Favorito e indecifrado - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE S. PAULO - 19/10
Pesquisa Datafolha aponta ampliação da vantagem de Haddad sobre Serra, mas propaganda superficial não permite conhecer candidato
A pesquisa que o Datafolha publica hoje confirma a arrancada de Fernando Haddad, o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo. Os 17 pontos de vantagem obtidos sobre José Serra, do PSDB, tornam uma virada muito difícil, embora não impossível, no lapso de nove dias até a votação.
A reação do candidato tucano parece ainda mais improvável quando se observam as características das forças que limitam seu desempenho. Baixou um pouco, mas ainda chega a 42% a fatia dos paulistanos que consideram ruim ou péssima a gestão de Gilberto Kassab (PSD), o pupilo que Serra deixou na prefeitura no início de 2004, quando saiu para disputar, e conquistar, o governo estadual.
Decerto a rejeição contra Serra é composta em boa parte dessa contrariedade com a administração de Kassab. Mas não só disso.
Nota-se um cansaço com a própria figura do ex-governador, o qual, de dois em dois anos, acaba por disputar algum cargo público. Serra é agora rejeitado por 52% dos eleitores.
O ex-governador se tornou, além disso, e sobretudo desde 2010, um político que corteja teses à direita no espectro político. Deixou-se influenciar demasiado pela pauta de grupos religiosos e conservadores.
Essa opção costuma funcionar melhor para um candidato ao Senado Federal ou à Câmara dos Deputados. Mas se torna menos eficaz para alguém cujo objetivo é conquistar a maioria de um eleitorado heterogêneo e multifacetado.
Do lado petista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a julgar pela pesquisa, parece prestes a conquistar mais uma importante vitória eleitoral.
Repetiu com Haddad, em São Paulo, a fórmula que havia levado a desconhecida Dilma Rousseff à Presidência. Enxergou, ao contrário dos tucanos, a necessidade de renovar quadros petistas e virar a página da geração de líderes afinal condenada pelo mensalão.
Mas e Fernando Haddad? Estará à altura da tarefa de governar a maior e mais complexa cidade da América do Sul?
O intelectual de origem marxista mal disfarça a falta de vivência e de conhecimento sobre os principais problemas da metrópole. Numa campanha marcada por ataques popularescos, expressão de simplismo político e programático, o eleitor não decifrou esse enigma.
Que os debates televisivos e o trabalho da imprensa independente possam desvendar, nos poucos dias que restam até a eleição, esse candidato -agora franco favorito para assumir a prefeitura em janeiro de 2013. Não é o caso de passar um cheque em branco, a quem quer que seja, numa incumbência tão importante.