O investidor não é bobo - SUELY CALDAS
O Estado de S.Paulo - 21/10
O governo Dilma Rousseff espera passar o segundo turno eleitoral para anunciar seu pacote de investimentos em portos e aeroportos. Como nos oito anos de Lula, também Dilma se rende à agenda política e deixa em plano secundário a urgência desses investimentos para o País. Ela quer atrair investidores privados com competência e experiência, mas, como não aceita a ideia de abrir mão do poder de mando na gestão, tem buscado formas de driblar investidores estrangeiros.
Depois da fracassada proposta de manter a Infraero no comando do negócio - rejeitada por grandes operadoras internacionais -, a equipe de Dilma pensou em criar uma ação golden share para os Aeroportos do Galeão (Rio de Janeiro) e Confins (Belo Horizonte). Tal modelo daria, sim, poder de mando ao governo, mas limitado a situações muito esporádicas e previamente definidas no contrato de concessão. Partiu-se, então, para uma segunda alternativa: a Infraero e o setor privado serão minoritários e os fundos de pensão de estatais completarão o controle acionário. Dessa forma, somadas as ações da Infraero e dos fundos, o governo manteria o poder permanente de gestão e decisão nos dois aeroportos.
Óbvio, esse segundo modelo só terá sucesso se com ele concordarem as grandes operadoras que a presidente quer atrair. Não as médias, que levaram as concessões dos Aeroportos de Brasília, Viracopos e Guarulhos. Estas Dilma desconfia que não darão conta do recado. Ela quer as que administram os terminais de Heathrow (Londres) ou Atlanta (EUA), os mais movimentados do mundo. Mas conseguirá com dribles?
O investidor estrangeiro vê no Brasil um grande, promissor e atraente mercado. Não é à toa que o ingresso de capitais de investimento deverá somar US$ 60 bilhões em 2012. Mas, quando se trata de parceria com o governo, ele olha com desconfiança o longo histórico de interferências políticas ruinosas para os resultados dos negócios. E o governo parece fazer questão, a todo instante, de reafirmar seu comando de uma forma, digamos, inconveniente.
Agora mesmo, na questão da redução da tarifa de energia, Dilma tomou coragem e fez o que seus antecessores - Lula inclusive - não fizeram: incorporar à tarifa a queda de custo das empresas decorrente de amortização de ativos. É legal, legítima e bem-vinda a redução tarifária. Mas fez de forma tão autoritária e unilateral que no exterior isso é visto como mais uma intervenção do governo em negócios privados a afastar potenciais investidores interessados em outros setores no Brasil.
É o que acontece agora em relação aos aeroportos, justamente no momento em que o governo precisa atrair as maiores operadoras do mundo. Se a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) cruzasse seus números com os das empresas elétricas para chegar a um entendimento comum, a redução da tarifa não estaria agora sob o risco de ser adiada sabe-se lá até quando. Nem as gestoras de aeroportos estariam assustadas imaginando que a parceria com o governo pode lhes trazer surpresas desagradáveis, caso aceitem vir para o Brasil.
Dilma parece estar longe de acertar o passo com o investimento, agora que descobriu ser esta a forma mais segura de recuperar o pálido crescimento econômico em sua gestão. Em licitação, entregou o controle acionário de três grandes aeroportos para empresas médias e inexperientes e, agora, nega esse controle às maiores do mundo. Sentou em cima de gigantescas jazidas de petróleo da área do pré-sal e deixa de explorar um setor com forte e garantida adesão de investidores privados ávidos em retomar investimentos paralisados há mais de quatro anos.
Além disso, mesmo depois de quase dez anos de experiência em gestão pública, a presidente continua mantendo uma relação imatura e ideológica com a privatização, atrapalhando projetos de investimentos em infraestrutura. Ela vê a privatização como saída para suprir a ausência do Estado e trazer para o País experiência, eficiência e novas tecnologias em serviços públicos. Mas ingenuamente imagina que o investidor aceita ser domado e vai se submeter às suas determinações. Ele não é bobo não, dona Dilma.