto de R$ 28 bilhões, chegar a 2016 com a qualidade correspondente ao qualificativo de "maravilhosa", decorrente de sua imbatível beleza natural. O desperdício e o desastre orçamentário que foram os Jogos Pan-Americanos não justificariam esperanças nessa mudança. Mesmo assim, é de esperar que o compromisso mundial de sediar uma Olimpíada opere transformações profundas - inclusive no campo da ética pública.
Seria insensibilidade achar que a população de um país que sediará os Jogos Olímpicos não tenha motivo de justo orgulho pela projeção de sua imagem no mundo - especialmente nestes tempos de comunicação instantânea -, afora as oportunidades abertas nos campos do turismo, do esporte e da cultura. Neste último aspecto, aliás, os grandes espetáculos apresentados na abertura e no encerramento de determinadas Olimpíadas - como as de Moscou e a mais recente, de Pequim - têm se constituído em marco de exaltação das respectivas culturas nacionais.
As Olimpíadas modernas são a representação simbólica da busca de aperfeiçoamento da espécie humana, no que o desenvolvimento das habilidades no esporte se junta ao congraçamento entre os povos, por meio da competição elevada e pacífica. Assim é que se justificou o esforço dos governos dos países onde se situam as quatro cidades que se candidataram a sediar os Jogos Olímpicos de 2016 - Rio de Janeiro, Madri, Tóquio e Chicago - para convencer a maioria dos 106 delegados do Comitê Olímpico Internacional (COI) das razões e vantagens de cada uma delas.
É verdade que essa competição, travada em Copenhague pelos governantes dos "países candidatos" - presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama, rei Juan Carlos e primeiro-ministro Yukio Hatoyama -, nem sempre se mostrou muito olímpica. As articulações e conchavos com delegados - em que não faltaram críticas ácidas às cidades concorrentes -, assim como a defesa final que cada uma delas fez perante o COI, tiveram seu peso. Mas esse processo de seleção já se iniciara em março de 2007 e a reunião de ontem foi apenas o seu desfecho.
No processo de votação do COI, pelo sistema de eliminação, surpreendeu o fato de Chicago - por muitos considerada a favorita, especialmente depois da ida de Obama a Copenhague - ter sido a primeira eliminada. Com certeza deve ter pesado a falta de adesão da população da cidade norte-americana ao projeto de torná-la sede de uma Olimpíada, diferentemente do que ocorreu com as populações da cidades finalistas, Rio e Madri, que externaram seu entusiasmo com o projeto de abrigar os Jogos Olímpicos de 2016. O Rio, afinal, levou vantagem também pelo fato de ser a primeira cidade da América do Sul a poder sediar uma Olimpíada - enquanto na Espanha já houve a Olimpíada de Barcelona e a Europa sediará a próxima, em 2012, em Londres.
Certamente foi eficiente a defesa que foi feita da candidatura do Rio, associando-a aos dados positivos da recuperação econômica brasileira, em relação à crise econômica mundial. De certo também funcionou o tom emocional do discurso do presidente Lula, bem como a atuação de Pelé, que continua sendo o esportista mais prestigiado do mundo.
Agora, obtida essa tão significativa vitória, a sociedade brasileira - e, particularmente, a carioca - sabe que serão grandes as oportunidades propiciadas pelos investimentos públicos programados. Mas sabe também, especialmente pela lembrança dos Jogos Pan-Americanos, que grandes serão as oportunidades de desperdício e de desvio de dinheiro público. Então, só lhe resta mobilizar-se para exigir austeridade administrativa e transparência em todos os gastos governamentais destinados a preparar a cidade do Rio para os Jogos Olímpicos de 2016.
E que o Cristo Redentor proteja a Cidade Maravilhosa, "cheia de encantos mil"!
IMPORTAÇÃO E PRODUÇÃO NACIONAL EDITORIAL O ESTADO DE S. PAULO 3/10/2009
O resultado do comércio exterior em setembro tem aspectos surpreendentes. Registra o menor saldo da balança comercial (US$ 1, 33 bilhão) desde janeiro, embora as exportações pela média por dia útil apresentem pequeno aumento em relação ao mês anterior (0,3%), que foi totalmente esmagado pelo crescimento das importações (16,4%). Houve uma modificação substancial em relação aos meses anteriores, quando a queda das importações era superior à das exportações.
Mas o mais surpreendente foram as importações de petróleo, no valor de US$ 1,160 bilhão - um crescimento de 78,4% ante agosto. Trata-se de um aumento anormal, não explicado pela referência a setembro de 2008, quando a importação foi maior em razão do preço e do volume.
No entanto, a importação de petróleo bruto, que representa apenas 9,2% do total importado, não explica sozinha o crescimento das importações. Pela média por dia útil registra-se aumento de 20,2% das importações de bens de capital, de 8,2% das matérias-primas e bens intermediários, de 17,5% dos bens de consumo duráveis (dos quais 15,8% para automóveis) e de 10,4% dos bens não-duráveis.
Nessa evolução temos um retrato da economia brasileira. A valorização do real diante do dólar certamente estimulou as compras no exterior, mas foi essencialmente a política governamental de estímulo ao consumo que favoreceu o aumento das importações e facilitou as viagens de turismo. Se o governo tivesse privilegiado os investimentos, teria havido o aumento da importação de alguns bens de capital. Mas, tendo aumentado o salário do funcionalismo e concedido incentivos fiscais para automóveis e produtos da linha branca, houve um aumento das importações de bens intermediários e de bens de consumo duráveis.
A evolução da produção industrial de agosto, com aumento de 1,2% em termos dessazonalizados, já permitia prever uma elevação das importações em setembro. A produção de veículos automotores cresceu 3,2%, havendo necessidade de importar componentes. O mesmo ocorreu com os produtos da linha branca.
Com a ampliação da utilização da capacidade instalada e da produção, a indústria precisou aumentar as importações de bens de capital - que, no País, apresentaram crescimento de 0,4% da produção. O perigo é que a taxa cambial favorece a desnacionalização da indústria brasileira.
BUSCA DE PRIVILÉGIOS EDITORIAL FOLHA DE S. PAULO 3/10/2009
Servidores do Judiciário reagem contra jornada de oito horas diárias fixada pelo CNJ e querem unificar categoria no país A JORNADA de trabalho no Brasil foi estipulada pela Constituição em no máximo oito horas diárias e 44 horas semanais. Entre servidores do Judiciário em 18 unidades da Federação, porém, ela não passa de seis horas por dia. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu reduzir o privilégio, determinando a jornada de oito horas em todos os Tribunais de Justiça estaduais. Note-se que o CNJ preservou um resquício da regalia, ao conceder um total semanal de 40 horas. Apesar disso, já se arma a reação corporativa, com uma paralisação marcada para o dia 21. Sob a aparência de luta por direitos adquiridos, a categoria se agarra ao que em realidade são vantagens extorquidas. Quem paga a conta é o público. Ou arca com a piora inevitável do serviço, em resultado da jornada reduzida, ou custeia horas extras dos servidores. Na mesma resolução, o CNJ fixou um teto de dez horas adicionais por semana. A medida faz parte de uma pequena revolução gerencial que o conselho tenta imprimir ao pesado aparelho do Judiciário. Tardo e falho, ele não sai exatamente barato. Em 2008, seu funcionamento consumiu R$ 33,6 bilhões -R$ 31,1 bilhões dos quais em despesas com pessoal. Contam-se 293 mil funcionários nos tribunais federais, estaduais e trabalhistas. Com o esforço de racionalização e alterações nas normas processuais para diminuir o número de ações e recursos fúteis ou protelatórios, o Judiciário tem conseguido alguns ganhos de eficiência. Mesmo assim, no final de 2008 ainda havia mais de 44 milhões de casos pendentes de decisão. Decerto a responsabilidade pelo atraso não cabe só ao expediente camarada dos servidores. Mas também é inequívoco que o cumprimento da chamada Meta 2 do CNJ -julgar neste ano todos os processos distribuídos até dezembro de 2005- depende do empenho dos funcionários. Na "Carta dos Trabalhadores do Judiciário Nacional" em que prometem paralisar as cortes, 18 entidades sindicais do setor beiram o cinismo. "A carga horária de seis horas se revela mais adequada, aumentando comprovadamente a qualificação e a eficiência dos serviços prestados". Não satisfaz aos servidores manter o privilégio e assim prejudicar a expedição da Justiça. Está na sua mira abocanhar mais recursos por meio do velho expediente da equiparação salarial. Este é o fulcro da proposta de emenda constitucional nº 190, em tramitação na Câmara. Aprovada, ela autorizaria o Supremo Tribunal Federal a criar por lei complementar um Estatuto dos Servidores do Judiciário Nacional, abrindo caminho para unificar a categoria -e seus vencimentos- em todo o país.
DA FESTA AO TRABALHO EDITORIAL FOLHA DE S. PAULO 3/10/2009
FOI , sem dúvida, um momento histórico para o Rio de Janeiro, cidade enfim escolhida, em sua terceira tentativa, para sediar a Olimpíada. Entretanto, tão logo se encerrem as justas comemorações e os discursos, os três níveis de governo e o Comitê Olímpico Brasileiro precisam planejar como transformar em realidade as grandes promessas que convenceram os jurados na Dinamarca -e desbancaram concorrentes do porte de Chicago, Tóquio e Madri. São mais de 2.400 dias até o começo dos Jogos, em 2016 -parece muito, mas não é. O Brasil jamais realizou um evento com essa complexidade e magnitude. Para que obtenha sucesso, será necessário que a "cartolagem" brasileira supere o amadorismo que a tem caracterizado. Expandir a hotelaria na capital fluminense é um dos desafios. Hoje a cidade possui cerca de 22 mil leitos, quando a exigência do Comitê Olímpico Internacional é que atinja no mínimo 40.000. Apesar de gigantesco, o deficit de vagas pode ser plenamente preenchido pela iniciativa privada ao longo dos anos. Para tanto, é preciso um plano que incentive o turismo no Rio, a fim de garantir a ocupação dessa rede hoteleira ampliada mesmo após o fim da Olimpíada. A realização dos Jogos, além disso, deveria ser encarada como motivador para atacar, no Rio, as diversas causas da violência urbana. Não basta coordenar um esquema eficiente de segurança, como foi feito nos Jogos Pan-americanos em 2007, apenas para que os visitantes se sintam confortáveis na cidade durante o evento esportivo. A forte redução dos índices de delitos deveria ser um legado definitivo para a população carioca. O Pan constitui modelo a ser evitado em termos de planejamento orçamentário e execução das obras. Houve superfaturamento e abandono de equipamentos construídos a peso de ouro. Na Olimpíada de 2016, planeja-se investir cerca de R$ 26 bilhões, pelo menos seis vezes mais do que se gastou nos jogos continentais. Mais do que nunca, controle e prestação criteriosa de contas serão aspectos decisivos para o sucesso dessa megaempreitada.
REALIDADE OLÍMPICA EDITORIAL A GAZETA (ES) 3/10/2009
O Brasil já conquistou a medalha mais cobiçada da Olimpíada de 2016. Trata-se do privilégio indivisível de sediá-la. Ontem, em Copenhague, quando o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, abriu o envelope com os cinco anéis olímpicos e anunciou a vitória do Rio, estava sendo quebrado um tabu. É a primeira vez que a América do Sul é eleita sede do maior evento esportivo do planeta.
Tem sabor de materialização de um sonho o direito adquirido pelo Rio de sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. E não é obra do acaso. Nem um presente por deliberação generosa dos deuses dos esportes. É um triunfo com méritos. O Rio superou três rivais do G8: Madri, Tóquio e Chicago.
Não deu zebra nesse jogo. O Rio era considerado favorito pela qualidade do projeto que apresentou para atrair os jogos olímpicos. Demonstrou melhor capacidade de planejamento. Além disso, a comitiva brasileira soube agregar valor emocional ao plano apresentado. Falou alto a paixão brasileira pelo esporte. Foi a cartada final para convencer o Comitê Olímpico Internacional a escolher o Rio de Janeiro.
A vitória brasileira proclamada em Copenhague começou a ser construída há anos. Enfrentou duas tentativas frustradas para os jogos de 2004 e 2012. Mas o insucesso na eleição para 2012 preparou o Rio para vencer o pleito para 2016 na avaliação dos dirigentes do COI (Comitê Olímpico Internacional) e do COB (Comitê Olímpico Brasileiro). Os Jogos Panamericanos realizados no Rio em 2007 também deixaram lições, embora a estrutura exigida para aquele evento seja menos complexa do que para uma olimpíada.
Um dos méritos notórios do projeto brasileiro para 2016 foi a união de forças. As três esferas de governo atuaram em fina sincronia. Além disso, na composição da comitiva brasileira à Dinamarca estavam o presidente da República, um rol de astros esportivos como Pelé, Guga, Cesar Cielo e Torben Grael, outras personalidades, entre elas o escritor Paulo Coelho – deixando claro o interesse do país.
Há a percepção que a vitória do Rio foi ajudada pelo olhar positivo do mundo sobre o Brasil. A ascensão do conceito do país ultrapassa a arena dos esportes. Está presente nos campos social e econômico. É o caso do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), em constante processo evolutivo, do avanço dos indicadores educacionais e da melhoria do perfil da divisão da renda.
A solidez dos fundamentos da economia brasileira tem o reconhecimento da comunidade internacional, até porque o Brasil é um dos primeiros países a sair do quadro da crise. Tudo isso tem feito o Brasil crescer em credibilidade, o que certamente influenciou na sua escolha para sediar a Olimpíada de 2016.
Faltam mais de 2.400 dias para a cerimônia de abertura da Olimpíada de 2016 no Maracanã, e o grande desafio nesse prazo é construir condições para tirar proveito do megaevento. É óbvio que o turismo e diversos segmentos de produtos terão leque amplo e diversificado de negócios. Os investimentos previstos são vultosos e, por certo, trarão benefícios a toda a sociedade. Porém, o uso de recursos públicos requer vigilância rigorosa. Já se tem a experiência de suposto superfaturamento dos Jogos Panamericanos em 2007.
Além do mais, há que se aproveitar a Olimpíada para implementar uma cultura de esporte amador, com sólida estrutura de formação e apoio a atletas no país.
HONRA OLÍMPICA EDITORIAL ESTADO DE MINAS 3/10/2009
Com a Olimpíada, o Brasil passa a ser protagonista no cenário internacional
Com a honra de sediar os Jogos de 2016, Brasil e Rio de Janeiro trazem de Copenhague, depois da vitória de ontem sobre Chicago (EUA), Tóquio (Japão) e Madri (Espanha), um desafio olímpico para um país e uma cidade que sequer têm política esportiva que mereça tal denominação. Desde a Copa do Mundo de 1950, a experiência nacional em evento do gênero foi o Pan de 2007, também na capital fluminense. Longe de ter sido um fracasso, tampouco foi um sucesso completo. Fora os atropelos de última hora – a maratona para que a infraestrutura e os equipamentos estivessem a postos na largada –, a capacidade de organização restou aprovada. Mas ficaram dúvidas sobre mau uso de verbas públicas, sejam desvios ou superfaturamentos, e pelo menos duas das mais preciosas joias então entregues aos cariocas, o Parque Aquático Maria Lenk e o estádio do Engenhão, estão subutilizadas.
Ao ser aprovado em 2002, o Pan-Rio estava orçado em US$ 128 milhões. Custou cerca de 500% mais. As Olimpíadas de 2016, que aproveitarão a estrutura montada para 2007, têm previsão inicial de gastos de US$ 26 bilhões. Cerca de 80% devem sair dos cofres públicos. Parte do investimento será destinado a obras que precisariam ser realizadas independentemente de o Rio sediar o acontecimento mundial. Algumas inclusive constam do Plano Diretor da cidade, como a ampliação do Aeroporto Internacional Tom Jobim. Outras integram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Há que considerar ainda a geração de emprego e renda nos próximos sete anos e até para depois de encerradas as disputas esportivas.
O anúncio da escolha do Rio de Janeiro abriu chance sem precedentes para a Cidade Maravilhosa potencializar sua vocação turística e esportiva. Favoreceram a escolha os fatos de a América do Sul jamais ter sediado as Olimpíadas, as belezas naturais da principal porta de entrada do país, o bem elaborado projeto apresentado ao Comitê Olímpico Internacional (COI), o extremo comprometimento das autoridades dos três níveis de governo, a aprovação da população local em percentual acima dos 80% e, sem dúvida, a condição singular que o Brasil desfruta no momento, de potência emergente mundial. Somados esses fatores e eliminadas as propostas de Chicago e Tóquio, o Rio deu uma goleada em Madri: 66 votos a 32. Mas precisa, ao fim e ao cabo, dar conta da responsabilidade sem produzir rombos, desvios financeiros e elefantes brancos.
Ao defender a candidatura nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que “não temos mais o complexo de cidadãos de segunda categoria”. De fato, o Brasil começa a deixar para trás o papel de país dependente para pontuar como protagonista no cenário internacional. As Olimpíadas 2016 são um instrumento a mais a favor dessa virada. Antes, haverá os Jogos Mundiais Militares no ano que vem, evento de porte equivalente ao Pan e que também terá o Rio como cenário, e a Copa do Mundo de 2014. É imperativo que o país elabore e ponha em ação, desde já, uma política esportiva efetiva. Hoje, até o futebol, paixão que mobiliza a pátria de norte a sul, leste a oeste, sobrevive amparado na muleta do Estado, enquanto ajuda a movimentar bilhões de dólares e euros mundo afora, com a exportação de atletas.
HONRA E DEVER OLÍMPICOS EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE 3/10/2009
Com a honra de sediar os Jogos de 2016, Brasil e Rio de Janeiro trazem de Copenhague, depois da vitória de ontem sobre Chicago (EUA), Tóquio (Japão) e Madri (Espanha), um desafio olímpico para um país e uma cidade que nem sequer têm política esportiva que mereça tal denominação. Desde a Copa do Mundo de 1950, a experiência nacional em evento do gênero foi o Pan de 2007, também na capital fluminense. Longe de ter sido um fracasso, tampouco foi um sucesso completo. Fora os atropelos de última hora — a maratona para que a infraestrutura e os equipamentos estivessem a postos na largada —, a capacidade de organização restou aprovada. Mas ficaram dúvidas sobre mau uso de verbas públicas, sejam desvios ou superfaturamentos, e pelo menos duas das mais preciosas joias então entregues aos cariocas, o Parque Aquático Maria Lenk e o estádio do Engenhão, estão subutilizados.
Ao ser aprovado em 2002, o Pan-Rio estava orçado em US$ 128 milhões. Custou cerca de 500% mais. As Olimpíadas de 2016, que aproveitarão a estrutura montada para 2007, têm previsão inicial de gastos de US$ 26 bilhões. Cerca de 80% devem sair dos cofres públicos. Parte do investimento será destinado a obras que precisariam ser realizadas independentemente de o Rio sediar o acontecimento mundial. Algumas inclusive constam no Plano Diretor da cidade, como a ampliação do Aeroporto Internacional Tom Jobim. Outras integram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). São ganhos permanentes que agora recebem incentivo fundamental para que beneficiem a sociedade em tempo certo. Há que considerar ainda a geração de emprego e renda nos próximos sete anos e até para depois de encerradas as disputas esportivas.
O anúncio da escolha do Rio de Janeiro abriu chance sem precedentes para a Cidade Maravilhosa potencializar sua vocação turística e esportiva. Favoreceram a escolha os fatos de a América do Sul jamais ter sediado as Olimpíadas, as belezas naturais da principal porta de entrada do país, o bem elaborado projeto apresentado ao Comitê Olímpico Internacional, o extremo comprometimento das autoridades dos três níveis de governo, a aprovação da população local em percentual acima dos 80% e, sem dúvida, a condição singular que o Brasil desfruta no momento, de potência emergente mundial. Somados esses fatores e eliminadas as propostas de Chicago e Tóquio, o Rio deu uma goleada em Madri: 66 votos a 32. Mas precisa, ao fim e ao cabo, dar conta da responsabilidade sem produzir rombos, desvios financeiros e elefantes brancos
Ao defender a candidatura nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que “não temos mais o complexo de cidadãos de segunda categoria”. Ele se deu ao luxo de brincar com o slogan de campanha do colega norte-americano, Barack Obama: “Sim, nós podemos”. De fato, o Brasil começa a deixar para trás o papel de país dependente para pontuar como protagonista no cenário internacional. As Olimpíadas 2016 são um instrumento a mais a favor dessa virada. Antes, haverá os Jogos Mundiais Militares no ano que vem, evento de porte equivalente ao Pan e que também terá o Rio como cenário, e a Copa do Mundo de 2014. A autoestima do brasileiro tem aí degraus a escalar. Contudo, é imperativo que o país elabore e ponha em ação, desde já, uma política esportiva efetiva. Hoje, até o futebol, paixão que mobiliza a pátria de norte a sul, leste a oeste, sobrevive amparado na muleta do Estado, enquanto ajuda a movimentar bilhões de dólares e euros mundo afora, com a exportação de atletas.
O EFEITO RIO EDITORIAL DIÁRIO DE CUIABÁ (MT) 3/10/2009
Esporte não é ciência exata. É mais que isso. É arte, é genialidade, é criatividade e acima de tudo é vida. Em nome desses predicados o Rio de Janeiro de encantos mil venceu Madrid, Tóquio e Chicago na disputa pela sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Ao contrário do esporte, a preparação para a prática esportiva tem que ser exata, precisa, sem margem de erro. Mais que uma passada, esse será um grande desafio que o Rio terá pela frente, para que a sua seja a maior e melhor Olimpíada de todos os tempos.O Rio tem problemas estruturais, além de ser cenário de uma violência que se parece com guerra civil, mas a motivação para a Olimpíada será suficientemente forte para que a Cidade Maravilhosa se estruture e reduza o índice de criminalidade para os chamados “níveis suportáveis”.
Desde agora o Rio é convergência nacional. Governos federal, estadual e municipal, juntamente com os diversos setores econômicos e segmentos sociais estão de mãos dadas pelo espírito olímpico.
O resultado em Copenhague não foi vitória exclusiva do Rio. O Brasil em peso está em festa e se sente vencedor. Derrotar Madri significou a conquista de uma medalha de ouro coletiva, e nesse contexto Cuiabá também está no imaginário alto do pódio junto com cariocas, nordestinos, sulistas, junto com a alma brasileira em festa.
A vitória do Rio terá efeito cascata nas cidades que serão subsedes do Mundial da Fifa de 2012. À força mágica do futebol bretão se junta o encanto do esporte especializado e essa união sacudirá o governo federal para a realidade de investimentos em obras físicas nos locais onde a bola rolará pela Copa do Mundo de 2012.
A realidade é que até então Cuiabá enfrenta uma absurda barreira – comum à demais subsedes – imposta pelo governo federal, que não se mostra disposto a liberar os recursos necessários à realização da Copa do Pantanal. Certamente que a vitória do Rio fará o presidente Lula da Silva rever o enfoque que sua área econômica dá ao Mundial.
O bom vento que sopra sobre o Rio é o melhor que Cuiabá poderia esperar para se estruturar para a Copa do Pantanal. Seria absurdo imaginar que o Brasil da Olimpíada de 2016 se daria ao luxo de chegar àqueles jogos carregando a pecha da incapacidade de promover o Mundial do esporte que domina desde 1958, quando conquistou sua primeira Copa do Mundo, e que se tornou uma espécie de paixão nacional.
Inspirada na vitória do Rio e na disposição do poder público em investir na Olimpíada de 2016, o governador Blairo Maggi e o presidente da Agecopa, Adilton Sachetti, terão que exigir isonomia federativa no trato das reivindicações cuiabanas. Para que o esporte seja efetivamente agente de desenvolvimento será preciso preparar o Brasil para 2014 e 2016 para que alcancemos a dobradinha gol de ouro.
“O bom vento que sopra sobre o Rio é o melhor que Cuiabá poderia esperar”
AO SABOR DO TEMPO EDITORIAL GAZETA DO POVO (PR) 3/10/2009
Governo anuncia medidas para ajudar na recuperação de estados atingidos por inundações; presidente visita áreas castigadas pelas chuvas; zoneamento do Vale do Itajaí poderia ter evitado tragédia, diz especialista. Esses são alguns dos títulos do vasto noticiário sobre os problemas causados por desastres naturais no país, mas o detalhe é que se referem a episódios do ano passado. Alguns deles, inclusive, previsíveis desdobramentos de tormentos e pesadelos anteriores. Essa terrível “atualidade” de notícias passadas ou até mesmo antigas reforça o descompasso entre planos, investimentos e projetos anunciados com a sua aplicação afetiva. Com as recentes chuvas, muitos problemas ocorreriam de uma maneira ou outra, certamente, mas grande parte poderia ser evitada, contornada ou minimizada. Mais lógico e evidente, no entanto, é que pouco tem sido feito para que as cidades se antecipem aos problemas. Por causa disso, como já foi demonstrado, investe-se mais em reparos após desastres naturais do que na prevenção de fenômenos perfeitamente previsíveis – e o caso do Vale do Itajaí é um claro exemplo disso. A inversão dessa conta poderia resultar em economia de recursos – e, principalmente, na preservação de vidas. Levantamento da ONG Contas Abertas, publicado recentemente pela Gazeta do Povo, mostra que, do orçamento previsto para a preparação e prevenção de desastres naturais, o governo federal investiu apenas 15%. De uma verba inicial de R$ 546 milhões, somente R$ 82 milhões tiveram o destino previsto. Diante de enchentes e desmoronamentos, o quadro mostra que se gasta mais depois do que antes de o problema acontecer. Até setembro deste ano, por exemplo, foi aplicada uma verba R$ 1,3 bilhão com as vítimas das calamidades, número quase 15 vezes maior que o aplicado em obras e outras iniciativas, como a de conscientização, visando enfrentar a fúria da natureza. A discrepância também se dá quando se compara o total destinado aos estados. No caso do Paraná, houve repasse de R$ 621 mil para ações preventivas e R$ 1,4 milhão para responder aos desastres. E Santa Catarina teve um orçamento dez vezes maior para a resposta do que para a prevenção: R$ 241 milhões contra R$ 2,5 milhões. Para especialistas, a grande incoerência apontada é que os investimentos em prevenção são mais baratos. Nessa empreitada entram ações como mobilização dos moradores, avisos de utilidade pública, capacitação e estruturação da Defesa Civil, apoio a obras e gerenciamento de risco. Na resposta aos desastres estão o apoio financeiro, recuperação de danos e restabelecimento da normalidade no menor prazo possível. Não se trata de desafios que persistem em algumas regiões, bastando ver a situação de alguns estados do Norte e Nordeste, onde nunca houve investimento na prevenção, caso do Maranhão e do Pará, áreas duramente afetadas por enchentes no primeiro semestre do ano. O primeiro não recebeu nada e, o segundo, a irrisória quantia R$ 2 mil. Os estados do Piauí e Roraima juntos tiveram quase R$ 300 milhões para usar depois de consumados os desastres. Para o geólogo Renato Lima, diretor do Centro de Apoio Científico em Desastres da UFPR (Cenacid), é falsa a ideia de que o país não é atingido por fenômenos naturais extremos. Daí ser preciso mudar essa cultura e investir em pesquisas científicas para que o país possa melhor conhecer as suas vulnerabilidades.
RIO, 2016 EDITORIAL GAZETA DO POVO (PR) 3/9/2009
As comemorações ainda vão durar um bom tempo. São justas e procedentes, até porque a vitória do Brasil na escolha da sede para os Jogos Olimpícos de 2016 não é apenas nossa, mas de toda a América do Sul, que, pela primeira vez terá uma cidade como sede. Para os responsáveis pela candidatura, o Rio de Janeiro é o palco ideal para o evento. Não pode ficar em segundo plano, a concentração de esforços para fazer da competição no Rio “os melhores jogos já realizados no mundo”, conforme deseja o ministro dos Esportes, Orlando Silva. O país já tem um considerável know-how em matéria de grandes eventos esportivos internacionais: o Pan de 2007, por exemplo, foi considerado o melhor da história. E vem aí a Copa de 2014. A decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI), que poderia ter escolhido Chicago, Madri ou Tóquio, diz muito. Estudos indicam que os jogos vão representar um impacto de R$ 90 bilhões na economia brasileira. E a previsão é de que 97% dos investimentos vão voltar aos cofres públicos sob a forma de impostos. Não basta, porém, o entusiasmo. É preciso ir a fundo e executar as propostas de infraestrutura e de inclusão social estabelecidas no planejamento de longo prazo. Os jogos não podem servir de ocasião para varrer para debaixo do tapete as mazelas do Rio. É hora de espalhar a prosperidade e não de esconder a miséria. É preciso, sobretudo, vigilância geral para que não surjam obras superfaturadas. Não podemos descuidar dos próximos passos.
O FUTURO CHEGOU EDITORIAL ZERO HORA (RS) 3/10/2009
O Brasil conquista para o Rio de Janeiro a condição de sede da Olimpíada de 2016, numa vitória que o país todo celebrou, a começar pelo presidente da República, presente em Copenhague, onde o anúncio foi feito ontem à tarde. A emoção que o presidente Lula externou após o anúncio formal da capital fluminense como sede dos primeiros Jogos Olímpicos no subcontinente sul-americano retrata o sentimento com que o próprio país e, especialmente, o Rio de Janeiro recebem o desafio, a incumbência e a honra de realizar a competição. Com uma campanha avaliada em mais de R$ 100 milhões, o Rio desbancou o favoritismo de Chicago, deixou para trás Tóquio e Madri e colocou nosso país no mapa olímpico mundial. Assim, o Brasil terá em 2014, com a Copa do Mundo de futebol, e em 2016, com os Jogos Olímpicos, os dois eventos esportivos que seduzem o planeta, atraem multidões e dão visibilidade global a seus cenários. Só um país e uma sociedade que acreditam em suas potencialidades e, por isso, apostam no futuro estão em condições de assumir, com orgulho, tarefas tão relevantes e tão desafiadoras.
Os dois acontecimentos impõem para todo o país e em especial para as cidades diretamente envolvidas o desafio de corrigir mazelas históricas e de transformar em desenvolvimento os recursos que serão investidos. O significado desses jogos sobrepassa a simples realização das competições e a difícil maratona que representa a preparação adequada das cidades para sediá-los com dignidade. Felizmente, tanto a Copa quanto a Olimpíada exigem muito mais do que erguer estádios, pistas de atletismo ou piscinas de competição. Ambas entregam a governantes e à sociedade a oportunidade de corrigir insuficiências tradicionais, tanto na área da infraestrutura esportiva e na montagem de condições para o turismo quanto no estímulo à atividade esportiva, à educação e à construção de cidades mais justas, saudáveis e felizes.
Nosso país, que conseguiu superar com tranquilidade e sem turbulências os efeitos da maior crise global em 80 anos e que sai desse desafio com perspectivas melhores do que entrou, projeta-se como uma nação que tem condições de enfrentar as tarefas do futuro com segurança e com competência. Com a economia estabilizada e no rumo certo, as tarefas decorrentes dos compromissos de sediar a Copa e a Olimpíada precisam ser encaradas como uma proposta que não se esgota na realização dessas competições. Ao contrário, é fundamental que os investimentos na infraestrutura dos transportes, da hotelaria, da segurança e dos equipamentos esportivos sejam projetados com vocação de perenidade, e não como um conjunto de ações que perdem o sentido e a utilidade depois da festa de encerramento dos jogos. O exemplo a ser olhado precisa ser mais a Barcelona de 1992, que aproveitou a chance dos Jogos Olímpicos para construir uma nova imagem da cidade e para erguer equipamentos permanentes, e menos o próprio Rio que soube utilizar apenas parcialmente o legado dos Jogos Pan-Americanos de 2007 e deixou um saldo de suspeitas de mau uso de recursos públicos.
Resta agora a nosso país arregaçar as mangas. As conhecidas dificuldades dos países emergentes não podem servir de desculpa para atrasos ou para falta de planejamento. O país, que é hoje a 10ª economia do planeta e que chegará a 2016 como a quinta, precisa utilizar essa condição para comprovar que sua ascensão global e a curva indicativa de sua presença positiva no mundo são frutos de trabalho e competência. Entre as tarefas, está também a de melhorar sua imagem, buscando caminhos para a redução da violência e da criminalidade e para a luta contra a corrupção endêmica que assola o setor público. Isso só poderá ser obtido se o projeto for administrado com total transparência.
A Olimpíada de 2016 manterá o Rio e o Brasil sob o olhar do planeta e conferirá, assim, a chance de usar a elevação da autoestima dos brasileiros como aquela força capaz de ajudar a construir um país mais desenvolvido, mais forte e mais justo. Esporte e educação cumprem melhor suas finalidades quando andam de mãos dadas. Uma competição como os Jogos Olímpicos também pode funcionar como plataforma de lançamento de gerações inteiras para uma vida mais saudável e para a construção de um país mais digno e justo.
UM PAÍS OLÍMPICO EDITORIAL JORNAL DO COMMERCIO (PE) 3/10/2009
A explosão popular com o anúncio do Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2016 é mais do que a alegria de quem vence uma competição: para nós, em Copenhague estava em jogo o futuro do País através de um dos instrumentos possíveis de transformação e aprimoramento de uma sociedade. A esta vitória, a este indicador de o que deveremos ser em futuro próximo, o Brasil acrescenta um outro importantíssimo evento em 2014, a Copa do Mundo de Futebol. Assim, no curto período de dois anos o nosso País será vitrine para o mundo inteiro e é por aí que deve ser melhor apreciada nossa vitória sobre Chicago, Tóquio e Madri. O que representa para o País a realização de uma Olimpíada é evidente demais, principalmente quando estamos vivendo o período dos maiores avanços em comunicação da história, o que nos levará a todos os lares do mundo em tempo real. Nessas oportunidades é que poderemos mostrar o nosso grau de avanço, o que temos a oferecer às demais nações, de que forma poderemos recepcioná-las não apenas num determinado momento esportivo mas em qualquer dia do ano. E porque assim deverá ser, é imperioso admitir que precisamos repensar o Brasil, não tanto para nos mostrar, mas para construir nossa própria cidadania. Sediar os Jogos Olímpicos faz-nos vitrine e é fundamental que não escondamos atrás de biombos o Rio de Janeiro real, que é a reprodução de todas as demais partes de nosso País. Empenhar o esforço oficial para a construção de vilas olímpicas é muito importante, assim como criar as condições de transporte que a cidade não tem, investir em segurança que a cidade não tem, tirar os tapumes culturais e sociológicos que separam as favelas do asfalto, divisórias frequentemente defendidas na forma de pedra e cal, para separar fisicamente o que está separado em condições sociais. Se o Brasil conseguir esse feito, de abrir-se para o mundo sem tentar esconder seus males sociais, estaremos inevitavelmente a caminho do posto que todos nos atribuem nos próximos 20 anos, quando deixaremos de ser apenas um país emergente para nos transformar num dos Estados nacionais mais poderosos e mais influentes do mundo. Os anos de 2014 e 2016 serão decisivos na construção desse novo Brasil, até porque o orgulho e a vaidade de nos transformar em centro mundial dos esportes em duas oportunidades tão próximas exigirão um esforço superior ao que tem sido feito para superar nossas mais profundas contradições. Assim, por exemplo, não deverá ser aceito passivamente que haja gastos astronômicos dos cofres públicos apenas para a formação de pequenas ilhas esportivas com o objetivo de nos mostrar melhor do que somos, sem que se gaste pensando no social. À alegria das Olimpíadas deve corresponder a responsabilidade de investir maciçamente em nossa juventude para que ela desperte para os esportes e estes não sejam apenas nichos de algumas poucas figuras privilegiadas. Haverá avanço real, reflexo das transformações que o País necessita quando nos tornarmos competitivos em todas as modalidades, quando os esportes fizerem parte do cotidiano de nossos jovens, bem mais além do que a busca da sorte grande que vemos hoje no futebol, que passa a ser para muitos a esperança de ficar milionário jogando em times europeus. Parece-nos improvável que o Brasil não tire o melhor proveito destes dois momentos em que será o centro mundial dos esportes, até porque no momento em que começarem os gastos astronômicos com os centros esportivos teremos muitos argumentos para defender o significado social das competições, pela necessidade de investir no fator humano e pelo inevitável impulso à economia que representará todo o investimento. Uma combinação virtuosa, que chega num momento excepcional para o nosso País.
BARRADOS NA PORTARIA EDITORIAL A CRÍTICA (AM) 3/10/2009
O setor de saúde volta a ser objeto de críticas severas por parte de vários setores da população. Pacientes e familiares colocados sob a condição de andarilhos em busca de atendimento tentam encontrar respostas para esse tipo de tratamento. Os governos estadual e municipal têm dificuldades para esclarecer tais ocorrências e oferecer respostas coerentes.
Mulheres grávidas que recorrem ao serviço público de saúde reclamam do tratamento dispensado até encontrarem uma maternidade que possam recebê-las e, enfim, ter acesso ao atendimento pretendido. Se considerado o fato de que a maioria delas é pobre, sem recurso sequer para bancar o deslocamento de entre uma maternidade e outra, a situação se agrava e estende as horas de sofrimento. Outros pacientes também passam, com frequência, por esse tipo de filtro provocado por uma estrutura que, embora ampliada, não consegue evitar cenas de constrangimento e de desrespeito às pessoas em um momento de grande fragilidade.
Há, na imprensa, uma demanda de reclamações, críticas e pedidos de ajuda de pessoas que não conseguem o atendimento médico nos postos e nos hospitais. A situação das unidades de atenção à saúde nos bairros repete a velha condição de funcionamento precário, como a falta de medicamentos e a ausência de profissionais.
O quadro, nessa área, provoca insatisfação profunda nos usuários. Nos hospitais, as cenas de revolta e de desespero são corriqueiras e injustas sob todos os aspectos pois colocam profissionais sobrecarregados diante de pacientes e acompanhantes angustiados. As portarias desses espaços estão sendo transformadas em arena enquanto os gerentes do sistema estão distantes.
É preciso que as autoridades da área da Saúde percebam o agravamento dos problemas nesse setor e tenham atitudes mais presentes e de maior grau de eficiência. A boa condição econômico-financeira do Amazonas e da capital, Manaus, possibilita que o Estado qualifique ainda mais o sistema e reduza as zonas de confronto. Garantir tratamento médico digno às pessoas é a melhor forma de traduzir o status de ser referência em Saúde Pública. Enquanto, dezenas de pacientes foram vetados no setor de atendimento e/ou submetidos as romarias até mesmo o que foi uma conquista nesse segmento desaparece diante da revolta dos vetados nas portas dos centros médicos. |