Sunday, October 21, 2012

Brasil apoia o novo FMI - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 21/10


Alerta e advertência não faltaram na reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), encerrada há uma semana, em Tóquio. O tímido sinal de recuperação econômica nos países avançados continua, mas esfriou.

"O crescimento está agora muito baixo para ser capaz de reduzir substancialmente o desemprego. E, em grandes economias de mercado emergentes, o crescimento, que era forte, também diminuiu", diz o FMI, textualmente.

Depois do inverno de 2008, houve uma ligeira brisa, mas a primavera não virá nos próximos anos, talvez cinco, sete ou, quem sabe mais. A expressão década perdida, usada inicialmente pelo economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, ganhou espaço nos discursos dos ministros que foram a Tóquio para ouvir os apelos quase patéticos da diretora-gerente do Fundo Christine Lagarde.

Ela pediu "coragem e ação cooperativa dos países-membros". Criticou os governos da zona do euro por estarem tentando concentrar esforços no ajuste fiscal a qualquer preço. Lagarde deixou claro em seu discurso para que não digam depois que o FMI não alertou para o pior: se o G-7, o G-20 não reagirem agora depois de anos de retração, vamos ter ainda por muitos anos um mundo mais pobre.

Brasil apoia e aproveita. O Brasil não teve dificuldade em aceitar essa posição porque já vinha fazendo o que Lagarde e seus economistas propõem aos países em crise. E o Fundo reconheceu ao admitir que, depois de sofrer os efeitos da crise externa, o PIB brasileiro está crescendo neste último trimestre. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, souberam usar o fórum internacional para projetar a imagem de uma país que, ao contrário de outros, inclusive emergentes, rompeu a ortodoxia das regras econômicas e soube se adaptar às mudanças externas e internas. Não deixa de ser emblemático que ambos, FMI e Brasil, defendam uma política monetária agressiva, expansionista, juros menores, mais liquidez, facilidade de crédito, novos estímulos a investimentos, num clima de inflação controlada.

Foi aí, no falso dilema inflação e crescimento, de austeridade fiscal e desenvolvimento, que se travou o grande duelo entre a Alemanha, do turrão ministro de Finanças, Wolfgang Schaueble, e o novo FMI, de madame Lagarde. Ela lastima que na reunião, os ministros deram menos importância à questão do ajuste fiscal, que precisa ser "adaptado" a cada país, ao contrário do que a Alemanha está impondo.

Mais dinheiro, por favor. Acreditem, o FMI admite que o crescimento possa ser estimulado até pelo aumento de liquidez, pela emissão direta de moeda, dólares, euros, yuans , ienes. E isso porque o grande risco no Brasil, nos EUA, na Europa, na Ásia, não é a inflação, mas a deflação ou a recessão na qual a zona do euro já entrou. A inflação média mundial está hoje em torno de 2%, enquanto blocos importantes, como a zona do euro, registram PIB negativo. E, blasfêmia das blasfêmias, Blanchard chegou a dizer que a Alemanha tem de aceitar um pouco de inflação se for esse o preço para impedir a recessão. Na China, os preços recuam para menos de 2% e o governo confirmou que a economia cresceu na menor taxa dos últimos anos.

Heresia, mais ou menos. O FMI não recomenda essa política, mas a aceita e a sugere na ausência de outras medidas que promovam crescimento. Nesse sentido, apoia e até elogia a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) de injetar liquidez até a economia voltar a crescer. O mesmo foi feito pelo BC da China, enquanto o Banco Central Europeu se depara internamente com a oposição do representante alemão à sua decisão de comprar títulos dos países mais endividados.

Em uma frase, o recado do novo FMI é "não há ameaça de inflação no mundo, mas de recessão e deflação".

Há efeitos colaterais. O principal é a desvalorização da moeda do país emissor, tornando suas exportações mais competitivas em detrimento dos que não querem ou não precisam agir da mesma forma. Não seria esse o objetivo principal dos EUA e agora da China, por exemplo? Esta é uma questão polêmica e delicada na qual não é fácil separar causa e efeito. O Brasil mesmo liberou em um ano cerca de R$ 100 bilhões, a maior parte do depósito compulsório, e está agindo ativamente no câmbio em defesa da sua moeda. Vem comprando dólares excedentes no mercado interno. Com isso, defende sua moeda e, ao mesmo tempo, eleva as reservas cambiais. Elas passaram de R$ 53,8 bilhões no fim de 2005 para R$ 380 bilhões agora, o que explica em grande parte a resistência do País às crises externas. Na avaliação de custo e beneficio, a questão é saber o que mais afeta a economia brasileira, uma economia mundial que pode entrar em recessão ou o desafio de um real valorizado.

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