Tuesday, August 11, 2009

Mudança de rota

EDITORIAL

O Globo - 11/08/2009

O Brasil responde por 1,8% dos casos de gripe suína no mundo, mas registra 12% das mortes devido à doença. Se for levado em conta o total até certo ponto baixo de casos detectados, a proporção de mortes decorrentes da infecção pelo vírus H1N1 no país ganha uma dimensão preocupante. Há certamente algo errado na estratégia elaborada pelas autoridades sanitárias brasileiras para enfrentar a epidemia de gripe que se espalha pelo mundo.

Infectologistas criticam principalmente a decisão do Ministério da Saúde de concentrar na máquina pública a distribuição do antiviral Tamiflu, indicado para o combate ao vírus. Segundo especialistas, o ideal é que o remédio seja ministrado ao paciente com gripe nas primeiras 48 horas de aparecimento dos sintomas.

Ocorre que, devido à centralização, a distribuição do medicamento fica à mercê da estrutura da rede pública de saúde — cuja capacidade de atender suas demandas, se já é limitada dentro de um quadro de normalidade, tem as dificuldades multiplicadas em situações como a atual, em que a cada dia aumenta o número de vítimas da epidemia.

Em decorrência, há escassez de medicamentos disponíveis para a população na contramão do contínuo aumento do número de vítimas infectadas pelo vírus no país. O bom senso indica que, se a população tivesse acesso ao antiviral nas farmácias — preservandose, evidentemente, a preceituação médica como condição para a compra do remédio —, o número de vítimas provavelmente seria menor.

O argumento do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, de que a liberação da distribuição do antiviral fora do sistema oficial de saúde poderia criar um vírus mais resistente, ou levar à automedicação, é rebatido por médicos.

O infectologista da UFRJ Edmilson Migowski, por exemplo, observa que as pessoas medicadas com o Tamiflu devem obrigatoriamente ficar de quarentena.

“Assim, mesmo se o vírus ficar resistente, elas não vão contaminar ninguém, porque o H1N1 tem um ciclo de dez dias, após o qual fica inerte”.

É contraproducente, diante de um quadro generalizado de infecção que se agrava, manter uma estratégia que parece sucumbir ao vírus. O preço de um programa que se evidencia falho, ou inadequado, é pago pela população — e com a tragédia da morte atingindo um número cada vez maior de famílias brasileiras. É hora, portanto, de rever o caminho escolhido até aqui para enfrentar a epidemia.

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